“Prout é muito importante para todos aqueles que almejam uma libertação que comece pelo econômico e se abra para a totalidade da existência humana.”Leonardo Boff, teólogo e escritor
Por Luna, Rogério Luna *
Entre 18 e 26 de setembro, o município de Nazaré Paulista recebeu a sexta edição do Festival da Primavera. Promovido pelaUniluz – Universidade da Luz, o evento contou com a participação ativa da população da cidade e de diversos palestrantes convidados. Dentre estes, o monge Acharya Jiananananda Avadhuta, natural do Congo, adepto do tantra yoga, chamou atenção não só por causa da sua veste alaranjada, da contagiante simpatia e do sotaque, mas também por conta de uma instigante, porém, pouco difundida teoria socioeconômica: o Prout (Progressive Utilization Theory).
O Prout (pronuncia-se “praut”), ou Teoria da Utilização Progressiva em português, foi formulado em 1959, pelo pensador indiano Prabhat Ranjan Sarkar. O sistema propõe uma nova forma de auto-suficiência econômica e política baseada na espiritualidade, opondo-se ao comunismo cerceador de liberdades individuais e ao capitalismo global comandado pelas megacorporações.
Na visão de Jiananananda – o qual, devido à complexidade do seu nome para os padrões ocidentais, nos propõe a chamá-lo de Dada (“irmão”) –, quando os proutistas falam de espiritualidade, referem-se ao sentido pelo qual o termo tem sido empregado modernamente. Ou seja, a capacidade do ser humano de se sentir integrado com ele mesmo, com a Natureza ou, no dizer do Dalai Lama, em seu livro Uma ética para o novo milênio (editora Sextante), “com aquelas qualidades do espírito humano – tais como amor e compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia – que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros”.
Com a derrocada do comunismo autoritário na maior parte do mundo, da amplificação do consumismo, da busca insana por lucros cada vez maiores e da exploração desenfreada dos recursos naturais, a tendência atual de proutistas como Jiananananda é mirar seu olhar crítico para a ganância e a irresponsabilidade do capitalismo global. “Hoje em dia fala-se em desenvolvimento acelerado. Mas, para quem? Para o povo ou para os capitalistas?”, questiona.
A relatividade do conceito de progresso – Na comédia americana O Virgem de Quarenta Anos (2005, Universal Pictures), é transmitda – não muito sutilmente – a ideia de que o personagem principal seria um bobo por usar bicicleta e não carro como seu meio de transporte. Entretanto, ao olharmos para a situação de cidades sufocadas pelo trânsito (alguém lembrou de São Paulo?), surge a pergunta: “Ao trocarmos nossas bicicletas por carros, progredimos verdadeiramente?” Dada discorda e acrescenta: “Para mim, por levar menos tempo do que de bicicleta, viajar de ônibus da Uniluz até São Paulo é um progresso. No entanto, para as pessoas que moram ao longo da estrada pode não ser, pois o ar que respiram se tornou mais sujo”.
Com esse exemplo, Dada nos alerta sobre o uso indevido do termo progresso. Em sua ótica, estamos vivendo numa espécie de grande ilusão ao pensarmos que as inovações tecnológicas são exatamente sinônimos de progresso, de evolução. Ele acrescenta que é inegável o crescimento da civilização industrializada no campo intelectual, do conhecimento em relação ao mundo material. Porém, no universo das nossas relações interpessoais, psíquicas e com o meio ambiente não progredimos tanto. “Nesse ponto, não me parece que somos tão mais avançados que os índios”, diz.
Na visão do Prout, a antiga crença capitalista de que o grande enriquecimento de seus dirigentes gera, proporcionalmente, mais empregos e bem-estar coletivo é um engodo. Além disso, a exploração irracional dos recursos da natureza, o processo de conversão e submissão às religiões do consumo e do individualismo pela qual os tradicionais meios de comunicação nos têm submetido, seriam grandes causadores da desgraça e da infelicidade de milhões de pessoas na Terra – pobres e ricos.
