Universidade Federal de Santa Catarina
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Fundamentos Cognitivos da Informação
Padrões e Possibilidades
Os cientistas nos dizem que chegamos atrasados na Terra. Nós chegamos tão recentemente que se nós pensarmos na história de nosso planeta como um dia de vinte e quatro horas, nós não aparecemos até quase meia-noite.
Mas agora o destino de nossa Terra está em nossas mãos. O aparecimento de nossa espécie marcou o início de uma nova era na evolução planetária: a idade da co-criação humana. Usando nossa capacidade de imaginar mudanças, casada com nossa capacidade de fazer e usar ferramentas, nós alteramos radicalmente nosso habitat natural. Hoje nossas tecnologias são tão poderosas que rivalizam com as forças da natureza. As idéias valores e práticas que guiam estas tecnologias irão determinar largamente nosso futuro e o de outras formas de vida em nosso planeta. Por isto é essencial que os jovens adquiram uma compreensão mais clara de nossas possibilidades culturais.
Educação participativa expõe os jovens a dois tipos de possibilidades culturais humanas. Dá a eles a oportunidade de pensar sobre dois aspectos diferentes do que significa ser humano, para avaliar as evidências de cada um , e para chegar a suas próprias conclusões.
Uma abordagem é a versão ainda ensinada em muitas escolas e universidades. È a estória de eventos aleatórios com pouco significado, da capacidade de invenção e aquisição pontuada por guerras constantes, opressão e derramamento de sangue, por batalhas intermináveis entre os homens, tribos e nações para dominação e controle. Esta é a estória familiar do nascer e aparentemente inevitável queda de civilizações que deixam monumentos construídos por seus governantes: uma história escrita por conquistadores nas quais mulheres, crianças e homens de “classes baixas” e “raças inferiores” exercem apenas papéis pequenos.Esta estória nos diz que a nossa é uma espécie profundamente falha - uma que vez, apesar de suas grandes capacidades e aspirações, não consegue viver em igualdade e paz.
A outra estória amplia a lente analítica para revelar uma imagem mais clara: uma que aponte nossa história como um todo, incluindo pré-história; o todo da humanidade, tanto sua parcela macho como fêmea.; e o todo de nossas vidas, ambas, tão chamadas esfera pública e esfera privada da vida de todo dia de pessoas “ordinárias”. Esta estória reconhece o aspecto dominador de nosso passado e presente. Mas foca sobre a possibilidade de um modo de vida mais pacífico e eqüitativo. Ele chama a atenção para aspectos em segundo plano característicos de sociedades ou períodos orientando primariamente o modelo dominador ou de parceria, oferecendo esperança e inspiração embasadas para criar um futuro humano sustentável.
Conhecendo as duas estórias de evolução biológica rabiscados no último capítulo, os alunos irão reconhecer que muito do que é ensinado para as crianças a respeito dos animais em escolas, universidades, ou pela televisão e outros meios de massa focalizam-se primariamente sobre agressão, violência e dominação – apesar de que novos estudos mostram que muitas teorias sobre animais precisam ser reexaminadas. Para rever este tópico, os alunos podem lembrar-se como um programa de televisão após o outro levam os espectadores a acreditarem que em outras espécies – macaco babuíno, por exemplo quanto mais graduado e agressivo for um babuíno, maiores as chances de as fêmeas tornarem-se suas parceiras. Observando babuínos oliva selvagens, no entanto, primatologistas como Shirley Strum descobriram que os machos mais graduados e mais agressivos são na realidade os que menos acasalam.
Deve-se solicitar aos alunos para rapidamente revisarem os materiais do cap. 3. Uma boa fonte aqui é a revisão do livro chamado “Mitos de Gênero”, pela paleoantropologista Adrienne Zihlman, no qual a autora discute a abordagem nova e velha no comportamento de acasalamento dos primatas.
Os professores podem então prosseguir explicando as duas diferentes estórias de nossa evolução cultural delimitadas nas páginas a seguir: uma apresentando o modelo dominador como a única possibilidade humana e a outra mostrando que existe a alternativa da parceria. Isto é ilustrado pelo filme de Stanley Kubrick 2001: Uma Odisséia no Espaço ( baseada na novela de Arthur C. Clark ) em uma cena dramática que mostra a descoberta de ferramentas iniciando com a consciência de uma criatura tipo macaco de que um osso grande pode ser usado como arma para matar um membro de sua espécie.
Os alunos podem ser convidados a discutir como esta cena espelha teorias de que o desenvolvimento de uma sociedade dominante e o desenvolvimento da sociedade humana são uma e a mesma. Eles podem observar como esta mensagem está a nossa volta, em muitas maneiras subjetivas e não subjetivas.
O desenho “inocente” do brutal homem das cavernas carregando uma clava enorme em uma mão e com a outra arrastando uma mulher pelos cabelos (um desenho que nós não achamos nada de mais em mostrar aos nossos filhos) comunica a mesma mensagem. Em pequenos golpes “interessantes” nos diz que de um tempo imemorial os homens equacionaram sexo com violência e que as mulheres foram objetos sexuais passivos, em outras palavras, que a associação de sexo com a dominação masculina e violência é apenas “natureza humana”.
Acadêmicos de muitas disciplinas nos dizem uma história diferente de nossa origem cultural. Nesta estória, a invenção de ferramentas não começa com a descoberta de que nós podemos usar ossos, pedras, ou paus para matar um ao outro. Inicia-se muito mais cedo, com o uso de paus e pedras para cavar raízes (o que chimpanzés fazem), e continua com a invenção de outras maneiras de carregar comida que não as próprias mãos (cestos e tipóias de vegetais rudimentares) e morteiros e outras ferramentas para amaciar comida. Em resumo, foca-se em ferramentas que suportam, mais do que tiram, a vida.
Nesta estória, a evolução do hominídeo, e então humano, a cultura também segue mais de um caminho. Nós temos alternativas. Nós podemos organizar relações de maneira a recompensar violência e dominação. Ou, como algo de nossa arte inicial sugere, nós podemos reconhecer nossa interconecção essencial um com o outro e com o resto do mundo vivo. Nós podemos construir relações sociais baseadas primariamente em hierarquias de dominação suportadas pelo medo- e, por último, força. Ou nós podemos construir hierarquias de atualização, na qual o poder é usado não para controlar outros mas para permitir aos outros a realização de todo seu potencial humano. Quando isto acontece, toda a sociedade é beneficiada.
Os alunos podem perceber as diferenças entre modelos de parceria e dominação e entre hierarquias de dominação e hierarquias de atualização através de exemplos simples de suas experiências na vida diária tanto dentro quanto fora de suas escolas. Quando mais adiantados, os alunos podem analisar os benefícios permitir a outros realizar todo o seu potencial (atualização) versus os efeitos deformantes de controlar os outros (dominação).
Os professores podem iniciar com material em velhas teorias familiares de evolução cultural e tecnológica que propõe uma progressão linear de evolução cultural e tecnológica da “selvageria” ou “barbarismo” a “civilização” sem distinção entre as sociedades que orientam primariamente aos modelos parceria e dominação. Eles podem dar exemplos de como, de fato, as tecnologias foram então inventadas e então perdidas (como na Idade Negra na Europa), e como “sociedades civilizadas” mesmo em tempos recentes (como os Nazistas do Terceiro Reiche e a Ioguslávia de Milosevich), tornaram-se selvagens e bárbaras-em outras palavras, como estas teorias não tornam-se realidade.
Os alunos podem ser convidados a dar uma olhada em nossa aventura humana nesta Terra, sob a perspectiva da tensão entre os modelos de parceria e dominação como duas possibilidades diferentes. Isto pode ser feito introduzindo para os alunos algum material da seção seguinte. Estes materiais mostram que existe mais de uma possibilidade para a organização das relações humanas. Eles oferecem uma visão mais esperançosa do que pode acontecer a frente, mostrando que, em tempos e lugares orientados primariamente em um modelo de participação, a vida das pessoas é melhor apesar do nível de desenvolvimento tecnológico.
Uma fonte útil é o material de classes de high school desenvolvidos pelo Maj Britt Eagle e Robin Andréa, incluídos no apêndice A. Outra fonte útil é a caixa 4.1.
O reexame de culturas anteriores e mitos em termos de sua localização no contínuo participação-dominação pode ser um ingrediente importante na educação multicultural que nós precisamos hoje para ajudar a reduzir as tensões, e também para diminuir a violência, em nossas escolas e nações causados pelo preconceito racial e étnico. Uma das razões mais eficientes de ajudar os jovens a encontrar senso comum com grupos raciais e étnicos diferentes é pela exploração de mitos de culturas na Europa, Ásia, África, América do Norte e Sul, e Austrália que ainda retém traços de maneiras de viver mais participação orientadas. Muitas crianças ficarão fascinadas por esta exploração.
Enquanto os professores introduzem os materiais que se seguem, eles podem convidar os alunos a olhar os conflitos dos dias atuais entre aqueles que ainda vêem a evolução cultural humana apenas pelas lentes da dominação e aqueles que evidenciam culturas anteriores baseadas mais na participação. Em séries mais adiantadas, os alunos podem discutir estes tópicos no contexto em que o historiador da ciência Thomas Kuhn chama de conflitos entre paradigmas científicos velhos e novos. Como Kuhn documentou em A Estrutura das Revoluções Científicas, muitas destas batalhas sacudiram a ciência com nova evidência acumulada que não se encaixava em velhas teorias ou interpretações. E particularmente quando não havia uma ameaça perceptível às estruturas de poder existentes, a resistência a novas interpretações foi muito forte- como no desentendimento quase fatal de Galileu com a Igreja.
Caixa 4.1 Teoria da transformação cultural
Nas classes mais adiantadas, os alunos podem ser expostos a uma análise mais sofisticada oferecida pela Teoria da Transformação Cultural. Esta abordagem leva em conta não apenas um mais dois movimentos evolutivos, focando-se na interação entre eles.
Um movimento consiste na mudança de uma grande fase tecnológica para outra. Estas são fases tecnológicas familiares trazidas por modificações tecnológicas fundamentais: a revolução agrária, a revolução industrial e as revoluções nucleares, eletrônicas e bioquimicas.
