segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"O Ato Radical" - Márcia Valéria

A PRÁXIS FUNDAMENTADA EM LOGOS COMO SINÔNIMO DE EROS – “O ATO RADICAL”

Sobre a “Consciência Infeliz” Sartre dizia: “O homem é livre até nas mãos do carrasco”, porém ao refletir sobre esta afirmação percebe-se que conferir ao homem esta forma de existir é desprover o homem e a liberdade de seu sentido, é retirar o significado da existência da vida ! Não é racional, no sentido humano dizer-se livre e feliz, e ao mesmo tempo viver infeliz aprisionado, expropriado de sua liberdade
Um dos objetivos do sistema neocapitalista é o domínio ideológico que ordena as aparências, racionaliza o mundo, domina as massas, escravizando corpos e mentes por meio de avançadas tecnologias, da tecnocracia, da cultura e linguagem alienantes, da arte reificadora favorecendo uma visão de mundo estereotipada, o homem “pós-moderno” está cada vez mais recriando um mundo irracional.
A razão que em Hegel é entendida como potencialidades humanas que somente o homem quando é livre tem possibilidade de exercer, encontra-se num “limbo ideológico”, o homem enquanto projeto dentro da existência que se fundamenta no tempo histórico, que possui uma ideologia existencial que dá sentido a vida, está envolto num véu obscuro, uma vez que reflete a consciência que este homem “pós-moderno” tem do mundo.
A razão que em Marx é entendida como ação histórica, como renovação pela descoberta do sentido, assumindo várias feições como práxis artística, lúdica, política ou qualquer outra feição que possa assumir, dá sentido a própria humanidade que se refaz através do trabalho, do compromisso que se efetiva, com a superação da alienação, com a transformação do mundo, e é esta razão que traz felicidade ao homem, por ser ela o contínuo exercício da liberdade.
Marx elogia em Hegel o fato de que a realidade humana é interpretada como um processo, porém ele apreende a essência do trabalho, e concebe o homem objetivo, o homem como sujeito e como objeto, como objetivo histórico que se realiza modificando as circunstancias, que possui as ferramentas para realizar “O Ato Radical”, trazer o sentido ao mundo desprovido de sentido.
A globalização sob a mundialização do capital nega o homem, a existência humana na sociedade racionalizada, orientada para o mercado, com suas técnicas refinadas perpassa e ultrapassa até mesmo as relações interpessoais e a própria vida as quais são quantificadas, tornando o homem do século XXI tão ou mais infeliz quanto nos séculos anteriores.
Mas o que torna o homem do novo milênio infeliz? Marcuse já dizia que é o próprio mundo que nega a realização dos seus desejos, uma vez que a infelicidade anda de mãos dadas com as situações sociais e é somente quando se chegar a uma nova situação social é que o homem será feliz.
Mas qual seria um dos caminhos que este novo homem cosmopolita engajado tecnologicamente com o planeta pode trilhar para ser feliz? Marcuse aponta “O ato radical”, que desmistifica a reificação, destrói a alienação, realiza a totalidade da essência humana, uma vez que é proveniente do reconhecimento do mundo como um sistema reificado, isto é, para o homem ser feliz deve tomar consciência da imoralidade oculta no valor de troca na sociedade capitalista, da falsa consciência da imutabilidade e da resignação.
É somente pelo intermédio do questionamento e da negação das condições de vida impostas pelo neocapitalismo que pode-se supera-lo. A negatividade no neocapitalismo encontra-se na alienação do trabalho e é somente com a extinção do trabalho alienado é que o homem poderá ser feliz
A globalização sob a mundialização do capital como sinônimo de “progresso” e “bem-estar “ reprime o homem, escraviza-o em vez de liberta-lo, uma vez que esse homem engajado persegue incessantemente o “desempenho” realizando-o excessivamente.
A competição como idéia e ideal do mundo civilizado, racionalizado pelo máximo a ser alcançado, está baseada na razão instrumental em nome da eficiência e produtividade que pela sua própria contradição acaba por instar a barbárie transformando prazer em sofrimento e não traz a felicidade tão almejada e torna o trabalho como o solucionador das carências e não como realização das potencialidades humanas não tornando o homem feliz, torna-o vazio de sua própria essência humana.
O homem como parte integrante da natureza deve buscar sua beleza, para poder celebrar a vida, quando esse homem der o passo inicial que é a objetivação da práxis – o lugar em que o sentido encontra a sua gênese - a ação humana, quando negar a impotência, a impossibilidade de ser homem estará rumando para a conscientização global.
Quando o homem vislumbra a liberdade, torna-se impossível nega-la, torna-se necessária a imposição desta necessidade, só assim Logos tornar-se-á Eros, só assim a Razão tornar-se-á Prazer, Felicidade, rumo a verdadeira Liberdade fundada na plena capacidade de realização das reais potencialidades humanas, o homem será então Livre pois terá chegado a Emancipação Humana.






Márcia Valéria
Publicado no Recanto das Letras em 15/08/2006

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