sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A coisa mais importante do mundo - Naomi Klein

A coisa mais importante do mundo


2011-10-07 17:57:25






Publique nas suas redes

A intelectual e ativista canadense fez um discurso histórico à Assembleia Geral do movimento Ocupar Wall Street.



Por Naomi Klein



Naomi Klein é hoje uma das principais intelectuais e militantes anticapitalistas do planeta. Jovem (nasceu em 1970), apaixonada, corajosa, de brilhante trânsito por uma série de disciplinas e potente domínio da retórica, ela já se destacara como figura central nos protestos de 1999 contra a financeirização do mundo. Em 2000, lançou No Logo, uma crítica das multinacionais e do seu uso do trabalho escravo. Mas foi seu terceiro livro, A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre, que a elevou à condição de uma das principais intelectuais de esquerda do mundo. Com capítulos sobre os EUA, a Inglaterra de Thatcher, o Chile de Pinochet, o Iraque pós-invasão, a África do Sul, a Polônia, a Rússia e os tigres asiáticos, Klein demonstra como o capitalismo contemporâneo funciona à base da produção de desgraças, apropriando-se delas para o contínuo saqueio e privatização da riqueza pública. De família judia, Klein participou, em 2009, durante o massacre israelense a Gaza, da campanha “Desinvestimento, Sanções e Boicote” (BDS) contra Israel. Num discurso em Ramalá, pediu perdão aos palestinos por não ter se juntado antes à campanha BDS.



Nesta quinta-feira, 06 de outubro, Naomi Klein compareceu, convidada, à Assembleia Geral de Nova York. A amplificação foi banida pela polícia. Não havia microfones. Num inesquecível gesto, a multidão mais próxima a Klein repetia suas frases, para que os mais distantes pudessem ouvir e, por sua vez, repeti-las também. Era o "microfone humano". O memorável discurso de Klein foi assistido por dezenas de milhares de pessoas via internet. A Fórum publica o texto em português em primeira mão. É um comovente documento da luta de nosso tempo.



Eu amo vocês.



E eu não digo isso só para que centenas de pessoas gritem de volta “eu também te amo”, apesar de que isso é, obviamente, um bônus do microfone humano. Diga aos outros o que você gostaria que eles dissessem a você, só que bem mais alto.



Ontem, um dos oradores na manifestação dos trabalhadores disse: “Nós nos encontramos uns aos outros”. Esse sentimento captura a beleza do que está sendo criado aqui. Um espaço aberto (e uma ideia tão grande que não pode ser contida por espaço nenhum) para que todas as pessoas que querem um mundo melhor se encontrem umas às outras. Sentimos muita gratidão.



Se há uma coisa que sei, é que o 1% adora uma crise. Quando as pessoas estão desesperadas e em pânico, e ninguém parece saber o que fazer: eis aí o momento ideal para nos empurrar goela abaixo a lista de políticas pró-corporações: privatizar a educação e a seguridade social, cortar os serviços públicos, livrar-se dos últimos controles sobre o poder corporativo. Com a crise econômica, isso está acontecendo no mundo todo.



Só existe uma coisa que pode bloquear essa tática e, felizmente, é algo bastante grande: os 99%. Esses 99% estão tomando as ruas, de Madison a Madri, para dizer: “Não. Nós não vamos pagar pela sua crise”.

Esse slogan começou na Itália em 2008. Ricocheteou para Grécia, França, Irlanda e finalmente chegou a esta milha quadrada onde a crise começou.



“Por que eles estão protestando?”, perguntam-se os confusos comentaristas da TV. Enquanto isso, o mundo pergunta: “por que vocês demoraram tanto? A gente estava querendo saber quando vocês iam aparecer.” E, acima de tudo, o mundo diz: “bem-vindos”.



Muitos já estabeleceram paralelos entre o Ocupar Wall Street e os assim chamados protestos anti-globalização que conquistaram a atenção do mundo em Seattle, em 1999. Foi a última vez que um movimento descentralizado, global e juvenil fez mira direta no poder das corporações. Tenho orgulho de ter sido parte do que chamamos “o movimento dos movimentos”.



Mas também há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.



O Ocupar Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.



Ser horizontal e democrático é maravilhoso. Mas esses princípios são compatíveis com o trabalho duro de construir e instituições que sejam sólidas o suficiente para aguentar as tempestades que virão. Tenho muita fé que isso acontecerá.



Há outra coisa que este movimento está fazendo certo. Vocês se comprometeram com a não-violência. Vocês se recusaram a entregar à mídia as imagens de vitrines quebradas e brigas de rua que ela, mídia, tão desesperadamente deseja. E essa tremenda disciplina significou, uma e outra vez, que a história foi a brutalidade desgraçada e gratuita da polícia, da qual vimos mais exemplos na noite passada. Enquanto isso, o apoio a este movimento só cresce. Mais sabedoria.



Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.



Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.



Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.



A questão é que hoje todos são capazes de ver que o sistema é profundamente injusto e está cada vez mais fora de controle. A cobiça sem limites detona a economia global. E está detonando o mundo natural também. Estamos sobrepescando nos nossos oceanos, poluindo nossas águas com fraturas hidráulicas e perfuração profunda, adotando as formas mais sujas de energia do planeta, como as areias betuminosas de Alberta. A atmosfera não dá conta de absorver a quantidade de carbono que lançamos nela, o que cria um aquecimento perigoso. A nova normalidade são os desastres em série: econômicos e ecológicos.



Estes são os fatos da realidade. Eles são tão nítidos, tão óbvios, que é muito mais fácil conectar-se com o público agora do que era em 1999, e daí construir o movimento rapidamente.



Sabemos, ou pelo menos pressentimos, que o mundo está de cabeça para baixo: nós nos comportamos como se o finito – os combustíveis fósseis e o espaço atmosférico que absorve suas emissões – não tivesse fim. E nos comportamos como se existissem limites inamovíveis e estritos para o que é, na realidade, abundante – os recursos financeiros para construir o tipo de sociedade de que precisamos.



A tarefa de nosso tempo é dar a volta nesse parafuso: apresentar o desafio à falsa tese da escassez. Insistir que temos como construir uma sociedade decente, inclusiva – e ao mesmo tempo respeitar os limites do que a Terra consegue aguentar.



A mudança climática significa que temos um prazo para fazer isso. Desta vez nosso movimento não pode se distrair, se dividir, se queimar ou ser levado pelos acontecimentos. Desta vez temos que dar certo. E não estou falando de regular os bancos e taxar os ricos, embora isso seja importante.



Estou falando de mudar os valores que governam nossa sociedade. Essa mudança é difícil de encaixar numa única reivindicação digerível para a mídia, e é difícil descobrir como realizá-la. Mas ela não é menos urgente por ser difícil.



É isso o que vejo acontecendo nesta praça. Na forma em que vocês se alimentam uns aos outros, se aquecem uns aos outros, compartilham informação livremente e fornecem assistência médica, aulas de meditação e treinamento na militância. O meu cartaz favorito aqui é o que diz “eu me importo com você”. Numa cultura que treina as pessoas para que evitem o olhar das outras, para dizer “deixe que morram”, esse cartaz é uma afirmação profundamente radical.



Algumas ideias finais. Nesta grande luta, eis aqui algumas coisas que não importam:



Nossas roupas.



Se apertamos as mãos ou fazemos sinais de paz.



Se podemos encaixar nossos sonhos de um mundo melhor numa manchete da mídia.



E eis aqui algumas coisas que, sim, importam:



Nossa coragem.



Nossa bússola moral.



Como tratamos uns aos outros.



Estamos encarando uma luta contra as forças econômicas e políticas mais poderosas do planeta. Isso é assustador. E na medida em que este movimento crescer, de força em força, ficará mais assustador. Estejam sempre conscientes de que haverá a tentação de adotar alvos menores – como, digamos, a pessoa sentada ao seu lado nesta reunião. Afinal de contas, essa será uma batalha mais fácil de ser vencida.



Não cedam a essa tentação. Não estou dizendo que vocês não devam apontar quando o outro fizer algo errado. Mas, desta vez, vamos nos tratar uns aos outros como pessoas que planejam trabalhar lado a lado durante muitos anos. Porque a tarefa que se apresenta para nós exige nada menos que isso.



Tratemos este momento lindo como a coisa mais importante do mundo. Porque ele é. De verdade, ele é. Mesmo.



Fonte: Revista Forum

AGENDA PARA A NOVA ECONOMIA - DAVID C KORTEN



Posted by Ladislau on 23 fevereiro 2009, 9:50 pm ( http://www.dowbor.org/ )
RESENHA

From phantom wealth to real wealth

David. C. Korten / Berrett-Koehler San Francisco 2009



Estão começando a sair livros de avaliação sistêmica da crise financeira que vivemos. Publicado em fevereiro de 2009, e atualizado até finais de janeiro, o livro de David Korten é o resultado de um esforço intensivo de organização de dados e de propostas, capitalizando informações que vinha sistematizando nos últimos anos, e já incorpora toda a fase de eclosão da crise, inclusive os programas de Barack Obama.



David Korten ficou mundialmente conhecido ao escrever o que é ainda a melhor introdução à compreensão da dinâmica das corporações transnacionais, Quando as Corporações Regem o Mundo. A sua segunda obra publicada no Brasil, pela Vozes, A Sociedade pós-corporativa, é essencialmene propositiva, muito mais centrada na visão das alternativas que temos para criar uma economia e um processo de desenvolvimento que tenham pé e cabeça. O livro que acabamos de receber, Agenda for a New Economy, junta o conhecimento de primeira linha que o autor tem dos processos de globalização financeira, com as propostas práticas de construção de uma economia mais humana. Ao mesmo tempo que apresenta os mecanismos que geram a crise, Korten busca as oportunidades que se abrem para uma reforma mais ampla do casino global.



No conjunto, o autor considera que Wall Street, no que simboliza de desvio de capitais para atividades especulativas, é um sistema ultrapassado, desvinculado das necessidades prosaicas do mundo moderno, sendo inócuas as tentativas de salvá-lo. Usando a imagem da espaço-nave terra, Korten sugere que o faroeste financeiro onde qualquer esperteza é válida para os poderosos arrancarem o que puderem, simplesmente nos leva para o desastre. Numa espaço nave, que depende vitalmente de recursos que são escassos e não renováveis, cada agente econômico tem de pensar também na sua contribuição. Em termos éticos, devemos assegurar o básico para todos. Os excessos de pobreza e de riqueza são vistos como patológicos para o funcionamento equilibrado da sociedade. Numa proposta distribuida em 12 pontos básicos, Korten traz o que pode ser qualificado de uma “agenda do bom senso”.



Korten é um caso interessante: trabalhou muitos anos com a Usaid, participou de diversos programas de apoio ao desenvolvimento de regiões mais pobres, e foi adotando uma visão mais crítica não por leituras teóricas mas por ver como o sistema funciona. Hoje dirige uma ONG e faz um trabalho intenso de divulgação de alternativas de organização econômica e social. É sem dúvida um dos pensadores mais criativos da atualidade.



Trata-se aqui de um ensaio, livro pequeno, de leitura simples, mas extremamente rico em propostas práticas. Neste momento em que todos somos chamados a repensar os nossos rumos, é um grande aporte, uma das melhores leituras de economia aplicada, e extremamente “colado” no drama da crise financeira que vivemos. (L. Dowbor



RESENHA


Quando As Corporações Regem o Mundo - AUTOR: DAVID C KORTEN







Vaqueiros numa Espaçonave



O autor coloca que o mesmo homem que no século XX faz viagens à lua também gera uma tríplice crise humana:



Aumento da pobreza;

Desintegração social;

Destruição ambiental.



A classe média está se retraindo, desemprego aumentado, gerando fome, doenças e falência social com criminalidade, drogas, estupros, espancamentos, suicídios, etc., o indivíduo fica marginalizado e se afasta da sociedade e da família (divórcios). Porém, tudo que se quer é uma família estável, que possa sobreviver com dignidade.



Boulding - 1968 - diz que o problema resulta do nosso comportamento de vaqueiros num espaço sem fronteiras, quando, na realidade, habitamos uma nave espacial com um sistema de suporte de vida em precário equilíbrio.



Vida de vaqueiro: Recursos inesgotáveis, trabalho ilimitado e buscam a própria fortuna.



Vida de astronauta: Recursos limitados, reciclam excedentes para manter o equilíbrio e saúde física e mental.



Esta economia de vaqueiro está causando sobrecarga dos sistemas de manutenção da vida, criando competição entre os membros mais poderosos e mais fracos da espaçonave chamada terra.



O mundo está lotado, com previsão de dobrar a população nos próximos 35 anos, atingindo níveis próximos a 13 bilhões de habitantes que viverão na pobreza, sendo que a capacidade seria de aproximadamente 2 bilhões para manter o equilíbrio e o homem sobreviver aqui com recursos abundantes enquanto o sol brilhar.