O segundo movimento não é tecnológico, mas social e cultural. Ele consiste em trocas entre períodos orientando primariamente ao modelo de participação e dominador.
Olhando as interações entre estes dois movimentos, os alunos podem ver como o desenvolvimento e utilização de lançamentos tecnológicos são profundamente afetados pelo grau em que um período ou sociedade orienta primariamente para um modelo de participação ou dominação. Por exemplo, como discutido neste capítulo, os metais foram utilizados pelos Neolíticos da Europa pré-histórica com orientação de participação primariamente para ferramentas, jóias e outros ornamentos e objetos de rituais. Mas os Indo Europeus mais orientados pela dominação que invadiram a Europa aplicaram a tecnologia de metal derretido na fabricação de armas.
A interação destes dois movimentos em nossa evolução cultural, por um lado em mudanças de fases tecnológicas e conseqüentes mudanças nos modos de produção, e, por outro períodos de participação e dominação e conseqüentes mudanças em prioridades tecnológicas é apontado em “Riane Eisler, trocas de dominação e participação” em macrohistórias e macrohistoriadores: Perspectivas em mudanças Individuais, Sociais e civilizacionais, um livro que também descreve as teorias de figuras conhecidas como Vico, Hegel, Marx, Weber, Spengler e Toynbee.
Os alunos podem ser convidados a explorar a questão de como as novas e velhas interpretações de pré-história - o longo giro da evolução cultural para o qual nós não temos registros escritos – suportam duas perspectivas diferentes da natureza humana.
Apesar de muitos professores serem capazes de usar o que se segue apenas para suplementar o currículo existente, é um primeiro passo importante. Torna possível aos alunos ver padrões em que de outra maneira pareceriam inexplicáveis e insuperáveis. Também chama a atenção no quanto nos foi ensinado sobre a história humana, apesar de sua objetividade embutida, é na realidade racista e sexista. Mais importante, encorajar os alunos a descobrir como as opções humanas, conscientes e inconscientes, tem um grande papel no tipo de futuro que nós temos e ainda se nós temos um futuro.
A Velha Idade da Pedra
Cultura (as crenças e comportamentos transmitidos através do aprendizado de geração em geração) e tecnologia ( a fabricação de instrumentos) tem raízes antigas entre os mamíferos, particularmente os primatas. Mas é entre os humanos que a cultura e tecnologia assume importância crítica.
Os primeiros membros da família humana, os chamados hominídeos, retrocedem a milhões de anos na África. A cultura e tecnologia humana também tem raízes profundas na África, uma vez que foi lá que espécies depois de espécies de hominídeos emergiram.
Nossa própria espécie, homo sapiens, apareceu apenas há 120.000 anos. Mas nós, também, viemos da África e, de acordo com estudos de DNA, temos ainda ancestrais anteriores lá.
Um grupo de cientistas estudando DNA materno herdado acreditam que seguiram todos os humanos atuais até uma fêmea que viveu na África entre 140.000 e 280.000 anos atrás. Apesar dos biólogos apontarem que ela não é a única mãe ancestral de todos os humanos, uma vez que haviam outras fêmeas reproduzindo nesta época, estes estudos de DNA indicam que ela foi a única entre eles que teve descendentes fêmeas que sobreviveram a todas as gerações subseqüentes. Por esta razão os cientistas a chamam de Eva, nossa mãe comum?
Existem também achados hominídeos na Ásia. De acordo com o Professor Jiao Tianlong do Instituto de Arqueologia da Academia Chinesa de Ciências Sociais, os dados arqueológicos indicam que, à 1.800.000 anos, hominídeos já habitavam a área que nós agora chamamos China. Estes dados não indicam qual era seu tipo de cultura. Mas o Professor Jiao Tianlong sugere que, como os colhedores/caçadores da Europa Paleolítica, eles consistiam em grupos pequenos, variando de área e que passaram por modificações com o passar do tempo. Ele também acredita que é razoável inferir que “deve ter havido igualdade e aquisições mútuas entre os membros, que lutaram juntos contra adversidades para subsistir.”
Não se pode dizer que a violência era ausente nestas sociedades. O ponto é que as muitas interpretações anteriores suportando a suposição da inevitabilidade da guerra crônica, dominação masculina, e relações humanas baseadas no medo e na força não são congruentes com as evidências disponíveis.
Sem dúvida, se nós olharmos os sítios mais escavados da Idade da Pedra, aqueles do Paleolítico Europeu Superior, as figuras populares dos primitivos homens das cavernas da idade da pedra carregando clavas não tem base. Estas descordertas são mais sugestivas de um modo de vida orientado na cooperação do que um orientado pela dominação. Eles certamente não são consistentes com a interpretação convencional deste período como “a estória do homem caçador /guerreiro”.
Por exemplo, os alunos podem olhar as “flechas do lado errado” retratadas na figura 4.1 e ver como esta visão coloriu e distorceu a interpretação das descobertas da Idade da Pedra. Este entalhe ancestral confundiu os acadêmicos porque o que eles percebiam eram quatro flechas indo para o lado errado. Errando em relação à cabeça do bison entalhada próxima a elas. Foi um recém chegado à arqueologia, Alexander Marshack, apontar que, visto por fora do paradigma pré- concebido, estes objetos podem ser reconhecidos pelo que são: entalhes de vegetação com galhos indo para o lado certo.
Os alunos podem, também, ser convidados a discutir o maior tema da arte entalhada da Idade da Pedra: o aspecto de sustentação e doação de vida da natureza. Nesta arte de 30.000 anos, ainda mais conhecida por suas belas retratações de animais, existem numerosas figuras femininas. Notáveis entre estas são as quadris largos, algumas vezes grávidas, então chamadas figuras Vênus que antes foram interpretadas como contrapartes ancestrais de um centerfold da Playboy ou como ídolos de “cultos de fertilidade”. Os acadêmicos estão cada vez mais reconhecendo estas figuras femininas como símbolos do poder regenerador da natureza. Como o arqueólogo James Mellaart nota, elas parecem ser precursoras de deusas femininas associadas com a abundância da natureza e criatividade encontrada em civilizações agrárias da Idade do Bronze.
Uma destas figuras pode ser o mais antigo artefato de arte jamais encontrado. È um objeto entalhado escavado em Israel no sítio de Berekhat Ram nos Golan Heights: um seixo entalhado que “tem algumas características de um corpo feminino”, com” entalhes delimitando a cabeça e braços”. Estima-se que este sítio tem aproximadamente 230.000 anos – o que é quase 200.000 anos mais velho do que os sítios Paleolíticos Europeus. Mas, surpreendentemente, a figura encontrada em Berekhat Ram traz uma semelhança com a chamada Vênus de Willendorf encontrada na escavação Européia datada de aproximadamente 30.000.
Em outras regiões do mundo, ainda não houveram escavações de figuras femininas ancestrais. Mas existem descobertas de acampamentos humanos antigos. Por exemplo, restos humanos encontrados em Lewisville, Texas, foram carbonados em 38.000 anos. E sítios nas montanhas Sandia perto de Albuquerque, Novo México, foram datados por carbono em 17.000 a 27.000 anos. Como veremos nas páginas que se seguem, também ao contrário dos estereótipos populares, as pessoas nestes acampamentos desenvolveram culturas altamente sofisticadas.
Os Primeiros Fazendeiros
A revolução agricultural acompanhou a maior fase – mudança: da economia coletor/caçador para a economia de fazendas primárias. Esta fase tecnológica começou aproximadamente à 10.000 em algumas regiões do mundo, marcando o princípio do que os acadêmicos chamam de Neolítico ou Nova Idade da Pedra. Na realidae estes termos orientam mal, uma vez que nós agora sabemos que na última parte deste período, algumas vezes chamada de Chalcolitico ou Idade do Cobre, os metais estavam sendo fundidos e usados para ferramentas, jóias e objetos de ritual.
O Neolítico trouxe o início da civilização, o que agora se conhece como sendo a 8.500 anos na Europa e Meio-oeste. Isto é anterior ao que se acreditava antes de novos métodos científicos como o radiocarbono datando imediatamente uma nova abordagem das escalas Neolíticas de tempo. Mas não são somente as escalas de tempo, mas a interpretação dos achados Neolíticos que estão começando a mudar.
A antiga interpretação do Neolítico, ainda ensinada em muitos lugares, é de que a invenção da agricultura acompanha a dominação masculina, guerra crônica, e o comando pelas elites ricas e poderosas de machos sobre escravos, mulheres, e “pessoas comuns”. Esta estória é inconsistente com a afirmação de que a dominação masculina e guerra crônica estavam lá desde o início da evolução humana – que eles estão em nossos genes, e que os hormônios como a testosterona torna os homens inevitavelmente violentos.
No entanto, ambas estas estórias são consistentes em sua mensagem subjacente: Elas “explicam” a “inevitabilidade” de uma organização social dominadora.
Como não existe base sólida para a teoria de que uma organização social dominadora é baseada geneticamente, a teoria de que a troca tecnológica de coleta/caça para lavoura trouxe a mudança para o modelo dominador não é bem baseada. Já foi desafiada no século 19, quando a arqueologia estava em sua infância. Naquela época, um número de acadêmicos começou a escrever o que eles chamavam “matriarcados” mais do que “patriarcados” – e a batalha sobre nossa origem cultural que continua até hoje começou.
