quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Estratégia Na Visão de Peter Senge


Peter Senge, formado em engenharia pela Universidade de Standford, director do “Center of Organizational Learning” no MIT, fundador da empresa de consultoria e de formação “Inovation Associates”.
Senge desenvolveu, na sua obra “The Fifth Discipline”, conceitos Psico-sociais das organizações que permitem enquadrar o modelo do Learning em princípios de complexidade que podem condicionar a aplicação duma estratégia emergente.
Peter Senge chama-nos a atenção para a necessidade de pensar a organização duma forma complexa e não linear. Os modelos mais tradicionais que estiveram na base da Escola do Planeamento entendem a organização como um conjunto de relações lineares de causa e efeito onde a estratégia aparece sem considerar as relações complexas entre os diversos actores e baseando-se num esquema mental tradicional. Consequentemente, Peter Senge propõe-nos a quinta disciplina – “System Thinking” que representa o ponto de viragem do entendimento da realidade organizacional e que suporta uma “Learning Organization”. Este ponto de viragem traduz-se em:
  • Pensar na mudança como um processo e não como um conjunto de acções isoladas;
  • Pensar na organização em termos de estrutura global e não de um conjunto de projectos disjuntos;
  • Considerar o envolvimento das pessoas nos processos de mudança;
  • Ter em conta a interacção funcional e grupal.
A  essência da quinta disciplina é, em resumo, a capacidade de constatar as inter-relações em vez das relações de causa e efeito lineares e entender os processos de mudança como um todo e não como um conjunto de acções ao acaso.
A verdadeira vantagem estratégica da gestão reside no entendimento da complexidade dinâmica das organizações que implica uma refocagem mental, traduzida pelos seguintes aspectos:
  • Admitir a existência do fenómeno da atribuição causal externa, que conduz a organização ao reconhecimento da possibilidade de controlo sobre as variáveis da mudança;
  • Entender que as intervenções podem ter efeitos a médio e longo prazo alargando assim o horizonte de influência das mesmas;
  • Perceber que as intervenções têm efeitos alargados a várias áreas dos processos nas organizações ao contrário da perspectiva tradicional do efeito circunscrito;
  • Admitir que intervenções óbvias podem ter consequências não óbvias.
Para um completo entendimento do processo de mudança nas organizações, Peter Senge, introduz o conceito de feedback como sendo o fluxo recíproco de influências no seu sentido mais lato.  Existem dois tipos de feedback que explicam o nosso comportamento enquanto actores de mudança numa organização:
  • Feedback de reforço está assente no conceito da autorealização de profecias, significa isto que as pessoas actuam em função da informação sobre as expectativas que os outros têm sobre elas. O desenvolvimento da pessoa pode ser no sentido posito ou negativo em função das expectativas alheias.
  • Feeback de balanço estabelece os limites dos comportamentos gerados pelo feedback de reforço na medida em que conduz a pessoa entre a situação real e a situação desejada (meta).
As organizações aprendem através da aprendizagem individual. Esta por si só não garante a aprendizagem organizacional mas é um “input” essencial para a sua existência.
Segundo Senge, tem sido a relação inversa entre intuição e racionalidade linear que conduz a que não se tenha considerado a intuição como elemento importante no processo de gestão das organizações. Constata-se, hoje em dia, que os grandes pensadores recorreram à intuição como forma de evolução.
“Eu nunca descobri nada com a minha mente racional ” – Albert Einstein ,tendo ele  descrito a descoberta do principio da relatividade ao imaginar-se a viajar num feixe de luz.
 À medida que os gestores ganham à vontade com o “System Thinking”, como uma linguagem alternativa, descobrem que muitas das suas intuições se tornam explicáveis. A integração da razão e da intuição é um dos principais contributos do “System Thinking”.
A intuição tem ganho, ao longo dos últimos anos, uma atenção e aceitação crescentes, depois de muitos anos de completo apagamento. Estudos demonstram que muitos gestores de topo e lideres  dependem da intuição para a resolução de problemas.
As quatro disciplinas que constituem a base da “Learning Organization”, segundo Senge, são:
  • Mestria Pessoal – característica pessoal que ultrapassa a competência e habilidade e que ao tornar-se numa disciplina possibilita a clarificação do fundamental e a aprendizagem contínua da realidade. Learning vem como a forma de expandir a habilidade de atingir os resultados a que nos propomos. As “Learning Organizations” só são exequíveis se a todos os níveis for praticado este princípio.
  • Visão Partilhada – acontece uma visão partilhada quando as diferentes pessoas dentro da organização têm uma mesma percepção e comprometimento para com um desejo comum. A visão partilhada é vital para as “Learning Organizations” porque fornecem o foco e a energia para a aprendizagem.
  • Team Learning – é a forma de potenciar a existência de objectivos comuns constituindo um passo crítico na construção das “Learning Organizations”.
  • Modelos Mentais – diferentes abordagens seguidas na construção de organizações onde o Learning constitui o “drive” da mudança.
(Artigonal SC #1068537)

