Centro Pedagógico – Escola de Ensino Fundamental da UFMG-Brasil
leojeber@gmail.com
PARTE I - COMO TUDO COMEÇOU?
Era o ano de 1996, às 7h30min de um dia que eu não me lembro exatamente qual foi. Eu, professor de Educação Física me dirigindo para as quadras esportivas da escola para mais uma aula com uma turma de sétima ou oitava série. Então, me fiz em voz alta, uma pergunta: o que é que eu estou fazendo aqui? Eu estava insatisfeito. O sentido dessa pergunta era: eu com tantos estudos, depois de terminar meu mestrado, com desejo de transmitir meus saberes aos alunos e eles não se interessando pelo que eu tinha a lhes dizer. Seu interesse era por movimentar e o meu o de levá-los a refletir criticamente sobre os temas da Educação Física. O encontro nas aulas era sempre tenso porque era uma disputa entre dois lados, e duas vontades. Eu querendo seguir meu planejamento, minha concepção de educação/educação física e dar as aulas, fazer reflexões críticas para torná-los críticos, fazê-los aprender os conteúdos curriculares, mas os alunos resistindo às minhas propostas e àquele meu jeito de trabalhar. Eles diziam que eu falava demais e o tempo para o movimento se encurtava ainda mais. Então eu tinha que me impor. Mostrar minha autoridade. Não pela força da sabedoria do argumento, mas através da força do argumento de autoridade, autoridade de poder. E isso tinha que ser feito muitas vezes durante a aula. E para isso, eu falava em voz alta e gritada, o que amedrontava os alunos de uma forma que eles ficavam assustados e me obedeciam, pelo menos durante um tempo. Recentemente, reencontrei uma aluna daquela época e conversando com ela, ela me lembrou: Nossa Leo, como você gritava com a gente! e eu disse a ela: agora não grito mais porque mudei radicalmente minha forma de trabalhar e entendi o que acontecia naquela época. Hoje não acredito em educação pela obrigação e nem pela coação ou coerção, mas acredito em educação com e pela liberdade. Não acredito em educação pela força da autoridade, mas pela força de um argumento que tem em si autoridade. Argumento que tem autoridade é aquele que não afronta a vida, mas interage com ela, dialoga com ela, respeita as leis naturais e funcionais da vida. É o argumento em que cultura e natureza interagem e se integram de forma dialógica e equilibrada. E isso é legitimidade e não legalidade.
Naquela época, apesar de todas as minhas boas intenções pedagógicas, de inclusive já acreditar na liberdade na educação, eu tentava construir o trabalho junto com os alunos, mas eu era um professor centrado em mim mesmo, era um Ego-Professor, um heteroregulador de todos os momentos do processo da aula. O objetivo era submeter os alunos aos conteúdos e à minha autoridade. Afinal, seria através dos conteúdos e da capacidade crítica que formaríamos cidadãos e transformaríamos a sociedade. Em nome desses objetivos os alunos precisavam ser obedientes e aceitar ser conduzidos. Essa lógica submete os alunos aos conteúdos, é o que chamamos de conteudismo. Na verdade os conteúdos precisam estar a serviço da vida e do ser humano e isso só é possível numa outra visão educacional.
Naquele tempo, questões da vida pessoal me levaram a viver um processo psicoterapêutico. Iniciei a psicoterapia denominada Análise Bioenergética, uma abordagem que trabalha o psíquico integrado ao corporal. E pouco depois, concomitantemente à terapia, ingressei na formação de terapeuta nesta abordagem neo-reichiana, por se embasar nos princípios e fundamentos da psicologia política de Wilhelm Reich. Ampliei minha formação. A teoria reichiana conseguiu me explicar muito do que eu vivia na vida pessoal e também na vida de educador. Passei a estudar e a utilizar o princípio da auto-regulação como a base de todo o meu trabalho educacional. Mas o que é auto-regulação?
PARTE II – E AGORA, COMO ESTOU? OU EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA AUTO-REGULAÇÃO: UMA PERSPECTIVA REICHIANA
O principal desafio deste novo século
será a construção de comunidades ecologicamente sustentáveis,
organizadas de tal modo que suas tecnologias e instituições sociais não prejudiquem a
capacidade intrínseca da natureza sustentar a vida.
Os princípios sobre os quais se erguerão as nossas futuras instituições sociais
terão de ser coerentes com os princípios de organização
que a natureza fez evoluir para sustentar a teia da vida.