Acadêmicos como Edward Westmarck discutiram que nunca tinha havido nem nunca haveria outra coisa que famílias e sociedades comandadas por homens – que o patriarcado é a única forma humana possível. Outros acadêmicos, incluindo J.J. Bachofen e Lewis Henry Morgan, e mais tarde Friedrich Engels e Alexander Rustow, discutiram não só as evidências de ambos: arqueologia e mito apontam para sociedades ancestrais que eram matriarcais, mas estas sociedades eram guiadas por valores estereotipados femininos e igualitários. Ainda outros concordam que os matriarcados existiram mas afirmam que estas sociedades eram cruelmente comandadas por mulheres, atribuindo a elas a origem de práticas bárbaras como sacrifícios humanos. Por exemplo, James Frasier afirmou que mais tarde estórias como aquela do “rei da madeira” que para assumir aquela posição tinha que arrancar um galho de uma determinada árvore associada com a deusa Romana Diana e então assassinar seu predecessor “ teve ter sido levado a cabo em um tempo além da memória do homem, quando a Itália estava ainda em um estado muito rude”. Esta interpretação, que Frasier sustentou com analogias de sociedades tribais do século 19 onde o chefe ou rei era assassinado quando não tinha mais vigor – sociedades onde, no entanto, poucas matriarcais mas sim rigidamente dominadas pelo macho – encaixaram-se à visão da história cultural do século 19 como uma progressão linear do barbarismo à civilização, uma visão que ainda prevalece em alguns lugares hoje.
Alguns acadêmicos irão afirmar que práticas como sacrifícios prevaleceram em sociedades primitivas comandadas por mulheres. Na realidade, não existe evidência sólida de que o sacrifício ritual fosse comum em culturas pré-patriarcais. Nem existe evidência para sustentar a posição de que estas sociedades antigas eram matriarcais ou simplesmente o reverso de patriarcais – em outras palavras, sociedades onde mulheres comandavam e subjugavam os homens.
Mais do que isso, escavações como as de James Mellaart no sítio Turco de Catal Huyuk e por Marija Gimbutas nos Balkans e Grécia, assim como a análise das práticas Neolíticas de enterro em várias regiões ao redor do Mediterrâneo pela arqueóloga Britânica Lucy Goodison, indicam que por milhares de anos as culturas Neolíticas parecem ter se orientado mais pelo que eu chamo de modelo gylanico. (Gylanico é um termo específico de gênero para o modelo de cooperação que eu cunho como a alternativa entre o patriarcado e matriarcado.)
Em seu livro A Civilização das Deusas: o mundo da velha Europa, Gimbutas examina o meio de vida, religião, e estrutura social dos povos que habitaram a Europa do 7 ao 3 milênio, que é de 9.000 a 5000 anos atrás.Ela também olha a última civilização de Creta minoan, que prosperou até 3.500 anos atrás. Ela escreve:
A dificuldade com o termo matriarcado no meio antropológico do século 20 é que assume-se que representa uma imagem espelhada do patriarcado e androcracia – que é, uma estrutura hierárquica com mulheres comandando pela força no lugar dos homens. Isto está longe da realidade da Velha Europa. Sem dúvida, nós não encontramos na velha Europa, nem em todo o Velho Mundo, um sistema autocrático comandado por mulheres com uma supressão equivalente de homens. Em vez disso, nós encontramos uma estrutura onde os sexos são mais ou menos iguais, uma sociedade que pode ser chamada de gylany. Este é um termo cunhado por Riane Eisler (de gyne, referindo-se a mulheres e andros, homem, associado pela letra l de lyen, resolver ou lyo, libertar). Gylany implica que os sexos estão ligados mais do que hierarquicamente ranqueados.
Gimbutas, também pontua que “é um engano grosseiro imaginar a guerra como endêmica à condição humana”. Ela escreve: ”luta aberta e edificação de fortificações foram sem dúvida o meio de vida de muitos de nossos ancestrais diretos da Idade do Bronze até agora. No entanto, este não é o caso no Paleolítico ou Neolítico. Não existe retratação de armas (armas usadas contra outros humanos) nas pinturas das cavernas do paleolítico, nem existem restos de armas usadas por homens contra homens durante o Neolítico da Velha Europa”. Entre “cento e cinqüenta pinturas que sobreviveram a Catal Huyuk,” ela continua, “não existe uma cena de conflito ou luta, ou de guerra ou tortura.
Isto não significa que estas eram sociedades livres de violência em que tudo era ideal. Este é um ponto que eu quero enfatizar de novo. Existem indicações de alguma violência no início das sociedades neolíticas. Mas elas não são extensivas. Como R. Brian Ferguson aponta, violência e guerra deixam traços recuperáveis tanto na arte quanto em outros restos arqueológicos. O fato destes traços serem raros neste período é significativo.
Muitas teorias de influência simplesmente projetam para tempos anteriores o que foi observado na história mais tarde. Como Fergusos nota, construir teorias de violência pré – histórica na premissa de que “a ausência de evidência não é evidência de ausência” é inconsistente. O que a ausência de evidência de violência crônica realmente indica é que, apesar de não ser utópica ou ideal, estas foram sociedades organizadas diferentemente do que veio depois.
Baseada em centenas de escavações, Gimbutas nota, que os assentamentos da Velha Europa foram “escolhidos por seu lugar conveniente, boa água e solo, e disponibilidade de pastos para animais, e não para sua posição defensiva”. Eles eram ocasionalmente “circundados por valas mas raramente por palissadas ou paredes de pedra”. Na realidade, “trincheiras cerâmicas e outras estruturas defensivas ocorreram somente mais tarde em assentamentos no Neolítico e Idade do Cobre quando medidas eram tiradas para proteger as vilas de intrusos humanos – especificamente no fim do 5 e durante o 4 milênio a.c. .
A estrutura social geral desta antiga civilização Européia foi também diferente das culturas Indo européias que vieram depois.” Não existe evidência em toda a Velha Europa de um chefiado patriarcal do tipo Indo – Europeu”, Gimbutas informa. “Não existem tumbas masculinas de reis nem residências em penhascos fortificados. Os ritos de sepultamento e padrões de assentamento refletem uma estrutura matrilinear, onde a distribuição de riquezas em túmulos fala de igualitarismo econômico.
Em outras palavras, as relações humanas, incluindo aquelas entre as partes macho e fêmea da humanidade, parecem seguir um padrão mais igualitário. Apesar da principal pintura de deusa em forma humana pareça ser fêmea (chamada, a Deusa de quem Gimbutas escreve), refletindo uma organização social matrifocal ou mãe-centrada, esta pintura, como Gimbutas enfatiza, não indica o matriarcado.
A maneira que estas sociedades antigas, mais orientadas para colaboração conceitualizaram o poder, parece ter sido bem diferente da maneira como nos foi ensinado. Aqui os poderes que governam o universo, não estão representados como um deus masculino, cujos símbolos de autoridade são o raio (como Jehovah ou Wotan) ou uma arma (como Zeus ou Thor).Sua concepção de poder se focava no poder de dar, sustentar e nutrir vida. Simbolizada desde a remota antiguidade pela figura feminina conhecida mais tarde na história como a Grande Deusa – de cujo ventre resulta toda a vida e para onde vai após a morte, como os ciclos de vegetação, para nascer de novo – o maior poder foi retratado não como “ poder sobre” ( dominação, conquista, e controle) mas como “poder para” (dar a vida, nutrir a vida). Enquanto a morte era uma importante parte deste ciclo, a ênfase era no nascimento e renascimento. Ainda mais, um dos mitos centrais desta religião antiga, mais baseada na natureza, era o sagrado casamento entre a divindade macho e fêmea. Em outras palavras, aqui tanto os princípios macho e fêmea eram vistos como parte da natureza e o sagrado.
A mesma figura que Gimbutas descreve na velha Europa é revelada por achados arqueológicos na China. Extensas escavações, feitas pelo Instituto de Arqueologia da Academia Chinesa de Ciências no sítio de Banpo nos limites da cidade de Xi’na desde 1994, desaterraram restos pré-históricos substanciais que provém um novo capítulo vital na pré-história Chinesa. O arqueólogo Shi Xingbang, diretor das escavações Banpo, acredita que “o assentamento Banpo foi a morada de uma comunidade de gens matrilineais. De acordo com o Professor Jiao Tianlong, “ todo o acampamento demonstra forte coesão, e enfatiza coletivismo e igualdade”.
Como o Professor Min Jiayin aponta, estas relações, incluindo relações igualitárias entre homens e mulheres sobreviveu bem em algumas comunidades Chinesas de lavoura em épocas históricas. Exemplos incluem o povo Naxi na região de Yongning. Aqui as famílias eram fêmea-centradas, e eles praticavam uma forma de casamento, chamada Ah Xiao, na qual o amor prevalecia sobre considerações econômicas.
Em resumo, um dos aspectos mais importantes e interessantes das novas informações sobre a nossa pré-história é a de que a cultura em regiões diferentes do mundo compartilha uma antiga herança de colaboração. Esta herança comum é um tema unificante para os povos ao redor do mundo. Enquanto ela se torna mais conhecida, pode ajudar diferentes grupos raciais e étnicos a encontrar terreno comum. Também pode ajudar homens e mulheres a terminar “a guerra dos sexos” – mostrando que a colaboração entre iguais é uma alternativa viável.
Metamorfose do mito à realidade
Histórias sobre divindades femininas com grande poder e importância, bem como a atuação social entre as sacerdotisas e sacerdotes, são encontrados em todas as regiões do mundo, da Irlanda ao lran, da China ao México.
Na tradição Céltica européia, datada aproximadamente entre 4000 B.C.E. e (para um zênite aproxi madamente) 500 B.C.E.35, nós achamos figuras como o notável Piast,36 que é pintado como uma cobra do mar cornuda gigantesca, repare que parece ser uma Deusa formosa / Criadora. Embora cultura Céltica relevou-se forte e dominadora, reflete uma mistura de invasores indo-europeus e a população européia indígena, além do mais, estes são tradicionais sociedades-orientais. Da outra extremidade do mundo, na lenda aborígine australiana, há também histórias sobre uma grande serpente, a Serpente de Arco-íris. Esta criatura, algumas vezes associadas com o útero de uma “ Grande Mãe, também é relacionado ao sol que, em alguns mitos aborígines australianos, é uma representação do símbolo feminino representado e difundido como aquecimento, causa nutritiva do crescimento de plantas e da vida. 37”.