Altos juros e descapitalização da economia - Ladislau Dowbor

O processo se tornou, no conjunto, relativamente simples. O dinheiro que você aplicou no Banco lhe rende, se você é um pequeno poupador como eu, cerca de 10% ao ano. O Banco aplica este dinheiro em títulos do governo, a 26,5%. O governo, por sua vez, remunera este título com dinheiro público, ou seja, com os seus impostos. Como 26,5% menos 10% são 16,5%, você está remunerando o banco, via governo e por meio do imposto, 16,5% ao ano para que ele tenha o seu dinheiro. Trabalhar com dinheiro dos outros desta maneira, para o Banco, é realmente muito agradável. Mas não é disto que queremos tratar aqui, e sim das consequências práticas em termos de redução das nossas opções econômicas.
Naturalmente, uma remuneração deste porte, a longo prazo, é insustentável, pois não há contribuinte para cobrir a dívida crescente. A dívida atinge algo como 850 bilhões de reais. Nem toda esta dívida é remunerada a 26,5%, mas de toda maneira atingimos um ponto em que o governo, mesmo apertando o cinto para ober um superávit de 4,25%, ainda assim mal cobre um terço dos juros, que dirá restituir o principal. Continuamos assim na linha de tantas pessoas que por não poderem pagar um empréstimo, entram no cheque especial, e depois no limite do cartão e assim por diante.
Não vamos entrar aqui na ampla discussão sobre se esta dívida é pagável ou não. O que nos interessa, é que o sistema leva o governo a desviar dezenas de bilhões para o serviço da dívida, com o que deixa de prestar boa parte dos serviços públicos, razão inicial pela qual pagamos impostos. Assim, perdemos a nossa capacidade de melhorar educação, saúde, pesquisa e assim por diante. E não é um sacrifício temporário, pois ao pagarmos apenas uma parte dos juros, a dívida se acumula.
O que se passa no setor produtivo? Um produtor, rural ou industrial, pouco importa, pode procurar o banco para financiar o seu negócio. Tradicionalmente, é o que faria. Hoje, o banqueiro lhe explica que como há sempre a alternativa de aplicar em títulos a 26,5%, só emprestaria ao produtor a 30%, mais algumas reciprocidades. Um estudo da FGV encomendado pela Fiesp apresentou este número, em 2002, como custo do capital de giro para as empresas. Em meados de 2003, como os bancos gostaram da experiência, este juro (pessoa jurídica) ultrapassa os 70%. Naturalmente, se consideramos que na Europa ou nos Estados Unidos o produtor pode encontrar financiamento na faixa de 2 ou 3%, o produtor nacional fica simplesmente inviabilizado. Sem falar de tantos produtores que descobriram que brincar na ciranda rende mais do que produzir, e reorientaram o seu perfil de atividades para as atividades especulativas. O resultado prático é a estagnação da economia. Com isto fica mais difícil ampliar a receita pública, o que por sua vez enforca ainda mais o governo, obrigando-o a elevar o juro, ou mantê-lo no nível atual, para evitar a debandada. O nó fica assim bem amarrado.
Portanto, o Estado se vê esterilizado na sua capacidade de prestar serviços públicos, e o produtor na sua capacidade de produzir ou de expandir a produção. O que acontece com os nossos municípios? Em parte, estão contribuindo, através da responsabilidade fiscal, para equilibrar a conta federal. Mas o processo é mais grave. Há tempos me comunicaram os dados de uma pequena pesquisa feita em Bertioga, onde analisaram o que acontece com o dinheiro depositado pelos residentes nas agências locais. Constataram que, de cada 100 reais depositados, 92 eram aplicados fora de Bertioga. O que isto significa? Antigamente – hoje antigamente significa algumas décadas atrás – um gerente de agência conversava com todos os empresários locais, buscando identificar oportunidades de investimento na região, tornando-se um fomentador de desenvolvimento local. Hoje, o gerente é remunerado por pontos, em função de quanto consegue extrair. Ontem, era um semeador à procura de terreno fertil. Hoje, é um aspirador que deixa o vazio. O resultado prático, é que inúmeras pequenas iniciativas essenciais para dinamizar o tecido econômico do país deixam de existir.
O que acontece com o cidadão comum, que não é nem governo, nem empresário, nem organizador do desenvolvimento local? Ele é tratado como cliente, na concepção moderna do termo. Primeiro, ele não escolhe o banco, pois este lhe é atribuido junto com o emprego. É o que podemos chamar de cliente cativo. Na realidade cada empresa negocia com o banco o seu plantel de futuros clientes. E o cliente abre a conta onde a empresa lhe paga. Este ponto é muito importante, pois significa que para o comum dos mortais, não há realmente concorrência de mercado, e os bancos podem elevar tarifas ou cobrar juros que quiserem, dando apenas uma olhadinha de vez em quando no comportamento dos outros bancos, para não se distanciarem demasiado. O resultado prático pode ser visto das mais variadas formas: aparecem cifras como “juro médio para pessoa física”, que ultrapassa hoje os 100%. No meu banco, posso preencher um cheque “parcelado”, ao juro de 132%. Um banco decidiu bancarizar os pobres, emprestando dinheiro mediante simples aparesentação de carteira profissional, a 166%. Como diz um amigo, vai gostar de pobre assim...
Começam a aparecer alguns dados agregados, ainda que este escândalo maior da nossa economia mereça pesquisas mais sérias. Os resultados que vemos, apresentados recentmente em várias publicações, é que os custos financeiros consomem algo como 30% da renda familiar brasileira. Entra aqui, naturalmente, o fato que empresas comerciais descobriram que se ganha muito mais dinheiro lidando com dinheiro do que com produtos. O pobre, por ganhar pouco, pode pagar pouco, e se vê obrigado a parcelar a sua magra capacidade de compra, a juros numa altitude onde já começa a faltar oxigênio. Estamos aqui além dos 200% ao ano.
O resultado, é que a capacidade de consumo da população, essencial para dinamizar as atividades econômicas do país, é esterilizada, pois grande parte da nossa capacidade de compra é transformada em remuneração da intermediação financeira. Assim, a paralisia atinge o governo, as atividades produtivas, a dinâmica do desenvolvimento local, e o elemento dinamizador tão importante que é o mercado interno. Na época do governo anterior isto era chamado, curiosamente, de estabilidade.
Como fica a dimensão internacional do processo? Como sabemos, boa parte das dívida é denominada em dólares. Isto significa que, se o dólar subir, os especuladores donos destas dívidas poderão receber mais. Os países pobres, do chamado terceiro mundo, não têm como imprimir divisas. Apenas podem estocar reservas, conseguidas através de um superávit na balança comercial (o que supõe que possamos ultrapassar o protecionismo dos países ricos), esperar investimentos externos, ou contrair mais empréstimos no exterior. Naturalmente, quanto mais o país precisa de divisas para equilibrar as suas contas, maior será a reticência da chamada comunidade financeira internacional – fundamentalmente um grupo de especuladores de Wall Street – em emprestar, a não ser, naturalmente, que o país assegure uma remuneração muito suculenta, o que significa juros altos, com todas as consequências que vimos acima.
