domingo, 27 de dezembro de 2009

A Cooperação Agrícola no MST

A COOPERAÇÃO AGRÍCOLA NO MST
17 de novembro de 2009

Os dicionários definem cooperação como “colaboração”, “prestação de auxílio para um fim comum”, “solidariedade”. Estendendo o conceito, podemos dar-lhe o significado de “toda atividade realizada em conjunto para a solução de necessidades sociais e econômicas”.

A prática da cooperação é, para o MST, um grande instrumento pedagógico para a construção do ser social. Ela permite ao trabalhador rural romper com a auto-suficiência e o individualismo, e acreditar no êxito da aplicação da força conjunta na produção e nos serviços ligados à sua atividade.

A partir de uma visão abrangente, o MST combina a organização da moradia, o agrupamento das famílias em núcleos de base e a promoção da cooperação como forma de criar uma nova estrutura social no assentamento. Vivendo próximas, em agrovilas ou núcleos de moradia, organizadas em núcleos de base, as famílias são estimuladas a solucionar seus problemas de forma conjunta. A construção de uma escola ou a reforma de uma ponte pode ser feita em mutirão.

O MST entende que a saída individual é fatal para o assentado e, conseqüentemente, para o assentamento em termos de seu desenvolvimento e êxito como um todo. Adquirindo crédito, ferramentas, máquinas e matrizes de animais, produzindo a lavoura, comercializando a produção e até mesmo chegando ao ponto de ter a terra, o capital e o trabalho em conjunto, os agricultores melhoram a produtividade e a qualidade.

Sua prática deve ser encarada como um processo que evolui em compasso com a realidade. Se ela não evoluir, estará condenada à estagnação e ao fracasso.

Para o MST, existem razões econômicas, sociais e políticas para estimular e promover a cooperação agrícola entre os assentados.

As razões econômicas

- Aumento do capital. Os assentados conseguem obter mais crédito para a aquisição de bens necessários ao aumento da produção.

- Obtenção de crédito. É preciso que um coletivo de assentados reúna seus bens e suas sobras, para poder obter créditos visando à aquisição de bens necessários ao aumento da produção.

- Racionalização da produção de acordo com os recursos naturais. O solo e o clima são dois fatores importantíssimos na produção e na produtividade agrícola. É muito difícil aproveitar corretamente suas potencialidades em um esquema familiar individual, em que o assentado tem de produzir um pouco de tudo para poder sobreviver. Com a cooperação agrícola é possível aproveitar ao máximo o solo e o clima, produzindo para o mercado apenas os produtos apropriados a eles.

- Desenvolvimento da agroindústria. Quando se realizam diversas atividades em conjunto, é possível racionalizar o uso de mão-de-obra e liberar uma parcela cada vez maior desta para outros fins de interesse geral da comunidade. A mão-de-obra tornada disponível pode ser utilizada em unidades agroindustriais de pequeno e médio portes voltadas à transformação dos produtos da lavoura e da criação. Esses produtos – o arroz beneficiado, a fruta despolpada, a ave abatida etc – ganham maior valor na hora da comercialização.

As razões sociais e políticas

Além da aproximação das moradias, com acesso facilitado à infra-estrutura básica, como estradas, água e energia elétrica, a cooperação agrícola facilita a educação das crianças e dos adultos, agilizando a conquista e a construção desse importante equipamento social. Também o acesso ao transporte coletivo e ao atendimento de saúde são favorecidos pela cooperação.

A cooperação leva o assentado a participar das lutas específicas (vinculadas às suas necessidades imediatas) e das lutas gerais da sociedade como um todo. Num sistema de cooperação, os agricultores percebem-se como uma força que, somando-se à de outras categorias, pode contribuir para a construção de uma nova sociedade.

FORMAS DE COOPERAÇÃO

O MST estimula diversas formas de organização da cooperação agrícola nos assentamentos, tais como: mutirões, lavouras coletivas, compra conjunta de máquinas e equipamentos, associações e cooperativas para comercialização conjunta e grupos ou cooperativas de trabalho coletivos ou semi-coletivos.

Associação

Existem diversos tipos de associação: de aquisição de animais, máquinas ou implementos agrícolas; de comercialização (compra e venda de produtos agropecuários); de beneficiamento da produção (armazenagem, farinheiras, serrarias, moinhos etc).

Em geral a produção ocorre no lote familiar e a associação presta algum serviço de interesse comum. Em alguns casos, ela serve apenas para a representação política dos assentados.

Cooperativa de Prestação de Serviços (CPS)

Esta forma de cooperação é um desdobramento da associação. Quando a atividade dos assentados cresce, eles buscam normalmente criar um agente econômico com uma maior capacidade de agir no mercado regional. A CPS planeja, organiza e comercializa as principais linhas de produção dos assentados em seus lotes familiares.

Além disso, presta serviços de assistência técnica, fornece insumos agrícolas e serviços de máquinas, repassam crédito etc. Por essas características, tem agregado muitos associados e atua regionalmente.

Cooperativa de Produção Agropecuária (CPA)

Este é um tipo de cooperativa em que os fatores de produção (a terra, o trabalho e o capital) são administrados coletivamente. Sua propriedade e produção são sociais, pois os donos são os trabalhadores e as sobras são repartidas entre si conforme o trabalho aportado de cada um. Em geral, esta cooperativa se reduz a um pequeno número de famílias variando de 10 a 60.

AGROINDÚSTRIAS NOS ASSENTAMENTOS

Vencendo diversas dificuldades na continuidade de sua luta, os assentados do MST desenvolveram diversas atividades econômicas. Em meados da década de 1990, atingiram um estágio superior: o da agroindustrialização.

A agroindustrialização, além de gerar novos postos de trabalho, elevou o nível de qualificação do trabalhador rural, o que tem contribuído para fixar a juventude nos assentamentos. Ela envolve desde o processamento da produção (secagem, armazenagem e classificação dos produtos) até o acabamento final da matéria-prima, passando por etapas intermediárias de beneficiamento parcial do produto.

OS TIPOS DE AGROINDÚSTRIA

São três os tipos de agroindústria desenvolvidos nos assentamentos do MST: a rural, a mista e a tradicional.

Agroindústria rural

Esse tipo de agroindústria trabalha com produtos sofisticados/especiais. A matéria-prima é extraída dos próprios lotes e o trabalho é realizado pela família ou por um grupo de famílias. O tipo de produto depende da matéria-prima existente no momento. Por exemplo, se é tempo de goiaba, faz-se goiabada. O capital empregado é pequeno, não requerendo escala de produção para viabilizar o empreendimento. Em geral produzem-se queijos, doces, geléias, compotas etc.

Agroindústria mista

Para esse tipo de agroindústria são necessários todos os recursos industriais. Parte da matéria-prima é proveniente da propriedade e parte, de terceiros. Como a mão-de-obra é dos associados, não existe assalariamento e os custos administrativos são menores. A inserção dos produtos no mercado é feita driblando as grandes empresas. Esse tipo de empreendimento não seria viável nem teria competitividade se adquirisse matéria-prima exclusivamente de terceiros e assalariasse a mão-de-obra.

Agroindústria tradicional

Adota todos os recursos industriais, assalaria os funcionários e adquire a matéria-prima de terceiros. Para competir com as grandes empresas (os monopólios) em preço e qualidade, tem de apresentar alta produtividade e adotar uma postura de fomentadora da produção e de especialização de seus parceiros.

Além disso, precisa estabelecer relações contratuais com outras grandes empresas ou agroindústrias e articular-se com grandes equipamentos de comercialização.

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