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Clube de compras. O que é. Como nasceu.
Clube de compras é uma associação de consumidores que se organizam para fazer compras coletivas. Essa forma de organização pode ser uma estratégia para beneficiar tanto o produtor – que terá onde escoar seus produtos a melhores preços e condições – quanto os consumidores – que asseguram o acesso a produtos com maior garantia de qualidade, a preços iguais ao mercado convencional ou mais reduzidos. A redução de preços é possível devido ao corte de atravessadores e ao aumento do volume das compras. Essas duas combinações possibilitam maior contato entre comprador e produtor, viabilizando a compra direta ou a mais próxima possível do produtor. Além das vantagens mencionadas, o clube de compras também seria uma forma de possibilitar o acesso a determinados produtos que por algum motivo são inacessíveis ou de difícil acesso, como por exemplo, produtos de produção orgânica ou agroecológica.
Para que as condições acima sejam contempladas, algumas experiências de clube de compras (CC) vêm sendo pautadas dentro dos princípios da economia solidária (ES) e do comércio justo e solidário (CJS), propondo mudar as relações convencionais de produção, comercialização e consumo, no desafio de promover, além da descompressão do orçamento familiar, laços de solidariedade e cooperação entre os envolvidos, preparando assim um terreno fértil para o surgimento de novas experiências de cooperação.
Pioneiros Eqüitativos de Rochdale
Em 1844, em Rochdale, no Norte da Inglaterra, durante período de diversas revoltas sociais, após o insucesso da greve deste mesmo ano, vinte e oito artesões2 de uma tecelagem de lã se organizaram criando a primeira cooperativa de consumo3, onde cada artesão investiu os dois pences que recebia por semana do Sindicato de Tecelões.
Salles4 cita que segundo Rique os tecelões de Rochdale antes de idealizarem a cooperativa de consumo e fundamentarem os princípios que a regiam, tinham participado de movimentos sindicais e religiosos, eram adeptos ou tinham conhecimento de filosofias pré-cooperativistas5, além de todos terem participado da greve de 1842-1844. Esses tecelões eram trabalhadores politizados e orgulhosos de suas tradições, e ainda eram auto-educados em Rochdale. Considerando o grau de consciência e politização desses trabalhadores é que se entende a formação dos princípios que nortearam toda a história do cooperativismo.
A cooperativa de consumo de Rochdale surge como alternativa à precária situação econômica daqueles trabalhadores, sendo uma proposta imediata à crise que viviam, porém com objetivos iniciais muito mais amplos, como criar uma colônia auto-suficiente que tivesse o objetivo de apoiar outras colônias com o mesmo propósito. Para o funcionamento dessa cooperativa e sua organização interna, foi elaborada uma carta de princípios, os quais, em conjunto, tiveram caráter revolucionário de suma importância, uma vez que os mesmos já existiam isoladamente. Estes eram:
* Adesão aberta a novos membros em igualdade de condições em relação aos membros antigos;
* Gestão democrática;
* Formação ética e educacional;
* Divisão das Sobras proporcionais às operações de cada um;
* Juros limitados ou fixados sobre o capital subscrito;
* Vendas à vista, sem crediário;
* Vendas só de produtos puros, não adulterados;
* Neutralidade política e religiosa. Distanciamento de controle político estatal ou sindical.
A partir do pioneirismo de Rochdale houve grande expansão das cooperativas de consumo por todo o mundo e, conforme a tabela abaixo, é notável como a própria cooperativa de Rochdale se expandiu rapidamente.
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Os princípios de Rochdale merecem um estudo pormenorizado. Aqui buscaremos avaliar como ocorria alguns desses princípios e a sua importância para o funcionamento da cooperativa e mesmo de outras, fazendo em alguns casos observações sobre os clubes de compras atuais.
* Adesão aberta a novos membros em igualdade de condições em relação aos membros antigos
Forma de garantir a igualdade e impedir quaisquer formas de privilégio.
* Gestão democrática
A participação dos sócios acionistas caracterizava a cooperativa como co-gestionária. Acionistas e trabalhadores eram representantes na administração, o que gerou conflitos, pois os interesses dos acionistas eram diferentes dos interesses dos trabalhadores. No período de crise do algodão (1862) os acionistas votaram pela abolição dos 20% que os trabalhadores recebiam sob o salário, estes aceitaram, com receio de comprometer financeiramente a cooperativa. A experiência em Rochdale demonstra que determinadas intervenções de acionistas que não trabalham na cooperativa pode ser conflitante. Além dessa relação interna, a cooperativa de consumo mantinha relações capitalistas com as fábricas e cooperativas de produção que financiava, ou seja, eram cooperativas detentoras de empresas capitalistas.
Atualmente, dentro dos princípios da economia solidária, é enfatizada a importância da cooperativa ser autogestionária, o que colocaria os interesses dos envolvidos num mesmo patamar. Além disso, para que o intuito de modificar as relações de produção, consumo e comercialização seja efetivo é fundamental que as relações autogestionárias se estenda para toda a cadeia produtiva.