O país pobre tem reservas limitadas. O Brasil tem reservas da ordem de 30 bilhões de dólares, a Argentina algo como 10 bilhões. Para comparar, um especulador médio como Edward Jones maneja, segundo o Business Week, 255 bilhões de dólares, a Merril Lynch algo como um trilhão de dólares. Mohamed el Erian, que tanto contribuiu para quebrar a Argentina, algo como 180 bilhões. Joseph Stiglitz, premio Nobel de economia de 2001, explica o processo de forma meridiana, usando o exemplo concreto de uma operação na Tailândia. Um especulador de Wall Street pede um empréstimo de um bilhão de dólares aos bancos tailandeses, em moeda local. Como se trata de um grande investidor internacional, os bancos locais ficam encantados. Com este bilhão, o especulador sai comprando dólares no mercado local. Vendo o dólar sumir do mercado, outros banqueiros e especuladores locais também passam a comprar dólares, cuja cotação sobe vertiginosamente. Depois de um tempo, o especulador revende parte dos dólares para pagar o empréstimo local, e sai com um lucro líquido de 400 milhões de dólares para cada bilhão empatado. Não produziu nada, não precisou movimentar um centávo seu, e como o controle do movimento de capitais é pecado mortal na doutrina dos que Stiglitz chama apropriadamente de “fundamentalistas do mercado”, o dinheiro sai do país. O especulador não precisou sair de Manhattan.
Como se comporta a teoria oficial do Fundo Monetário Internacional frente a estas dinâmicas? “Os benefícios fundamentais da globalização financeira são bem conhecidos: ao canalizar fundos para os seus usos mais produtivos, ela pode ajudar tanto os paises desenvolvidos como os em via de desenvolvimento a atingir níveis mais elevados de vida.” (Finance & Development, IMF, March 2002, p. 13).
O processo é inverso. Descapitaliza-se o setor produtivo, o Estado, as comunidades e o consumidor. Como o processo implica juros altos, as empresas são levadas a se autofinanciar. Assim, a liberalização dos fluxos de capital que deveria teoricamente “canalizar fundos para os seus usos mais produtivos” leva pelo contrário à drenagem dos recursos para fins especulativos, e leva as empresas cada vez mais a buscarem o autofinanciamento, gerando um feudalismo financeiro em que cada um busca a autosuficiência, perdendo-se justamente a capacidade das poupanças de uns irrigarem os investimentos de outros. O efeito é rigorosamente inverso do previsto, ou imaginado, pelo Fundo, mas rigorosamente coerente com os interesses da especulação.
Na realidade, as riquezas são drenadas para os especuladores internacionais e nacionais. É importante entender que mercados não funcionam quando se trata de produtos de oferta limitada. Como nós não controlamos a oferta de divisas nos nossos mercados, ficamos sem poder regular o processo. Quando um especulador pode manejar centenas de bilhões, e o país dsispõe de algumas dezenas, é natural que a vulnerabilidade seja extrema. É verdadeiro o argumento de que a dimensão dos interesses econômicos internacionais no Brasil nos protege de uma pirataria destrutiva como a que foi realizada na Argentina. Não há interesse em nos quebrar. Apenas em manter o estado atual das coisas, e continuar a ordenhar o generoso e passivo pagadar que o país se tornou, tanto para especuladores internos como internacionais. Conseguimos montar um sistema articulado de esterilização de poupança, de restrição do consumo e de desincentivo ao investimento que paraliza o país.
Vale a pena mencionar algumas consequências práticas deste processo:
1 – o governo tem toda a razão em colocar no ponto de partida das suas políticas a busca de um reequilibramento da situação financeira, tanto em termos de dívida interna como de dependêncdia externa. A realidade que hoje constatamos, é que a estabilidade alardeada na gestão anterior equivalia a viver de cheque especial. A conta-Malan que herdamos não vai desaparecer por algum passe de mágica.
2 – Os intermediários financeiros estão pegando uma gigantesca carona na simpatia que gera o argumento de combate à inflação. O governo, com uma taxa básica de 26,5%, está muito longe dos juros de três dígitos cobrados pelos bancos privados. Os bancos gerem o dinheiro da população, e não o seu próprio dinheiro, e devem portanto prestar contas do seu uso produtivo para a economia. A atividade bancária é uma concessão pública.
3 – O juro como instrumento de contenção da inflação já deu o que podia dar. Hoje, ao manter a economia em recessão, e ao levar as empresas produtivas a trabalhar com forte subutilização da capacidade instalada, o juro alto provoca um aumento de custos da produção. Por outro lado, o próprio custo do dinheiro torna a produção mais cara, pressionando igualmente os preços, anulando a redução da pressão de consumo que o juro alto permite.
4 – A pressão inflacionária não se reduz apenas no plano da demanda, mas também no plano da oferta. Como o aparelho produtivo do país está amplamente subutilizado, as empresas produtoras podem reagir rapidamente, com aumento de oferta de produtos, a qualquer expansão do consumo. Desta maneira, a busca do equiiíbrio exige que se vá além do trio juros-prêços-câmbio, para incluir a dinâmica produtiva.
5 – Um exame das taxas cobradas no cheque especial, no cartão, nos crediários do comércio, nas diversas tarifas pagas aos diversos intermediários financeiros mostram claros indícios de uma cartelização dos poucos grandes. Neste sentido, a queda dos juros exige uma articulação política mais ampla, que é de todo o interesse dos que efetivamente produzem bens e serviços neste país.
Convidamos o leitor a apreciar ele mesmo os dados básicos da questão:
- Fiesp/Ciesp/FGV – Juros sobre capital de giro: o impacto nos custos da indústria brasileira, relatório final, abril 2002 O estudo avalia em cerca de 30% o custo do capital de giro para as empresas.
- ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade – (www.vidaeconomica.com.br/familias.htm ) Pesquisa realizada entre junho e agosto 2002. O estudo apresenta o gasto despesa familiar médio com despesas financeiras como sendo de 29,83%. Estas despesas variam de 35,43% para familias entre 1 e 5 salários mínimos, e 19,08% para familias com renda acima de 50 salários mínimos. Dados da Anefac foram publicados pels revista Época.
- As taxas de lucro e a busca de aplicações em títulos, inclusive por parte do Banco do Brasil, que já foi um tradicional financiador de atividades produtivas, podem ser vistas nos dados publicados pela Folha de São Paulo em 13 de Novembro 2002, p. B7
- A explicitação do mecanismo internacional, e a articulação do jogo sobre taxas de juro e taxas de cambio pelos especuladores se encontra de forma simples e transparente no livro de Joseph Stiglitz, Globalization and its Discontents, de 2002, com tradução já disponível no Brasil.
- A visão tradicional do FMI, que sustenta ativamente o processo que analisamos acima, pode ser encontrada na publicação Finance & Development www.imf.org ; o número de março 2002 tem a vantagem de se concentrar sobre as finanças globais.
- Há dados interessantes também na publicação da ANDIF – Associação Nacional dos Consumidores do sistema Financeiro – http://www.andif.com.br
- Sobre a nossa capacidade de enfrentar os diversos desequilíbrios gerados, dívida pública e privada, interna externa, em reais e em divisas, há um excelente trabalho de Alexandre Schwartsman, “No Free Lunch”, aschwartsman@bba.com.br
Junho 2003