Estes mitos australianos originaram em sociedades de caça e coleta, mas o tema do sol como feminino também é achado em civilizações agrárias. Por exemplo, a antiga Deusa egípcia Hathor, associada a elevação das águas que dão vida no Nilo, era associado com o sol e, como a Serpente do Arco-íris, teve um componente masculino, simbolizado pelos seus chifres.38
Divindades femininas também estão associadas a fabulas importantes em muitas tradições mundiais que a maioria dos textos ainda credita somente aos homens. Na Mesopotâmia, a Deusa Ninlil foi venerada por proporcionar para ao seu povo uma compreensão dos métodos de plantar e colher. O escriba oficial do céu de Sumerian era uma Mulher, e a Deusa de Sumerian Nidaba -honrada como quem inicialmente inventou as tabuletas do dia e arte escrever - surgiu primitivamente naquela posição antes das divindades masculinas que a substituíram. Semelhantemente, na Índia, a Deusa que Sarasvati foi honrada como a inventora do alfabeto original..39
Quando nós encontramos as invenções básicas humanas de cultivar e escrever - é creditado a divindades femininas, a conclusão é que provavelmente as mulheres tiveram um papel fundamental no seu desenvolvimento. A atribuição de tanto poder às divindades femininas, inclusive o poder criar o mundo e a humanidade, também sugere uma época em que as mulheres ocuparam posições de liderança em suas comunidades. E o fato que nós achamos estas poderosas divindades femininas em histórias dos povos da antiguidade de toda região mundial, sugere que a liderança de mulheres foi uma vez difundida..
Nós encontramos este período primitivo nas tradições de muitas tribos indígenas norte americanas. Como Paula Gunn Allen escreve em "The Sacred Hoop" (O Aro Sagrado): Recuperando o feminino em tradições indígenas americanas, muitos índios. Mitos giram ao redor de poderosas figuras femininas 40. Mulher serpente é uma. Mulher de milho, Mulher de terra e ainda a avó do milho são outras. Como escreve Allen, "Sua variedade e multiplicidade testificam sua complexidade": “ela é a verdadeira criatura se pensada pela qual todo mais é nascido. ... Ela também é o espírito que forma equilíbrio certo, harmonia certa, e estes requisitos por sua vez, todos relacionados em conformidade com a lei dela.."41
No relato de Hopi, a Criatura é chamada Mulher de rígida essência. Ela é "da terra, embora ela more em mundos mais elevados, onde ela domina a lua e estrelas, e ela tem segurança e firmeza como seus aspectos principais. Como a Mulher de Pensamento, ela não dá o nascimento à criação ou aos seres humanos, mas respira a vida nas imagens masculinas e femininas que se transformam os pais do Hopi"42.Semelhantemente, a teologia central de Keres Pueblo é ela é chamada Creatrix, ela que pensa, que é o espírito supremo, mãe e pai de todas as pessoas e de todas as criaturas. 43
as histórias como estas fornecem indícios de uma época mais adiantada em que muitas tribos na América do Norte eram organizadas ainda mais adiante das linhas da sociedade. Allen chama estas estruturas de "gynocratic" (ginocracia). Ela escreve isso "in gynocratic tribal systems, egalitarianism, autonomia pessoal, e harmonia pública eram altamente avaliados, executando o bom do individual e o bom da sociedade reforçando mutuamente o melhor que o divisor. As sociedades tribais encontraram uma maneira de institucionalizar ambos os valores, fornecendo um sistema social coerente, harmonizado, de suporte que nutrisse, protegesse e fosse enriquecedor para a vida e criatividade individual."44
Da China, também, nós temos mitos sobre um tempo quando o yin ou princípio feminino não era servil ao yang ou princípio masculino. Isto na época do sábio chinês Lao Tsu, que data aproximadamente 2.600 anos atrás, descreve como calmo e Igualmente justo, um dos escritores europeu conhecido mais recentemente, o poeta grego Hesiod que viveu aproximadamente 2.800 anos atrás nos fala que havia uma "raça dourada" quem viveu pacificamente antes que uma "raça inferior" trouxesse com eles Ares, o deus grego de guerra.
Estas incontestáveis glórias foram principalmente idealizadas na memória popular em épocas mais adiantadas. Entretanto, eles nos falam que, embora a adiantada era agrícola não era um período utópico livre de violência, orientou mais a um modelo da parceria que de dominação. Além disso, é durante o período Neolítico, que muitas das tecnologias em que a civilização é baseada foram desenvolvidas e refinadas.45
Rumo ao fim do período Neolítico, contudo,nós começamos a ver a evidência de uma mudança social e cultural fundamental. Nas Américas, até mesmo antes das conquistas européias, há indicações de invasões de tribos guerreiras durante tempos de grande seca. Por exemplo, uma seca na parte ocidental do continente americano é documentada através de dendrochronologia (estudo do tempo baseado nos anéis do tronco de uma árvore) como ocorrido aproximadamente entre 1275 e 1290. Há evidência de invasores que desceram do norte e destruíram ou assumiram o antigo MogolIan e Anasazi, comunidades de cultura altamente desenvolvidas que os estudiosos acreditam representarem uma época dourada de Pré-história americana. (O Anasazi reagrupou-se depois com Hopi e Zuni Pueblo Indians.) 46
Na Europa e na Ásia Menor, esta mudança em uma sociedade orientada a dominação começou muito mais cedo, aproximadamente 5.500 anos atrás. Nesse ponto, nas palavras do arqueólogo britânico James Mellaart, apareceram severos sinais de "stress". Havia desastres naturais e mudanças climáticas severas. E aqui, também, havia invasões por grupos nômades, que trouxeram com eles uma organização social de dominação.47
No sítio arqueológico de Marija Gimbutas chamada Velha Europa (os Balkans e a Grécia Do norte) nós agora, pela primeira vez, encontramos evidências de um grande armazém de armas.Freqüentemente estes foram achados em um tipo novo de funeral: "Sepulturas do Cacique ou líder". Cavalos, mulheres e crianças eram freqüentemente sacrificados e colocados nestas sepulturas para acompanhar os seus mestres no além.
Os estudantes na Academia chinesa de ciências sociais em destruição de Beijing também localizaram esta mudanças sociais mais pacíficas e igualitárias nas quais divindades femininas parecem desempenhar papéis principais em épocas posteriores quando sociedade chinesa por exemplo orientou-se mais ao modelo de dominação.48, em "Mito e Realidade: A Projeção de Relações de Gênero na China Pré-histórica, o professor Cai Junsheng escreve: " NuWa é a figura mitológica feminina mais importante da antiga idade pré-histórica. NuWa foi considerada por muito tempo pelo chinês como a criadora / geradora do mundo. Porém, um exame cuidadoso de vestígios de mitos chineses ao mesmo tempo em que a estrutura social mudou para uma patriarcal, ela perde finalmente seu poder no arco dos mitos onde ela morre".49
Devido a transformação dos mitos durante a mudança para uma sociedade de dominação - ou como Professor Cai Junsheng coloca, "devido a omissão e a interpretação errônea da informação disponível durante o longo período após a sociedade patriarcal"- os dados disponíveis devem ser cuidadosamente analisados,50, como ele também nota, tal uma análise provê a uma troca cultural maciça.
Na África, também, a posição feminina na mitologia sagrada parece ter seguido o padrão achado em outras regiões do mundo onde no início figuras mitológicas feminina foram dadas como criadoras e em seguida torna-se esposa ou mãe de um deus masculino, primeiro na posição de igualdade e depois num papel subserviente, rebaixada a um estado de não divino, e finalmente são transformados em demônios como bruxas ou monstros. Podem-se encontrar deusas africanas que passam a série destes papéis. Na África do Sul Ma é a "Deusa da Criação"; Mebeli do Congo é o " Ser Supremo"; Haines é a Deusa Lua Tanzaniana cujo o marido é Ishoye (o Sol); Dugbo de Serra Leoa é uma Deusa da Terra, responsável para todas as plantas e árvores. Também há La-hkima Oqla do Marrocos, um "jenn" (estirpe) feminino " que habita um rio e rege acima de outros maus espíritos, e Yalode de Benin que causa infecções nos pés. Watamaraka da África do Sul é a " Deusa do Mal, " que dizem ter dado à luz à todos os demônios.51
Todas estas representações mitológicas femininas são encontradas hoje de lado a lado. Mas se nós fizermos um pequeno trabalho de investigação, podemos seguir suas origens e colocar em uma seqüência de Criadora a subserviente, para a conversão a um Deus masculino ou a uma bruxa ou a um monstro demoníaco. Por exemplo, na iconografia da Velha Europa, a figura que Gimbutas chamada Deusa Serpente desempenha um papel proeminente, provavelmente porque a cobra foi vista como um das manifestações do poder de regeneração, desde que cobras renovam e trocam suas peles (veja Figura 4.4). Mas na antiga mitologia grega, nós achamos a história da Monstruosa Medusa, uma fêmea terrível com cabelo de cobras encaracoladas. Significativamente, dela foi tirado o poder de gerar vida, mas retém o poder para tirar a vida, como lhe é atribuído o poder de petrificar os homens. Semelhantemente, a Hindu Kali é notável pela sua crueldade sanguinária. Contudo há também vestígios na mitologia hindu do poder feminino de dar a vida, fragmentado em inúmeras divindades, incluindo Parvait. Ao longo de uma trajetória um pouco diferente, a Deusa e Mãe Grega Demeter é transformada primeiro em Santa Demetra por remythingCristão e finalmente masculinizado como São Demetrius. Seguindo ainda outra trajetória, divindades femininas como Athena na mitologia grega e Ishtar na mitologia do Oriente Médio se tornam deusas da guerra e do sacrifício humano - que refletem a troca para algo mais violento, hierárquico, uma estrutura social macho-dominante.
Mitos sobre sanguinárias divindades femininas algumas vezes vão junto com mitos que endiabram as culturas - uma estratégia usada em tempos remotos por conquistadores para justificar sua matança ou subjugação de outros povos. Por exemplo, quando os romanos alimentavam os leões com cristãos em seus anfiteatros, havia histórias que os cristãos praticaram sacrifício humano como " provação " pelo serviço de Eucaristia Cristã no qual a morte e ressurreição de Jesus eram, e ainda são, comemorados simbolicamente comendo o seu corpo e bebendo seu sangue. Para justificar a matança de judeus, glórias semelhantes foram difundidas mais tarde no século XX, acusando os de matança e de comer bebês cristãos. E muito da mesma forma, o mito daquelas culturas pré-patriarcais que praticaram sacrifício humano foram usadas para os amaldiçoar ( demonize) , quando na realidade buscava somente após a troca do modelo de dominação que nós começamos a ver indicações claras de sacrifício humano como um costume cultural.