* Formação ética e educacional em todos os níveis
Inicialmente os associados dispunham de jornais que eles mesmos deixavam na cooperativa, mantinham debates semanais e com o crescimento da cooperativa, 2,5% das sobras financiavam sala de leitura e biblioteca; além disso, a cooperativa oferecia formação aos cooperados e público em geral, que com o passar do tempo destinou verbas crescentes para a educação.
A formação era importante para a compreensão dos princípios e propostas políticas envolvidas na constituição da cooperativa, pois os associados tinham razões solidárias para fazerem parte da mesma. Tanto era assim que em períodos de crise (II Guerra Mundial, crise do algodão, marketing do mercado capitalista etc) a continuidade de muitos associados ocorreu porque estes estavam conscientes das finalidades da cooperativa de consumo, que envolvia relações solidárias e não simplesmente um espaço de comercialização.
* Divisão das Sobras proporcional às operações de cada um
A existência deste princípio garantia que a cooperativa tivesse preço maior do que o da concorrência e sem perder os associados, pois estes sabiam que receberiam as sobras no final, garantindo que os valores excedentes fossem revertidos em favor dos trabalhadores.
* Juros limitados ou fixados sobre o capital subscrito
A cooperativa aceitava empréstimos dos trabalhadores e sócios acionistas e remunerava 10% a.a. sob os valores investidos. Além destes 10% os trabalhadores tinham direito a 20% de abono sob o salário. O estabelecimento desse juros foi uma forma de incentivo para que os cooperados e sócios investissem na cooperativa. Inicialmente a cooperativa vendia a varejo, mas por ter alcançado significativo poder financeiro, passou a ter departamentos de compra e venda no atacado, o que fez com que Rochdale investisse na construção de fábricas e cooperativas de produção que abastecia a cooperativa de consumo, garantindo preço baixo e a alta qualidade dos produtos.
* Vendas à vista, sem crediário
Devido a forte crise econômica e a vida de extrema miséria entre os trabalhadores, este foi o modo que a cooperativa encontrou de impedir a inadimplência, uma vez que a ela não suportaria adquirir dívidas, principalmente na sua fase inicial.
Atualmente esse critério deve ser reavaliado cuidadosamente, de acordo com a localidade e o perfil dos associados, pois, em geral, consumidores de baixa renda ao escolherem o local das compras dão preferência não apenas ao preço, mas também às formas de pagamento. Em algumas regiões as compras são feitas prioritariamente em armazéns e mercearias, pois possibilitam a compra a prazo e sem cobrança de juros, devido a relação próxima entre comerciante e consumidor. No caso de bens duráveis a maioria dos consumidores priorizam o pagamento parcelado, ainda que seja maior do que o pagamento à vista.
* Vendas só de produtos puros, não adulterados
Em Rochdale os associados podiam confiar nos produtos comprados. Esse princípio faz muito sentido em uma época que os produtores adulteravam à vontade os alimentos adicionando desde cal na farinha até ópio nas cervejas, por isso a cooperativa assegurava a qualidade dos produtos, garantindo que eles não seriam adulterados.
Atualmente, além de uma fiscalização que garanta que os produtos não sejam adulterados, ou seja, que o leite não esteja misturado com soda cáustica e água oxigenada6, é necessário rever o conceito usado na época para definir produtos puros, uma vez que os produtos comercializados dentro das condições legais de produção (sem adulteração) atualmente, também podem causar males (ainda que gradativos) à saúde, como por exemplo a presença de defensivos agrícolas7 (agrotóxicos) nos alimentos ou a transgênia das espécies.
* Neutralidade política e religiosa. Distanciamento de controle político estatal ou sindical
Este princípio garantia a autonomia da cooperativa, além de estar relacionado com o princípio de adesão livre, pois assegurava que não haveria discriminação dos associados em razão das suas escolhas religiosas ou políticas.
A cooperativa fabricava todos os produtos básicos que a classe trabalhadora consumia regularmente, desde vestimentas até os alimentos. Com isso foi possível gerar um ganho de escala a tal ponto que a cooperativa organizou uma cadeia de distribuição, que na época era centralizada. Atualmente, as redes de supermercados estão novamente centralizando a distribuição, onde a maior parte dos produtos são entregues na central e outros são entregues diretamente pelos fornecedores às filiais, desde que os fornecedores possuam melhores condições de entrega que a rede. Diferente do movimento que vêm fazendo atualmente, na década de oitenta essas redes tinham decidido descentralizar a distribuição, mas por enquanto não é possível garantir qual das duas situações é mais adequada ou melhor.