A fadiga ambiental é função direta do consumo humano, que gera lixo e não está sendo escoado, causando chuvas ácidas, desertos, diminuição das florestas, oxidação, salinização e erosão dos solos, abertura da camada de ozônio, etc..



O consumo dos recursos naturais, é causado em aproximadamente 80% pelos 20% mais ricos e os outros 20% pelos 80% mais pobres da população mundial, porém os ricos detém o poder e mandam o lixo para longe. A desigualdade de renda não pode ser motivo para não conscientização e preocupação ambiental, pelo contrário, todos vivem aqui e dependem daqui, e se continuar assim, não está distante o dia em que os recursos naturais se esgotarão.



O crescimento da ilusão se caracteriza na crença de que o crescimento econômico é a chave para satisfazer as necessidades humanas, mas a distribuição da produção não deveria ser feita em conformidade com a renda per capita pois as necessidades de higiene, alimentação e boa saúde, são comuns a todos e se traduzem em longa vida para os homens e para o ecosistema.



Os relacionamentos econômicos precisam ser reestruturados para focalizar 2 prioridades:



Os humanos devem equilibrar o uso do ambiente com a capacidade do ecosistema;

Os humanos devem alocar o capital natural disponível de forma a atender as necessidades de todas as pessoas.

Os interesses corporativos precisam ser voltados ao ser humano para que o equilíbrio precário seja fortalecido, sob pena de o homem extinguir a si próprio.



Talvez, agora a consciência humana de um modo geral, esteja se voltando para o problema do ecosistema, pois começam a sentir os efeitos, as consequências do que vieram fazendo estes anos todos.







A Luta pela Soberania







As corporações tem interesse em aumentar seu poder, cada vez mais, e seus interesses estão entrelaçados com interesses dos ricos que acabam confundindo o porque as corporações existem e colocam os interesses pessoais (dos ricos) acima dos interesses das corporações e consequentemente acima de toda a sociedade.



A força das corporações surge da combinação da competição de mercado, da demanda aos mercados financeiros e dos esforços dos indivíduos.



As corporações são controladoras e dominantes e lutam com o povo pela soberania. Normalmente fazem alianças abusivas com os governantes.



Para reequilibrar o planeta, precisamos reconquistar o poder que já entregamos às corporações que deveria ser uma instituição voltada aos interesses humanos, mas tem ideologias de livre mercado, desintegração social e ambiental.



Enquanto se acreditar que o crescimento econômico, a globalização econômica, privatizações, interesses pessoais de lucros, comportamento competitivo, levam o ser humano ao progresso, baseado em consumismo, estaremos reforçando o poder das corporações e destruindo o nosso ecosistema. Devemos pensar em criar mercados que funcionem dentro de uma estrutura de responsabilidade pública e troca equilibrada.



A aliança libertária das corporações é feita entre os racionalistas econômicos, liberais do mercado e membros da classe corporativa. As corporações formam-se entidades à parte dos indivíduos e divergem os interesses humanos dos corporativos.



O ideal de Adam Smith era um mercado composto de pequenos compradores e vendedores, não com grandes monopólios, com governos e corporações dificultando o progresso.



Hoje se acredita no crescimento infinito relacionado ao libertarismo corporativo e que os direitos do indivíduo estão relacionados à liberdade de mercado e ao direito da propriedade.



Com o fim da União Soviética, as corporações ocidentais entraram no mercado, levando o consumismo até eles. O ocidente está se tornando dependente de corporações isoladas e irresponsáveis.



O mercado deveria ser feito com competição honesta, não tendo vencedores e nem perdedores que saem do mercado, nem grandes monopólios. Deveria ser feito com confiança nos negociadores e os bens deveriam ser feitos para todos a preços de custo real, com uma distribuição mais justa e tentando restabelecer o equilíbrio da natureza.



Precisamos pensar num equilíbrio criativo para criar sociedades sensíveis à ecologia, jogando com regras diferentes onde todos arquem com os custos devidos, fazendo trocas necessárias e de acordo com o ecosistema.



Não podemos continuar a ser governados por poucos que vivem isolados da realidade do dia a dia, não preparados para definir interesses públicos, porque se forem esgotados os recursos no mundo, não saberão outra maneira de viver, e enquanto no poder, despreocupados com os problemas criados pelas corporações relacionados ao ecosistema.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

La Lógica de la Abundancia - Juan Urrutia




Economía en Porciones



La Lógica de la Abundancia

Artículo publicado originalmente en el número 46 de Ekonomiaz, revista cuatrismestral editada por el Gobierno Vasco para el fomento del análisis y el debate económico



Índice

1.Introducción: La Nueva Economía y sus detractores

2.La potencia de Internet

3.Redes identitarias y confianza mutua

4.Estrategia y gestión empresariales

5.Política de la competencia

6.Cabos sueltos

7.Comentarios finales

8.Referencias bibliográficas

Clasificación JEL: D6, L1, L4



En este artículo se arguye que el pleno desarrollo de la lógica de la abundancia que subyace en la Nueva Economía y está asociada al efecto red, nos llevará a una situación límite (de competencia perfecta) en donde las estrategias típicas de tomar la posición o establecer un estandar no son practicables, en donde fidelizar a la clientela es imposible y en donde formar a la plantilla en las TIC es no aconsejable de forma que clientes y empleados deben dejar de ser considerados como tales y pasar a ser verdaderos colaboradores de la empresa. Asimismo, se sugiere que la política de la competencia debe ser revisada en el sentido de facilitar el tamaño de aquellas empresas que por ambición y miopía no se reprimen a la hora de explotar el efecto red.



Nota introductoria del autor

Este trabajo está conformado mediante la reordenación de algunas ideas expresadas en diversos artículos publicados en un diario economico a lo largo de los últimos meses. Agradezco las sugerencias que he recibido para convertirlos en un trabajo más o menos académico. Agradezo especialmente a Alberto Lafuente que me forzó a hacerlo y me ofreció sus comentarios a una versión previa, comentarios que he hechos míos de manera descarada. Ver sin embargo la nota 6.



La Nueva Economía y sus Detractores

Si queremos tener una idea cabal de la importancia económica de las redes de personas es conveniente enmarcar la cuestión dentro del contexto de lo que ha dado en llamarse la Nueva Economía. Este es un concepto resbaladizo que sin embargo hay que tratar de captar si queremos entender muchos acontecimientos del último lustro del 2000 y pretendemos avizorar el futuro económico que nos espera. La tarea no es, sin embargo, fácil a pesar de que el término es de uso corriente en los Estados Unidos desde hace no menos de cuatro años y entre nosotros desde hace al menos unos dos. Y no es fácil porque ningún economista con nombre reconocible y reputación respetable reivindica su autoría y, en consecuencia, no sabemos a donde volver la atención para caracterizar esta Nueva Economía. Sin embargo, la Nueva Economía inunda la páginas de sus periódicos, el hombre de la calle se malicia que algo nuevo está surgiendo a través de Internet y los entendidos, además de explorar sus aspectos más evidentes relativos a cambios en la productividad o a singularidades en la formación de los precios, no tienen más remedio que referirse a ella como fenómeno curioso, aunque sólo sea para afirmar que la economía es la economía y que sus leyes básicas no parece que vayan a ser superadas1. En relación con este aspecto de fenómeno curioso, hay que decir que, si bien es cierto que esta Nueva Economía no quiere romper con desarrollos teóricos bien establecidos, no es menos es cierto que pone en juego algo todavía mucho más básico: la noción clásica de que el desarrollo económico tiene su final, poco brillante, en un estado estacionario en el que ya nada relevante crece. Que pueda pensarse en un crecimiento continuo de la renta per capita, tal como sugiere la Nueva Economía, justifica parte del título de este trabajo (la relativa a la lógica de la abundancia) y constituye una novedad rigurosa cuyos orígenes pueden ser examinados brevemente.



Las ideas más corrientes que tratan de explicar que la abundancia es posible giran alrededor de la intuición de que el crecimiento incuba más crecimiento. Esto es así, bien porque el desarrollo activa algún factor oculto que produce rendimientos crecientes en la producción de bienes, bien porque este desarrollo potencia unas externalidades generalizadas que acaban generando un círculo virtuoso. En efecto, la competencia generalizada en mercados cada vez más libres, la globalización de los mercados de capitales y su mayor transparencia, la consolidación del venture capital, así como la reducción dramática de los costes de transacción que las nuevas TIC traen consigo, han liberado fuerzas creativas antes aprisionadas. Este último factor tecnológico (acquisition, processing and transformation, and distribution of information (Nordhaus 2000c)), es para muchos el signo distintivo de la Nueva Economía y adquiere su importancia en conexión con esas externalidades que se dan cuando el coste de producir algo en una empresa cae con el nivel de producción de ese algo por todas las empresas. Estas externalidades, vistas desde la parte de la oferta, son bien conocidas en la vieja economía a partir, entre otras, de esa antigua idea del aprendizaje por la experiencia que nos alerta de la dependencia de la estructura de costes de fabricación de un avión, por ejemplo, respecto al número de aviones fabricados con anterioridad. También son propias de la vieja economía algunos otros efectos que generan rendimientos crecientes en sectores organizados en red. Pero lo más propio de la Nueva Economía son las externalidades que generan rendimientos crecientes, pero desde el lado de la demanda. Por ejemplo, la utilización del teléfono es tanto más conveniente para una persona dada cuanto más teléfonos hay instalados de forma que cuantos más de estos hay, mayor es la demanda de los que no lo tienen y el coste unitario de producción puede disminuir.



Pues bien, a mi juicio la idea central de la Nueva Economía es que estas externalidades, denominadas respectivamente aprendizaje por la experiencia y efecto red, y especialmente este último, adquieren una importancia crucial en presencia del desarrollo de las TIC. En efecto cualquier cosa que puede ser reducida a bits y comprimida para su transporte por la Red (y la información sobre cómo construir aviones así como la comunicación de datos entre miembros de una red telefonía son dos ejemplos paradigmáticos) puede ser reproducida a coste prácticamente nulo. Y son estos rendimientos crecientes a escala consecuentes, por ejemplo, al efecto red los que están en el origen de la posibilidad del crecimiento continuo (con independencia de la dificultad que las correspondientes no-convexidades plantean a los teóricos a efectos de probar existencia de equilibrio).



Se ha llegado a decir que estamos pasando de la lógica de escasez propia de la vieja economía a la lógica de la abundancia propia de la Nueva Economía y que este paso habrá de traer consecuencias sobre las estrategias empresariales, sobre las formas de gestión y sobre la política de competencia, ideas estas últimas que aparecen magníficamente expuestas en Information Rules de Shapiro y Varian (1999) que es para los economistas la Biblia de la Nueva Economía.



El objetivo principal de este trabajo es precisamente el de clarificar esta idea central de la Nueva Economía a partir de ideas muy básicas de Teoría Económica y del hecho, generalmente pasado por alto, de que el Netweaving (o actividad de tejer redes) que la generalización de Internet hace posible, puede reforzar ese efecto red que podría estar, junto con otras externalidades, en el origen de la Nueva Economía2. Pero este objetivo principal no es el único. De hecho la motivación para tratar de explorar la lógica de la abundancia propia de la Nueva Economía, surge de la reacción de muchos economistas contra la Nueva Economía en cuanto ésta ha empezado a dar signo de debilidad. Hacer ver con claridad que esta reacción es poco razonable constituye el objetivo secundario de este trabajo y, para enmarcarlo, comenzaré por admitir que, desde luego, la Nueva Economía tiene algo de mito; pero de mito eficaz. En efecto, ni siquiera la información, que es el ejemplo elemental de bien comprimible en la red y cuya producción puede, en principio, ser aumentada infinitamente (pues cabe siempre la información sobre la información...sobre la información), puede ser demandada en grandes cantidades ya que choca con la capacidad de asimilación del cerebro humano. Pero el mito influye en la realidad. El saber que se puede retrasar el advenimiento del estado estacionario produce la misma euforia que saber que se alarga la esperanza de vida de nuestra cohorte poblacional. Y esta euforia tiene el efecto inmediato de alargar el horizonte de cálculo de los agentes económicos. Este alargamiento, a su vez, genera una revalorización brutal de algunas empresas en Bolsa y un tono general positivo que, a su vez, y por el efecto riqueza, sostiene un incremento de la demanda agregada que puede ser satisfecho, sin presión sobre los precios, debido al incremento en productividad propio de los rendimientos crecientes. Este mito eficaz explica los resultados de la era Clinton en los Estados Unidos. Sin embargo, la euforia bolsística en que se traducía este fenómeno de la Nueva Economía se viene desinflando desde hace un año lo que explica la reacción de los agoreros. Pues bien esa reacción está equivocada porque ignora aspectos que yo pretendo destacar.