(Fritjof Capra)
será a construção de comunidades ecologicamente sustentáveis,
organizadas de tal modo que suas tecnologias e instituições sociais não prejudiquem a
capacidade intrínseca da natureza sustentar a vida.
Os princípios sobre os quais se erguerão as nossas futuras instituições sociais
terão de ser coerentes com os princípios de organização
que a natureza fez evoluir para sustentar a teia da vida.
(Fritjof Capra)
Porque motivo não pode existir uma escola que deixe a criança aprender
aquilo que quer, quando quer e, ao mesmo tempo,
procure ensiná-la a respeitar os direitos das outras?
(Orson Bean )(2)
aquilo que quer, quando quer e, ao mesmo tempo,
procure ensiná-la a respeitar os direitos das outras?
(Orson Bean )(2)
O que é auto-regulação e qual sua importância para a prática pedagógica na escola?
Começamos afirmando que a auto-regulação é a condição sem a qual não se efetiva o principal objetivo de toda educação: a autonomia dos indivíduos, sua emancipação, sua condição de ser vivamente vivo, pulsante e vibrante, condição pulsional para sua cidadania auto-responsável.
Este princípio foi revisitado e resgatado por Wilhelm Reich através de seus estudos no campo da biologia. Reich foi o criador de uma teoria psicológica e político-social que se baseou na Economia Sexual humana e na dimensão energética da vida. Todo o seu trabalho foi uma luta contra os processos de aprisionamento do ser humano em qualquer instância da vida, inclusive na educação.
Segundo Beltrão (2000)
"a história da pedagogia libertária se mistura com a história de outras alternativas pedagógicas não-autoritárias. Entre essas é possível mencionar a tradição liberadora, inspirada em Wilhelm Reich, interessado no fenômeno da repressão sexual. O seu ideário radical anti-autoritário vai influenciar práticas alternativas famosas e existentes até hoje."
Baseando-me em Reich digo que uma educação e um processo ensino-aprendizagem que considere o princípio da auto-regulação permite uma participação efetiva dos educandos, uma participação expressiva com vez, voz e corpo presente. Auto-regulação permite uma participação democrática uma vez que os educandos se envolvem no processo de planejamento, organização e ação da prática educativa. Assim sendo, há uma contribuição com o processo de desenvolvimento de autonomia, cidadania e efetiva aprendizagem e também de afetiva relação com o conhecimento, com educadores e com os educandos entre si. Através da aplicação deste princípio, garante-se a expressão genuína e espontânea dos sujeitos, contribuindo inclusive com a profilaxia das neuroses, efetivando assim, um sujeito saudável em sua plenitude. O princípio da auto-regulação é expressão de uma educação que tem também uma forte dimensão terapêutica.(3)
Adentramos agora na compreensão do conceito de auto-regulação para verificarmos como a educação através deste princípio pode ser a base para uma educação anti-autoritária na escola, sendo efetivamente uma educação para a autonomia e para a democracia.
Segundo Ademar Ferreira dos Santos(4) (2000), uma educação auto-regulada está embasada
“no sentido de que as normas e as regras que orientam as relações societárias não são injunções impostas ou importadas simplesmente do exterior, mas normas e regras próprias que decorrem da necessidade sentida por todos de agir e interagir de uma certa maneira, de acordo com uma idéia coletivamente apropriada e partilhada do que deve ser o viver e o conviver numa escola que se pretenda constituir como um ambiente amigável e solidário de aprendizagem ”(5).
Auto-regulação é capacidade biológica e natural que revela nosso potencial para o desenvolvimento da autonomia. Para Constance Kamii (1990), a essência da autonomia é que as crianças tornem-se aptas a tomar decisões por si mesmas. Mas, segundo esta estudiosa, a autonomia não é a mesma coisa que a liberdade completa e eu digo que também não é a mesma coisa que liberdade plena e absoluta. A autonomia significa levar em consideração os fatos relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. E para isso é preciso ser capaz de ter um contato com suas sensações e percepções auto-reguladoras em seu organismo. Para se viver esse contato é preciso dar lugar e tempo para os interesses e necessidades pulsionais/corporais, para a necessidade de exercer a curiosidade de forma dinâmica, em movimento. O contrário disso gera energia em estase, bloqueada e inerte que gera graves conseqüências para a expressão e aprendizagem dos indivíduos.