A cooperativa, além de ter criado uma logística viável para seu funcionamento, o que também foi inovador, tinha um mercado garantido, estável e que crescia cada vez mais. Porém, com o surgimento das lojas que ofereciam produtos com pesos e tamanhos padronizados, dispostos em prateleiras, manipuláveis e embalados individualmente8, ou seja, o auto-serviço, modelo existente até hoje no comércio convencional, houve uma desestabilização das cooperativas de consumo. Com as vendas em massa, as lojas capitalistas tinham menor custo, principalmente com o surgimento de Shopping Centers, construídos em lugares periféricos que possuiam menor custo territorial, onde os consumidores se deslocavam a maiores distâncias para fazer compras, já que no local havia estacionamentos.
Na tentativa de manter os associados algumas cooperativas de consumo optaram pela fusão entre as cooperativas, o que as contrariava, pois as descaracterizava como cooperativa comunitária. Houve ainda outras medidas na tentativa de enfrentar esse novo mercado competitivo, como a redução dos preços e das margens das sobras em algumas cooperativas, o que reduziua cada vez mais o número de cooperados.
Em caminho contrário, Kesko, na Finlândia, foi uma das cooperativas de consumo que conseguiu superar o período de crise, mantendo os princípios da cooperativa. É importante ressaltar que os associados continuaram por razões ideológicas.
# Clubes de compras convencionais
É um modelo de clube de compras varejista, utilizado como estratégia de distribuição dos atacadistas que:
“(...) se encaixa no perfil de despojamento, preços baixos e pouco serviço, adotando uma estratégia de descontos (...) A seleção de produtos é limitada a produtos alimentícios de marcas conhecidas, eletrodomésticos, roupas e uma miscelânea de outros bens, que as pessoas adquirem com agressivos descontos. Este modelo varejista de desconto teve um rápido crescimento nos EUA, mas teve o seu crescimento diminuído pela saturação e exagerada expansão. Os melhores exemplos são o Costco e o SAM`S”. (Evans & Berman, 1995) (Kiyohara, Jefferson Hiroyoshi)
Estratégia de Desconto (Clubes de Compras Convencionais) Estratégia de Serviço (em grandes espaços de comercialização de alimentos convencionais: Shopping, Hiper e Super mercados, lojas etc) Estratégias de Solidariedade (Clube de Compras Solidário)
1. Locação de espaço menos caro/ Menor nível de tráfego de pessoas (Obs. Algumas empresas já estão buscando locações mais caras). 1. Locação de espaço mais caro/ Maior nível de tráfego de pessoas (Ex. loja de Shopping Center). 1. Em muitas das experiências estudadas não há locação de espaço. Estes são cedidos por instituições envolvidas com o clube de compras. Isso acontece devido aos custos com o espaço, que, inicialmente, podem inviabilizar a iniciativa.
2. Decoração e pisos simples, poucos displays etc. 2. Decoração trabalhada, piso acarpetado, displays internos, vitrine etc. 2. O local é pensado de forma a atender as condições de conservação dos produtos, de modo simples, sem incentivar o consumismo. Além disso é necessário um local para se realizar a assembléia e outras discussões.
3. Ênfase promocional no preço. 3. Ênfase promocional em serviços, qualidade e imagem da loja. 3. Há ênfase na qualidade do produto, na relação solidária entre consumidor-produtor, na formação e solidificação de um comércio justo e solidário e propagação de novas formas de se organizar e se relacionar com a produção, comercialização e consumo.
4. Poucos serviços agregados. 4. Grande oferta de serviços. 4. O objetivo é ter serviços, oferecidos de acordo com a necessidade do coletivo e envolvendo cada vez mais os próprios associados.
5. Foco no auto-serviço, produtos empilhados etc. 5. Auxílio de vendedores, estoque de produtos para garantir variedade e disponibilidade. 5. As demandas variam de acordo com as necessidades e possibilidades dos associados
6. Preço baixo grande parte do ano. 6. Descontos em liquidação de fim de ano e em datas especiais. 6. Preços discutidos em assembléia de acordo com as necessidades e condições, tendo em mente uma remuneração justa para todos os envolvidos.
7. Apelo à marcas conhecidas. 7. Marcas determinadas de acordo com o público consumidor, porém, seguido de grande apelo publicitário das/para marcas conhecidas. 8. As marcas não são critério de avaliação e sim a qualidade, a forma de organização e as relações solidárias. O Sistema Nacional de CJS vem para garantir estes critérios.
8. Pouca divulgação publicitária na grande mídia, geralmente a divulgação ocorre por folhetins e propaganda local. 8. Grande investimento e exploração dos diversos meios publicitários (grande mídia, folhetins, rádios, carros locais, jornais, entre outros) 8. Forte divulgação “boca a boca”, além do uso da internet e telefone.
Fonte9: Adaptado pelos autores
Nos clubes de compras convencionais a maior parte dos consumidores são varejistas, e ultimamente há um movimento para amplia-lo aos consumidores finais, de modo que há um aumento na diversidade de marcas que são discriminadas em seções que relacionam preço-qualidade de acordo com a classe do consumidor.
Nesse contexto, os indivíduos passam a se reconhecer e a se diferenciar a partir das imagens de marca dos bens de consumo, o que tende a promover, além de uma exclusão social explícita naqueles despossuídos dos meios de aquisição desses bens, um novo tipo de exclusão: aquela derivada da segmentação, por estilos de vida, entre os usuários de determinados produtos/serviços10.