Vivendo na Matrix - Diante de tal quadro – o qual nos faz pensar que boa parte do povo do planeta vive adormecida sob uma grande Matrix -, quais as alternativas propostas pela Teoria da Utilização Progressiva para um mundo melhor? Entre outras propostas, o Prout defende que o desenvolvimento pessoal num sentido integral, a criação de cooperativas e comunidades são importantes passos para alcançarmos tal objetivo.
O monge cita como exemplos a Uniluz – onde se incentiva a expansão da consciência e uma maior integração com as pessoas e a Natureza -, movimentos ligados à permacultura, bioconstrução e agroecologia.
O crescimento de iniciativas como as citadas acima não é mera utopia ou ingênuo idealismo. Elas são uma realidade ascendente. Segundo a International Cooperative Alliance (ICA – http://www.coop.org/ica/) – que representa 248 organizações de 92 países -, mais de 800 milhões de pessoas no mundo participam de cooperativas. No livro Após o Capitalismo, o autor Dada Maheshvarananda informa que os Estados Unidos, país-símbolo do capitalismo global, abriga quase 50 mil cooperativas, as quais prestam assistência a 37% da população norte-americana, ou seja, 100 milhões de cidadãos. Para mais informações sobre o tema, visite o site da National Cooperative Business Association (http://www.ncba.coop).
Os Cinco Princípios Fundamentais de Prout – Tais princípios, extraídos da supracitada obra Após o Capitalismo, servem como orientação na distribuição dos recursos e riquezas entre os indivíduos. Advertimos que as explicações de cada item são apenas recortes de um todo. Para maior aprofundamento, sugerimos a consulta do livro citado.
1- A nenhum indivíduo deve ser permitido acumular riqueza sem a permissão ou a aprovação clara do corpo coletivo: assim como existem salários mínimos, o Prout propõe o estabelecimento de salários máximos, com a possibilidade de serem acrescentados benefícios extra-salariais (bônus por desempenho, participações em ações, cobertura de despesas pessoais).
2- Distribuição racional de todas as potencialidades mundanas, supramundanas e espirituais do universo: neste caso, uma das críticas vai para grandes propriedades rurais ociosas ou cujo cultivo visa apenas à exportação.
3- Máxima utilização das potencialidades físicas, metafísicas e espirituais do indivíduo e do corpo coletivo da sociedade: o foco deve ser no bem-estar dos indivíduos e da coletividade e não no individualismo e consumismo excessivos.
4- Ajuste apropriado para a utilização nos plano físico, metafísico, mundano, supramundano e espiritual: deve-se usar as qualidades individuais das pessoas para adequá-las a tarefas que lhes tragam prazer e que sejam compatíveis com seus talentos e habilidades. Sem desmerecer a profissão de agricultor, o escritor Dada Maheshvarananda critica, por exemplo, o governo comunista chinês, o qual, durante a Revolução Cultural obrigou pessoas com curso superior (médicos, enfermeiras etc.) a trabalharem no campo.
5- O método de utilização deve variar de acordo com as mudanças de tempo, lugar e pessoa, e a utilização deve ser de natureza progressiva
Política + Economia + Espiritualidade - Para algumas pessoas que leram esta reportagem até aqui, a visão do Prout sobre a interdependência entre espiritualidade, política e economia pode causar estranheza ou mesmo rejeição. Muitas acham que tais coisas não deveriam se misturar. Jiananananda critica tal ponto de vista. “É uma artimanha da exploração propagar a ideia de que a política é má. Se as pessoas de boa vontade, inspiradas pelo bem, não se ligam à política, nas mãos de quem ela vai cair? Dos bandidos”, rebate Jiananananda.
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Mais informações pelo proutsp@gmail.com
Denise (11) 9393-2106
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Prout em português – www.prout.org/por
Nazaré Uniluz – www.nazareuniluz.org.br
International Cooperative Alliance (ICA) – www.coop.org/ica
National Cooperative Business Association – www.ncba.coop
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