Para alcanzar los dos objetivos reseñados seguiré la siguiente estrategia. En la siguiente sección trataré de mostrar cómo la actividad de Netweaving puede incrementar la productividad del sistema económico, no por la reducción de los costes de transacción sino por el incremento de output que se producirá cuando la proliferación de redes nos lleve en el límite a una situación de competencia perfecta. En la sección tercera trato de poner de manifiesto la complicada relación que, a través de las redes de personas, se establece entre identidad y confianza mutua, algo muy a tener en cuenta para juzgar el futuro de la Nueva Economía y de las consecuencias e implicaciones que a ésta se atribuyen. En la sección cuarta y quinta tengo en cuenta los efectos de esa complicada dinámica de la confianza mutua sobre las estrategias y formas de gestión empresariales y sobre la política de la competencia respectivamente. En la sección sexta exploro las posibles consecuencias de las ideas anteriores para el debate sobre la paradoja de la productividad, para las ideas sobre el ciclo económico y para la polémica sobre la distribución. En la última sección resumo las conclusiones y destaco su fundamento teórico.



Notas

1.Respecto a la influencia de las nuevas tecnologías de la información y la comunicación en la productividad del sistema hay que citar a Gordon (2000), Oliner y Sichel (2000), a Brynjolfsson y Hitt (2000) y a Nordhaus (2000 a,b,c). En relación a singularidades en la formación de precios remito al lector al trabajo reciente de Mazón y Pereira (2000) en el que, entre otras cosas, se prueba que es posible que la pretendida reducción de los costes de transacción producida por las TIC no traiga consigo una reducción del precio correspondiente.

2.Aquí es necesario una aclaración. El uso continuo de la palabra red, tanto en la expresión efecto red como en la locución Netweaving puede llevar a pensar que las redes se estructuran o tejen automáticamente entre la clientela de un sector organizado en red o en el que funciona el efecto red. Esto no es así; entre la clientela de una compañía eléctrica puede que no exista el efecto red y si bien es cierto que la clientela de una compañía telefónica es el resultado del efecto red, eso no quiere decir que esté estructurada en red con una arquitectura minimamente compleja. Esta estructuración en red mediante el Netweaving lleva a la existencia de redes basadas en aspectos identitarios, redes que posiblemente se solapen y que en el límite puede pensarse que pasen a conformar una sola red en que todos hablan con todos.

La potencia de Internet

Acabo de sugerir que mediante el uso de las TIC se puede generar un continuo crecimiento no inflacionario del output per cápita a través de externalidades producidas por diversos efectos (entre los que destaca el efecto red) que permiten la existencia de rendimientos crecientes a escala y generan el consiguiente incremento en la productividad del sistema económico. Pues bien este incremento de la relación output/trabajo puede alcanzarse mediante una reducción del denominador o mediante un incremento del numerador y del contraste entre ambas vías aprendemos una lección interesante.



La utilización sistemática de las TIC disminuye significativamente los costes de transacción y, por consiguiente, disminuye el coste de generar el output, es decir el denominador del output per capita cuando el trabajo se mide en términos de eficiencia. Que esto es así lo observamos al darnos cuenta de que las empresas en general están comprando en el mercado lo que antes producían internamente y de que incluso están cambiando su naturaleza. Para una empresa eléctrica puede ser más inteligente dejar de producir y concentrarse en comerciar con la energía producida por otros. Ya en el mundo de las TMT vemos cómo el MP3 fuerza a que las empresas discográficas dejen de producir CDs físicos y se limiten a gestionar derechos y cómo se va haciendo probable que las grandes compañías de software dejen de venderlo y se limiten a gestionar el cobro del derecho a bajarlo de la red. Estos ejemplos son, creo, más significativos que la proliferación de proyectos B2B o B2C pero unos y otros son, en cualquier caso, fruto de la reducción de los costes de transacción propios del intercambio en el mercado.



Sin embargo la productividad puede aumentar también por un incremento en el numerador del output per capita, una idea muy clara cuando se trata de innovación tecnológica; pero que no aparece tan evidente cuando la innovación tecnológica es simplemente Internet. Y sin embargo he aquí el quid de la cuestión. Para empezar notemos que Internet permite el funcionamiento del Netweaving, es decir la conformación de redes de personas que comparten una identidad y se tienen confianza mutua y que esto, a su vez, tiene dos implicaciones inmediatas importantes. Por un lado transforma las comunidades inertes en agentes activos que pueden actuar en coalición al ser posible que los compromisos entre ellas sean firmes y creíbles. Por otro lado, al conectar, directa o indirectamente, cada persona con muchas otras, el Netweaving hace surgir muchas oportunidades de colaboración o intercambio que antes se desconocían o no se podían aprovechar por falta de confianza y que pueden llegar a proporcionar nuevas formas, más baratas, de acceso a los bienes y hasta nuevos bienes como los chats, que no son sólo una versión on line de la tertulia, sino que pueden llegar a ser, en ciertas condiciones y como mero ejemplo, un input importantísimo del marketing.



Continuemos mostrando que ambos cosas, la conformación de redes de personas y las consiguientes oportunidades, contribuyen a aumentar el output que un sistema económico puede generar con independencia de la emergencia de nuevos bienes. Para ello rastreemos lo que ocurrirá en la culminación del proceso de Netweaving cuando, por así decirlo, todas las redes estén ya tejidas y conformen una red de redes solapadas en la que todo individuo está conectado con cualquier otro. Pues bien arguyo que, en esa situación límite, se ha alcanzado lo que los economistas llaman competencia perfecta. Hay dos evidencias indirectas que nos hacen sospechar que esto es así. Primera, la extensión de redes hace que no haya ninguna ventaja del intercambio sin explotar y esto es la definición de una situación económica óptima. Pues bien el sistema de precios de libre mercado sostiene ese óptimo en ... competencia perfecta, tal como sabemos por el segundo teorema del bienestar. Segunda, como todas las coaliciones están activas pueden bloquear cualquier asignación que no esté en el núcleo de una economía y, como sabemos por el teorema de equivalencia, éste nucleo coincide con las asignaciones que se pueden obtener por el sistema de precios de libre mercado ... en competencia perfecta. Es decir el Netweaving ha conseguido conformar las condiciones que garantizan el funcionamiento óptimo del sistema de precios así como su estabilidad frente a cualquier otro mecanismo de asignación de recursos y siempre hemos sabido que esas condiciones tienen que estar relacionadas con la competencia perfecta. Pero es que, además, hay una relación inmediata, no sólo entre lo que la competencia perfecta permite y lo que el Netweaving consigue, sino también entre esto último y lo que la competencia perfecta es. En efecto esta situación es una en la que nadie tiene poder monopólico. Alguien lo tendría si, pudiendo aportar algo positivo a la red o al grupo al que pertenece, pudiera extraer el correspondiente beneficio de la amenaza de no aportarlo yéndose de la red o del grupo. Ahora bien, por el efecto red sabemos que cuanto más grande es una red más gana un individuo al introducirse en ella pero menos aporta el grupo. Por lo tanto cuando la red está completada, nadie aporta nada significativo y nadie puede extraer beneficio alguno por marcharse. Nadie tiene poder monopólico: estamos en competencia perfecta 1. El argumento de esta sección podría acabar aquí pues ya he mostrado que Internet, a través del Netweaving y con independencia de la emergencia de nuevos bienes, puede aumentar la productividad, puesto que, desde una situación en la que hay algún grado de monopolio, empuja hacia una situación en la que éste se ha eliminado y, en consecuencia, hace aumentar el output. Sin embargo la lección realmente importante a extraer no es ésta sino un corolario inmediato. Si muchos negocios basados en las TIC no generan el valor que se esperaba, e incluso entran en quiebra, no es porque estos proyectos no estén bien planteados en términos de reducción de costes de transacción. Pueden estarlo; pero el problema es que no pueden explotar las ventajas de esa reducción porque sirven a una clientela cuya confianza no han ganado, y no la han ganado porque esa clientela no está constituida en una red identitaria de redes identitarias solapadas. Mientras no se haya alcanzado algo cercano a esa situación límite del Netweaving que identificábamos con la competencia perfecta, difícilmente los proyectos de venta a través de la red pueden desarrollarse plenamente. Pero cuando se haya alcanzado esa situación límite y esos proyectos sean practicables no serán sin embargo tan atractivos pues no alcanzarán beneficios extraordinarios sustantivos. Cabe reflexionar sobre si esta paradoja los invalida. Todo depende de lo que pase en el interim y de cómo se pueda ir generando la confianza que permite el funcionamiento del mercado. Volveré sobre este asunto pero previamente me gustaría decir algo más sobre esas redes de personas que ha mencionado con profusión en esta sección.



Notas

1.Esta manera de entender la competencia perfecta se debe originalmente a Ostroy (1980) y a Makowski (1980) y sus consecuencias intelectuales pueden explorarse en el trabajo de Makowski y Ostroy (2000). Más indirectamente también puede rastrearse en Mason (2000).

Redes identitarias y confianza mutua

Una red no es más que un conjunto de personas cuyos canales de comunicación entre sí están especificados con precisión conformando lo que se llama la arquitectura de la red. Esta arquitectura puede ser muy variada, desde una totalmente descentralizada (en la que los individuos sólo se relacionan con un nodo central) hasta otra totalmente descentralizada (en la que cada individuo se relaciona con todos los demás). Estas relaciones, además pueden usarse unidireccional o bidireccionalmente creando así una gama muy variada de arquitecturas alternativas y, por lo tanto de diferentes redes 1; pero en toda red es cierto que el número de conexiones posibles crece más rápidamente que el número de individuos que forman parte del conjunto de personas subyacente 2. Es precisamente esta característica de una red la que está por debajo de la potencia de Netweaving a la que me refería en la sección anterior. En ésta me gustaría explorar mejor el aspecto identitario de las redes y discutir, en conexión con su arquitectura, el problema de la generación de confianza mutua que, como ya hemos visto es crucial para el florecimiento de los proyectos de comercio electrónico.



La idea de red es muy primitiva; pero quizá no reparemos en ella hasta que pensamos en ejemplos específicos. Para los que nos hemos dedicado al mundo académico debería estar muy claro que, con excepciones más numerosas de lo que se dice, lo que con gradilocuencia notable se llamaban escuelas no eran sino redes de intereses que te hacían acreedor a un puesto permanente en el cuerpo funcionarial correspondiente cuando llegara tu hora. Pero no todas las redes tienen ese aspecto retardatorio (al menos para la ciencia). Las tribus urbanas, a las que se ha prestado mucha atención sociológica, carecían de este espíritu arrivista aunque sí mostraban el identitario y una arquitectura más centralizada que la que caracterizaba a las escuelas académicas. Los clubs de golf podrían ser otro ejemplo de red descentralizada que añade a las anteriores el aspecto informacional ya que, según cuenta el tópico, los links son un lugar apropiado para confidencias de negocios. Cada uno puede hacer su lista de redes, desde la masonería a la cuadrilla pasando por los antiguos alumnos de una universidad o las casas regionales y similares, redes que presentan una arquitectura variada. Pensemos sin embargo en dos fenómenos que me parecen más novedosos y que subrayan otros dos aspectos de las redes. Los adolescentes de hoy tiene que reconocerse por su pertenencia a variados grupos identificadores y perfiladores de la personalidad. Los treintañeros remedan a los personajes de Friends, la serie televisiva, y forman redes que, además de identificarles frente a sus mayores, les proporcionan una especie de socorros mutuos muy valiosos en un mercado laboral como el de hoy en día en el que el trabajo es bastante precario. Notemos que, en estos dos últimos casos, la arquitectura es totalmente descentralizada.



Entre todos los aspectos de una red que acabo de destacar, el fundamental y del que siguen los demás es el identitario. La identidad empieza a ser un tema que economistas respetables (Vease Akerlof y Kranton (2000) o Kelly y ó Gráda (2000)) empiezan a considerar 3. Yo mismo lo he tratado de manera más filosófica (Urrutia 2001) pero para comenzar a entenderlo de manera intuitiva notemos una tensión importante entre los que pertenecen y los que no pertenecen a una red. Si perteneces eres alguien, existes para los demás, bien como miembro de su misma red bien como miembro de otra red alternativa. Si no perteneces eres un ser anónimo, no eres nadie, no existes. Esta tensión refleja una contradicción entre la que se mueve todo ser humano. En efecto todos sentimos simultáneamente el tirón de la individualidad y la llamada de la especie. Esta última nos reclama ser alguien, nos empuja a identificarnos con los otros como un remedo de eternidad; pero el tirón de la individualidad nos arrastra a elaborar nuestra personalidad única como seres que conforman su propia clase y que no pertenecen a ninguna red, comunidad o tribu, es decir como seres que no son nadie a los ojos de los demás. Diversas resoluciones de esta contradicción dan origen a distintas formas de realización humana desde el héroe romántico al antihéroe de novela negra pasando por el santo místico. Pero todas estas figuras retóricas, que dramatizan una tensión bien conocida por cualquiera con un mínimo de capacidad de introspección, pierden su cualidad ejemplar cuando tratamos de caracterizar la resolución actual, posmoderna, de la tensión entre ser alguien y ser nadie. Esta resolución está muy bien ejemplificada por el cazador de marcas y asesino sicótico de American Psycho, la novela de Bret Easton Ellis (1993). Este personaje es alguien, porque pertenece a alguna red identificada por una marca. De hecho es muchos alguienes porque no siempre lleva la misma marca. En el fondo no es nadie porque no es fiel a ninguna red en particular. Esta forma posmoderna de resolver el conflicto humano que estoy tratando de glosar es novedosa porque llega a la individualización, a la determinación de la identidad , no por la renuncia a pertenecer, sino por la proliferación de pertenencias. El ser más único, el más heroico, es el que pertenece a todas las redes posibles.