A valorização do produto/serviço a partir da marca é característica comum em todo o mercado convencional que não leva necessariamente em consideração o acesso, a utilidade e funcionalidade do produto, os processos conscientes de produção e as novas organizações do trabalho que possuem como fim atender aos interesses dos trabalhadores.
Podemos citar também valorização de um produto por meio de sua diferenciação dentro de uma mesma marca. Como as lâminas de barbear, que uma mesma marca possui modelos para diferentes níveis de renda.
Com o intuito de aumentar os ganhos e reduzir os custos, os clubes de compras convencionais estão investindo em tecnologia, na automação e mecanização das operações, no auto-serviço e no apelo publicitário às marcas conhecidas, equivocadamente, como referência de qualidade. Estes são recursos para diminuir os custos e baratear os produtos, não necessariamente com a preocupação de beneficiar o consumidor, pois nesse modelo de clube de compras o foco é, em geral, mantido no capital. Tanto é desse modo, que as taxas de associação podem ser fonte de lucro, o que possibilita junto às adaptações tecnológicas, os preços ainda mais baixos, sendo usados como estratégia para cativar outros associados.
Neste mercado convencional as necessidades humanas são identificadas, interpretadas e criadas de tal modo que as mercadorias se tornem a solução mágica para estas, e que o próprio padrão de consumo reflita a classe social a qual a pessoa pertence. Neste caso, não se vende meramente um objeto em seu valor de uso ou funcionalidade, vende-se juventude, poder, segurança, reconhecimento social, diferenciação, enfim, atitudes, comportamentos e estilos de vida, estruturantes da identidade dos indivíduos e de grande significação para a constituição dos vínculos sociais11.
Contrariando essa lógica, o clube de compras é pautado nos princípios da economia solidária e no comércio justo e solidário, surgindo como contraproposta a forma convencional de produção, comercialização e consumo, pois trabalha com o objetivo de uma integração entre consumo e produção, conjugando valores diferenciados, a partir da auto-organização dos associados. Tais experiências aconteceram no percurso da história humana e continuam sendo discutidas e implementadas no movimento da economia solidária.
Para tanto, essa nova proposta de organização de clube de compras (ES e CJS) além de criar novas relações sociais vem se apropriando e recriando novas tecnologias sociais. Assim como é demonstrado nas atuais experiências de clube de compras.
Principais problemáticas em formar um CC
Várias tentativas de cooperativa de consumo já foram feitas, acompanhadas e estudadas pela ITCP-USP. As principais dificuldades acabam por orbitar em volta dos mesmos pontos, apesar das diferenças de intensidades, estes são:
1. Logística de transporte e distribuição
O custo do transporte do produto acaba por encarecer bastante o preço, a menos que a quantidade de consumidores seja bastante grande, o que é difícil em um clube de compras novo. Em alguns casos este serviço não era remunerado, alguém o exercia voluntariamente, o que não é a intenção de uma cooperativa de consumo. Já na distribuição, a problemática fica por parte da demora na retirada de um produto comprado, um problema maior quando se trata de produtos perecíveis. Achamos que a falta de costume em consumir por meio de um clube de compras atrapalha bastante, já que é necessário um esforço para se planejar o consumo.
2. Instabilidade da demanda
Essa falta de costume também faz com que a demanda da cooperativa flutue de pedido para pedido, o que atrapalha muito na remuneração daqueles que trabalham ou vendem para cooperativa, pois dificulta o estabelecimento de um preço que pague o trabalho dos que fazem a logística, e faz com que o produtor necessite vender para outros compradores, não podendo depender exclusivamente da cooperativa. Enfim, atrapalha o planejamento da cooperativa, e seu crescimento, já que as vezes os pedidos caem muito, e com uma compra em escala menor os preços sobem, o que prejudica os consumidores que mantiveram-se consumindo, o que pode levar a uma dimuição do número de cooperados. Aqui temos um problema com difícil resolução, pode-se adotar algum mecanismo de fidelidade, a ComerAtivaMente, por exemplo, no início tinha pagamentos semanais, até um dia antes da entrega da semana, mas passou a ter pagamentos mensais, o que tornou as demandas mais estáveis em um mesmo mês, mas não resolveu o problema por inteiro. Outra possibilidade seria a adoção de uma taxa de adesão a cooperativa, com a exclusão de cooperados que ficassem sem consumir por um determinado tempo. Mas daí acabamos por criar um desincentivo, uma dificuldade a mais para o consumidor, contudo é uma forma de formalizar mais a cooperativa, já que as relações dos cooperados com ela se tornam mais formais.
