Tecnologias sociais e desenvolvimento local
As Tecnologias Sociais estão entre os temas especiais da 8a Expo Brasil Desenvolvimento Local.
Palestrantes
27/11/2009 - Como estabelecer relações entre tecnologias sociais e desenvolvimento local para além dos efeitos visíveis das experiências que estão nos territórios? Como articular essas experiências com uma idéia mais ampla de desenvolvimento? Foi com esses questionamentos que Rodrigo Fonseca, analista da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), iniciou sua apresentação na mesa “Tecnologias sociais e desenvolvimento local”, durante a 8a Expo Brasil Desenvolvimento Local.
Para Rodrigo, as estratégias de desenvolvimento local não podem ser temporárias, diante da falta de estratégias de desenvolvimento nacional. “Se não enfrentarem as ações desarticuladoras do modelo hegemônico, as iniciativas locais serão absorvidas, perdendo seus efeitos de inclusão e transformação”, alerta.
Em vários segmentos da sociedade, existe uma insatisfação com o atual modelo hegemônico de desenvolvimento, que impõe uma forma de constituição da sociedade de forma desigual e excludente. Segundo Rodrigo, é preciso construir um modelo contra-hegemônico baseado nas teorias e práticas ligadas ao desenvolvimento local, à economia solidária e às tecnologias sociais: “Trata-se de disputar a construção de relações sociais que configuram as formas de produção, organização social e uso do território, bem como a construção da base material e cognitiva”, sugere.
A economia solidária, como forma de organização da produção, está baseada na autogestão, trabalha a democracia nas cidades, a organização do trabalho e a gestão da sociedade como um todo. Já o desenvolvimento local significa a articulação entre atores, no território. Por fim, a Tecnologia Social possibilita uma nova forma de construção do conhecimento.
Quanto ao papel da Tecnologia Social nesse processo, Rodrigo ressaltou que a tecnologia é a base material e cognitiva sobre a qual está assentada a sociedade. Atualmente, a organização social está baseada no uso de aparatos tecnológicos e conhecimentos cada vez mais complexos. Para um modelo alternativo de desenvolvimento, também é preciso uma outra forma de construção da tecnologia. “Dentro da área de C&T, o senso comum acredita que a ciência é neutra e está ligada aos cientistas. Esses são dois mitos. Ciência e tecnologia são construções sociais. Podemos, então, orientá-las com distintos valores e intencionalidades”, defendeu.
O gerente da unidade de desenvolvimento territorial do Sebrae Nacional, Juarez de Paula, concorda com Rodrigo quanto ao papel do desenvolvimento local, da economia solidária e das tecnologias sociais como movimentos que expressam, de algum modo, a capacidade de se contrapor à ordem dominante.
Em sua apresentação, Juarez elencou mais quatro idéias ligadas às “Tecnologias sociais e desenvolvimento local”. Primeiramente, é preciso entender o debate que dá origem ao conceito de TSs. A partir de 1850, tem início a sociedade industrial, caracterizada pela busca do progresso material e ilimitado. Nos últimos dois séculos, a sociedade tornou-se mais complexa, mais produtiva e com maior poder de consumo. Num dado momento, o movimento ambientalista mostrou que o planeta é finito, bem como seus recursos. “Portanto, esse modelo de sociedade industrial, baseado numa crescente produção e consumo não é sustentável”, argumenta.
Em segundo lugar, Juarez destacou a importância da Tecnologia Social como instrumento de inovação que gera competitividade e desenvolvimento nos territórios. Como inovação, entende-se a capacidade de fazer diferente e melhor: “Às vezes, conhecimentos tradicionais são aplicados de forma inovadora. Não necessariamente deve haver um conhecimento de última geração”, explica Juarez.
Uma terceira idéia é que essa inovação pode ser vista de duas formas: como um instrumento de aumento de produtividade ou para gerar bem estar e melhor qualidade de vida às pessoas. “A Tecnologia Social precisa se preocupar com esse aspecto. É uma ferramenta que gera inovação e promove desenvolvimento territorial se também está focada em bem estar, e não apenas na produtividade”, explica.