La relación entre identidad y confianza es un tema al que se le presta cada vez una mayor atención académica tal como los trabajos de Alesina y Laferrara (2000) y Glaser et al. (2000) ponen de manifiesto. Pero la multipertenencia que acabo de destacar pone en juego la generación y el sostenimiento de la confianza mutua. En principio parece que el héroe posmoderno puede finalmente cultivar sus múltiples yoes; pero esta ampliación de la libertad tiene su precio. Este hombre de hoy nunca está aislado, siempre está acompañado; pero nunca por la misma persona; pertenece a todas las redes existentes pero no se identifica del todo con ninguna. Este ser es, como Spinoza, un marrano en todas partes, en ninguna tienen confianza plena en él y, lo que aquí más nos interesa, ilustra la relación entre arquitectura y confianza mutua. En efecto, parecería que ésta última es mayor (y, en consecuencia, disminuye los costes de transacción en mayor medida) cuanto más tupida es la arquitectura de la red, cuanto más solape haya entre distintas redes. Pensaríamos pues que cuanta más multipertenencia hay mayor es la confianza mutua; pero esto contrasta con la desconfianza que generan los Spinoza de este mundo, una especie en peligro de explosión tal como los ejemplos de adolescentes y Friends, citados más arriba, querían ilustrar.



La moraleja de estas disquisiciones quizá poco académicas sobre identidad y confianza mutua es que la relación entre estos dos conceptos ya no es sencilla sino que se ha ido problematizando. Prácticamente hasta el momento presente, en que las redes tenían pocos solapes, la identidad era una cuestión de pertenencia y la confianza mutua era una consecuencia inmediata. La literatura citada en esta sección se encuentra todavía en este estadio pero hoy la identidad posmoderna es una cuestión de multipertenencia, las redes son muy solapadas y pero la confianza mutua no es automática. Si conectamos esta moraleja con la lección que aprendimos en la sección anterior (que los proyectos de comercio electrónico no despegarían hasta que se generara la suficiente confianza mutua) nos encontramos con que esta condición necesaria (la confianza mutua) no es tan fácil de generar por el Netweaving e incluso que el ejercicio de este último puede ser contradictorio al generar multipertenencia. Pues bien, en este mundo en el que impera la lógica de la abundancia, donde hay un problema hay también una oportunidad de negocio. Quién pueda complementar el Netweaving, y la multipertenencia que esta actividad trae consigo, con una fuente independiente de confianza será el ganador en la Nueva Economía.



Notas

1.Una visión esquemática de la arquitectura de una red de personas, junto con el examen de la incidencia de arquitecturas alternativas sobre diversos resultados económico y una bibliografia casi exhaustiva de la escasa literatura disponible puede encontrarse en Vega-Redondo (2000).

2.El número de conexiones posibles en una red de N pesonas es, según la Ley de Metcalfe, N2- N. Sin embargo el número de conexiones que se forman en la arquitectura final depende de muchos factores y es perfectamente posible que su número no aumente, o no lo haga de manera continua. No hay mucha literatura al respecto, pero hay que mencionar a Jackson y Watts (1998) y Jackson y Wolinski (1996).

3.Este es un buen momento para hacerme eco de un comentario de Alberto Lafuente en correspondencia (electrónica) privada. Interpreta y resume lo dicho hasta aquí, en la primera parte de ese comentario, como que la facilidad para anudar redes pone en valor el capital relacional de la sociedad lo que conduce al crecimiento. Este resumen conciso es admirablemente correcto aunque obvia que la facilidad a que se refiere se debe a ese carácter complementario de la relación entre TIC e identidad de las redes preexistentes que permite hacer más compleja, tupida y descentralizada la arquitectura de éstas. Es esta complementariedad la que aclara el resto de su comentario y responde a su pregunta implícita. Dice Lafuente en la segunda parte de su comentario : si tuviera que emplear una analogía para explicar porqué algo que ya existía (redes de personas) se convierte en un factor productivo de primer orden, recordaría la institucionalización del descubrimiento técnico (subrayado mío) que tuvo lugar en el siglo XIX. Antes había conocimiento, pero sólo cuando su producción fue respaldada por una innovación social (los laboratorios, las comunidades científicas, las académicas, las escuelas técnicas, las patentes) se convirtió en factor productivo. El factor productivo de primer orden en nuestro caso (equivalente al conocimiento) sería la confianza mutua que reduce muchísimo los costes de transacción. Esa confianza mutua había existido siempre en redes pequeñas de carácter identitario. Para convertirla en un factor productivo de primer orden necesitaríamos una institucionalización de su descubrimiento o producción. Necesitamos pues institucionalizar el Netweaving. Aquí se abre un inmenso campo para la especulación. ¿Cuáles son los acontecimientos públicos y privados que quizá llevan a hacer del Netweaving algo similar al sistema de ciencia y tecnología? Queda la respuesta para otra ocasión.

Estrategia y gestión empresariales

En la segunda sección, dedicada a examinar la potencia de Internet como herramienta del Netweaving, surgía como corolario que los proyectos de comercio electrónico no tienen porqué despegar hasta que se genere la suficiente confianza mutua a través de la configuración de redes identitarias. En la sección anterior, dedicada a pensar la relación existente entre la identidad propia de una red, su arquitectura y la confianza entre sus miembros, veíamos que el ejercicio del Netweaving puede llegar a ser contraproducente a efectos de crear confianza ya que, al tejer redes solapadas, puede generarse desconfianza hacia los que, como Baruch Spinoza, pertenecen a varias redes distintas y enemigas. Podría pues decir que hasta ahora he explorado algunas consecuencias económicas y sociales, y yo creo que claves, de la proliferación de redes que Internet hace posible. Es pues un buen momento para tratar de pensar sobre las correspondientes consecuencias empresariales.



Se ha comentado tanto el impacto de la Nueva Economía sobre las prácticas empresariales que no habría manera de catalogar las muchas sugerencias destacadas. Dejaré pues de lado temas como la discriminación de precios según la demanda de diferentes colectivos hacia bienes informacionales, la gestión de la propiedad intelectual de la información, los cambios organizativos apropiados a las nuevas ideas, las nuevas oportunidades de negocio propiciadas por una concepción menos rígida de los límites sectoriales así como otras muchas novedades8 para concentrarme en las estrategias y las formas de gestión que están más directamente relacionadas con la manera de entender la Nueva Economía que he perfilado en la primera sección y que pone énfasis en la lógica de la abundancia asociada a los rendimientos crecientes. En cuanto a las estrategias aparecen conceptos novedosos como los de tomar la posición (es decir ser el primero en llegar a un mercado) o establecer un standard mediante el regalo de una nueva invención que nos encasquille en su uso, conceptos ambos que hacen referencia a prácticas que permiten explotar tranquilamente las rentas de monopolio que acompañan al hecho de ser un pionero, o un inventor aparentemente generoso, en un mundo de rendimientos crecientes producidos por el efecto red. Estas estrategias empresariales novedosas traen aparejadas formas de gestión complementarias. La fidelización de la clientela es la más obvia pero también se suele mencionar la retención de la mano de obra mediante su formación en las TIC y su correspondiente participación en las ventajas del uso de la Intranet de la empresa.



Lo que se trata de estudiar ahora es si estas formas de gestión y estas estrategias que se asocian a la lógica de la abundancia son consistentes con las tendencias de su propio desarrollo. Los economistas estamos acostumbrados a ver en las situaciones límite las tendencias del presente por lo que resulta natural explorar qué queda de estrategias y formas de gestión en el límite del Netweaving cuando, tal como hemos visto, surgen la competencia perfecta y la multipertenencia generalizada. Vaya por delante la afirmación de que, en la situación límite, unas y otras se ponen claramente en entredicho. La clave para entender esta afirmación en relación a las estrategias está en captar que si bien es cierto que el efecto red ha llevado a la ampliación y a la proliferación de redes, una vez estas redes estén completadas (por usar un término expresivo) ese efecto red desaparece. Tomar la posición en esa situación límite reminiscente de la competencia perfecta no quiere decir gran cosa. Uno puede estar en el origen de una red y puede haberla extendido mucho; pero no hay ninguna garantía de que esto constituya una verdadera barrera de entrada. El efecto red puede reeditarse si alguien, mediante la creación de un producto nuevo, apenas diferenciado del anterior, ocupa un nuevo nodo y arrastra a un puñado de agentes hacia él formando otra red incipiente. Esta acabará sustituyendo a la anterior si el puñado de agentes es lo suficientemente numeroso y se dan algunas condiciones técnicas determinadas reminiscentes de las estudiadas en relación a la noción de contagio. De manera análoga podría decir que establecer un standard tampoco nos garantiza nada. Un standard concreto puede tener un éxito enorme en el sentido de que nos encasquillemos en él, pero ese éxito puede resultar efímero y, en ciertas condiciones, puede darse el caso de que acabemos desencasquillándonos de ese standard que puede llegar a ser desplazado por otro alternativo de forma rápida10. En las dos estrategias que estoy considerando la situación límite de competencia perfecta frustra el intento de proteger las rentas monopólicas que se han ido acumulando hasta ese momento, porque, en el límite, cualquier alternativa al producto existente puede contagiarse a la velocidad de la luz precisamente por el fenómeno de multipertenencia, porque todos los agentes están organizados en redes que se solapan y que, por lo tanto, constituyen una red única.



Examinemos ahora las reglas de gestión que he mencionado como complementarias a las estrategias que acabo de analizar. Pensemos primero en la fidelización de la clientela. A menudo la estrategia de tomar la posición está asociada al intento de retener a la clientela mediante subterfugios diversos. Sin embargo debería estar claro que estos subterfugios no tienen porqué ser necesarios en mercados estructurados en red (como los típicos del comercio electrónico) porque, bajo la influencia del efecto red, la fidelización está garantizada, a partir de un umbral determinado y una vez tomada la posición, por el interés de todo cliente en estar interconectado con la red más amplia posible de las disponibles y, en consecuencia, la dinámica resultante no puede ser parada fácilmente. Sin embargo la fidelización de la clientela vuelve a ser un problema en el límite justamente porque tomar la posición es una estrategia efímera: la fidelización automática asociada al efecto red ya no opera, precisamente, claro está, porque la red ha sido completada, porque toda comunidad posible ha sido estructurada en red. Si admitimos que la situación límite es reminiscente de la competencia perfecta entenderemos inmediatamente que la fidelización sea un problema ya que, en esa situación, la propia idea de clientela está en juego. La noción de clientela, en efecto, implica una cierta permanencia en la relación que no es propia de la competencia perfecta en la que cualquier pequeño accidente puede mover a un gran número de compradores hacia un proveedor alternativo. Esto en cuanto a la fidelización de la clientela; pero, para terminar, pensemos en la política de retener a la mano de obra mediante su propia estructuración en red utilizando las TIC en las que habría que formarla. A mi juicio esta política es discutible porque convertir a los empleados en cibernautas es hacerles libres e infieles o, al menos, ponerles en situación de serlo. Por lo tanto la idea de dotar a la mano de obra de una identidad propia, o como se decía antes, de hacerles sentir los colores, no me parece que tenga mucho porvenir como forma de gestión de los recursos humanos en el mundo de la Nueva Economía. A mi juicio una y otra de estas formas de gestión tienen que ser sobrepasadas. Clientes y empleados tienen que dejar de ser meros receptores de mensajes para convertirse en interlocutores de la dirección y del Consejo en la búsqueda incesante de nuevas ideas 1.



Notas

1.Este es el momento más apropiado para subrayar que las TIC y, en general, la Nueva Economía van a traer consigo cambios en la organización de la empresa. A este respecto, y entre muchas publicaciones relevantes, cabe citar a Brynjolfssm y Hitt (2000), Garicano (2000), Maskin, Qian y Xu (2000) y Zingales(2000)

Política de la competencia

En las tres secciones anteriores he tratado de explicar la enorme potencialidad del Netweaving para llevarnos a una situación límite en la que la defensa de la competencia ya no es necesaria, en donde "tomar la posición" o "establecer un standard" son estrategias difícilmente practicables, fidelizar la clientela es un problema y formar la plantilla en las TIC es quizás no aconsejable. Claro está que mientras se alcanza esa situación límite las formas de gestión y las estrategias empresariales propias de la Nueva Economía tiene sentido; pero hay que advertir que son self-defeating puesto que propulsan el sistema económico hacia su desideratum de competencia perfecta, algo deseable por los consumidores pero peligroso por los productores. En mi deseo de explicarme las consecuencias de esa lógica de la abundancia que subyace a la Nueva Economía pretendo ahora explorar los posibles obstáculos a su desarrollo, obstáculos que pueden originarse endógenamente, tanto en el sistema productivo en sí como en los incentivos de los empresarios, y que suscitan inmediatamente la pregunta sobre el papel que ha de jugar la política de la competencia.