3. Preço dos produtos
Tanto os custos com a logística quanto a instabilidade da demanda como o pequeno tamanho que os clubes de compras isoladamente costumam ter contribuem para o encarecimento dos produtos, e o preço é uma variável essencial, um clube de compras não é sustentável com preços altos, principalmente para públicos de baixa renda, nestes casos o preço dos produtos é a principal problemática encontrada. Concorrer com os preços encontrados nos mercados é um grande desafio, já que estes exploram os produtores, possuem um sistema de logística sofisticado e realizam compras em grandes escalas (alguns produtos são vendidos em consignação). Por esses motivos uma boa solução é ter produtos diferenciados, como orgânicos, agroecológicos ou integrais, pois estes produtos são caros nos mercados convencionais, além de produtos da Economia Solidária, que normalmente não são vendidos nestes mercados.
4. Instabilidade da quantidade e da qualidade do produto ofertado
Outra problemática que os clubes de compras costumam enfrentar é a instabilidade dos produtos. Não é fácil encontrar produtores que sejam capaz de atender sempre a demanda da cooperativa. A qualidade dos produtos também tende a variar bastante, o que é bastante complicado devido ao pagamento dos produtos ser antes do recebimento, o que fazer com um cooperado que não se safisfez com o seu produto? Como dividir os produtos entre os cooperados se a oferta não atender o demandado? Estas instabilidades fazem com que os cooperados não possam depender somente da cooperativa para consumir, e diminuem a confiança na mesma. O mapeamento de produtores adequados é uma etapa muito importante da formação de uma cooperativa de consumo.
Possibilidades e tentativas
Cada tentativa de clube de compras tenta resolver estas problemáticas de formas diferentes.
O projeto de Rede de Comercialização Solidária em SP pensa que a articulação da logística de diferentes núcleos de consumo na região metropolitana de São Paulo é capaz de resolver o problema do elevado custo do transporte e viabilizar uma remuneração adequada para os trabalhadores. Com este aumento da escala da demanda pensa-se que é possível se consumir produtos que antes não eram viáveis.
Já a Consol optou por ser uma cooperativa de consumo aberta, isto é, que vende seus produtos para não-cooperados, como uma loja ou mercado. Isto acaba fazendo com que ela seja um atravessador, o que nós da ITCP-USP não achamos que seja desejável, porém é uma possível ajuda para o escoamento dos produtos da EcoSol, já que ela é capaz de atingir consumidores que não possuem interesse nem conhecimento sobre o movimento, devido a facilidade no consumo.
Outra iniciativa, o NEPA, tenta associar diretamente várias famílias a um agricultor (Aliança Social), fazendo com que as primeiras "adotem" o segundo. Experiência que foi batante sucedida em alguns lugares e nem tanto em outros. O sistema de adoção pode acabar prejudicando o agricultor, já que este fica muito dependente.
Algumas cooperativas ainda estão em funcionamento, apesar de enfrentar as dificuldades listadas acima, como a Trocas Verdes de Campinas, a Clube de compras do verde da Fundação Santo André e a ComerAtivaMente da USP. A primeira tem explorado bastante a internet para facilitar a organização da demanda. Já os dois outros realizam compras conjuntamente, e estão trabalhando bastante na divulgação da cooperativa para aumentar a quantidade de consumidores, e também com a formação da Rede de Comercialização Solidária de São Paulo.
Olhando para as idéias de onde podemos chegar, por meio da aproximação entre produção e consumo, e da integração da produção autogestionária em rede, encontramos a proposta do ParEcon (do inglês, Participatory Economy) de Michal Albert como a mais completa, porém a mais ambiciosa também. Trata-se de uma proposta de economia planejada democrática, isto é, alocar os recursos produzidos na sociedade de forma democrática a partir da soma de planejamentos individuais de consumo. Seria uma economia baseada nos valores de eqüidade, solidariedade, diversidade, autogestão e eficiência. Sua formulação tem raízes anarquistas, procurando ser uma opção ao fracasso das economias centralmente planejadas que os países socialistas adotaram, e é radicalmente diferente destas, pois no ParEcon a economia é organizada de forma participativa e seus produtos são distribuídos eqüitativamente. Os únicos critérios de remuneração são: esforço e sacrifício, enquanto nos países socialistas as economias eram subordinadas ao estado que era dominado por uma classe de burocratas e a distribuição de bens seguia uma lógica de mérito e necessidade.
Pensamos que o último momento de uma Rede de Comercialização Solidária é o ParEcon em escala menor, pois aquela se desenvolve nos interstícios da economia capitalista e o ParEcon é uma proposta para a sociedade como um todo. Conseguindo a integração de diversos EESs na rede (não só de produção, mas também de serviços), esta poderia funcionar por meio de um planejamento do consumo interno dos trabalhadores, e os remunerar eqüitativamente com bens da própria rede, isto é, possibilitar a troca direta de trabalho (esforço e sacrifício) por produtos ou serviços, livrando a rede do mercado e seus inconvenientes. Porém, enquanto a rede não for grande o suficiente para abarcar todas os desejos dos trabalhadores, ainda fará sentido vender no mercado para consumidores externos.