Para Wilhelm Reich, auto-regulação é sinônimo de vida. Reich nos mostra que pessoas auto-reguladas são naturais, mais do que morais. Essas pessoas agem baseando-se em suas próprias inclinações e sentimentos internos, ao invés de seguirem de forma obrigatória um código externo ou ordens pré-estabelecidas por outros. Segundo André Barreto (2000), vida é para Reich ação e auto-regulação em busca do prazer. Isso se explica, segundo esse autor, na medida em que o organismo é regido por leis e fluxos naturais que, se devidamente respeitados, permitem ao individuo a realização de suas potencialidades inatas. Se não houver esse respeito, se essas leis e fluxos forem interrompidos, produzem uma desorganização, uma “desfuncionalidade”. Isso pode ser visto na vida dos indivíduos quando na impossibilidade de expressão emocional, em decorrência de uma repressão sexual(6) , o que conduz à neurose e à irracionalidade.
Para Wilhelm Reich, segundo André Barreto (2000), somente a partir dessas descobertas referentes às leis naturais de funcionamento da vida no individuo é que podemos compreender a idéia de uma organização social baseada nos fluxos da natureza humana, pois o respeito a esses fluxos é condição necessária a uma cultura que almeje reconhecer os indivíduos que a compõem. Todo o trabalho de Reich foi no sentido de integrar os processos biológico-naturais aos culturais-sociais, tentando superar a dicotomia natureza e cultura e propor uma relação dinâmica entre individuo e sociedade.
Segundo Zeca Sampaio (2007)
“a capacidade intencional de escolha e de ação é característica essencial e exclusivamente humana e está enraizada nas funções biológicas naturais. A liberdade, na ótica reichiana, é o resultado evolutivo da auto-regulação, função que está presente em todas as formas de vida fundamental ao processo do organismo vivo e que o distingue dos sistemas não-vivos. É a aptidão que o ser vivo possui para administrar suas necessidades sem interferência externa, um principio básico da própria existência da vida. Não se pode pensar em vida sem auto-regulação. A sua falta é o primeiro passo para a doença e a decomposição" (Reich, 1979).
Portanto, auto-regulação(7) significa que um organismo saudável é um sistema regulado em si mesmo no estado de coordenação harmônica entre processos pulsantes em todas as células e órgãos até os movimentos respiratórios e os movimentos pulsantes no reflexo do orgasmo(8) . Esse é um conceito reichiano. Para Reich, biologicamente falando, o orgasmo é uma função auto-reguladora do organismo vivo. Ao estudar a função do orgasmo Wilhelm Reich descobriu a fórmula da vida que se expressa em Tensão-Carga-Descarga-Relaxamento. É uma fórmula que se manifesta no organismo vivo e que mostra a capacidade do organismo de se auto-regular. Para Reich, a função do orgasmo é a função vida em sua força potencial para a plena realização. Sem essa capacidade o organismo padece.
Orson Bean (1973), explica sinteticamente a função do orgasmo: Os seres humanos, da mesma forma que todas as coisas vivas, a partir da ameba, possuem uma energia interna até hoje não revelada. Wilhelm Reich a descobriu e deu-lhe o nome de energia orgônica – do radical da palavra organismo. Essa energia é, de fato, a força vital, fisicamente falando. Energia produzida pela ingestão de alimentos, fluidos e ar e diretamente absorvida pela epiderme. Bean destaca que Reich pesquisou e descobriu que a energia orgônica flui em ritmo constante através de todo o corpo, do alto da cabeça à planta dos pés, num movimento de ida e volta e, nas pessoas naturais e de perfeita saúde, pode ser sentida como uma agradável e quente sensação de saúde e bem estar. Sua eliminação se processa pela atividade, excreção, expressão emocional, pelo processo do pensamento e também ao ser transformada em calor corporal que é irradiado para o meio ambiente. Além disso, atua sobre o crescimento. Em casos normais, essa energia é produzida em proporção superior à que é eliminada. Esse excesso de energia é armazenado para atender a situações de emergência como, por exemplo, a luta ou o trabalho excessivo. Mas, quando não se registra qualquer emergência, a energia continua aumentando para que o organismo se desenvolva continuamente ou venha a perecer eventualmente, a menos que exista um mecanismo qualquer que se encarregue de liberar o excesso da energia acumulada que tenha atingido a determinado nível. Nos indivíduos saudáveis, esse nível se manifesta pela excitação sexual. A produção de energia cria um estado de tensão, e o método criado pela natureza para aliviá-la e regular a sua produção é o orgasmo sexual. A profunda sensação de calma que se segue ao clímax sexual realmente satisfatório é a prova da eliminação dessa tensão. Entretanto, a tensão é liberada e a energia regulada somente quando o indivíduo é capaz de conseguir uma satisfação sexual completa, saudável e amorosa. É inútil a experiência sexual obrigatória ou incompleta. O orgasmo deve ser absolutamente agradável e espontaneamente acompanhado pelo relaxamento total da energia orgônica não eliminada. Essa falta de eliminação faz-se sentir sob a forma de tensão ou desassossego. Num indivíduo saudável, a necessidade de satisfação sexual e eliminação está inteiramente baseada nesse fluxo da energia orgônica.