Nas "sepulturas dos chefes ou caciques" indo-europeus, homens mortos foram acompanhados por mulheres sacrificadas, como também por cavalos sacrificados, armas, e outras posses materiais. Nas sepulturas pródigas de realeza egípcia, foram enterrados os escravos. Entre os astecas, sacrifício humano era um rito religioso central. Nós podemos ler desta prática na Bíblia, um documento escrito muito tempo após uma mudança de uma estrutura social de dominação. E há indicações que, pelo menos entre as classes governantes, sacrifício humano foi praticado pelo antigo "Carthaginians" em relação a uma divindade feminina chamado Tanit..52
Mas a velha visão de um movimento ascendente constante de barbarismo e crueldade, de práticas primitivas como ritual de sacrifício e constante guerra inter-tribal para o progresso da civilização, persiste nestes dias. Persiste apesar das brutalidades de "sociedades civilizadas " como o Nazismo Alemão. Persiste apesar da evidência história que quase não é um processo linear e que até mesmo a evolução tecnológica é marcada por regressões, como a Idade das trevas gregas e cristãs. Persiste apesar do fato que achados Neolíticos, consideram sugestivo o sacrifício humano, uma vez que é mostrado freqüentemente para ter sido um enterro-ritual secundário prevalecente naquele momento, agora conhecido, e ainda hoje praticado em alguns lugares.53 E não diminui apesar do fato de não haver nenhuma representação ilustrada ou outras imagens do sacrifício humano até após a mudança no modelo de dominação da organização social no código do "homem-poderoso".54
A linha do tempo para esta mudança varia de região a região. Mas é quase invariavelmente acompanhada por uma mudança tecnológica maior. A ênfase está cada vez mais em tecnologias mais eficazes para destruir a vida: armamentos que mutilam e matam as pessoas e destroem ambos recursos natural e humano. Tais armamentos junto com maior desigualdade, violência, e a posição do homem (e traços estereótipos típicos com características associadas com a "masculinidade") sobre as mulheres (e traços estereótipos típicos associadas com a "feminilidade") são característica de uma organização social de dominação que, como nós vemos ainda hoje, desvia a energia e os recursos que poderiam de outra maneira ser usados para importantes necessidades humanas.
Da Pré-história à História
Em algumas regiões, o que estudantes chamam de "história registrada" - quer dizer, o período no qual registros escritos foram decifrados - começou aproximadamente 5.000 anos atrás. Este período é demonstrado pelas civilizações da Era do Bronze que nós lemos em nossos livros de ensino de histórias Ocidentais: Civilizações Sumerianas, Babilônicas e Egípcias. Estas são civilizações híbridas que já orientaram principalmente ao modelo de dominação, embora ainda possa ser achado elemento de sociedade
Em um dos seus últimos livros (qual usou minha teoria cultural da transformação como sua estrutura), o Sumerologista Samuel Noah Kramer escreveu sobre uma mudança na sociedade sumeriana à regra do homem-forte, quanto regra legal (literalmente traduziu como " homem grande") começou a emergir com respeito a um ambiente.55 Porém mais bélico, muitos notáveis escritos Sumerianos, os Hinos de Inanna, a Deusa Sumeriana do amor, da procriação e do divertimento por algum tempo mulheres ainda não eram vistas como propriedade masculina e o matrimônio tido ainda como uma forma igualitária.56
Embora raramente estudado ou até mesmo mencionado nos livros escolares, a mais interessante cultura da era do bronze ocidental é a civilização de "Minoan" que floresceu na ilha mediterrânea de Creta. Contudo escritas decifradas desta civilização não são disponíveis, mas foi escavado extensivamente no início do 20º século, sua descoberta arqueológica foi chamada de "granada explosiva", como os estudantes não tinham idéia alguma da existência desta civilização tecnologicamente avançada que durou até aproximadamente 3.400 anos atrás. Aqui nós achamos as primeiras estradas asfaltadas da Europa, os primeiros viadutos, um sistema de serviço de saúde pública que nós chamaríamos hoje de moderno (incluiu encanamento em recinto fechado), e em geral um alto padrão de viver.
Ainda, contradizendo severamente a teoria ensinada nas universidades que um avanço tecnológico e neste caso social, complexa e inevitavelmente traz com ela uma organização social de dominação, a civilização de "Minoan" preservou muito dos elementos das antigas sociedades Neolíticas mais orientadas a participação. Ao contrário as outras altas "civilizações" daquela época, não há aqui diferenças maciças entre governo e governados. Aqui as mulheres ainda tinham o status elevado. E aqui comércio, melhor que conquista, traziam a prosperidade.
Uma característica notável da sociedade de "Minoan", que a distingui de outras antigas civilizações elevadas, é que parece ter havido um pouco de igualdade no compartilhamento da riqueza. " O padrão de viver - até mesmo de camponeses - parece ter sido alto, "relatórios do arqueólogo grego Nikolas Platon que escavou Creta por mais de cinqüenta anos. “Nenhuma das casas achadas, tão longe sugestionou condições de vida muito pobre”. 57
Outra característica notável da civilização de "Minoan" é a ausência de estátua ou relevos reais! Governo ou qualquer cena grandiosa de batalha ou de caça foi encontrado. Embora os "Minoans" haviam confeccionado finamente punhais e outras armas que eles evidentemente defendiam as suas frotas mercantis, esta ausência perfeita da arte da dominação e da violência reflete aquilo que Platon denomina "pessoas de excepcional paz e amor" que geralmente viveram em povoados não fortificados.58
Os "Minoans" eram uma cultura altamente criativa. Sua arte foi descrita como a mais inspirada no mundo antigo" 59 e suas as artes eram primorosas. Como nós veremos no próximo capítulo, a diferença entre civilizações que orientam mais ao modelo de sociedade que para o modelo de dominação é refletido dentro de cada um.60
Como o antropólogo Ruby Rohrlich-Leavitt escreve, as mulheres de "Minoan" são "os assuntos centrais, as mais freqüentemente retrataram as artes e os ofícios". E "são mostrados principalmente na esfera pública. " 61 de acordo com a configuração de saciedade, estereótipos de valores femininos parecem ter tido domínio social em "Minoan" Creta. Aqui de acordo com Platon, "aqui toda a vida é permeada por uma fé ardente na Deusa natureza, na fonte de toda a criação e na harmonia. " 62 Assim, embora civilização de "Minoan" não fosse ideal ou utópica, continuou incorporando muitos elementos das antigas sociedades Neoliticas, mais orientadas a sociedade.
Também de particular interesse em relação a isso que nós hoje chamamos "consciência ecológica" é a celebração de natureza na arte "Minoan". Esta reverência a natureza codificada na adoração de uma Deusa Mãe, hoje ainda. recordado na frase " Mãe Terra " (veja Figura 4.5)
A reverência a geração da vida e a elevação dos poderes da natureza encarnaram na forma feminina (encontrado antigamente na maiorias das regiões Neolíticas mundiais) continuou bem em muitos lugares na Era do Bronze. Entretanto, como mencionado anteriormente, o caráter desta Deusa refletiu cada vez mais a nova ordem da dominação em uma mistura inquieta de alguns elementos mais adiantados e mais atrasados.
Na Índia, ainda encontramos rastros da tradição de "Dravidian" no Vale dos Indus. Esta civilização era indígena, até que invasores indo-europeus trouxeram para a Índia sua cultura bélica, sistema de casta, e a ordem do macho dominante. Estes lndo-europeus (ou arianos, como eles são chamados na Índia) tinham a ação lingüística e cultural como os invasores que, milênios antes, infestaram a Europa.
Eles, também, vieram das estepes da Ásia Central e desertos, e conquistaram a Índia durante o período de aproximadamente 1800 a 1700 B.C.E. Eles são descritos por de Verônica Ions como " esfoladores, povo de bebida forte que tem domínio sobre cavalos, carruagens e faz uso de espadas isto lhes trouxe vitória rápida sobre os "Dravidians" a quem eles conseqüentemente menosprezaram como ' Dasyus, ' ou esfoladores sombrios. " 63 Os arianos trouxeram com eles a sua própria religião que incluiu o deus de tempestade Indra que na mitologia hindu é mostrado com um deus assassino ou repressor mais antigo. Ainda achamos rastros de tradições "Dravidian" no Vedas hindu. Mas embora estes livros sagrados contenham alguns elementos de sociedade, eles retratam divindades femininas como cônjuges de deuses masculinos mais poderosos e reivindicava que os adoradores se humilhassem e servilmente louvassem as divindades em suas orações. Nós também vemos evidência desta troca na arte da índia. Por exemplo, uma divindade feminina como Shakti às vezes é descrita como sendo só uma fração do tamanho de seu marido Shiva, mesmo comparando ela a um capacho cada um por sua vez tem proporcional poder.
Estas contradições são conflitos de culturas. Foram retidos elementos mais antigos, mas de forma alterada que satisfez as exigências da nova rígida hierarquia e violenta ordem de dominação, a supremacia masculina.
Na Europa, há também esta mítica mudança. Embora o trabalho de Hesiod já refletisse na Grécia antiga o denegrir e a subordinação das mulheres, como notado antes, ele escreveu sobre uma " raça " dourada que viveu em " tranqüila facilidade " até ser substituída por uma " Raça inferior" que trouxe com isto Ares, o deus grego da guerra - uma história que Hesiod afirma ser no passado sua mãe.