El análisis de los incentivos empresariales es bastante fácil pues ya sabemos que, si bien la competencia perfecta disciplina a los empresarios, el objetivo de estos últimos es procurar que la competencia no sea perfecta, sino que se acerque lo más posible a una situación de monopolio. Sus accionistas se lo agradecerán. Pues bien, los más avispados entre los gestores de empresas, habiendo ya conseguido cierto poder monopólico, procurarán que la comunidad formada por su clientela y estructurada en red por Internet, no se expanda del todo. Pensemos en plataformas digitales o redes de cajeros o cualquier otro sector en el que el efecto red sea más o menos relevante. No es que en estos casos cada empresa vaya a restringir la entrada al club de su clientela pero sí que permitirán sin demasiada lucha que existan otros clubs formados por la clientela de los competidores. ¿Por qué?, pues porque las empresas, que solían competir entre sí fieramente, tiene ahora incentivos a dejar de hacerlo para coordinarse, implícita o explícitamente, a fin de retardar el advenimiento de la competencia perfecta y alargar así el disfrute de una cierta situación de monopolio adquirida con inteligencia y comprensión de la Nueva Economía. La novedad rigurosa de la situación es pues que el comportamiento del monopolista es inadecuado no porque luche por aumentar el ámbito de su monopolio a expensas de la clientela ajena sino porque no hace suficientes esfuerzos en esa dirección. En consecuencia la política de competencia en esos sectores debería propiciar la ampliación del tamaño de la empresa monopólica de hoy (a efectos de ir preparando el desideratum que se avista al final del camino) en lugar de procurar la existencia de explotaciones numerosas que, al fin y al cabo, no pueden aprovechar eficazmente el efectos red. Pero en esa actividad la política de la competencia encontrarían curiosamente resistencia en los propios empresarios que preferirán autocontrolarse para que su poder dure más y no se disipe en la nada. Cabría pensar que esto quizá no fuera así ya que, al fin y al cabo, los emprendedores no saben frenar su ambición, bien sea por miopía, bien sea por un gran descuento de un futuro muy lejano. Pero es que puede haber circunstancias que les abran los ojos. Ahora me fijaré en dos de estas circunstancias, una tecnológica y la otra societaria.



Tecnológicamente hay un freno objetivo al solape de redes que consigue mantener a los agentes económicos en grupos separados. En la literatura del desarrollo el fenómeno ha merecido el nombre de OŽring effect por parte de Kremer (1993) en recuerdo de la pequeña pieza en forma de arandela de goma que generó el desastre de la lanzadera espacial Challenger. Un pequeño defecto destruye un proyecto delicado y de enormes exigencias técnicas. La moraleja está descrita por Cohen (1998, p. 54, 55) de la siguiente forma: En una cadena de montaje el menor desajuste de un eslabón pone en peligro el producto final en su totalidad. En consecuencia trabajadores involucrados en un mismo proceso tienden a tener niveles de competencia muy similares (traducción propia). Esto es relevante para el desarrollo económico por la dualización salarial que trae consigo, pero a nuestros efectos lo que nos interesa es que hay fuerzas que nos llevan a agruparnos en comunidades homogéneas y separadas. En consecuencia, es posible que, en lugar de agotar las ventajas del intercambio comerciando con miembros de otras comunidades o generando con ellos proyectos conjuntos, dejemos escapar oportunidades de mejorar nuestra situación económica simplemente porque falta la confianza necesaria para aprovecharlas.



Si la tecnología moderna propicia estos emparejamientos diferenciales los empresarios tendrán una excusa para dejarse llevar por sus incentivos y frenar la proliferación de redes solapadas. Podrán luchar por fidelizar mediante redes a clientes de un grupo determinado; pero rechazarán quizás conformar redes con miembros de otras comunidades. Pero ¿bastará esto para convencer a sus accionistas de que no merece la pena tratar de extender su poder monopólico?. Los accionistas también son consumidores y como tales les gustaría alcanzar cuanto antes la competencia perfecta; pero como accionistas preferirían compartir los beneficios extraordinarios propios del camino hacia ella. Por lo tanto es posible que los accionistas traten de retrasar el advenimiento del desideratum, de acuerdo, curiosamente, con los ejecutivos. Para que esto no ocurra habría que reforzar los servicios o tribunales de defensa de la competencia para que no sólo inciten al monopolista a la ampliación de la clientela (justo lo contrario de lo que suelen hacer) sino para que hagan funcionar el mercado del control de empresas propiciando que las empresas con mayor descuento del futuro y una mayor miopía actual se haga con el control de aquellas otras que todavía no han explotado todo su poder de monopolio.



En resumen, aquellos sectores en los que la clientela puede facilmente ser estructurada en red de complejidad grande y arquitectura descentralizada bien porque son sectores en red (electricidad) o sectores en los que además funciona el efecto red (teléfonos), confrontan una situación extraña. Si la lógica de la abundancia se despliega sin obstáculos llegaremos a alcanzar la situación que denominamos de competencia perfecta, el paraíso del consumidor. En ella no es necesario defender la competencia y las estrategias empresariales y las formas de gestión que nos han llevado hasta allí dejan de tener sentido o de ser practicables. Sin embargo se pueden reconocer obstáculos a esta lógica de la abundancia, en parte debidos al reconocimiento de la situación por parte de las propias empresas. Mientras estos obstáculos subsistan estas estrategias y formas de gestión sí que tienen sentido; pero la defensa de la competencia deberá convertirse paradójicamente en una defensa de la legitimidad del crecimiento del monopolista para asegurar que no se frena la llegada de la competencia perfecta. Todo esto suena my raro; pero es que nada es como era en una Nueva Economía en la que los rendimientos crecientes por parte de la demanda gobiernan la lógica de la abundancia. Es precisamente ésta la que hace que, tal como veíamos en la segunda sección, el monopolio no pueda ejercerse cuando ya se han agotado las ventajas del efecto red. Intentar hacerlo sería inútil porque inmediatamente cualquier agrupación de disidentes se organizaría como productora alternativa, cosa posible dada la confianza que la estructura en red ha generado.



Cabos sueltos

En las secciones anteriores me he acercado a la Nueva Economía de una forma que me ha permitido llamar la atención sobre la importancia de las redes de personas basadas en la confianza así como explorar algunas posibles consecuencias del Netweaving en la estrategia y gestión empresariales y en la política de la competencia. Pero creo que, además, mi planteamiento puede arrojar alguna luz sobre otras características de la Nueva Economía.



La primera de éstas, o el primer cabo suelto, es el de la paradoja de la productividad. Como dijo el primero Nobel Robert Solow "los ordenadores se ven por todas partes menos en las estadísticas de productividad". En efecto, a pesar del uso masivo de las TIC, el incremento de la productividad generalizado que deberían traer sólo se ha notado en las manufacturas de bienes de consumo duraderos (especialmente las que dan soporte a las TIC) tal como ha mostrado bastante convincentemente Gordon (2000). La explicación de esta aparente paradoja, que parece se empieza a disipar en la realidad americana13 sería, según la lógica de la abundancia, que es precisamente la manufactura del soporte físico de los TIC (y el correspondiente software) la que más fácilmente puede estructurar la red de su clientela y que, por lo tanto, hay que dejar que pase el tiempo para que las redes se vayan configurando en otros sectores o, si se quiere, para que otros sectores se vayan contagiando. Estos procesos, tal como ha mostrado Paul David (1990) en base a estudios de casos históricos, llevan su tiempo.



Otro cabo suelto es la afirmación tantas veces repetida de que, en la Nueva Economía, el ciclo económico ha desaparecido. A diferencia del punto anterior no creo que con respecto a este segundo haya estudios cuantitativos serios o, por lo menos, yo no soy consciente de su existencia. Por lo tanto me limitaré a un comentario cualitativo muy rápido. A mi juicio la Nueva Economía, o mejor dicho la lógica de la abundancia, no tiene nada que ver con los ciclos económicos. Inventar alguna formulación dinámica que, después de un desajuste, desencadene un comportamiento sinusoidal sólo requiere un mínimo de sofisticación matemática. Pero el punto crucial científicamente hablando es identificar el desajuste y, en ese sentido, cabe preguntarse si la lógica de la abundancia puede dar origen a algún desajuste específico diferente a los shocks tecnológicos o financieros que suelen postularse en los modelos de ciclos económicos con los que hoy contamos. Desde esta lógica, tal como yo la entiendo, la pregunta natural es la de si el proceso dinámico conformado por la estructuración en red de una clientela con perímetro creciente gracias al efecto red, no estará plagado de accidentes que surgen inesperadamente a medida que las redes se van configurando. Una idea a explorar es la de que, tal como ya hemos visto, es posible que la desconfianza que genera la pertenencia simultanea a varias redes acabe desenredando algunas redes ya formadas y generando un desajuste importante. Esta es una cuestión de estabilidad de las redes sobre lo que ya hay cosas escritas14. En ausencia de un conocimiento sistemático sobre este punto es muy difícil afirmar nada sobre el periodo y la amplitud de los nuevos ciclos. Si bien la intuición inicial es que la conformación de redes puede mejorar la coordinación económica y suavizar el ciclo, la verdad es que cualquier quiebra en la confianza mutua puede desarticular una red y constituir un shock peligroso.



Se ha dicho a menudo que la Nueva Economía podría tener un impacto considerable sobre la distribución, tanto entre ciudadanos de un país como entre países, el último cabo suelto de esta sección. La lógica de la abundancia empieza a funcionar en una época en que simultáneamente se dan la desregulación de actividades, la liberalización de mercados, la globalización financiera y la privatización de muchas empresas. Como estos fenómenos pueden tener influencia sobre la distribución de la renta y sobre la brecha entre países pobres y ricos, su existencia simultanea no permite aislar la influencia que sobre los mismos puede llegar a tener la lógica de la abundancia. Yo sólo me atrevería a decir que la distribución de la renta acabará pareciéndose mucho más a la distribución del talento, que sospecho que ésta es mucho más igualitaria que aquélla y que este cambio hacia la meritocracia propiciará una circulación de las élites menos cruenta, aunque no más fácil, que en otras ocasiones históricas en que dicha circulación de las elites ha pasado por episodios sangrientos de reapropiación de la riqueza física.



Comentarios finales

Pretendo ahora resumir las conclusiones alcanzadas, destacar su fundamento teórico y, para finalizar, volver sobre la motivación inicial. Un resumen iría por los siguientes derroteros. Lo crucial de la Nueva Economía es la importancia creciente de algunos sectores en los que el efecto red produce rendimientos crecientes por la parte de la demanda. Sin embargo estos rendimientos no se podrían generalizar si no estructuramos en red, o en redes solapadas, a la correspondiente clientela y finalmente a toda la sociedad, cosa que hoy puede imaginarse como posible gracias a las TIC y más concretamente a INTERNET. Sin esta labor de Netweaving y sin la confianza que instala en la comunidad no puede esperarse el despegue del comercio electrónico; pero esta confianza necesaria no es fácil de proporcionar y quien sepa cómo hacerlo será un ganador en la Nueva Economía. El pleno desarrollo de la lógica de la abundancia que subyace a esta Nueva Economía nos llevará a una situación límite (de competencia perfecta) en donde las estrategias típicas de "tomar la posición" o "establecer un estandar" no son practicables, en donde fidelizar a la clientela es imposible y en donde formar a la plantilla en las TIC es no aconsejable de forma que clientes y empleados deben dejar de ser considerados como tales y pasar a ser verdaderos colaboradores de la empresa. Mientras no se llegue a esa situación límite estas estrategias y formas de gestión pueden ser utilizadas aunque es previsible que su uso sea limitado a fin de generar rentas monopólicas y que éstas no se disipen. De ahí que la política de la competencia tenga que ser revisada en el sentido de facilitar el tamaño de aquellas empresas que por ambición y miopía no se reprimen a la hora de explotar el efecto red. Además la lógica de la abundancia puede contribuir a explicar la paradoja de la productividad y a proponer hipótesis alternativas respecto a los ciclos económicos, la distribución de la renta o la brecha entre países ricos y pobres.



