terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Por uma ecologia social, igualitária e libertária

Por uma ecologia social, igualitária e libertária

O verde está na moda, por todo o lado se fala em ambiente. Agora, já
os fabricantes de carros e até os gestores das centrais nucleares são
ambientalistas ! Se não nos podemos queixar desta tomada de
consciência acerca da degradação ambiental, ao fim de 40 anos dos
primeiros alertas, a verdade é que devemos denunciar o populismo
ecológico que para fins bem nossos conhecidos não desiste de pintar
com a cor verde as malfeitorias típicas do sistema de produção
capitalista, não questionando a ideologia do crescimento produtivo, a
crença de que « uma maior produção é a chave da prosperidade e da
paz» (Truman, 1949).

Para nós, anarquistas, a ecologia não é apenas somente a defesa dos
pássaros, a sacralização da natureza, vista como uma nova deusa. Já há
uma século atrás, nomeadamente com Elisée Reclus, se colocava aa
questão da integração harmoniosa do homem no seu meio, a gestão
duradoura dos recursos, a construção de uma sociedade em que a
qualidade da vida social seja mais importante que a quantidade da
produção.

Como herdeiro do cristianismo, o liberalismo coloca o homem em
oposição à natureza que deve submeter e dominar, enquanto outras
culturas defendiam a harmonia e o respeito desta. No século XVIII, sob
o impulso de Mandeville e Adam Smith, o económico separa-se da moral e
do político, constituindo-se como campo autónomo da vida social.«Em
vez da economia estar encastelada nas relações sociais, são estas que
acabam por ficar enquadradas no sistema económico»»(Polanyi). Hoje, o
homem é o servidor do Léviathan económico. As famílias estão
dispersas, as solidariedades foram dissolvidas, os ritmos biológicos
alterados, e toda a nossa vida social é determinada pelo desiderato do
aumento da produtividade que, segundo o catecismo liberal e a
ideologia do desenvolvimento mercantil, «o suave comércio», é a única
via de aumento da riqueza, logo do bem-estar. Este dogma é ainda
defendido hoje, apesar de assistirmos ao suicídio de trabalhadores
stressados e ao aumento da pobreza no mundo, da má-nutrição, da falta
de alojamento, e da busca do lucro individual e da vontade de
acumulação ilimitada do capitalismo não recuar face à poluição do ar,
das terras, dos mares, colocando em perigo a saúde e a sobrevivência
da humanidade. O que vemos é que o comércio e os negócios, em vez de
levar à paz, estão a conduzir-nos para as guerras.

Não convém, pois, cair na armadilha verde que as empresas e os
tecnocratas do Estado montaram, e não deixar de compreender que o
liberalismo económico e a ideologia do crescimento são os responsáveis
pela degradação do ambiente, pelo aquecimento climático e pelas
complicações do nosso funcionamento psicossomático.

É urgente inventar um outro modelo de sociedade em que o bem estar não
esteja ligado à acumulação da mercadoria, mas antes ao desenvolvimento
e reforço dos laços sociais, da convivialidade, da solidariedade e do
apoio mútuo. Um modelo de ecologia social baseado na integração e na
harmonia do homem na sociedade e na natureza. Este é o projecto
anarquista.. Um projecto fundado na igualdade económica e social, na
participação de todos na definição das necessidades admissíveis, dos
recursos necessários e dos modos de produção. É porque a consideração
dos desejos de cada um deve constituir-se como a única maneira de
contrariar o egoísmo individual, e porque o comunismo libertário é a
única forma de lutar contra os privilégios e as desigualdades, é que
nós lutamos por uma ecologia social, igualitária e libertária.

Fonte:
http://rebellyon.info/Pour-une-ecologie-sociale.html

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