O retrocesso do número de cooperativas de consumo, no Brasil, ocorreu devido, principalmente, ao fim de benefícios fiscais (como por exemplo, ICM) que as cooperativas de consumo tinham como direito, o aparecimento de grandes redes de supermercados que têm tecnologia bem mais avançadas e às altas inflações.
As altas inflações nos produtos alimentícios devido ao aumento nas taxas de lucro, a pressão de organizações empresariais sobre pequenos agricultores, a miséria e a fome presente principalmente em países do terceiro mundo, como o Brasil, que a organização em clubes de compras justo e solidário deve ser adotado como política pública: incentivando e apoiando o fomento, a organização e o fortalecimento de toda a cadeia produtiva desse modelo de clube de compras (justo e solidário), lembrando que o BNDS já investiu bilhões em redes de grandes conglomerados do setor alimentício, que em muitos casos são multinacionais atraídas, incentivadas e subsidiadas pelo governo. A importância do clube de compras ser pautado nos princípios da economia solidária e comércio justo e solidário se coloca na diferenciação das relações existentes, para que o CC não seja mais um mercado de compras convencional, de modo que o consumo de produtos mais saudáveis não esteja relacionado ao poder aquisitivo do consumidor, assim como ocorre na maioria dos casos de comercialização dos produtos orgânicos/agroecológicos oferecidos pelo sistema convencional de comercialização, que em grande maioria explora o trabalho de pequenos agricultores. Por isto, é importante não se submeter unicamente a propostas isoladas, sem significação mais ampla (sem relacionar questões econômicas, políticas, sociais, etc) avaliando que adotar a estratégia de clubes de compras e/ou a transição de produtos orgânicos pode ser, se não justa e solidária, mais uma fonte de recursos para o sistema capitalista, que abarca e deforma diferentes propostas para atender suas demandas.12
A Experiência da ITCP-USP
O clube de compras surge na ITCP-USP como uma estratégia de desenvolvimento local. Com o fim da bolsa que recebiam para trabalharem no Começar de Novo – programa social, do ano de 2002, da prefeitura de São Paulo – a ITCP-USP propôs aos ex-bolsitas, moradores do bairro Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, que organizassem um clube de compras com o apoio da ITCP-USP e com o objetivo de garantir o consumo de produtos alimentícios básicos com maior qualidade e a preços relativamente menores. O grupo concordou e se organizou trabalhando na separação e compra dos alimentos do clube, sem remuneração, tanto por não ter recursos para esta atividade, quanto porque o acréscimo nos produtos inviabilizaria a estratégia.
Devido ao custo com o transporte e a falta de organização do grupo para realizar as compras, as mesmas eram feitas com o carro de formadores da ITCP-USP que compravam, com o grupo, os produtos que em grande maioria eram provenientes da Zona Cerealista do Centro de São Paulo.
Este grupo se reunia na sala de uma associação de bairro, onde armazenavam em condições inadequadas os alimentos que seriam posteriormente distribuídos entre os integrantes do grupo e para pouquíssimas pessoas da associação e vizinhos. Neste espaço não havia local para estoque e os alimentos eram armazenados em galões.
Após algum tempo de funcionamento o grupo fez um cartaz para ser colocado na associação e alguns folderes que foram distribuídos na tentativa de expandir o clube de compras, onde a principal estratégia de divulgação era o boca a boca. Neste clube de compras não existia sistema de filiação.
As condições que este clube se formou não favoreceram a continuidade do mesmo, pois por falta de condições básicas para a organização (estrutura e espaço para armazenamento, distribuição e logística), o trabalho exclusivamente voluntário, o pequeno retorno em relação aos esforços investidos e a baixa escala, somados a falta de motivação e interesse do grupo, diante destas condições, o grupo acabou se dispersando.
Além da experiência do Começar de Novo, a ITCP-USP acompanhou o clube de compras que ocorria na Paróquia Santo Antônio, também na Zona Sul de São Paulo, que iniciou em meados de 2004. O clube começou como uma proposta do padre desta paróquia, o Padre Reinaldo, que participava da reunião da Rede Solidária da Zona Sul de São Paulo. O objetivo deste clube de compras era possibilitar que produtos de qualidade e a preços reduzidos promovessem o aumento da qualidade de vida dos consumidores, conjugada aos princípios de cooperação e da economia solidária, além de apontar para a organização a pequenos produtores, mas este era o propósito encabeçado pelo padre, já que não era claro o objetivo dos consumidores. O que se pode inferir é que devido ao oferecimento de produtos como forma de pagamento para trabalhar na separação dos alimentos, algumas pessoas o faziam devido a necessidade ou interesses pessoais.