No voy a volver sobre el razonamiento que me ha permitido alcanzar las conclusiones que acabo de resumir; pero en la medida en que estas son sorprendentes es necesario subrayar que están obtenidas con el apoyo de dos supuestos teóricos delicados que pueden ser discutidos. El primero de los dos supuestos teóricos básicos consiste en considerar a la competencia perfecta como una situación que corresponde al límite de un monopolio (que se produce por los rendimientos crecientes quizá tecnológicos, quizá generados por el efecto red, quizá por ambas razones) cuando su clientela se va estructurando poco a poco en una red única de arquitectura descentralizada y compleja algo que, como ya dije en la introducción, va más allá de la pertenencia a una red de usuarios. Cuando ocurre esa estructuración, el único productor no tiene verdadero poder monopólico porque si quisiera explotarlo la coalición de todo el mundo, que ahora se puede formar porque la red une a todo el mundo directa o indirectamente, no se lo permitiría. Es como si el monopolista confrontara una demanda perfectamente elástica o, en otros términos, como si un monopolista no pudiera explotar a todo el mundo todo el tiempo. El segundo supuesto teórico que he utilizado casi en todo momento es el de considerar al proceso que nos lleva al límite descrito como continuo, en el sentido de que el poder monopólico (medido por la elasticidad de la demanda agregada que confronta el monopolista) va disminuyendo a medida de que la red de clientes se va configurando. Solo cuando esta continuidad es cierta podemos con propiedad ver en el límite un espejo de la tendencia actual; pero no es fácil probar que las cosas ocurren de esta manera. De hecho he insinuado que el Netweaving puede tener retrocesos y, lo que es más importante, he explicitado que hay razones para pensar que el proceso puede ser torpeado por las propias empresas o articulado por la propia tecnología. Pues bien a la luz de estos comentarios el análisis efectuado en este trabajo y las conclusiones obtenidas y que acabo de resumir son más entendibles y también más fácilmente discutibles.



Llego así al final de este esfuerzo por entender la lógica de la abundancia como algo que esta aquí y ahora, que pertenece al corazón de la Nueva Economía y que no puede ignorarse a pesar de la caída en Bolsa de los valores tecnológicos desde hace casi un año y de las dificultades por las que pasan hoy muchas empresas on line.



Referencias Bibliográficas

•AKERLOF, G Y R. KRANTON (2000): Economics and Identity, Quarterly Journal of Economics, 115,3 pp- 715-753

•ALESINA, H. Y E. LAFERRARA (2000): Participation in Heterogenous Communities Quarterly Journal of Economics , 115,3,pp. 847-904

•ALESINA H. Y E. LAFERRARA (2000): Who Trusts Others? Discussion Paper nº 2646, CEPR

•BRYNJOLFSSON E. Y L. HITT (2000): Beyond Computation: Information Technology, Organizational Transformation and Bussiness Performance, Journal of Economic Perspectives, 14,4, pp. 22-48.

•COHEN, D. (1998): The Wealth of the World and the Poverty of Nations. The MIT Press, Cambridge, Massachusetts.

•DAVID, P. (1990): The Dynamo and the Computer: An Historical Perspective on the Modern Productivity Paradox, American Economic Review, Papers and Proceedings, 80:2, pp 355-61

•ELLIS, B.E. (1993): American Psycho, Ediciones B, Barcelona

•FREIDLIN, M. Y A. WENTZELL (1984): Random Perturbation of Dynamical Systems, Springer- Verlag, Berlin

•GARICANO, L (2000): Hierarchies and the Organization of Knowledge in Production, Journal of Political Economy, 108, 5 pp. 874-904.

•GLAESER L, D.LAIBSON, J. SCHEINKMAN Y CH. SOUTTER (2000): Measuring Trust Quarterly Journal of Economics, 115, 3, p 811-46

•GORDON, R. (2000): Does The New Economy measure up to the Greate Increation of the part?, Discussion Papper nº 2607, CEPR.

•JACKSON, M. Y A. WATTS (1998): The Evolution of Social and Economic Networks, no publicado, página Webb de Jackson

•JACKSON M. Y A. WOLINSKI (1996): A Strategic Model of Social and Economic Networks, Journal of Economic Theory, 71, pp. 44-74

•KELLY M. Y C. Ó GRÁDA (200): Market Contagion: Evidence from Panics of 1854 and 1857 American Economic Review, 90,5,pp. 1110-1124

•KREMMER, M. (1993): The O-Ring Theory of Economic Development, Quarterly Journal of Economics, 108, pp 551-575

•MAKOWSKI, L (1980): A Characterization of Perfectly Competitive Economies with Firms, Journal of Economic Theory, 22, pp 208-221.

•MAKOWSKI, L. J. OSTROY (2000): Perfect Competition and the Creativity of the Market, de próxima publicación en el Journal of Economic Literature.

•MASON, R. (2000): Network Extemalities and the Coase Conjecture, European Economic Review, 44, pp. 1981-1992

•MASKIN, E., Y QIAN Y CH.XU (2000): Incentives, Information and Organizational Form, Review of Economic Studies, 67, 359-378.

•MAZON C. Y P. PEREIRA (2000): Electronic Commerce, consumer Search and Retailing Cost Reduction. No publicado, Banco de España

•NORDHAUS, W. (2000, A ): Alternative Methods for Measuring Productivity Growth, working paper 8095, NBER

•NORDHAUS, W. (2000, B ): Productivity Growth and the New Economy, working paper 8096, NBER

•NORDHAUS, W. (2000, C ): New Data and Output Concepts for Understanding Productivity Growth, working paper 8097, NBER

•OLINER, S. Y D. SICHEL (2000): The Resurgence of Growth in the Late 1990Žs: Is Information Technology The Story?. Journal of Economic Perspectives 144, pp 3-22.

•OSTROY, J. (1980): The No-Surplus Condition as a Characterization of Perfectly competitive Equilibrium Journal of Economic Theory, 22, pp.183-207.

•SHAPIRO, C Y H. VARIAN (1999): Information Rules. A Strategic Guide to the Network Economy, Harvard Business School Press, Cambridge, Massachusetts.

•URRUTIA, J (2001): Una Reconstrucción de la Fraternidad Aristotélica mediante la Teoria de Juegos Evolutivos, de próxima publicación en TELOS

•VEGA-REDNDO, F. (2000): Social Networks I & II ponencia presentada en la Tercera Escuela de Verano de F.U.E. , San Sebastian.

•YOUNG, P. (1998): Individual Strategy and Social Structure, Princeton University Press, Princeton, N.J.

•ZINGALES, L (2000): In Search of

sábado, 24 de dezembro de 2011

Autoconhecimento e Natureza - Eckart Tolle




A NATUREZA

Dependemos da natureza não só para a nossa sobrevivência física.

Também necessitamos da natureza para que nos ensine o caminho para casa, o caminho para sairmos da prisão de nossas mentes.

Nós nos perdemos no fazer, no pensar, no recordar, no antecipar; estamos perdidos em um complexo labirinto, em um mundo de problemas.

Esquecemos aquilo que as rochas, as plantas e os animais já sabem.

Nos esquecemos de Ser, de sermos nós mesmos, de estar em silêncio, de estar onde está a vida: Aqui e Agora.

Focalizar a atenção em uma pedra, em uma árvore ou em um animal, não significa “pensar neles”, mas simplesmente percebê-los, dar-se conta deles.

Então eles te transmitem algo de sua essência.

Sente quão profundamente descansam no Ser, completamente unificados com o que são e onde estão.

Ao perceber isto, tu também entras em um lugar de profundo repouso dentro de ti mesmo.

Quando caminhares ou descansares na natureza, honra este reino, permanecendo aí plenamente. Acalma-te. Olha. Escuta.

Observa como cada planta e cada animal são completamente eles mesmos.

Diferentemente dos humanos, não estão divididos em dois.

Não vivem por meio de imagens mentais de si mesmos, e por isso não precisam preocupar-se em proteger e potencializar estas imagens.

Todas as coisas naturais, além de estarem unificadas consigo mesmas, estão unificadas com a totalidade.

Não se afastaram da totalidade exigindo uma existência separada: “eu”, o grande criador de conflitos.



Tu não criastes teu corpo, nem és capaz de controlar as funções corporais.

Em teu corpo opera uma inteligência maior que a mente humana.

É a mesma inteligência que sustenta tudo na natureza.

Para aproximar-te ao máximo desta inteligência, torna-te consciente de teu próprio campo energético interno, sente a vida, a presença que anima o organismo.

Quando percebes a natureza apenas com a mente, por meio do pensamento, não podes sentir sua plenitude de vida, seu ser.

Unicamente vês a forma e não estás consciente da vida que a anima, do mistério sagrado.

O pensamento reduz a natureza a um bem de consumo, a um meio para conseguir benefícios, conhecimento, ou a algum outro propósito prático.

Observa, sente um animal, uma flor, uma árvore, e vê como descansam no Ser.

Cada um deles é ele mesmo.

Eles têm uma enorme dignidade, inocência, santidade.

No momento em que olhas além dos rótulos mentais, sentes a dimensão inefável da natureza, que não pode ser compreendida pelo pensamento.

É uma harmonia, uma sacralidade que além de preencher a totalidade da natureza, também está dentro de ti.

O ar que respiras é natural, como o próprio processo de respirar.

Dirige a atenção à tua respiração e percebe que não és tu quem respira.

A respiração é natural.

Conecta-te com a natureza do modo mais íntimo e interno percebendo a tua própria respiração e aprendendo a manter tua atenção nela.

Este é um exercício que cura e energiza consideravelmente.

Produz uma mudança de consciência que te permite ultrapassar o mundo conceitual do pensamento e atingir a consciência incondicionada.

Precisas que a natureza te ensine e te ajude a reconectar-te com teu Ser.

Não estás separado da natureza.

Todos somos parte da Vida Única que se manifesta em incontáveis formas em todo o universo, formas que estão, todas elas, completamente interconectadas.

Quando reconheces a santidade, a beleza, a incrível quietude e dignidade que existem em uma flor ou em uma árvore, acrescentas algo a esta flor ou a esta árvore.

Pensar é uma etapa na evolução da vida.

A natureza existe em uma quietude inocente que é anterior à aparição do pensamento.

Quando os seres humanos se aquietam, vão além do pensamento.

A quietude que está além do pensamento contém uma dimensão maior de conhecimento, de consciência.

A natureza pode levar-te à quietude.

Este é o presente dela para ti.

Quando percebes a natureza e te unes a ela no campo da quietude, este se enche com tua consciência.

Este é o teu presente para a natureza.

Através de ti, a natureza toma consciência de si mesma.

É como se a natureza tivesse ficado à tua espera durante milhões de anos para adquirir esta consciência.





Postado por Maria José Rezende

Autoria: Eckhart Tolle





terça-feira, 20 de dezembro de 2011

“O dinheiro é como um anel metálico que colocamos em nossos narizes” Bernard Lietaer


FONTE: Deriva Editora





26 26UTC outubro 26UTC 2009 — Grupo Papeando





Esta é uma entrevista com Bernard Lietaer feita pela jornalista Sarah van Gelder, editora da revista Yes, revista de futuros positivos, EUA, 1988. O texto em espanhol foi enviado à Primavera, aos 23 de Abril de 2002. Esta tradução é do tipo tradução livre da CAPINA.



Poucas pessoas trabalharam com e sobre o sistema monetário a partir de enfoques tão distintos como Bernard Lietaer, que atuou cinco anos no Banco Central da Bélgica. Aí, seu primeiro projeto foi o desenho e a implementação de uma moeda européia unificada. Lietaer foi presidente do sistema de pagamento eletrônico da Bélgica; desenvolveu para empresas multinacionais tecnologias a serem usadas em ambientes de múltiplas moedas nacionais; também atuou em países em desenvolvimento, contribuindo para melhorar suas poupanças. Ensinou finanças internacionais na Universidade de Lovaina, na Bélgica, país onde nasceu, e, ainda, foi gerente geral e broker (corretor) de uma das grandes empresas de investimento.

Atualmente, é professor visitante do Centro para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e está escrevendo o seu décimo livro, O Futuro do Dinheiro: mais além da cobiça e da escassez. A editora Van Gelder conversou com ele sobre a possibilidade de um novo tipo de moeda, mais adequada à construção da comunidade e da sustentabilidade. Essa é a conversa que transcrevemos aqui.



Por que você põe tanta esperança no desenvolvimento de moedas alternativas?



O dinheiro é como um anel metálico que colocamos em nosso nariz e nos esquecemos de que fomos nós mesmos que o desenhamos e, então, nos deixamos conduzir por ele ao redor do mundo… Acredito que já é tempo de imaginar aonde queremos ir e, em minha opinião, deveríamos nos encaminhar para a sustentabilidade e para a comunidade. Portanto, é preciso desenhar um sistema monetário que nos conduza até este ponto.



Então, na realidade, você diria que muito daquilo que ocorre ou que não ocorre na sociedade tem sua raiz no desenho do dinheiro?



