Relacionar o Global e o Local: visão da União das cooperativas de consumidores Seikatsu Club do Japão
07 / 2007
Origens
Em 1965, um movimento cidadão de consumidoras se
constituiu em torno da preocupação com a segurança alimentar. A
qualidade da alimentação (aditivos químicos, poluição pelo mercúrio,
etc.) tornara-se uma preocupação maior. Com uma certa rapidez, o
movimento compreendeu que não devia somente reivindicar regras
restritivas da parte do governo. Por isso, a transformação em
cooperativa de consumo era um passo natural. No começo, tratava-se de
compra coletiva de leite. Desde aquela época, a cooperativa estendeu
sua atividade de compra coletiva a, aproximadamente, 3000 produtos,
sobretudo alimentos básicos como o arroz, a carne de frango e de porco,
o óleo vegetal, o molho de soja e os ovos.
É pertinente salientar que a palavra “Seikatsu”
significa “vida” em japonês. Assim, mesmo se o movimento se tornou uma
união das cooperativas de consumo, a filosofia de base encontra ainda
suas raízes nesta origem ligada à vida.
Hoje
O Seikatsu Club é hoje uma união de 30 cooperativas
locais com mais de 290 000 membros (em junho de 2007), dos quais 99,9%
são mulheres. A respeito disto, é preciso mencionar que sob certos
aspectos a sociedade japonesa é muito tradicional. Assim, a incitação é
forte para que as mulheres casadas com filhos deixem o mercado de
trabalho, como era o caso na América do Norte e na Europa ocidental, há
uma geração ou duas. Esta situação explica a preponderância das
mulheres na esfera do consumo doméstico.
Como está indicado no artigo “ Seikatsu Club Co-operative ”,
a atividade principal é sempre a compra coletiva. E isto numa escala de
certa importância. No entanto, os princípios de base ligados à
segurança alimentar e ao desenvolvimento sustentável estão sempre no
cerne da atividade. Assim, os produtores de leite, de carne e de
cereais são habilitados e se busca a agricultura mais sadia possível.
Por exemplo, os produtores não utilizam alimentos contendo OGM, os
frangos não são tratados com antibióticos, etc.
Em relação com esta atividade, a organização se orientou
naturalmente para práticas de desenvolvimento sustentável. Assim, o
leite é distribuído em garrafas. A porcentagem de recuperação e
reutilização ultrapassa 77%. As embalagens com PVC são recusadas e
outras campanhas são realizadas como “Stop OGM”.
O Seikatsu Club é proprietário conjuntamente com
produtores de leite, de três leiterias. É também proprietário com
camponeses de granjas avícolas. Trata-se da única cooperativa de
consumidores no Japão que empreendeu tais iniciativas. Atualmente, o
Seikatsu Club lança um novo projeto: o objetivo é que consumidores das
regiões urbanas se tornem “agricultores durante uma parte do seu tempo”
para preservar a agricultura japonesa e o meio ambiente. Uma das razões
deste projeto é que mais de 60% dos agricultores têm 65 anos ou mais. A
filosofia do Seikatsu Club é que se os consumidores desejam ter uma
sociedade sustentável e alimentos sadios, devem assumir
responsabilidades nos processos de produção com os produtores. O
resultado destas práticas faz que o Seikatsu Club é, não somente uma
cooperativa de consumidores, mas igualmente uma cooperativa de
produtores.
Novas iniciativas sociais
No decorrer dos anos, os membros lançaram coletivos de
trabalhadores. Hoje, há mais de 700 coletivos, com aproximadamente
20.000 membros. Como não existe lei sobre as cooperativas de trabalho
no Japão, os membros foram obrigados de utilizar o estatuto jurídico
“sem fins lucrativos”, mas eles funcionam como se fosse uma cooperativa
(propriedade dos membros). A extensão das atividades é muito grande:
preparar refeições para pessoas da terceira idade, ajudar em domicílio,
tomar conta de crianças, fazer artesanato, reciclagem, etc.
Compreendendo que não bastava reivindicar junto às
autoridades locais, os membros se engajam diretamente na política
apresentando candidaturas nos conselhos locais da região metropolitana
de Tóquio. Deram-se o nome de “Rede Seikatsusha”, o que significa “Rede
dos moradores”. Hoje, há mais ou menos 140 edis locais, somente
mulheres, eleitos sobre esta base de preocupação.
No nível local: o Conselho cooperativo comunitário
O Seikatsu considera que para mudar globalmente a
sociedade, é preciso construir uma sociedade “cooperativa”, no sentido
de “sociedade que coopera”. Assim ele visa a criação de Conselhos
comunitários locais (especialmente em Tóquio) que seriam compostos do
conjunto das organizações do território: cooperativas, produtores
locais, movimentos para a cidadania, sindicatos, coletivos de
trabalhadores, associações, instituições de ensino, etc. O objetivo é o
atendimento pela própria comunidade. Os princípios são mais ou menos
semelhantes àqueles do desenvolvimento local sustentável ou do
desenvolvimento econômico comunitário como é conhecido no Canadá.
No nível global: uma visão transformadora da esfera pública
Realizaram que o conjunto dos desafios econômicos e
sociais estão interligados, que o conjunto se tornou “glocal”, isto é
que o global e o local são tão interligados que é preciso agir em todas
as instâncias, do local ao global. Desafios tais como os OGM, as regras
da OMC, a pobreza e as guerras forçam a concebermos uma “comunidade
global” da mesma forma como concebemos comunidades locais ou nacionais.
Sua visão se afirma assim:
Acreditamos que chegou o tempo para as cooperativas
desempenhar um papel importante, tanto nas suas próprias comunidades
como, enquanto organização sem fins lucrativos mais importante no
mundo, de construir a nova esfera pública glocal.
A ação internacional
O Seikatsu Club, se inscreve desde mais de 20 anos na
linha da transformação dos grandes desafios planetários. Desde 1983,
relações estreitas foram estabelecidas com organizações semelhantes na
Coréia e em Taiwan. A organização participou da Cúpula da terra de 1992
no Rio de Janeiro e da conferência da ONU sobre o desarmamento.
O desenvolvimento de intercâmbios e o desenvolvimento de
ações solidárias com organizações que partilham visões semelhantes se
tornaram uma prioridade para a organização.
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