Semelhantemente, na lenda irlandesa da invasão dos Celtas com suas armas férreas é refletida na uma mitologia que fala do povo andrógeno ou as Tuatha do povo Danaan, sobre a Deusa tida como sido adoecida ou pelo toque do ferro. Ainda, como notado antes, os Guerreiros Celtas também assimilou algumas das tradições irlandesas antigas. Eles continuaram adorando a Terra em forma " feminina como uma mãe, defensora, e provedora. " 64 A posição das mulheres Célticas era inferior e do homem superior aos seus contemporâneos Romanos e Gregos. Embora os homens Célticos já exercitassem controle às vezes de formas brutais sobre suas esposas e filhas, as mulheres algumas vezes continuaram exercendo poder político, como ilustrado pela famosa história de Boudicia, sobre uma violenta rainha Céltica guerreira que conduziu uma rebelião contra os Romanos.65
Há na mitologia asteca mais antiga uma época orientada a sociedade, como documentado pelo antropólogo June Nash. Extraído de fontes preliminares como os quatro códigos de sobrevivência dos astecas e de três escritos espanhóis do século XVI, Nash escreve que a " história dos astecas proporciona um exemplo de transformação de uma sociedade familiar com um mínimo de diferenciação de governo para uma categoria imperial estruturada ". De interesse particular na relação da configuração central do contraste entre a sociedade e a dominação, Nash especificamente escreve sobre " a relação entre a especialização masculina na guerra, conquista predatória, e uma burocracia estatal baseada na nobreza de linha paterna, apoiada por uma ideologia de dominação masculina, e ao acesso diferencial de seus benefícios entre os homens e mulheres ".66
Os astecas deixaram sua pátria Aztlan por volta do ano 820 e migraram, para o planalto central onde é hoje a Cidade de México, e ali, naquela época floresceu a civilização de Toltec. Uns trezentos anos depois que eles deixaram Aztlan, como eles vieram perto da capital do Império de Toltec, uma confrontação aconteceu entre o deus Huitzilopochtli e a irmã dele a deusa Malinalzoch. Esta confrontação, como escreve Nash, "revela algo da estrutura variável de autoridade nesta tribo vagante".
Huitzilopochtli acusou sua a irmã dele de ser uma feiticeira que usou seu poder sobrenatural sobre os animais com o desejo de controlar os homens da sua tribo que "demonstravam por ele seus valores de guerreiro e de coragem" para que pudessem conquistar o povo de Toltec. Em algumas versões do mitologia, Malinalzoch foi morta pelos guerreiros e o filho dela ficou contra sua vontade em poder desses astecas do grupo de Huitzilopochtli. Em outras versões, ela se manteve viva e formou uma comunidade no local onde a confrontação aconteceu.
Em outras versões, ela se manteve viva e formou uma comunidade no local onde a confrontação aconteceu. Em todo caso, nós vemos neste mito uma ruptura nas linhas de autoridade que incluiu as mulheres, bem como também uma atração direta pelo valor das forças armadas (qual se transformou mais tarde na base da ascensão do poder Asteca). Isto aponta para o início de uma mudança na cultura asteca para uma sociedade de dominação rígida: uma vez que se tornou extremamente hostil, macho dominante, e governado absolutamente pelos reis e pelos sacerdotes que exigiram constantemente sacrifícios humanos, se não nas batalhas em ritos religiosos.
Até que do reinado de ltzcoaltl (1429-1440), aparentemente a mitologia asteca tinha sido reescrita , refletindo a adicional consolidação do poder nas mãos do governo guerreiro, e justificando as conquistas predatórias astecas e os sacrifícios. Porém, na notas de Nash, também há evidência de resistência, particularmente nas regiões exteriores do império.
Por exemplo, em um das províncias na região de Tonoc, foi achado um "culto a Deusa dos Céus " que proibira sacrifício humano. E apesar de sua posição perdida no estado e na iconografia imperial, divindades femininas associadas com colheitas e chuvas sobreviviam em vários lares e panteões locais.
Como escreve Nash, num período de menos de três séculos " a estrutura social asteca foi transformada ". Refletida na subordinação de divindades femininas, uma sociedade macho-dominante emergiu. Mulheres ainda tiveram importantes papéis, mas lhes negaram posições de poder no que agora era uma rígida sociedade hierárquica caracterizada pelo governo do poder masculino com um grau alto de violência social embutida, incluindo não somente conquistas de guerras mas também rituais de sacrifício do povo conquistado.
Ironicamente, como Nash também nota, era por causa do caráter de dominação desta sociedade que nos dias finais do cerco espanhol de Tenochtitlan seus governantes não puderam mobilizar a população em defesa da cidade. Nem puderam atrair apoio ao longo do império. Realmente, algumas das pessoas conquistadas se tornaram aliados dos Espanhóis - os quais em sua volta impuseram sua própria versão de um brutal estado de dominação.67
O trabalho de Nash esclarece que Marija Gimbutas chamado "arqueomitologia " (veja Caixa 4.2). Este é um método de investigação no qual os estudantes não só olham para a evidência física de escavações mas também consideram evidências mitológicas, inclusive mudanças em emblemas e os papéis das divindades (feminino e masculino) durante vários períodos, e investiga como estas mudanças mitológicas foram refletidas nas estruturas sociais.
O sucesso do uso deste método requer cuidadosa análise dos dados disponíveis. Como o Professor Cai Junsheng notou, durante períodos de mudanças da sociedade para dominação, mitos são muitas vezes transformados radicalmente e mitos antigos são perdidos gradualmente. Usar esta aproximação sistêmica é bem como um detetive que procura pistas. Estudantes em graus mais elevados podem ser convidados os a fazer uso disto para examinar culturas ao longo do mundo, utilizando modelos de sociedades e dominadores no questionamento da nossa herança social sociedade comum.
Este trabalho de detetive mitológico pode ser uma aventura excitante para meninas e meninos. Quando Rosie Martin 11º grau seu professor mostrou na classe dela os quadros da Neolítica Deusa Serpente -descreve a serpente (o qual periodicamente muda e renova sua pele) como um símbolo benevolente dos poderes regenerativos de natureza - Rosie percebeu que a associação de mulheres com cobras nem sempre são negativas. Seguindo a viagem da Deusa Serpente pelo tempo, a classe viu como este arquétipo feminino veio ser conhecido como Medusa, o monstro grego que transformava os homens a pedra - se tornar num símbolo poderoso para destruir em lugar de gerar vida. Eles também observaram como esta associação do poder feminino com uma ameaça destrutiva para homens estende-se dentro nossa época-como no filme " The Clash of the Titans" onde o herói grego Perseus decapita um demônio agora impotente, Medusa. Meninas e meninos poderiam olhar agora para estes arquétipos de uma perspectiva mais crítica, atentem que eles refletem muito a dominação no lugar de construções de parcerias masculinas e femininas.
BOX 4.2 Arqueomitologia na Sala de Aula Estudantes podem ser convidados a olhar para mitos Africanos sobre divindades femininas, bem como a mitos como Dahomey onde Fon, NaNa Buluku são divindades supremas, e ao mesmo tempo masculino e feminino.68 Eles também podem explorar mitos antigos por livros como o "The Woman's Companion to Mytology" editado por Carolyne Larrington,69 e Bárbara Walker´s The Women's Encyclopedia of Myths and Secrets, onde se vê linhas que conduzem a temas que ainda são ignorados geralmente no estudo de história e pré-história. Outra local para atividades de estudantes (imersão, enquanto ensinando) é a Internet em locais postados por mulheres (e homens) que estão explorando hoje esta herança passada. Duas possibilidades interessantes são |
As Parcerias Escondidas da História
A tensão subjacente entre os modelos parceria e dominador pode ser observada nos registros da História. Em todas as regiões do mundo, nós encontramos sociedades que, mesmo inicialmente orientadas por um modelo dominador, têm importantes elementos de parceria. Um exemplo notável, conhecido dos estudantes europeus e dos cursos de História clássica, é a civilização da antiga Grécia.
A maioria do conteúdo dos currículos dá a impressão de que a civilização européia começou com a Grécia clássica. Mas os gregos eram descendentes dos mecênicos indo-europeus, que emprestaram muito da civilização minóica que eles conquistaram. Como a historiadora cultural Jacquetta Hawkes escreve em Despertar dos Deuses: Origens Minóica e Micênica da Grécia, “no momento em que o primeiro ancestral bárbaro dos gregos começou a chegar na terra grega, os cretenses já tinham avançado na criação da cultura minóica deles e feito da ilha deles um posto avançado da civilização na Europa”.
Como ela também escreve, a arte e a arquitetura da tecnologicamente avançada civilização minóica proporcionaram parte da base da arte e da arquitetura grega que vieram mais tarde. A religião minóica, centrada na adoração de divindades femininas ou deusas, também influenciou os gregos, que adotaram muitas divindades minóicas para a posterior panteão olímpico deles – embora, seguindo o modelo que nós analisamos antes, eles já eram servis a Zeus, um violento deus grego.
A maioria dos textos das faculdades sobre a sociedade de Atenas também falha ao pregar que esta “democracia” exclui a maioria da população: a metade dos atenienses composta por mulheres e por mulheres e homens que formavam a grande maioria da população ateniense escrava. Em um currículo instruído pela educação parceria, estes assuntos fascinantes , tão relevantes para a nossa história americana, são cortados – como a antiga Grécia poderia ser examinada em termos do conflito entre os persistentes elementos da parceria e o posterior encobrimento do modelo dominador.
Homero, por exemplo, é muito mais interessante quando nós lemos nesta perspectiva. O herói guerreiro de Homero reflete a ênfase indo-européia na violência. Mas, refletindo no persistentes status das mulheres na cultura mecênica, nós ainda encontramos poderosas figuras femininas na Odisséia de Homero: a poderosa rainha-mágica Circe, a ninfa de Calypso que governava a ilha de Ogygia, a sedutora Sirens, a princesa Nausicaa e a mãe dela rainha Arete. (Esta última figura Homero descreve como a adorada por “todos os povos, que olham para ela como uma deusa”.)
Nós lemos muitos assuntos sobre filósofos como Sócrates e homens de Estados como Péricles. Mas dificilmente somos informados que a professora de Sócrates era uma mulher, Diotema, uma sacerdotisa de Mantinea.Ou que o parceiro de Péricles era uma filósofa de Miletus chamada Aspásia.