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pelo êxodo da sociedade salarial. A evolução do conceito de trabalho em André Gorz - ANDRÉ LANGER


Introdução

Trabalhadoras no Brasil
O trabalho tem estado no centro de profundas e radicais transformações provocadas pelo capitalismo no final do século passado e início deste novo milênio. O impacto da revolução tecnológica em curso tem sido tão grande que ainda estamos como que no meio do redemoinho por ela causado. Muitas idéias, pensamentos e práticas tidas como certas e que serviram de portos seguros para interpretar a realidade social e mais especificamente a realidade do mundo do trabalho, se esvaeceram. Os fenômenos do desemprego, da flexibilização, da desregulamentação e da precarização relacionados ao trabalho tomaram de assalto sociedades inteiras. Já não há um que possa se sentir seguro nesta nova sociedade que vai emergindo. O capitalismo parece mesmo ter feito desta situação de insegurança generalizada um princípio de organização social e do trabalho.
Muito já se refletiu, escreveu e divulgou sobre o trabalho, sua natureza, seu estatuto e suas atuas mutações. Foi abordado desde ângulos muito diferentes e desde pontos de vista não raramente contraditórios. Tem-se a impressão de que tudo já foi descoberto e escrito sobre o tema. Mas, por outro lado, por vezes emerge o sentimento de que nada se sabe a seu respeito; um espesso véu de ignorância o cobre.
Dizemos isso não porque queremos através destas reflexões trazer todas as luzes sobre o assunto, o que seria pretensão demais da nossa parte, mas, antes, dizer com que cuidados queremos tratar deste tema. Nossa pretensão é, isso sim, a de nos aproximar do tema do trabalho conduzidos pela mão de um pensador que, a nosso ver, conhece muito bem o tema e cuja reflexão nos tem seduzido intelectualmente. A nossa reflexão sobre as transformações sofridas pelo trabalho e, mais amplamente, pela sociedade do trabalho; sobre a urgência de repensar conceitualmente a noção de trabalho; sobre possíveis saídas para ousar o êxodo da sociedade salarial, será sempre conduzida de perto por André Gorz.
Gorz, seu nome verdadeiro é Gerhard Horst, é austríaco de nascimento e está radicado na França há muitos anos. Nasceu em 1923 e vive atualmente perto de Paris. Jornalista por profissão, Gorz é reconhecido também como filósofo e sociólogo. O tema do trabalho sempre tem sido uma constante na sua produção teórica. Gorz foi militante de esquerda e sempre refletiu tendo o socialismo como horizonte. Mas, por conta da sua concepção de trabalho e o lugar deste na sociedade Gorz tem desafiado a esquerda tradicional a repensar o socialismo.
Nossa reflexão, em primeiro lugar, não pretende ser sobre a vida e a obra de André Gorz, mas uma reflexão sobre o trabalho a partir da sua contribuição. Em segundo lugar, não nos interessa toda a obra de Gorz. Nos interessa a produção teórica realizada por ele a partir do final da década de 1970, mais especificamente a que vai da obra “Adeus ao proletariado” (publicado em 1980 na França) em diante. Este livro reflete uma importante inflexão no pensamento de Gorz, razão pela qual é considerado um divisor de águas na sua produção teórica. Ele passa do campo dos essencialistas ao campo dos historicistas, como veremos no segundo capítulo. E essa mudança é cheia de conseqüências políticas, econômicas e sociais. Gorz não acredita mais na possibilidade de a classe operária se liberar no trabalho e passa a ser um ardoroso defensor da libertação do trabalho.
Mas, por que a reflexão de Gorz pode contribuir para uma nova compreensão do trabalho? Em que reside a ousadia apresentada pelo pensamento de Gorz? Diremos, basicamente, por três grandes razões.
A primeira razão diz respeito basicamente à leitura que Gorz faz da “crise” da sociedade salarial. Uma revolução tecnológica, a revolução informacional, está na base das transformações ocorridas principalmente no último quartel do século XX. Gorz chama a atenção para a diferença dessas tecnologias em relação àquelas que proporcionaram o surgimento da revolução industrial. A revolução informacional é ao mesmo tempo poupadora de trabalho, de tempo de produção e maximizadora da produtividade. E isso faz toda a diferença, quando são apropriadas unilateralmente pelo capital. A sociedade do pleno emprego acabou e não voltará mais. Para Gorz, não se trata de lamentar as chances e oportunidades perdidas, mas aproveitar-se das chances não realizadas.
Num segundo momento tratamos de esmiuçar a segunda razão. Por trás da crise do emprego há algo mais. Essa forma particular de trabalho, o emprego, é uma invenção da modernidade, ou seja, o emprego é contemporâneo da indústria, do capitalismo industrial. Por trás da crise do emprego Gorz enxerga a necessidade de se diferenciar conceitualmente as noções de emprego e de trabalho. E concluímos afirmando com ele que o que está em crise é uma determinada forma de trabalho, o trabalho entendido como emprego, isto é, aquilo que foi submetido à racionalidade econômica. O trabalho guarda uma riqueza que não pode ser confundida sem mais com o emprego. Resgatar essa diferença torna-se crucial para uma melhor compreensão dessa realidade, ao mesmo tempo em que aponta para as conseqüências políticas e sociais oriundas desse rigor conceitual.
Gorz, como partidário do campo historicista, defende a limitação da racionalidade econômica. Para ele é preciso arrancar do domínio do capital o máximo de tempo das pessoas e não fomentar que, para solucionar o problema do desemprego, mais atividades não-remuneradas sejam incorporadas ao campo das atividades remuneradas. Mas, sabe-se que a criação de novos empregos significa muito freqüentemente trabalho mais precário, mal remunerado e mal protegido.
Terceira razão. A crise do emprego e a diferenciação conceitual estabelecida entre as noções de emprego e de trabalho abrem um vasto leque de possibilidades para se pensar uma sociedade não mais organizada principalmente sobre o trabalho. Uma sociedade de multiatividades pode ser fonte de uma densa rede de relações, de proximidades, de entre-ajudas, capaz de desenvolver as potencialidades presentes em cada pessoa. Não há mais a preocupação em desenvolver somente aquelas potencialidades requeridas e úteis às empresas.
Gorz desenvolverá algumas propostas ou conjunto de políticas que farão possível ousar o êxodo da sociedade salarial ou do trabalho: a redução do tempo de trabalho e a renda de cidadania, universal e suficiente. Ambas devem ser tomadas em conjunto. Isoladamente podem correr o risco de se verem transformadas em medidas pontuais e, portanto, fadadas ao fracasso.
É por essas razões que o pensamento de Gorz é extremamente instigante e desafiador.
As reflexões que seguem são realizadas com a firme convicção de que estamos num momento crucial da história e de que o trabalho pode contribuir decisivamente para uma nova organização das nossas sociedades. Ele poderá nos ajudar a escolher mais mercado ou mais sociedade.
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terça-feira, 21 de setembro de 2010

O futuro do dinheiro e o dinheiro do futuro - Lolita Sala

Texto 1 – "Primitivos"

 Quando éramos “primitivos” e a natureza abastecia nossas necessidades (e o esperto que inventou a escritura lavrada em cartório não tinha nascido), claramente, o que as pessoas trocavam era serviços.
 Primeiro, (antes de decretarem que os seres podiam ter dono), era o simples serviço de extrair diferentes alimentos. Depois, pastorear,  tosquear uma ovelha, e entregar a lã, era trocado pelo servico de irrigar, colher e entregar sementes de trigo... coisas assim... Mais  adiante inventaram um jeito para tentar manter algum equilibrio entre os trabalhos envolvidos em cada troca: o dinheiro. O dinheiro é um registro. O que as notas de papel informam é que o portador disponibilizou uma certa quantidade de trabalho para um membro do seu grupo, fazendo jus, portanto a uma quantidade correspondente de trabalho de outro membro, ou do mesmo em um outro momento. E é isso que dizem os livros: "dinheiro é uma mercadoria de aceitação universal em um mercado; com função de meio de troca, unidade de conta e reserva de valor".