A quarta idéia havia sido apresentada por Juarez durante a 2a Conferência Internacional de Tecnologia Social, realizada em abril deste ano, em Brasília. Durante a Expo Brasil, ele resgatou a importância de se eleger temas prioritários para ações ligadas às tecnologias sociais. Seriam:
-energias renováveis e eficiência energética
-uso e reciclagem da água
-alimentos saudáveis
-construção de habitação
-transporte público
“Esses temas estão conectados com a idéia de uma transição para uma sociedade com baixa emissão de carbono e com elevado bem estar. A grande tarefa, hoje, é pensar um desenvolvimento com inclusão social e sustentável”, propõe Juarez.
Tecnologia Social no Semiárido
O palestrante e representante da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA),
Foto: Kenia Ribeiro
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Tecnologias sociais na Expo Brasil
Climério Vale da Silva, iniciou sua explanação propondo a desconstrução do paradigma da miséria: “Na verdade, temos uma região rica, mas falta uma opção política que viabilize o desenvolvimento local”. As experiências da ASA mostram que o Semiárido é viável e sustentável.
O principal exemplo é a realização do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: Um Milhão de Cisternas Rurais – P1MC. O Programa vem desencadeando um movimento de articulação e de convivência sustentável com o ecossistema, através do fortalecimento da sociedade civil, da mobilização, envolvimento e capacitação das famílias, com uma proposta de educação processual. O objetivo do P1MC é beneficiar cerca de 5 milhões de pessoas em toda região semiárida, com água potável para beber e cozinhar, através das cisternas de placas.
Climério destacou que a construção da cisterna prevê um processo educativo e de capacitação com as famílias, abordando questões políticas e técnicas: “Elas têm um espaço de formação para entender como a cisterna chegou até ali. Mostramos que houve uma luta política muito grande, com receptividade em alguns setores. Também ressaltamos a importância do envolvimento das famílias. Dialogamos, ainda, sobre como utilizar a cisterna”.
A ASA também implementa o Programa Uma Terra e Duas Águas – P1+2, cujo objetivo é ir além da captação de água de chuva para o consumo humano, avançando para a utilização sustentável da terra e o manejo adequado dos recursos hídricos para produção de alimentos (animal e vegetal), promovendo a segurança alimentar e a geração de renda.
O numeral "1" significa terra suficiente para que nela sejam desenvolvidos processos produtivos visando segurança alimentar e nutricional, e o "2" corresponde a duas formas de utilização da água - água potável para cada família do Semiárido e água para a produção agropecuária, de forma que as famílias de agricultores e o contingente por elas influenciado vivam dignamente.
De acordo com Climério, “o P1+2 também busca a reforma agrária, no país. Hoje, 48% do território brasileiro está nas mãos de 1% da população. Existe uma larga escala de latifundiários e pequenos agricultores com pouca terra”. A opção pela agroecologia também é enfatizada pela ASA, que busca fomentar uma produção sem agrotóxicos.
Quanto aos processos participativos - no P1MC e no P1+2 - prioriza-se o envolvimento das comunidades, a descentralização das ações, a coletividade e o fortalecimento de associações locais. A questão de gênero também é considerada como fator relevante: “No Semiárido, quem mais se preocupa em abastecer a casa com água é a mulher. Com água no quintal, o tempo da mulher pode ser aproveitado para outras atividades. Além disso, hoje a mulher tem uma presença maior na construção da economia familiar e das políticas dentro de casa. Buscamos, também, fazer com que elas participem de todos os processos dos programas, garantindo a presença feminina nas comissões, por exemplo”, explica Climério.
Em sua apresentação, Climério compartilhou informações sobre diversas tecnologias sociais: cisterna de placa, cisterna de produção, cisterna calçadão, barragem subterrânea, canteiro e quintal produtivo, cacimba, tanque de pedra, caxio ou barreiro trincheira e açude.
Expo Brasil
As tecnologias sociais estão entre os temas especiais da 8a Expo Brasil Desenvolvimento Local. Com o objetivo de contribuir com os debates, a Rede de Tecnologia Social (RTS) organizou mesas sobre “Tecnologias sociais e desenvolvimento local” e “Inovação social para o desenvolvimento sustentável”.
Durante a Expo Brasil, também houve apresentações sobre experiências finalistas do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social e a Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais), dentre outras experiências de TSs.
Outras Informações
Sites:
www.expobrasil.org.br
www.sebrae.com.br
www.asabrasil.org.br
www.finep.gov.br
Grupo de Análise de Políticas de Inovação
www.ige.unicamp.br/gapi
Por Michelle Lopes – Assessora de Comunicação da RTS
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