Somente ocasionalmente nós lemos sobre uma mulher grega como a poeta Sappho, cujos fragmentos da poesia têm sobrevivido. Tem, por exemplo, uma passagem onde ela amavelmente escreve que o a visão das crianças dela é mais bonita e rápida que o lançamento de centenas de navios de guerra. Mas a maioria dos currículos convencionais ainda foca os homens – ainda mantêm obscuro o importante fato de que a civilização grega era uma mistura inquieta dos elementos parceria e dominador.
O estudo da Roma antiga no currículo convencional também falha em fazer nenhuma distinção entre os elementos parceria e dominador durante várias fases da civilização romana. Como no estudo da Grécia clássica, a maioria dos documentos é de e sobre homens. Além disso, estes documentos freqüentemente focam na política de dominação.
Ainda em escritos menos lidos de alguns períodos da história romana nós encontramos o assunto amor. N´s também encontramos heroínas que encaravam o amor como um parceiro ou “acordo de compartilhamento de confiança” entre iguais.
A educação em parceria realça tais assuntos. Também dá uma ótima visibilidade até mesmo no que tem sido ensinado convencionalmente como o importante papel das mulheres na história de Roma – embora a maior das mulheres em questão eram primeiramente, assim se fala, empregadas de homens. Por exemplo, Fulvia, uma das mulheres de Marco Antônio, liderou um exército durante a ausência dele do Egito. A avó do imperador Cláudio, Lívia, teve um importante papel em manter o poder imperial de marido e do filho dela, E sobre a mulher de Cláudio, Agrippina, é dito ter envenenado o marido para deixar com que seu filho, Nero, se tornasse precocemente o imperador.
A educação parceria também destaca o fato que, embora as restrições que encaram, algumas mulheres mantêm uma identidade independente. Um caso é Cleópatra, que governou o Egito desde que ela era adolescente. (Infelizmente, a maioria dos livros sobre a vida de Cleópatra tem mais ficção do que fatos.) Como as escolas hoje pesquisam por registros há muito ignorados, é possível que irão descobrir informações sobre mais mulheres que fizeram contribuições culturais significantes na Roma antiga. Estudantes podem procurar na rede internacional de computadores e outras fontes para pesquisas sobre este assunto.
Em um interesse específico em termos da configuração do modelo parceria está o fato de que as mulheres tinham posições de liderança no começo do Cristianismo. Uma revisão do Novo Testamento revela que as mulheres tinham um importante papel no começo do movimento do cristianismo (o qual era considerado um movimento subversivo para a época). Por exemplo, nós lemos que reuniões eram freqüentemente feitas às escondidas nas casas das mulheres (geralmente bruxas, que, comparadas às esposas, eram mais independentes do controle masculino). Em Romano 16:7, onde nós encontramos Paulo agradecendo a uma apóstola chamada Junia, que ele descreve como superior a ele no movimento. Ele também menciona outras mulheres que tinham papéis importantes no começo do Cristianismo.
As mais interessantes fontes de informação sobre mulheres que tinham papéis importantes, entretanto, são os Evangelhos Gnósticos. Estes “livros perdidos” indicam que Maria Madalena atuou na maior parte da história do cristianismo. Estes documentos foram descobertos durante o século 20escondidos em uma caverna em Nag Hammadi, uma província afastada do alto Egito.Neles, Maria Madalena não é rejeitada como uma prostituta, mas descrita como a “discípula favorita” de Jesus. Não somente isso, nós aprendemos que ela era a única com coragem para desafiar Pedro por tentar fundar a Igreja dele como hierarquia de outra religião como Jesus pregava contra.
Certamente, até o século 4, seguindo a aliança da Igreja com o imperador romano Constantino, a Igreja tinha se tornado uma instituição dominantemente machista autoritária e rígida que geralmente usava a violência contra a competição de seitas “heréticas” do Cristianismo.Visto que o núcleo da sociedade dos ensinamentos de Jesus resistiu à parte da doutrina oficial, e era praticada por muitas freiras e padres, a Igreja novamente começou a parecer o tipo de hierarquia religiosa que Jesus tinha proclamado. A Igreja usava violência para manter o seu poder – via suas Cruzadas, Inquisições e queima de bruxas.
É importante para os alunos olharem para a história que seguiu a ascendência do Cristianismo no Oriente Médio e na Europa em termos do conflito subjacente entre os modelos parceria e dominador. É também importante para eles entenderem que a época da Europa Medieval era parecida, porque existe hoje tanta nostalgia desencaminhada pela “era da fé”.
De acordo com algumas pessoas, existia uma época quando a visão religiosa do mundo vinha antes da científica, destinada por uma melhor, menos violenta, mais pacífica e moral vida. Na realidade, a Idade Média era uma época de muita violência. Com poucas exceções, o período medieval era também uma época de governo repressor e controle da Igreja.
Logo após a Idade Média, mas ainda durante o período pré-industrial da história, o Oeste europeu começou suas conquistas e colonizações de outras regiões do mundo – uma conquista e colonização na qual a Igreja colaborou ativamente. Estas eram quase sempre conquistas e colonizações brutais de pessoas de pele negra, que profundamente influenciaram culturas na África, Ásia, Austrália e nas Américas, e eram expressões de elementos dominadores da cultura européia. Mas é importante lembrar que também existiam no Oeste europeu elementos da cultura parceria, e períodos de ressurgimento da sociedade.
Examinando este período de uma perspectiva mais equilibrada de gêneros, nós podemos notar que épocas de ressurgimento da parceria são caracteristicamente períodos quando as mulheres, e valores de estereótipos associados a mulheres recebem maior ascendência. Isto é ilustrado pelo papel de Eleanor de Aquitaine, junto com suas filhas Alix e Marie, atuaram no surgimento de uma cultura naus gentil e feminina, a cultura dos trovadores.
Na maioria dos livros de História, tudo o que aprendemos sobre Eleanor de Aquitaine é que ela era a esposa e mão mãe de reis.Este impreciso e incompleto retrato desta mulher notável é de pequena ajuda para meninas e meninos que precisam aprender que, mesmo diante de severas restrições, mulheres têm sido a liderança e têm feito importantes contribuições para seus próprios direitos. Lendo sobre Eleanor de Aquitaine em livros comoEleanor de Aquitaine: uma biografia de Maior Meade, nós descobrimos a grandiosa determinação que ela tinha e como ela superou muitos obstáculos. Além disso, Eleanor of Aquitaine fez contribuições à História que, de diversas maneiras, são mais significantes que aquelas de reis dos quais ela era mãe e esposa, desde que estava na área dela e na área de suas filhas a sub-cultura dos trovadores floresceu.
Esta cultura tinha uma significante e positiva influência no curso da civilização ocidental. É dos trovadores que nós herdamos o termo cavalheiro. Este ideal para homens, dadas as restrições da estrutura da sociedade medieval, era uma saída pontual do modelo dominador de “real masculinidade” associado com o macho como guerreiro (que significa, com uma “superior” capacidade de impor dor aos outros).
A poesia dos trovadores era uma grande contribuição cultural. Embora nós raramente lemos sobre estes poetas femininos em registros sobre aquele período, seus versos são fascinantes em termos do que eles falam sobre as qualidades que eles valorizam em um homem – qualidade que muitas mulheres ainda hoje valorizam. Eles escrevem que seus amantes deveriam ser francos e humildes, atenciosos com todos, e nobres, amáveis, e discretos e que eles não deveriam travar brigas com homem algum.
Durante a Renascença – um período que viu a ascendência dos valores humanísticos – mulheres também tiveram papéis importantes, mesmo que ainda raramente reconhecidos. Um exemplo é Christine de Pisan, quem escreveu A Cidade das Mulheres, uma feminista. O livro coloca-se como um apaixonado defensor contra a depreciação das mulheres. A Renascença também viu o crescimento de mulheres que conquistaram importância política – por exemplo Caterina Sforza, uma estranha mistura de guerreira amazonas, administradora tolerante e mulher do mundo. Outro exemplo é Sofonisba Anguissola, uma pintora da Renascença italiana cujos retratos eram tão vivos que o rei da Espanha convidou-a a ser uma pintora real em sua côrte.
A Renascença pode ser melhor compreendida com relação ao aumento do conflito entre os modelos parceria e dominador. Em muitos aspectos era uma época de retomada da parceria – por exemplo, em vez da submissão das mulheres aos homens, havia o ideal da Renascença de educação igualitária, a ascendência de valores “femininos” e a ênfase na arte não usual. Mas o movimento em direção à parceria era contido pela forte resistência dominadora.
Inquisitores cristãos continuavam seus reinados de terror contra heréticos e judeus, cujas propriedades, quando eles eram despejados ou assassinados, eram confiscadas pelos governadores espanhóis. A caça às bruxas continuou, resultando na tortura e na morte de pelo menos 100.000 mulheres – uma grande percentagem da população européia da época.
A Era Industrial ou Moderna
Este ponto-contraponto do ressurgimento da parceria e da resistência do modelo dominador tornou-se ainda mais intenso no próximo período da história européia - em grande parte devido ao grande deslocamento herdado em uma segunda fase de mudanças tecnológicas: a mudança da era agrária para a industrial.
Os últimos trezentos anos da história européia e norte-americana são as mais estudadas nas escolas dos Estados Unidos. Este período é geralmente conhecido como a era industrial ou das máquinas, mesmo que a industrialização chegou muito mais tarde em muitas regiões do mundo. China, Japão e Índia abriram-se à industrialização somente durante o final do século 19.
Na Europa e na América do Norte o aumento do uso das máquinas começou realmente antes do século 18 do Iluminismo. Entretanto, foi somente depois do Iluminismo que a industrialização começou a engrenar. Os últimos trezentos anos têm entretanto sido uma época de grande desequilíbrio tecnológico e social.
Como nós veremos na seção sobre a História dos Estados Unidos no Capítulo 5, o Iluminismo europeu era influenciado pelos elementos da parceria das culturas americana e indígena. Por exemplo, os escritos de Rosseau sobre os “nobres selvagens” eram influenciados pelo fato de que algumas sociedades americanas eram menos hierárquicas e autoritárias que as sociedades européias da época.