 Agora... crer que o assunto da economia é o dinheiro é como achar que o assunto da medicina é a bula do remédio. É uma inversão que se desdobra em uma série de distorções mentais, atitudinais e procedimentais que ficam para as proximas conversas. Na economia o importante, mesmo, é a vida das pessoas, ela trata de trabalho, isto é: a produção e distribuição de bens e serviços destinados ao consumo (já as conchas, o sal, metais, os papéis pintados, os plásticos magnéticos e as informações eletrônicas, qualquer anotação sobre o valor do trabalho, são, nitidamente, secundários, são um reflexo), esquecer o que realmente tem valor gera várias das profundas crueldades do nosso tempo.
 O tipo de moeda que usamos em todo o planeta faz uns 300 anos mais ou menos é causa de uma vida econômica insana e injusta. Entender as características e consequências da moeda do século 20, por que quando usamos uma nota de 10 reais estamos contribuindo para a degradação não é algo instantâneo, mas é muito útil para sairmos do enrosco no qual entramos devido a um truque sutil, mas até facil de compreender, tendo certas informações.
Várias experiencias com produção e comércio saudáveis foram iniciadas, testadas e algumas estão se consolidando com sucesso. Este espaço está aberto para trocarmos idéias sobre tudo isto, um pouco de cada vez. Quem ficar curioso,pode começar olhando os videos do http://abolicaodosjuros.blogspot.com/

E sobre o livro "O futuro do dinheiro" de Bernard Lietaer ver http://evolucaocriadora.blogspot.com/2009/11/o-futuro-do-dinheiro-bernard-lietaer.html)

 Lolita Sala

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Ouvir e o Sentir: a comunicação do mundo e o mundo da comunicação - Tarcyanie Cajueiro Santos


por Tarcyanie Cajueiro Santos
(pfalco@terra.com.br)

Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma
Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce...
Oh sonora audição colorida do aroma!
  Alphonsus de Guimarães