É assim. Enquanto os livros de texto de Economia sustentam que as pessoas e as empresas estão competindo por mercados e recursos, eu sustento que, na realidade, elas estão competindo é por dinheiro – usando os mercados e os recursos para fazer isso. Portanto, o desenho de um novo sistema monetário significa, na realidade, redesenhar o alvo para o qual se orienta grande parte do esforço humano. Mais ainda: creio que a cobiça e a competência não resultam de nenhum temperamento humano imutável constitutivo. Eu cheguei à conclusão de que a cobiça e o medo da escassez, na realidade, estão sendo continuamente criados eamplificados, como conseqüência direta do tipo de dinheiro que estamos utilizando. Por exemplo, podemos produzir mais alimentos do que o suficiente para alimentar todo o mundo, como também existe trabalho suficiente para todos no mundo. Mas, claramente, não existe dinheiro suficiente para pagar todos esses trabalhos: a escassez está em nossas moedas nacionais. Na realidade, a tarefa dos Bancos Centrais é criar e manter essa escassez de divisas e a conseqüência disso é que temos então que lutar uns contra os outros a fim de sobreviver.



O dinheiro é criado quando os bancos fazem empréstimos. Quando um banco entrega a soma de cem mil dólares contra uma hipoteca, na realidade o que o banco está criando é o dinheiro principal e inicial, ou seja, os 100.000 que você gasta e que, então, faz circular a economia. Mas, na realidade, o banco conta com que você vai devolver 200.000 dólares nos próximos vinte anos. Só que estes segundos 100.000 dólares não são criados. Pelo contrário, significa que o banco manda você para o mundo cruel, para que você lute contra todo mundo e traga para ele esses segundos 100.000 dólares.



Então, isto quer dizer que uns têm que perder para que outros possam ganhar? Ou seja, é preciso que uns tenham que sacar de suas contas para que outros consigam dinheiro suficiente para pagar esses juros?



É assim: é exatamente isso que os bancos fazem quando emprestam o dinheiro que têm. E isso é assim porque as decisões tomadas pelos Bancos Centrais, como a Reserva Federal dos EE UU, são tão importantes. Uma alta significativa no custo das taxas de juros automaticamente determina uma proporção muito alta de quebras necessárias. Na realidade, isso quer dizer que quando o banco verifica sua credibilidade, realmente o que ele está checando é o quanto você é capaz de competir e vencer os outros jogadores. Em outras palavras, até que ponto você vai ser capaz de extrair esses segundos 100.000 dólares que o banco nunca criou e que, se você fracassar neste jogo, ele o fará perder sua casa ou qualquer outro patrimônio colateral que você terá que entregar.



Isto influencia também a taxa de desemprego?



Seguramente, este é um fator maior, mas ainda há algo mais a agregar: cada vez mais, as tecnologias da informação permitem que se alcance um alto crescimento econômico sem um correspondente aumento do emprego. Creio que nos EE UU, neste momento, estamos vivendo uma das últimas etapas ou períodos orientados pelo emprego, como diz Jeremy Rifkin em seu livro o Fim do trabalho: os empregos não vão existir mais, nem sequer nas boas épocas. Um estudo feito pela Federação Metalúrgica Internacional em Genebra prediz que, dentro dos próximos trinta anos, apenas dois ou três por cento da população mundial serão capazes de produzir todas as necessidades do planeta. Mesmo que multipliquemos isso por um fator dez, a pergunta será: o que então fariam os outros 80 por cento da humanidade? Meu prognóstico é de que as moedas locais serão uma ferramenta de muita importância para o desenho social no século XXI, mesmo que não seja por nenhuma outra razão além do emprego. Não estou dizendo que essas moedas locais estão sendo chamadas a substituir ou que irão substituir as moedas nacionais. Por isso mesmo é que as chamo de moedas complementares. As moedas nacionais que geram competição, com certeza, vão continuar a desempenhar seu papel no mercado global competitivo. Mas, creio eu que, sem dúvida, as moedas locais complementares são muito mais adequadas para desenvolver as economias locais e cooperativas.



Você acredita que essas economias locais irão prover uma forma de emprego que não será ameaçada de extinção?



Ao menos numa primeira etapa, isso é correto. Na França, atualmente, existem umas trezentas redes de intercâmbio local chamadas SEL (SAL). Desenvolveram-se quando os níveis de desemprego alcançaram os 12%, para facilitar intercâmbios de diversos tipos de produtos e serviços, desde os aluguéis à produção orgânica. Mas também é certo que em alguns lugares se trata de um movimento bastante desenvolvido, como no Sudeste da França, em Ariège, onde existe um movimento bastante importante de pessoas que, não só comercializam queijos, frutas, tortas e outros produtos de mercado comercializados a cada 15 dias, mas também serviços de serralheria, cabeleireiro, aulas de navegação a vela ou aulas de inglês. Nesse circuito, apenas são aceitas as moedas locais. E as moedas locais criam trabalho; assim, creio ser adequado fazer a distinção entre trabalho e emprego. Emprego é o que você faz para viver. Ao contrário, trabalho é algo que você pode fazer se que você quiser, se te agrada. Desde já, espero que os empregos se tornem cada vez mais obsoletos e, mesmo assim, sempre existirá um fascinante e infinito trabalho por ser feito. Na França, você encontra pessoas que oferecem aulas de violão em troca de aulas de alemão e ninguém paga em euros. O que é maravilhoso quanto à moeda local é que quando as pessoas criam sua própria moeda não precisam criá-la com base no fator da escassez e nem precisam dispor de moedas de nenhum outro lugar para poder fazer um intercâmbio com o vizinho. Outro exemplo clássico é o do Time Dollar de Edgard Kahn, que significa que, enquanto existir um acordo entre duas pessoas sobre alguma transação com uso desses time dollars, o dólar tempo, eles já criaram odinheiro no próprio processo do acordo; não existe, portanto, escassez de moeda e isso não significa que exista uma quantidade infinita dessa moeda. VOCÊ NÃO PODE ME DAR 500.000 horas de time dollars porque seria impossível da tua parte dar tantas horas… Mas não existe essa escassez artificial de dinheiro que os bancos criam permanentemente. Em vez de atirar uns contra os outros, este sistema impulsiona as pessoas a cooperarem entre si.



Você está sugerindo que a escassez não precisa ser um princípio guia de nosso sistema econômico. Mas a escassez não é fundamental à economia, em especial quando se trata de um mundo de recursos limitados?



A análise dessa questão está baseada no trabalho de Carl Gustav Jung, porque ele foi o único que construiu um marco de abordagem da psicologia coletiva. E o dinheiro é um fenômeno de psicologia coletiva. O conceito chave de Jung é que o dinheiro é um campo emocional que mobiliza as pessoas individual e coletivamente em uma direção particular. Jung mostrou que todas as vezes que um arquétipo particular é reprimido, emergem dois tipos de sombras que são polaridades uma da outra. Por exemplo, se o arquétipo que corresponde ao papel de rei ou de rainha é reprimido, eu vou me comportar seja como um tirano seja como um covarde.



Essas duas sombras estão conectadas uma à outra através do medo. Assim, alguém é tirano por medo de parecer débil, enquanto o débil o é por medo de parecer tirano. Só alguém que não tenha medo dessas duas sombras pode incorporar o arquétipo do Soberano. Agora, podemos aplicar este marco também ao fenômeno, já tão bem documentado, da repressão ao arquétipo da Grande Mãe – o arquétipo da Grande Mãe foi muito importante no mundo ocidental, nos albores da pré-história, através do período pré indo-europeu e ainda o é em muitas culturas tradicionais atuais. Mas esse arquétipo tem sido violentamente reprimido no ocidente, ao menos durante 5.000 anos iniciados com as invasões indo-européias, reforçadas pela cosmovisão judáico-cristã, que é contrária à figura da deusa, e culminando com os três séculos de caças às bruxas ao longo da era vitoriana.



Assim, se repressão exercida contra esse arquétipo é de tal ordem, e tendo durado todo esse tempo, então, aquelas sombras se manifestam de maneira muito poderosa na sociedade. Se depois de 5.000 anos as pessoas passaram a considerar esses comportamentos de sombra como normais, a pergunta que eu me faço é muito simples: quais são as sombras do arquétipo da Grande Mãe? Daí que estou propondo que estas sombras sejam a cobiça e o medo da escassez. Assim, não é surpreendente que, na época vitoriana, no clímax da repressão contra a Grande Mãe, um mestre escola escocês chamado Adam Smith tivesse então criado a economia moderna, que pode ser definida a partir deste enfoque como uma maneira de distribuir ou de administrar os recursos escassos através do mecanismo individual e pessoal da cobiça.



Então, se a cobiça e a escassez são as sombras, qual é o arquétipo da Grande Mãe? Ou melhor, o que representa o arquétipo da Grande Mãe em Economia?



Primeiro, seria importante distinguir a deusa que representa todos os aspectos do DIVINO como a GRANDE MÃE, que simboliza especificamente o planeta Terra, a fertilidade, a natureza e o fluxo da abundância em todos os aspectos da vida. Alguém que assimilou o arquétipo da Grande Mãe confia na abundância do universo. É quando falta confiança em você mesmo que, então, o fato de ter uma gorda conta bancária, a qualquer preço, acaba sendo o maior valor a que se aspira. O primeiro homem que acumulou uma série de coisas como proteção contra as incertezas do futuro, automaticamente teve que começar a defender o seu botim contra a inveja e as necessidades dos outros. Se uma sociedade tem medo da escassez, ela cria um ambiente no qual se manifestam boas razões para se viver com medo da escassez: isso é o que se chama uma profecia de autocumprimento.



Também é verdade que temos vivido durante um longo tempo acreditando que era necessário criar escassez para criar valor. Mesmo que isso possa ser válido em alguns domínios, se extrapolado para outros, como temos feito, pode ser absolutamente artificial. Por exemplo, não existe nada que nos impeça de distribuir gratuitamente toda informação. O custo marginal dessa distribuição nos dias de hoje é praticamente nulo; sem dúvida, inventamos copyrights e patentes para manter a informação escassa (e valiosa). Assim, o medo da escassez é que cria a cobiça e a acumulação, criando por sua vez – em outra parte – a escassez que se temia. Enquanto, por seu lado, as culturas que incorporam a Grande Mãe são baseadas na abundância e na generosidade.



Estas idéias estão desenvolvidas por você no conceito de comunidade?



Na realidade, minha definição de comunidade é etimológica. A origem da palavra ‘comunidade’ vem do Latim, de munus, que quer dizer dom, presente; e de cum, que quer dizer juntos. Juntos, um com o outro é o que significa literalmente comunidade; dar-se uns aos outros. Portanto, eu defino comunidade como um grupo de pessoas que acolhe bem e honra minhas ofertas e presentes, e de quem espero também receber em troca, de volta, razoavelmente, ofertas e presentes.



E as moedas locais podem facilitar este intercâmbio de presentes?



A maioria das moedas locais que conheço começaram com o propósito de criar emprego, mas existe um grupo crescente de pessoas que estão começando experiências de moedas locais especificamente para criar comunidade. Por exemplo, eu me sentiria muito estranho se chamasse meu vizinho, no vale, e lhe dissesse: “percebi que você tem um montão de pêras em sua árvore. Será que posso pegar algumas? Imediatamente, me sentiria com a necessidade de lhe oferecer algo em troca… Mas, se vou ao supermercado e ofereço meus dólares escassos, é muito mais fácil e muito mais cômodo, simplesmente porque … vou ao supermercado! Assim, acabamos não usando as pêras do vizinho. Mas, se eu tivesse moedas locais, não teria nenhuma escassez de meios de troca. Então, comprar as pêras do vizinho poderia se tornar numa boa desculpa para a interação. Em Tahoma Park, Maryland, Olav Eliberk começou com uma moeda local para facilitar esse tipo de intercâmbio dentro da comunidade e todos os participantes concordam que foi isso o que ocorreu desde então.



O que nos leva à seguinte pergunta; se as moedas locais podem significar também um meio pelo qual as pessoas podem satisfazer suas necessidades básicas, como alimentação e moradia? Ou se essas são necessidades que deverão continuar sendo satisfeitas pelo mercado competitivo?



Tem muita gente que gosta de jardinagem mas que, neste mundo competitivo, não pode viver de jardinagem. Agora, se um jardineiro está desempregado e eu estou desempregado, na economia formal os dois devemos morrer de fome. Sem dúvida, com as moedas complementares, ele pode cuidar de meu jardim e fazer crescer meus alfaces e eu posso lhe pagar em moeda local, prestando algum serviço a alguém que precise dele, da mesma forma como as horas de Ithaca, NY, são aceitas no mercado local. Pois, os granjeiros usam a moeda local para pagar a alguém que os ajude com a colheita ou para consertar alguma coisa dentro de casa. Alguns senhorios aceitam essas “horas” para pagamento do aluguel, especialmente se não estão afetados por cotas de hipoteca a serem pagas com os dólares escassos.