Mas em vez disso, a política colonial européia continuou a ser guiada por uma mentalidade dominadora de conquistas e dominação, como os índios americanos eram massacrados e escravizados e mulheres e homens africanos eram importados para escravidão em ambas colônias do Norte e do Sul da América.
De fato, se nós olharmos para este período de uma perspectiva subjacente ao conflito entre os modelos dominador e parceria como possibilidades humanas, nós vimos uma base da parceria contra cada polegada do caminho feito pela resistência dominadora e regressões periódicas.
Era também durante este período que nós começamos a ver o crescimento da maioria da classe média, trocando a velha “nobreza”, inclusive os proprietários de escravos dando regras às classes da América do Sul. Juntamente com a mudança das monarquias autoritárias às repúblicas mais democráticas, e das famílias autoritárias às mais democráticas, estava o começo do movimento contra escravidão, culminando em um movimento organizado pela emancipação dos escravos negros.
Havia também o movimento feminista do século 19 evocando educação igualitária e sufrágio para mulheres e o organizado movimento negro pelo voto, seguido pelos movimentos do século 20 a favor dos direitos civis e da liberação e dos direitos das mulheres. Existia o movimento pacifista do século 19 seguido pelo movimento da paz do século 20, expressando a primeira rejeição completamente organizada à guerra como um meio de resolver os conflitos internacionais. E havia o movimento do século 20 das famílias, que era importante para a emancipação das mulheres, para melhores oportunidades para as crianças e alívio da pobreza.
Em assuntos básicos, entretanto, o sistema dominador permanece firmemente enraizado. O colonialismo, a matança e a exploração dos negros continuavam a tradição de conquistas e dominação em uma escala global.
Esta época moderna industrial também trouxe o uso de tecnologias ainda mais avançadas para uma exploração, cominação e matança mais eficazes. Além disso, era durante a era industrial que a alta tecnologia começou a ser combatida além da “conquista do homem pela natureza” – causando ainda mais perigos ambientais.
A Era Pós-Moderna
Pós-moderno é um termo que começa a ser usado no final do século 20. Ele descreve o período conduzido pelas revoluções nuclear, eletrônica e bioquímica, que são fundamentalmente mais desestabilizadoras das estruturas existentes e das crenças. Agora o misto do modelo dominador e das tecnologias avançadas torna-se crescentemente insustentável. O lance é a bomba nuclear e/ou guerra biológica e terrorismo. Tecnologias cada vez mais avançadas a serviço de uma mentalidade dominadora ameaçando nosso habitat natural, e também a maioria das espécies com as quais nós dividimos nosso planeta.
Este período traz profundas mudanças às tradições de dominação. Ele traz um forte movimento ambiental – milhões de pessoas vindo juntas para mudar “a conquista do homem pela natureza”. Também traz um reforço ao movimento de planejamento familiar como integrado à sustentabilidade do meio ambiente, um movimento que se expande contra a dominação e a exploração de indígenas, uma crescente mudança no “mundo desenvolvido” contra dominação do “mundo desenvolvido”, e milhares de organização do verde por todo o mundo trabalhando pela democracia política, maneiras não-violentas de viver, e igualdades econômicas, raciais e de sexos.
Significantemente, a era pós-moderna traz um desafio muito mais organizado à tradição dominadora e à violência nas relações íntimas. Abuso infantil, estupro e violência à mulher são mantidas em algumas regiões do mundo.Um movimento mundial dos direitos das mulheres desafia frontalmente a dominação de metade da humanidade pela outra metade, ganhando força pelas conferências sem precedentes das Nações Unidas (1975-1995) que trouxe mulheres de todas as regiões do mundo juntas em torno de assuntos centrais como violência contra mulheres, igualdade dos direitos legais e oportunidades econômicas, e liberdade da reprodução.
Existe a permanência, e em alguns lugares o aumento, da violência contra mulheres e crianças. Mas desde que a violência é o que mantém as relações dominadoras, como os direitos humanos das mulheres e das crianças são declarados, a violência contra eles tem aumentado a submissão deles. Em alguns países esta violência é perpetrada pelos oficiais do governo; por exemplo, no Afeganistão, na Algéria, Paquistão, Bangladesh, e Irã, o apedrejamento de mulheres à morte por qualquer ato contrário ao sexo masculino e controle pessoal – mesmo uma jovem mulher expondo seu tornozelo - é novamente justificado como ato “moral”.
Há também o crescimento acelerado da população. A população mundial que tem dobrado nos último quarenta anos é projetada a dobrar novamente até a metade do século 21, exacerbando a fome, a violência, e outras causas do sofrimento humano, e espremendo as fontes naturais do mundo.
Em resumo, o resultado da tensão entre os modelos parceria e dominador como duas possibilidades básicas da humanidade está longe de ser estabelecida.
Dois Futuros Possíveis
Nós estamos agora no que cientistas chamam de bifurcação, onde existem dois cenários muito diferentes para nosso futuro.
Um cenário é a quebra do sistema dominador: o futuro insustentável da avançada tecnologia guiado pelo modelo dominador. Este é um futuro de bombas nucleares, guerras biológicas e terrorismo ainda mais sofisticado. É um futuro onde a alta tecnologia está a serviço da dominação de uma natureza desprovida e que polui nosso habitat natural.
Em nome de fundamentos religiosos, novos regimes teocráticos repetem a violência, como bodes-expiatórios, e o controle absoluto sobre as mulheres que caracteriza os piores aspectos da Era Medieval. O socialmente essencial “trabalho das mulheres” de cuidar e educar é ainda tão desvalorizado que as babás continuam a ser menos pagas que um atendente de estacionamento, e cuidar das crianças em casa não é nem mesmo classificado como um trabalho – contribuindo ainda mais para a distância entre os que têm e os que não têm.
Este é um futuro onde avançadas tecnologias serão utilizadas não para libertar nossos potenciais humanos mas para efetivar o controle e a dominação. Como resultado, é um futuro de holocausto ambiental, nuclear ou biológico.
O outro cenário é a descoberta da parceria: um futuro sustentável do mundo originalmente orientado pelo modelo parceria. É um futuro no qual tecnologias avançadas são desenvolvidas e usadas de maneira que promovem o equilíbrio ambiental e a realização dos potenciais de nossas espécies.
Regulamentos internacionais garantem prestações de contas aos trabalhadores, comunidades e nosso habitat natural. Novas instituições e regras econômicas reconhecem o valor do trabalho de zelar, e desencorajar a violência, a exploração e a retirada de recursos da natureza.
Embora ainda haja alguma violência, não é construída dentro do sistema como um meio de manter a dominação. Embora ainda haja conflito, como algo inevitável nas relações humanas, pessoas jovens têm as ferramentas para resolver isto de maneira criativa.
Mulheres e homens são igualmente parceiros em ambas as esferas “privada” ou familiar e a esfera “pública” ou externa. E as crianças são valorizadas e nutridas não somente pelos pais biológicos mas por toda a comunidade – que reconhece que crianças são nossas fontes preciosas.
Este mundo em parceria é um mundo governado por padrões humanos de direitos e responsabilidades, um mundo no qual a única fome é a fome humana por aprendizado e expressões criativas, onde as necessidades básicas por comida, abrigo e educação podem ser encontradas por todos. Para ir na direção deste mundo, entretanto, requer mudanças fundamentais, incluindo mudanças na nossa educação, o que tornará possível para as crianças de hoje e de amanhã verem que nós podemos criar um futuro mais igualitário, pacífico e sustentável – uma vez que nós adquirimos o conhecimento e as habilidades para tanto.
Mantendo a Dominação Como as pessoas aprendem inconscientemente a colaborar com a permanência da dominação, apesar dos grandes danos humanos? Embora muitas dinâmicas estejam envolvidas, como discutidas em outros trabalhos, quatro são particularmente importantes. Primeiro, se, durante a infância, o amor está ligado à dominação e coerção, com abusos emocionais e físicos, o caminho da dominação e da submissão podem inconscientemente parecer equivalentes ao distanciamento do amor. O segundo mecanismo pelo qual as pessoas são psicologicamente moldadas de uma forma que inconscientemente repetem um sistema que causa a eles e aos outros um grande sofrimento é a internalização, desde cedo na infância, de um mapa mental no qual a subordinação de metade da humanidade à outra metade é normal. Um terceiro mecanismo para manter o sistema de dominação é o fato de que o modelo dominador, por sua natureza, continua criando escassez – não somente material escasso mas amor escasso, desde que os impulsos amorosos precisam ser constantemente reprimidos. Por quarto, as sociedades dominadoras têm historicamente mantido eles mesmos em mitos como os das autoridades da sociedade para punir os pais. Estes mitos, que são ensinados na infância, são nossas heranças culturais dos tempos mais remotos que orientam a um modelo dominador. Torna-se consciente destas dinâmicas pode ser inconfortável, até mesmo doloroso. Se nós usamos esta abordagem para dialogar, nós podemos, ao menos no momento, colocar as suposições enraizadas de lado e explorar outras alternativas. Mudando para a Parceria Durante os últimos séculos, no decorre das mudanças das tradições enraizadas de dominação política e econômica, a dominação das mulheres pelos homens tem sido desafiada e a paternidade tem começado a se mover para longe da “disposição da vara e do mimo das crianças” como soa pedagogicamente. Mas cada movimento de progresso tem sido, e continua a ser, intensamente resistido, e tem sido poderosas resistências. Como podemos evitar estes recuos? Minha pesquisa mostra que eles irão continuar ao menos que nós aproveitemos as vantagens dos desarranjos da mudança de uma economia industrial para uma pós-industrial para construir as bases nas quais um sistema menos violento, mais igualitário e mais humano entre as relações pode restar. Este não é um empreendimento fácil. Mas nossa cultura e muito dos nossos meios físicos têm sido criações humanas. Assim que nós nos tornarmos co-criadores conscientes da nossa evolução cultural, nós poderemos completar a nossa mudança para o futuro em parceria. |
BIBLIOGRAFIA
EISLER, Riane. Tomorrow´s childern. Westview Press, 200
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