A Legitimação filosófica do Ver
            A modernidade inaugurou o que o grande sociólogo Max Weber chamou de “desencantamento do mundo”. Este, junto com a progressiva secularização, acabou elegendo a visão como o principal meio de percepção de nossa civilização. Entre os nossos sentidos, a visão é a mais abstrata, pois os olhos projetam a mente para fora e ao fazer isso percebem o mundo a partir de recortes, de pontos de interesses e de uma perspectiva que pressupõe uma distância entre aquele que vê e aquilo que é visto, dito de outra forma, entre o sujeito e o objeto. Reinterando o professor Norval Baitello Jr., que evoca Vilém Flusser, a visão é aquilo que se transformou em imagem, que é evidente. Ao pressupor distância e irrefutabilidade, ela aparece como o primeiro pressuposto da razão, da reflexão.
            Devemos mencionar aqui Descartes, o grande precursor da filosofia moderna, que ao edificar um tipo de saber não mais referendado no ser ou em Deus, mas no homem e na racionalidade humana, lançou definitivamente o corpo e os seus sentidos ao ostracismo. A visão aparece como o único órgão privilegiado do conhecimento. Nada mais natural, na medida em que esta companheira do cogito se fundamenta na distância, pressupondo uma relação neutra e dominadora do homem com o homem e do homem com o mundo.
Assim, não é de se estranhar que a primeira regra, ponto de chegada e também de partida, do método de Descartes seja a evidência, onde tudo deve convergir para a clareza e a distinção com que se apresenta ao cogito [1] . Em latim, evidentìa, ae, evidência (grego:enárgeia), quer dizer visibilidade, clareza, transparência; hipótese, de evìdens,éntis. “Trata-se da idéia presente na mente e da mente aberta para a idéia sem qualquer mediação” (Reale, 2004:289), alcançada apenas pelo ato intuitivo.
Esta busca da clareza e da luz, que permeou a filosofia e a ciência modernas, considera a experiência sensível como fonte de erros e de ilusões. O saber, neste caso, deve se basear na razão e não nos sentidos, que são susceptíveis de obscuridades e de incertezas. Ao reduzir o ser ao pensamento, Descartes viu o homem apenas como uma realidade pensante, que deve se apresentar com as características da exatidão. Afinal, a natureza da própria existência “é uma res cogitans, uma realidade pensante, sem qualquer corte entre pensamento e ser” (Reale, 2004:293).
Ficaria desta forma, a cargo da res cogitans a compreensão da outra parte da realidade – a res extensa. Esta é o mundo material, correspondente ao corpo que ao funcionar como uma máquina tem por base princípios mecânicos que regulariam seus movimentos e relações. A res cogitans, por seu lado, diz respeito à alma, que por ser uma realidade inextensa não é vida, mas pensamento que move o corpo e age sobre ele, podendo vencer as emoções e a multiplicidade das idéias dado que ela é razão. “Desse modo, o intelecto pode considerar o mundo corpóreo valendo-se da imaginação e das faculdades sensórias, que se revelam passivas ou receptivas de estímulos e sensações” (Reale, 2004:300).
Tal esquema, que reduz a realidade a duas vertentes distintas e irredutíveis – res cogitans e res extensa, não apenas ignora a multiplicidade do universo, reduzindo-o a princípios mecânicos, como também empobrece a própria noção de corpo que passa a ser objeto das demonstrações geométricas, baseando-se apenas na idéia de extensão. Assim, o corpo só é concretude, existência de fato (ao menos na nossa civilização) “quando se constrói com abstrações” (Baitello Jr., 2005:58); isto é, na medida em que por meio da visão o corpo pode se transformar em imagem. Ou no que desejava por outros meios Descartes em sua ânsia de atingir a verdade: no imaterial, no invisível, no eterno, que é a imagem e a semelhança de Deus [2] .
Ecos do Declínio do Ouvir
Nas mais diversas culturas, a voz se constituía como um poderoso meio de comunicação social. Por meio da voz as alianças eram feitas, as filiações codificadas e os poderes instituídos. As sociedades ditas selvagens, por exemplo, são consideradas formações orais “principalmente porque têm um sistema gráfico independente da voz, que não se alinha sobre ela e não se subordina a ela, mas lhe é conectado, coordenado ‘em uma organização de certa maneira radiante’ e pluridimensional” (Deleuze, 1976:222).
Nas sociedades despóticas a voz também é atuante. Ela é vista, ouvida e temida, muito embora o seu poder esteja personificado na figura do déspota, faraó ou rei e não diluído no corpo social como um todo, como é o caso das culturas ditas selvagens. Nela, a comunicação vertical [3] atinge um novo patamar e a comunicação horizontal, uma nova complexidade, pois a fala do déspota, a voz das alturas, impõe a todos a sua lei. O déspota personifica a voz do deus ao usar seu corpo como o mandatário desta voz, em nome da divindade.
Enquanto na “sociedade selvagem” as comunicações vertical e horizontal ocorrem nos eixos da estrutura familiar (reprodução) e da aliança (casamento) [4] . Na sociedade despótica a filiação não acontece mais entre os ancestrais e seus descendentes, mas com o próprio deus, que o povo deve seguir. Com a sobrecodificação do antigo código a partir da lei do significante despótico, a comunicação vertical alcança uma nova dimensão de poder. Abre-se, então, espaço para o domínio da escrita, cujo grafismo se alinha com a voz, subordinando-a. Como a escrita suplanta a voz, esta “já não realiza a aliança, mas ‘uma nova aliança’, agora como voz fictícia do além, o significante. Essa voz comanda o grafismo. Ela já não canta, agora dita, enquanto a grafia não mais anima os corpos, mas se petrifica em tábuas. O olho se põe a ler, escapando-lhe a capacidade de apreciação” (Marcondes Filho, 2004:109-110).
 A escrita não precisa de um corpo. Suporte imagético, ela acaba minando o poder do déspota, pois a partir daí as comunicações vertical e horizontal passam a não mais depender do corpo do déspota para acontecer. Com a escrita, uma nova percepção avança sobre os nossos sentidos, moldando o nosso corpo [5] , mas não apenas isto, como também, a própria memória, que agora passa a ser secundária ou não tão necessária como antes. Não é contra isto que se insurge o rei de Tebas, no Fedro, escrito de Platão que discute a passagem da cultura da oralidade para a da escrita? Neste conto egípcio narrado por Sócrates, o rei de Tebas discorda do deus Theuth para o qual o conhecimento escrito tornaria os egípcios mais sábios e capazes de recordar. Segundo ele, a descoberta da escrita terá como efeito produzir o esquecimento nas almas dos que a aprenderem, porque, confiando na escrita, se habituarão a lembrar a partir de fora mediante sinais estranhos, e não de dentro e por si mesmos: portanto, encontraste não o remédio da memória, mas do chamar de novo à memória (Platão apud Reale, 2003:168).  
            Assim, a escrita promove um esquecimento. Se por um lado, acaba enfraquecendo o poder do déspota - afinal a submissão se constrói por meio da assimilação de valores e de normas transmitidas e relembradas com o reforço de leis e de punições, ou seja, pela própria memória [6] - por outro, a derrocada desta memória transmitida de boca a boca rompe com o vínculo interpessoal, dado que a memória também é um elo com o passado, com todos aqueles que formam uma comunidade.
Baitello Jr. (1997) fala que a escrita significa a vitória simbólica sobre o tempo. Ao abocanhar o tempo, a escrita se perpetua e facilita a decomposição do corpo e de seu espaço produzindo um declínio do ouvir, ou como diz com propriedade este mesmo autor, da cultura do ouvir, que foi diagnosticada na década de 1930 por Walter Benjamin. Em sua sensibilidade, Benjamin já apontava para o significado deste fenômeno, vinculando-o a um complexo muito maior, que é o da perda da experiência (Erfahrung). Ou seja, a perda da faculdade de intercambiar, de trocar experiências, que ocorre quando paramos para escutar o outro (Benjamin, 1994:198).
Esta pobreza comunicacional acontece quando a experiência não é mais partilhada em sua plenitude entre as pessoas, em virtude de o conhecimento obtido por meio dos sentidos, entre os corpos, não ser mais objeto, nem interesse da sociedade.
Em vários escritos, mas principalmente, em o narrador, Benjamin fala desta perda do outro quando aponta à extinção da arte de narrar e, por conseguinte, da também arte de escutar, nas sociedades capitalistas ocidentais. A perda da memória se torna mais marcante quando o conselho passa a ser visto com desdém. Para Benjamim, o homem que sabe dar conselhos – o narrador - transmite as suas experiências tornando-as comunicáveis. Ele não dita a verdade, mas ensina uma sabedoria –“o lado épico da verdade”, pois “aconselhar é menos responder a uma pergunta que fazer uma sugestão sobre a continuação de uma história que está sendo narrada” (1994:201;200).
Walter Benjamin escreve em um período repleto de desilusões, mas também de grandes descobertas. A temática da modernidade, o surgimento dos meios de comunicação de massa, com o rádio como o novo difusor de notícias e construtor do laço social, a modificação do capitalismo e a ascensão do nazi-facismo, por exemplo, impregnam e servem de fio condutor a uma análise que se depara com diversas perdas, mas também com encantos possibilitados por uma outra época.
Para Benjamin, se a expulsão gradual da narrativa da esfera do discurso vivo ocorre “concomitantemente com uma evolução secular das forças produtivas”, o primeiro indício da evolução que vai culminar na sua morte “é o surgimento do romance no período moderno” (Benjamin, 1994: 201). Isso significa que a morte da narrativa se legitima com a difusão do livro devida à invenção da imprensa, onde as notícias são mais rápidas, o tempo mais curto e a reprodução das imagens maior e mais disseminada, especialmente a da escrita e a da fotografia.