Portanto, com base em Reich podemos afirmar que o organismo humano vive, pulsa. Ele funciona por si. Tem vida própria e tem mecanismos de auto-regulação que lhe preservam a vida e a homeostase (equilíbrio energético corporal). Nessa mesma perspectiva encontramos o conceito de autopoieses do biólogo Humberto Maturana (2001) que diz que autopoieses é a característica de todo ser vivo de funcionar de dentro para fora. Com base nesse princípio, quando atuamos como educadores na escola, é preciso verificar se os alunos e alunas são capazes de agir com base em suas motivações e gratificações internas sendo capazes de se auto-dirigirem. Verificar se são capazes de expressar interesses genuínos e espontâneos em prol da própria vida e da vida dos seus semelhantes e de tudo o que é vivo, sem pressões internas ou externas. Ou, ao contrário, verificar se agem em prol da vida apenas quando submetidos por pressões externas heterônomas/hetero-reguladoras. A auto-regulação é possibilitada por um entorno acolhedor na organização da aula e no jeito do educador se vincular e se posicionar diante dos alunos. O que significa também colocar limites, mas nunca com violência(9) . É uma forma de trabalhar que acredita que na vida há também uma razão instintiva, que leva os alunos e as alunas a fazerem escolhas embasadas por um saber orgânico e funcional, um saber percebido e compreendido através das sensações corporais. A idéia aqui é a de que as pessoas sabem regular sua função vital e o fazem de forma satisfatória se não forem bloqueadas e impedidas, o que lamentavelmente, é o mais comum de acontecer em nossa cultura educacional, desde o momento do nascimento, onde se inicia o processo de encouraçamento do ser humano provocado por uma educação compulsória, compulsiva e exclusivamente heterônoma que expressa uma pedagogia da dominação/disciplinamento, que tem hegemonicamente dominado a cena de nossa cultura educacional, na família e na escola. Essa cultura a qual estamos criticando ainda acontece na maior parte do tempo para todos, sendo fundamentalmente hetero-reguladora.
A esse respeito vale mais uma vez ouvir o que diz Constance Kamii (1990)
“Todos os bebês nascem desprotegidos e heterônomos. Em condições ideais a criança torna-se progressivamente mais autônoma na medida que cresce e, ao tornar-se mais autônoma, torna-se menos heterônoma. Ou seja, à medida que a criança torna-se apta a governar-se, ela é menos governada por outras pessoas”.
É ainda muito importante observar que mesmo os bebês que são heterônomos porque dependem de muitos cuidados do outro, mantêm sua capacidade de auto-regulação que precisa ser respeitada e protegida para sua saúde. Isso porque, em última instância, por exemplo, a mãe só pode saber se é tempo de amamentar o bebê quando ele chora sinalizando a sensação de fome. É o bebê que sente e expressa o que sente. Quando o bebê não quer mamar ele rejeita o peito da mãe e chora se for forçado. Por mais heterônomo que seja ele já nasce com graus e níveis de auto-regulação básicos que só tendem a se desenvolver mais e mais, se a cultura de criação e educação souber proteger e ler essa capacidade inata do ser vivo humano como uma lei natural da vida que é básica para todo o desenvolvimento e crescimento do ser humano.
Como vemos, o desconhecimento e o desrespeito sobre a auto-regulação ocasiona o que Reich denominou de processo de encouraçamento. Então, expliquemos agora o que é couraça ou encouraçamento: é um conceito estudado por Wilhelm Reich. Couraças ou bloqueios musculares: o movimento ondulatório do fluxo energético, que se movimenta pelo eixo longitudinal do corpo, de cima para baixo e de baixo para cima, é interrompido por grupos de músculos que se ordenam ao longo desse eixo longitudinal, como os anéis de uma armadura: daí a denominação couraças musculares. Os anéis de músculos são unidades de função vegetativa, que servem para bloquear emoções específicas. Segundo Orson Bean (1975), há muitos séculos, o Homem, único entre todos os animais a assim proceder, vem interferindo no processamento de suas funções naturais ao evitar o fluxo, a produção e a liberação de sua energia orgônica. E o fez ao tornar-se incapaz de conseguir satisfação sexual completa, natural e saudável, através de um processo que Wilhelm Reich chama de couraça.