As compras dependiam do transporte feito pelo padre Reinaldo que ia quinzenalmente na Zona Cerealista e comprava com o carro da paróquia alimentos básicos para cerca de 200 pessoas. Diferente do grupo anterior, na paróquia existia demanda para compras semanais, mas o padre Reinaldo não tinha condições de se deslocar semanalmente. Aqui o clube também não tinha recursos para logística, principalmente porque os alimentos eram revendidos a preço de custo, o que não possibilitava remunerar o trabalho de compra, separação e recebimento que eram feitos pelo Padre ou por voluntários, sendo que estes últimos recebiam pelo tempo dedicado em produtos ou em espécie. Houve a proposta de que as pessoas que trabalhassem principalmente na separação e recebimento passassem a receber também em moeda social do Clube de Trocas da região.
Não havia necessariamente um espaço de armazenagem dos alimentos, pois a distribuição era quase que imediata. Até o momento da distribuição os alimentos eram dispostos em sacas que ficavam no corredor ou em salas onde ocorria a separação, estes locais eram inadequados ou até mesmo impróprios, uma vez que não tinham condições de higiene.
As pessoas iam diretamente na paróquia para a retirada dos alimentos, solicitados antecipadamente, e para o pagamento no ato da compra. Havia pessoas de outras comunidades paroquiais que participavam do clube, das quais não sabemos afirmar se retiravam diretamente na Paróquia Santo Antônio os produtos ou se o Padre Reinaldo distribuía nas paróquias, e ainda se separados ou não.
Nesta experiência havia sistema de filiação que começou a ser feita em 2005, quando o Padre Reinaldo, para ter maior clareza do funcionamento do clube, passou a cadastrar os participantes antigos e os que aderiam no decorrer do tempo. Neste cadastro havia dados de contato, a quantidade de consumo mensal, o número de pessoas atingidas, o recebimento, pagamento e assim por diante, sendo que mais uma vez este cadastro era feito pelo padre ou esporadicamente por voluntários.
O sistema de divulgação não muito diferente do Começar de Novo era boca a boca, onde todos os envolvidos divulgavam, principalmente o padre, que apresentava em reuniões da Diocese e Arquidiocese o clube, e ainda, sem saber ao certo, divulgava nas missas. Além disso, o Começar de Novo também distribuiu alguns folderes pela Paróquia Santo Antônio para divulgar o clube da paróquia.
Apesar das especificidades de cada experiência o clube que ocorria na Paróquia era muito similar ao grupo do Começar de Novo, uma vez que ambos subsidiavam o transporte, mantinham trabalho voluntário, tinham as mesmas estratégias de divulgação, ambos compravam na Zona Cerealista e não tinham espaços e equipamentos adequados e o envolvimento dos associados, principalmente na Paróquia, era mínimo.
Diante dos resultados vivenciados a ITCP-USP avaliou que para realizar um clube de compras nas localidades que trabalha, Zona Sul e Oeste de São Paulo, seria preciso uma pesquisa mais detalhada sobre as condições, o cenário, o contexto desSas regiões e as possibilidades de fomentar este clube de compras. Para tanto, a ITCP-USP realizou uma pesquisa, por amostragem com moradores do CDHU Santo Amaro C sobre o que, por quanto, onde e por que compravam determinados produtos de gênero alimentício e higiênico, que foi analisada comparando com as pesquisas feitas nos mercados locais e na Zona Cerealista.
O resultado dessas pesquisas apontou sobre as dificuldades de criar um clube de compras baseado em produtos alimentícios ou higiênicos – principalmente dos que compõem a cesta básica – devido a forte concorrência do mercado varejista convencional e diante das diversas fragilidades já mencionadas em formar um clube de compras, o que direcionou o trabalho da ITCP na formação de um clube de compras com produtos alimentícios de difícil acesso, como é o caso de produtos orgânicos, agroecológicos, integrais, naturais e outros com as mesmas características que estão sendo comercializados com produtos, como sacolas e embalagens13 de ráfia e sabões ecológicos da economia solidária.
Histórico ComerAtivaMente
A cooperativa de consumo ComerAtivaMente é um coletivo não-formalizado pautado pelos princípios do cooperativismo. Sua formação data de agosto de 2007, apesar do nome só ter sido escolhido em setembro deste ano, no segundo encontro do grupo. Sua formação é resultado de uma iniciativa de estudantes da USP em parceria com a incubadora de cooperativas tecnológicas da universidade (ITCP), que concordou em trabalhar para fortalecer o grupo e cedeu o espaço necessário para as entregas de alimentos e para os encontros do coletivo. Em linhas gerias, os objetivos da associação são o de consumir alimentos de qualidade, ecologicamente criteriosos, e o de realizar um comércio alternativo que elimine o atravessador na troca e valorize o trabalho do produtor.
O grupo de idealizadores da cooperativa já tinha contato com pequenos agricultores independentes que produziam folhas sem a utilização de fertilizantes ou defensivos agrícolas em pequenos sítios cedidos por um contrato de comodato pela empresa Eletropaulo, sob os fios de alta tensão do bairro Vivaldi, em São Bernardo do Campo.