Duas “culturas” a escrita e a oral, duas relações com o mundo e com a natureza completamente diferentes. Enquanto a arte de contar se sustenta em uma tradição e em uma memória comuns, “que garantem a existência de uma experiência coletiva, ligada a um trabalho e um tempo partilhados, em um mesmo universo de prática e de linguagem” (Gagnebin, 1994:11); o romance, apoiado sobre a escrita e sobre a burguesia capitalista, parte de uma experiência vivida isoladamente, a do romancista. Deste modo, na sociedade desagregadora de experiências e de sentidos, o romance representa a busca do sentido, tentando resolver o significado da existência através de uma conclusão. Na narração, ao contrário, como não existe a necessidade de buscar-se um sentido, seu final fica em aberto, sem explicações, possibilitando àquele que escuta tecer ao infinito o sentido daquilo que escutou sem precisar de um final.
Da transmissão de conselhos atuante em um contexto onde o narrador e o ouvinte estão inseridos “dentro de um fluxo narrativo comum e vivo” (idem, ibidem) passa-se à procura do sentido da vida, da morte e da história naqueles que escrevem em sua solidão existencial, como é o caso dos romancistas. De uma sociedade em que quando muito a solidão era vista como um local passa-se a uma sociedade que começa a vivenciar uma solidão existencial. Nela as pessoas, sentindo-se sós, jogadas no mundo, sem aquele laço possibilitado pela transmissão da cultura do ouvir, buscam na imagem escrita esse sentido e o seu eternizar-se.
A era da escrita (se assim podemos denominar), com o romance e depois com a informação [7] , sucede-se à era visual que se inicia com a descoberta da fotografia em 1822 [8] . A reprodutibilidade técnica da imagem gerou a perda da aura –“a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que esteja” (Benjamim, 1994:172), abrindo espaço para uma estetização efetiva em nossas vivências, que se caracteriza pela “multiplicação exacerbada de imagens cada vez mais onipresentes” e descontroladas (Baitello Jr, 2005:13).
Este predomínio da imagem vincula-se à atrofia do ouvir, que como personagem secundário acabou se subordinando aos filmes, vídeos e programas de televisão. O paradoxo se revela nos próprios shows, principalmente os de rock, que parecem feitos mais para serem vistos do que ouvidos. Neste sentido, o show apenas acompanha a grande estrela, ou seja, o visual imagético. Contudo, não é apenas a audição que sai prejudicada na era dos excessos e do descontrole. Diversamente do tato (talvez o único órgão tradicional do sentido que sofre de hipotrofia), o olfato, a visão e o paladar também “morrem” por excesso. Vivemos numa profusão de cheiros, numa diversidade de alimentos dos mais diferentes sabores (hoje a obesidade já inclui os pobres), numa varredura imagética e, por fim, em uma sociedade de ruídos. É tamanho o barulho que já não conseguimos escutar o outro (ou será que desaprendemos?) e tampouco nos interessar por muita coisa.
Neste cenário, o ocaso da cultura do ouvir acompanha o despontar de uma solidão difusa nos grandes centros urbanos. Se o aparecimento do romance perfaz uma solidão existencial, a “era da iconofagia” (Baitello Jr, 2005) aponta a uma solidão sem sentido (causadora ou decorrente da depressão) de um sujeito insuficiente. Essa pletora de tudo comunicar devora a altivez do homem, seus sentidos e, portanto, o seu corpo. Pois, como diz Anders,
“O emudecimento não apenas aparece quando o abismo entre as pessoas se torna tão grande a ponto de elas não conseguirem o superar. Ele ocorre também quando o abismo é muito estreito, para tornar possível uma mediação lingüística. [Pois] toda conversação exige uma distância mínima. O comunicado só tem sentido quando há uma diferença entre o falante e o ouvinte” (Anders, 1979:152  apudMarcondes Filho, 2002:97).
Ora, comunicar pressupõe o sair de si e o deixar-se tocar pelo outro através do mergulho no seu ser. E isto é favorecido pela escuta, pelo ouvir. Escutar é uma maneira de tocar, de sentir o outro. “Isso porque o som é altamente penetrante, ele cala no fundo da alma”. “Ele entra em nós, instala-se em nosso interior, nos invade” (Marcondes Filho, 2005:49-50).
Diversamente do olhar, que isola e distancia o homem do mundo, a audição nos invade, exercendo efeitos mais profundos e duradouros. No romance de Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, Swann se apaixona por Odette de Crécy não por causa de sua beleza, ou de algo especial que tivesse visto nela. Pois,
(..) ela se afigurara a Swann não por certo sem beleza, mas de um gênero de beleza que lhe era indiferente, que não lhe inspirava nenhum desejo, que até lhe causava uma espécie de repulsa física” (..). “Bem sentia que aquele amor era alguma coisa que não correspondia a nada de exterior, de verificável por outro que não ele; reconhecia que as qualidades de Odette não justificavam que encarecesse tanto os momentos passados em sua companhia (Proust, 1995: 194; 233).
            Swann só sentiu-se enamorado por Odette quando se deixou imergir na pequena frase¸ da sonata de Vinteuil. Com esta música, Swann mergulhava em um universo muito especial e distinto daquele que vivia:
            E o prazer que lhe dava a música e que em breve ia criar nele uma verdadeira necessidade, assemelhava-se, com efeito, em tais momentos, ao prazer que sentiria ao experimentar perfumes, ao entrar em contato com um mundo para o qual não fomos feitos, que nos parece sem forma porque nossos olhos não o percebem, sem significado porque escapa à nossa inteligência, e nós só o atingimos por um único sentido (idem ibidem).
            E ao se tornar “uma criatura quimérica que percebia o mundo apenas pelo ouvido”, Swann se deixava embalar por esta música associada ao amor que sentia por Odette, depositando o seu nome e o mistério que o amor comporta exatamente naquele local em que os interesses materiais são tão iminentes. Então era ali, naquele local outrora habitado por interesses mais imediatos, que Swann, absorvido pela pequena frase, inscrevia o nome de Odette. E até mesmo onde a sua afeição “pudesse ter de um pouco estreito e decepcionante, vinha a frase acrescentar, amalgamar a sua essência misteriosa” (idem, ibidem). 
            Swann não se apaixonou pela figura de Odette, mas deixou-se apaixonar embevecido pela atmosfera sublime que a música lhe proporcionava. Era como se a música o tivesse aberto à atmosfera amorosa, guiando-o pela escuridão dos sentidos que só a paixão tão bem sabe conduzir. Poderia apenas a visão despojá-lo dos recursos do raciocínio? Ele, que já passara dos primeiros anos do amor, não sentiria este sentimento tão avassalador a não ser pela embriaguez possibilitada pelo filtro obscuro do som? Ou, por algo que o fizesse lembrar de um tempo, de uma atmosfera sublime e que há muito ficara para trás?
            Segundo Merleau-Ponty, há um pensamento latente em nosso corpo. Este escapa à vontade da consciência e à censura do pensar, sendo uma espécie de pré-consciente, que se incorpora aos sentidos. Os sentidos são os nossos canais de abertura em direção ao mundo. Através do corpo eles estabelecem uma possibilidade muito mais ampla de comunicação com o nosso entorno. A riqueza da percepção daí derivada nos faz vivenciar sentimentos e descobertas inusitadas, daquelas que vão desde ser acariciado pela música deixando-se levar pelo turbilhão de emoções, com o foi Swann, por exemplo, a escutar um sorriso de uma criança e se deliciar com um passado que já foi o nosso, mas que ainda está presente em nós.
Para sorver a beleza deste mundo e sentir intensamente a vida, com todo o mistério e ambigüidade que ela tem, devemos estar abertos para as nossas sensações, a nossa pele, ao ouvir, o ver, o tocar, o cheirar, o degustar, sabendo saboreá-los, sentindo-os nas entranhas do nosso ser. Saber sentir, perceber o mundo, nós próprios e os outros é deixar-nos levar pelo corpo, é não temer interagir com o mundo. A comunicação nasce de nosso contato corporal com o mundo, ela é um fazer-se, um acontecer e não uma manifestação pura da consciência, do intelecto. Nesse sentido, ela não pode ser tratada separadamente da nossa experiência vivida.
Assim como não temos sensações puras, porque elas já vêm acompanhadas de nossas interações com o mundo (Merleau-Ponty, 2006), também não temos uma comunicação pura, como quer a teoria funcionalista. A otimização comunicacional é um mito iluminista, porque o mundo vivido nunca é inteiramente compreensível. Como toda comunicação humana começa no corpo e retorna ao corpo (Pross, 1972 apud Baitello Jr., 2005), ela depende das nossas sensações, da importância que damos a elas; em suma, de nossa conduta em relação ao corpo [9] .
Merleau-Ponty (2006) diz que ver é tocar à distância, ouvir é ver e tocar é ver, existindo entre eles uma unidade, uma inter-relação, pois não há sensações puras, mas um turbilhão de sentidos que interagem entre si, esperando apenas uma atmosfera, um momento para emergirem. Ora, não somos nós que percebemos, mas as “coisas” que se percebem em nós.
A riqueza do sentir e, por conseguinte, da própria comunicação, reside em sua fraqueza, ou seja, na “espessura de um saber originário que impede minha experiência de ser clara para si mesma” (Idem, op. cit.:291). Existindo um ser para além daquilo que vemos, “não apenas ser visível, mas ainda ser tangível ou apreensível pela audição, e não apenas ser sensível, mas ainda uma profundidade do objeto que nenhuma antecipação sensorial esgotará” (idem, op.cit: 291-2). Nesses termos sempre haverá na comunicação uma sombra, zona nebulosa, que esconde parte do que se deseja comunicar.   
            Estamos entre as coisas, numa relação de interação e não simplesmente de ação ou de passividade. Este mistério, esta presença e força do não-visível permitem que vejamos os sons e escutemos as cores. Vozes doces, sons apaixonantes, ásperos, agudos; cores tristes, estridentes, chocantes. Diversas são as sensações que podemos estabelecer com o mundo. Mas para isso é preciso resgatar a textura do corpo, abrindo-nos aos sentidos, sorvendo-nos com eles até que se tornem parte da nossa experiência, acrescentando algo a mais ao nosso eu. Assim como aconteceu com Swann, que se apaixonou, modificando-se através de uma melodia.
  