Quando você dispõe de moeda local, rapidamente se torna claro o que é local e o que não é local. Por exemplo, um grande supermercado só vai aceitar dólares, porque seus fornecedores estão em Hong Kong, Singapura, ou Kansas City. Mas o supermercado local de Ithaca aceita horas e dólares. Usando moedas locais, você pode criar um caminho em direção à sustentabilidade local. As moedas locais também provêem a comunidade de algumas proteções contra os aumentos de preços e os vaivéns da economia global.



Você que esteve no negócio de monitoramento e de desenho do sistema financeiro global, porque você acredita que as comunidades deveriam estar protegidas desses vaivéns?



Antes de tudo, o sistema monetário oficial atual já não tem mais quase nada a ver com a economia real. Só para dar uma idéia, as estatísticas de 1995 indicam que o volume de moeda intercambiada em nível global foi de 1 a 3 trilhões por dia: isto é, 30 vezes mais do que o produto bruto diário dos países desenvolvidos da OCDE em seu conjunto. Um produto interno bruto (PIB) dos EE UU é movimentado no mercado global a cada três dias. Deste total, só dois ou três por cento têm a ver com transações reais; o resto está dentro do cibercassino especulativo global. Isso significa que a economia real foi relegada a ser uma mera capa de cobertura do bolo da especulação, o que é o reverso do que acontecia até duas décadas atrás.



Quais são as implicações deste fato e o que ele significa para aqueles que não estão fazendo transações através das fronteiras internacionais?



Por um lado, está muito claro que o poder se deslocou dos governos para os mercados financeiros. Quando um governo faz algo que desagrada ao mercado – como os britânicos em 1991, os franceses em 1994, os mexicanos em 1995 – ninguém vai se sentar à mesa e lhe dizer: “vocês não deveriam fazer isso porque…” O que acontece é algo muito mais fácil: surge uma crise monetária com aquela moeda. Assim, algumas centenas de pessoas que não foram eleitas por ninguém e que não têm nenhuma responsabilidade coletiva sobre nada… Como, por exemplo, são os fundos de pensão ou tantas outras coisas… E assim segue o processo…



Você falou também da possibilidade de uma explosão desse sistema…



Hoje, estou vendo uns 50% de probabilidade de que isto ocorra nos próximos 5 ou 10 anos. Há pessoas que dizem que essa possibilidade é de 100%, que este horizonte está muito mais próximo. George Soros, que trabalhou especulando com moedas, concluiu que esta falta de estabilidade é cumulativa; assim, que a quebra da livre flutuação da moeda está absolutamente garantida. Joel Kurtsman, ex-diretor de Harvard Business Review põe o seguinte título em seu último livro: A morte do dinheiro e prognóstico de colapso iminente devido à loucura especulativa…



Só para ver como isso poderia acontecer, imaginemos as reservas de todos os Bancos centrais da União Européia, que representam algo em torno de 640 bilhões US$. Pois, numa situação de crise, se todos os Bancos Centrais decidissem trabalhar juntos – coisa que nunca fizeram – e se todos decidissem usar todas as suas reservas – o que tampouco jamais ocorreu – eles seriam fundos para controlar apenas a metade do volume de um dia normal de comércio! Isto seria numa ocasião normal; mas num dia de crise este volume poderia duplicar ou triplicar; aí, então, as reservas dos Bancos Centrais não durariam mais que duas ou três horas…



E qual seria a saída?



Se isso ocorresse de repente, estaríamos hoje em um mundo muito diferente. Em 29, o mercado de ações quebrou, mas se manteve o padrão ouro. Foi por isso que o sistema monetário se sustentou. Agora, estamos lidando com algo muito mais fundamental: o único caso próximo que conheço é o do império romano, que terminou com a moeda romana. Naquele tempo, isso levou quase um século e meio para que a quebra se propagasse

para todo o império. Agora, essa mesma coisa levaria apenas algumas horas.



As moedas locais não poderiam prover as comunidades de alguma forma de resistência, ajudando-as a sobreviverem em situação de quebra das moedas ou de qualquer outra quebra internacional? Você mencionou também que as moedas locais poderiam promover a sustentabilidade: qual é a conexão?



Para compreender isso, é preciso ver a relação que existe entre as taxas de juros e os modos como operamos tendo em vista o futuro. Se eu pergunto: “Você quer cem dólares agora, ou cem dólares dentro de um ano?”, a maior parte das pessoas irá responder que querem o dinheiro agora. Simplesmente porque acham que devem depositar esse dinheiro numa conta bancária, sem riscos, e poder contar com cento e dez dólares um ano mais tarde. Uma outra maneira de dizer isso é que, se eu te ofereço dez dólares dentro de um ano, seria equivalente a te oferecer noventa, hoje. O desconto que se faz em relação ao futuro se refere ao desconto pelo dinheiro à vista. Por exemplo, se pagamos à vista, em geral, sempre nos dão um desconto de dez por cento, por isso, às vezes é o caso de oferecer pagar com cartão ou cheque. Isso significa que no sistema monetário corrente tem sentido cortar árvores e colocar o dinheiro no banco, porque o dinheiro no banco vai crescer mais rápido que as árvores. Isso faz com que tenha sentido poupar dinheiro construindo casas pobremente dotadas de isolamento térmico, por que o custo da poupança de energia na casa é mais baixo do que o de isolá-las.



Devemos desenhar um sistema monetário que faça exatamente o oposto daquilo que acontece atualmente. É o que eu chamo de carga de longo prazo – “demurrage charge” – , um conceito desenvolvido por Silvio Gesell já faz cerca de um século. Sua idéia era de que o dinheiro é um bem público, assim como o telefone ou o transporte coletivo, pelos quais deveríamos pagar apenas uma taxa por usá-los. Em outras palavras, criaríamos uma taxa de juros negativa em vez de positiva. Seria assim: se eu te dou um bilhete de cem dólares e digo que dentro de um mês você tem que pagar um dólar para que o bilhete continue válido, o que você faria? Suponho que trataria de usá-lo ou, senão, iria investir em algo mais, para não “perder” esse dólar… Exatamente essa é a função do dinheiro: só é bom quando circula. No sistema de Gesell, as pessoas deveriam usar o dinheiro como um meio de intercâmbio, mas não como reserva de valor. Deste modo, se geraria trabalho, se causaria a circulação e se poderia investir num sistema de incentivos de curto prazo. Em vez de cortar árvores para colocar o dinheiro no banco, você investiria seu dinheiro em árvores vivas ou em instalar calefação ou em isolamento de madeira para a sua casa.



Isto já foi experimentado?



Só sei de três períodos nos quais podemos encontrar isto: no Egito clássico; na Idade Média européia, três séculos atrás; e há alguns anos, na década de trinta.



No Egito antigo, quando se acumulavam grãos, você recebia um bônus que era intercambiável e se transformava numa espécie de moeda. Se você voltasse um ano depois, com dez “moedas”, você poderia obter nove vezes essa quantidade de trigo, porque os ratos haviam comido uma parte, os guardas que haviam mantido o sistema deviam ser pagos, etc. Então, essa quantidade das dez peças era submetida a uma taxa negativa, ou seja, havia uma espécie de desvalorização. O Egito foi o celeiro do mundo antigo – o presente do Nilo. Por quê? Porque, em vez de conservar valor em moeda, todo o mundo era levado a investir em elementos produtivos que durariam para sempre, como em melhorias na terra e nos sistemas de irrigação.



A prova de que o sistema monetário tem algo a ver com a riqueza é que tudo terminou abruptamente, quando o império romano substituiu a moeda egípcia, que tinha os grãos como padrão, por seu próprio sistema monetário, com juros positivos. Depois disso, o Egito deixou de ser o maior celeiro do mundo e se transformou num país em desenvolvimento… como se diz hoje. Na Europa, na Idade Média, séculos X – XIII, as moedas locais eram emitidas por senhores locais que periodicamente as recuperavam e reeditavam, recolhendo um imposto nesse mesmo processo. Com essa desvalorização, tornava-se indesejável manter essa moeda como valor de reserva, já que a moeda acumulada deixava de ser válida. O resultado foi o florescimento da cultura e o crescimento e expansão do bem estar, no período correspondente àquele em que essas moedas locais foram usadas. Quase todas as catedrais foram construídas nesse período e, se você pensa sobre o que se exige de uma pequena cidade para construir uma catedral, é simplesmente fantástico!



As catedrais consumiram gerações para serem construídas, não é verdade?



Não só por isso. Para além dos papéis que, obviamente, desempenham o simbólico e o religioso, que não quero aqui absolutamente diminuir, deveríamos nos recordar de que as catedrais também tinham uma função econômica importante. Elas atraíam os peregrinos que, da perspectiva dos negócios, desempenhavam um papel similar ao dos turistas de hoje. Essas catedrais foram construídas para durar para sempre e para criar um fluxo de dinheiro de longo prazo para as comunidades. Essa foi a maneira de se criar abundância para cada um e para todos os descendentes, por treze gerações. A prova é que isto funciona assim até hoje no negócio das cidades; Chartres vive ainda dos turistas que visitam sua catedral, o que já dura 800 anos e nunca se esgotou.



Quando a introdução da tecnologia da pólvora permitiu que os reis centralizassem o poder, no século XIV, a primeira coisa que fizeram foi monopolizar o sistema monetário. O que aconteceu então? Não se construíram mais catedrais. Nos séculos 14 e 15, a população continuava tão cristã e devota como antes, mas o incentivo econômico para os investimentos de longo prazo havia terminado. As catedrais são só um exemplo; os relatos do século 12 mostram como moinhos e outros elementos da produção se mantiveram num extraordinário nível de qualidade, com partes que eram substituídas antes que estivessem gastas. Estudos recentes revelaram que a qualidade de vida dos trabalhadores, na Europa dos séculos 12 e 13, era altíssima, mais alta ainda do que hoje. Quando não se pode manter a poupança na forma de moeda, deve-se então investi-la em algo que possa produzir valor no futuro; esta forma de dinheiro foi que criou essa extraordinária explosão.



De todo modo, esse foi um período no qual o cristianismo era hegemônico na Europa. Sendo assim, como fica o arquétipo da Grande Mãe que devia estar sendo reprimido?



Na realidade, um símbolo religioso muito interessante que se tornou dominante nessa época foi a famosa madona negra. Havia centenas dessas estátuas durante o período que vai do século 10 ao 13. Na verdade, eram estátuas de Isis com o menino Hodes sentado em seu colo, importadas diretamente do Egito durante as primeiras cruzadas. Seu assento especial, vertical, era chamado cátedra – daí a palavra cátedra atualmente – e de forma muito interessante essa cadeira era um símbolo exato que identificava Isis no antigo Egito. As estátuas das madonas negras também foram identificadas na época medieval como a alma mater que era a mãe generosa, literalmente – o que depois, na América, vai se referir a algumas universidades relevantes. As madonas negras eram uma continuação direta da Grande Mama, em uma de suas formas antigas. Elas simbolizavam o nascimento e a fertilidade, a riqueza e a terra. Elas simbolizavam o espírito encarnado na matéria antes que as sociedades patriarcais separassem o espírito da matéria. Temos, assim, uma vinculação direta entre duas civilizações que criaram sistemas de moeda com juros negativo criando níveis de abundância inusuais para pessoas comuns (o Egito antigo e a Europa do século 10 ao 13). Estes sistemas monetários correspondem exatamente a honrar aquele arquétipo.



Que potencial você vê para moedas locais no sentido de que possam trazer o arquétipo da Grande Mãe, da bondade e a generosidade, para as nossas economias atuais?



A questão mais importante que a humanidade de hoje em diante tem que se por é a da sustentabilidade e das desigualdades e quebras nas comunidades, que criam tensões que resultam em violência e guerra. É possível atacar ambos os problemas com a mesma ferramenta, fazendo uma criação consciente de sistemas locais que reforcem ao mesmo tempo a sustentabilidade e a comunidade. Significativamente, temos observado no passado, nas décadas passadas, um claro despertar do arquétipo feminino. Isso está refletido não só nos movimentos de mulheres, no aumento das preocupações ecológicas ou nas novas epistemologias que reintegram espírito e matéria, mas também em tecnologias que nos permitem substituir hierarquias por redes, como é o caso da Internet.



Se agregarmos a estas tendências o fato de que, pela primeira vez na história da humanidade, temos tecnologias de produção para criar uma abundância sem precedentes, tudo isso converge para uma extraordinária oportunidade de combinar o hardware de nossas tecnologias da abundância com o software das mudanças de arquétipo. Tal combinação, que antes nunca havia sido possível nessa escala e nessa velocidade, nos permite, hoje, desenhar com consciência sistemas monetários feitos de tal modo que sejam eles que trabalhem para nós e não nós para eles. Proponho desenvolver sistemas monetários que nos levem a alcançar a sustentabilidade e a comunidade, cuidando dos níveis local e global. Estes objetivos estão em nossas possibilidades no tempo de uma geração. Se os materializamos ou não, isso vai depender de nossa capacidade de cooperar uns com outros e de, conscientemente, inventar nosso dinheiro.



FONTE: Deriva Editora



SER(ES) AFINS