As primeiras compras conjuntas foram de cestas semanais que continham de três a quatro variedades de folhas, com preço de 5 reais, sendo que 3 reais eram pagos aos produtores, 1,5 ao transporte e 0,5 centvos destinava-se ao fundo comum do coletivo. Inicialmente, a entrega e os pagamentos eram feitos semanalmente, mas já a partir de setembro acordou-se uma mensalidade, cujo valor era relativo ao número de entregas no mês.
Nesse valor de cesta, não estavam incluídos remuneração alguma às pessoas que trabalhavam na gestão e na compra do coletivo. Muitas vezes também não cobria os custos de transporte, que era pago em parceria com outros coletivos. Assim sendo, os custos foram subsidiados por algum tempo, devido às inúmeras dificuldades existentes para se formar um clube de compras. Calculava-se que seriam necessários trinta cooperados para que o coletivo cobrisse adequadamente os custos, quantidade que só foi atingida, ainda que de forma instável, no final do ano de 2007.
Outro serviço que a cooperativa oferece desde sua formação aos associados é o de uma compra mensal de secos, cujo fornecedor é um lojista da zona cerealista paulistana, que mostrou-se aberto a dialogar com a idéia de fornecer a uma cooperativa de consumidores. Essa compra, apesar de não cumprir um princípio da cooperativa de realizar compras diretas e de comprar produtos ecologicamente criteriosos, mostrou-se interessante pelo preço, variedade e qualidade dos produtos comercializados. Em média a cooperativa consegue cerca de 6% de desconto nas compras coletivas, não há custo de entrega nas compras acima de 250 reais e é possível ter acesso a uma grande variedade de alimentos integrais.
Os associados do coletivo são majoritariamente estudantes da USP e/ou formadores da ITCP-USP, sendo freqüente a participação de repúblicas universitárias próximas à universidade. O que mais atrai os cooperados é o acesso a alimentos de qualidade a preços razoáveis, somando a este fator a idéia de participar de formas alternativas de comércio.
A ComerAtivaMente passou o segundo semestre de 2007 oferecendo esses dois serviços aos associados. Durante as férias de fim de ano o coletivo interrompeu as atividades, retomando-as em março de 2008. No primeiro encontro deste ano, foi formulada uma proposta de cooperativa que buscava sustentabilidade, por exemplo a partir da necessidade de remunerar o trabalho envolvido na gestão do coletivo. Assim, foi acordada uma contribuição mensal de 10 reais, onde 8 reais eram destinados aos dois gestores e 2 reais ao fundo comum.
Paralelamente às atividades da cooperativa começaram a acontecer reuniões entre várias instituições atuantes na economia solidária e em atividades vinculadas a iniciativas de consumo consciente, como a ITCP-GV, o Instituto Pólis, o Instituto Kairós e a loja de orgânicos Sabor Natural, para planejar a constituição de uma rede de comercialização solidária em São Paulo, integrando diferentes cooperativas e núcleos de consumo. Com essa idéia em mente, os pioneiros da ComerAtivaMente formaram a Sementes de Paz, um empreendimento que tem o intuito de realizar o trabalho de logística necessário e comum aos vários núcleos de consumo em formação na cidade, viabilizando a formação de cooperativas de consumidores através da diminuição dos custos que uma logística integrada pode oferecer.
A partir do quarto encontro da cooperativa deste ano, foi formulada e acordada uma parceria entre a cooperativa e o empreendimento, vinculando o grupo aos outros núcleos de consumo em formação, e possibilitando ao empreendimento sincronizar as compras e entregas.
Com a parceria firmada, algumas mudanças fizeram-se necessárias.
As entregas agora são realizadas as quartas-feiras, e a contribuição de cada associado é de 8 reais, onde 5 reais vão para a gestão, que a partir de então não realiza mais as compras e entregas, somente recolhe pedidos e pagamentos, e os restantes 3 reais são destinados ao fundo comum. Os produtores associados mudaram, também devido as dificuldades de formação das cestas com os primeiros produtores, que tem pouca capacidade de produção. Atualmente, são quatro as associações de produtores orgânicos associadas aos núcleos de consumo por meio da Sementes de Paz: a Aprove (Associação de Produtores Orgânicos de Verava, Ibiúna), que fornece folhas, frutos, flores e raízes, o Sintravale (Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Vale do Ribeira), que fornece raízes e frutas, o Quilombo Ivaporunduva, que fornece bananas e a rede Ecovida, que fornece os alimentos da cesta de secos orgânicos, além de geléias, molho de tomate, e outras variedades de alimentos preparados.
A partir de então, aos cooperados existe a possibilidade de receber uma cesta de feira completa, que contém três variedades de folhas, de três a quatro variedades de frutos, flores ou raízes e de três a quatro variedades de frutas, de acordo com a produção dos produtores associados. Essa cesta custa 20 reais, e como todos os alimentos distribuídos pelo empreendimento Sementes de Paz, tem seu preço formada a partir do seguinte acordo: 60% do valor é repassado diretamente ao produtor, e com os 40% restantes o empreendimento arca com os custos fixos, com os custos variáveis e com a remuneração dos trabalhadores envolvidos.
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