[1] Os outros três são: a análise, a síntese e o controle.
[2] É interessante remeter essa noção de corpo imagem ou corpo abstrato ou imaterial à fundamentação da atividade cognoscitiva do homem em Descartes. Para este filósofo o modo pelo qual percebemos o mundo ocorre por meio das idéias, que são atos mentais dos quais temos percepções imediatas. Ele as divide em três: as idéias inatas, as adventícias e as factícias. Sendo as idéias inatas as que nascem com o homem, inerentes à sua consciência, elas representam idéias eternas, verdadeiras e imutáveis. “A idéia inata de Deus, em particular, é a mais evidente e contém em si mais realidade objetiva que qualquer outra: ela garante a objetividade de todas as outras idéias inatas e das adventícias” (Reale, 2004:297). 
[3] Esta análise das comunicações vertical e horizontal se inspira em Baitello Jr. Segundo este autor, elas se iniciam com o corpo. “É com ele que se conquista a vertical, a dimensão do espaço que configura as codificações do poder. É com ele que se conquista a dimensão da horizontalidade e das relações solidárias de igualdade” (Idem, 2005:71).
[4] A filiação (a reprodução) é até aonde vai a comunicação vertical, com os membros ancestrais e descendentes, sendo é administrativa e hierárquica, lateral e extensa. Enquanto que a aliança (o casamento com outras linhagens) permeia a comunicação horizontal, estabelecendo a idéia de dívida entre os participantes e criando seu correspondente, que é a troca econômica (Deleuze, 1976).
[5] Há uma relação entre a sedação e a escrita. Segundo Baitello Jr., “a imagem é uma forma de escrita. Isto não se questiona, porque a escrita nasceu da simplificação dos registros iconográficos, dos desenhos e das pinturas. A relação entre as duas é indissolúvel porque ambas pertencem ao universo da visualidade” (2005: 36). E a escrita, como uma imagem, ajudou a criar uma cultura da sedação, que nada mais é do que a nossa domesticação através do sentar, do amansar. Assim, “nossa capacidade de pensar, de comunicar, de agir, acaba sendo ditada de alguma forma pela cadeira” (2005:37), ajudando a criar um pensamento sentado. Cabe lembrar aqui Nietzsche, outro crítico do “pensamento sentado”. Diz este filósofo: “Não somos como aqueles que chegam a formar pensamentos senão no meio dos livros - o nosso hábito é pensar ao ar livre, andando, saltando, escalando, dançando (...)”.
[6] Sobre a memória Nietzsche escreve em Genealogia da moral: “talvez, mesmo, nada seja mais terrível e monstruoso em toda a pré-história do homem do que suamnemotécnica. ‘Imprime-se algo a fogo, para que permaneça na memória: somente o que não cessa de fazer mal permanece na memória’ – eis uma proposição mestra da mais antiga (infelizmente também da mais prolongada) de todas as psicologias sobre a terra. (...) Nunca nada se passou sem sangue, martírio, sacrifício, quando o homem achou necessário se fazer uma memória; os mais arrepiantes sacrifícios e penhores (entre os quais o sacrifício do primogênito), as mais repugnantes mutilações (por exemplo, as castrações), as mais cruéis formas rituais e todos os cultos religiosos (e todas as religiões são, em seu fundamento último, sistemas de crueldades) – tudo isso tem sua origem naquele instinto que adivinha na dor o mais poderoso meio auxiliar da mnemônica” (Nietzsche, 1887:305).
[7] Para Benjamin, a difusão da informação provocou uma crise no romance e foi responsável pelo definitivo declínio da arte da narrativa. Como a informação aspira a uma verificação imediata, devendo ser clara, objetiva e momentânea, ela não está aberta para as diversas interpretações da narrativa e tampouco para a busca de sentido do romance clássico. “Com isso, desaparece o dom de ouvir, e desaparece a comunidade dos ouvintes. Contar histórias sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perde quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde porque ninguém mais fia ou tece enquanto ouve a história. Quanto mais o ouvinte se esquece de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido” (Benjamin, 1994:205).
[8] Com a fotografia, “pela primeira vez no processo de reprodução da imagem, a mão foi liberada das responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabiam unicamente ao olho” (Benjamin, 1994:167).
[9] “O sensível não apenas tem uma significação motora e vital, mas é certa maneira de ser no mundo que se propõe a nós de um ponto do espaço, que nosso corpo retoma e assume se for capaz, e a sensação é literalmente uma comunhão”. (...) “Sem dúvida, ela é intencional, quer dizer, não repousa em si como uma coisa, mas visa e significa para além de si mesma. Mas o termo que ela visa só é reconhecido cegamente pela familiaridade de meu corpo com ele, não é constituído em plena clareza, mas reconstituído ou retomado por um saber que permanece latente e que lhe deixa sua opacidade e sua ecceidade” (Merleau-Ponty, 2006: 286;288).
 
Referências
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Biografia da autora
Tarcyanie Cajueiro Santos é mestre e doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Pesquisadora-bolsista da Fapesp em nível de pós-doutorado pela ECA/USP e pesquisadora do Filocom – Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação. http://www.eca.usp.br/nucleos/filocom/home.html

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