E em termos de couraça de caráter, que é idêntica à couraça muscular, a pessoa moralista possui uma estrutura rígida que o faz desempenhar invariavelmente a mesma conduta, onde que quer que esteja e independente da situação. É isso que o caracteriza enquanto neurótico. Já a pessoa auto-regulada é flexível, isto é, controla sua couraça de modo a adaptar-se à situação, não precisando coibir impulsos proibidos. Antes, a pessoa reconhece e identifica seus impulsos e lida com eles da forma que julgar mais conveniente para si e para o ambiente onde está.
Assim, embasando-se no principio da auto-regulação a escola teria a preocupação de dar todas as condições necessárias para que a criança possa desenvolver seus potenciais a partir de seus próprios interesses e não ser conduzida homogeneamente por interesses exteriores a ela. A proposta pedagógica ancorada no principio da auto-regulação estaria fundamentada no não direcionamento e na crença de que cada um tem o potencial natural de autogerir-se, ou como diria Edgar Morin em sua teoria do pensamento complexo, teria a capacidade de auto-eco-organizar-se. O fundamento dessa pedagogia é o respeito aos ritmos naturais e também é a confiança na vida e no potencial do ser humano para promover o bem-comum e social.
Em meu trabalho como educador, na escola fundamental do Centro Pedagógico(10) da UFMG, com crianças e adolescentes uso o princípio da auto-regulação apresentado da seguinte forma: “da Auto-Regulação/Auto-governo/autoconhecimento: o ser humano funciona, tem vida própria auto-regulada em seu sistema biopsíquico e produz conhecimento sobre si mesmo e sobre a vida. Tudo o que produz e constrói, em última instância, vem de dentro de seu ser que está em permanente sócio-interação com o ambiente”. Neste sentido explicito aos alunos como funcionará nossa aula de Educação Física:
Em nosso trabalho de educação física serão organizados dois momentos distintos, mas complementares e integrados na organização da aula. Estes dois momentos formam o que Reich chamou de par funcional(11) . Hetero-regulação e Auto-regulação formam um binômio integrado e uma unidade dialética. Por isso um momento será heterônomo/hetero-regulador: O professor é o propositor deste momento. É ele quem determina a atividade a ser realizada e como vai ser realizada. O professor deve criar aulas que despertem o interesse dos alunos para que possam participar espontaneamente. Faz isso em comum acordo com os alunos a partir de processo diagnóstico e dialógico/democrático. Neste momento heterônomo/heteroregulador o professor preparará atividade/s a ser/em oferecida/s aos alunos tentando criar e despertar interesse nos mesmos. Os alunos podem participar dela ou não. A participação não é compulsória. Caso algum aluno não possa ou não queira participar, o professor diagnosticará a causa da não participação e dará um encaminhamento junto com o aluno. Dependendo do impedimento dessa participação, o aluno poderá apenas assistir a atividade a ser realizada. Isso vai depender do contexto e das circunstâncias daquele momento. As atividades planejadas pelo professor podem ter caráter prático-vivêncial, teórico-prático ou teórico-reflexivo. Numa mesma aula, podem acontecer os três tipos de caráter. O outro momento da aula é autônomo/auto-regulador: é um momento auto-eco-organizador. Os alunos decidem qual atividade fazer, como e onde fazê-la, considerando limitações de espaço, de tempo e de material disponível. As escolhas e a organização das atividades são movidas pelo que mais apaixona os alunos, seus interesses, desejos, necessidades e motivações. Os alunos, neste momento podem se organizar num único grupo ou em vários grupos, os quais são nomeados como GIME - Grupos de Interesse, Movimento e Estudo. Os alunos podem se agrupar nas aulas por afinidades afetivas ou por afinidades de interesse pelo conhecimento, oportunizando assim a formação desses grupos de trabalho. Neste momento, o professor supervisionará os alunos nas atividades que tiverem escolhido, identificando interesses e necessidades dos alunos com relação à atividade escolhida e os alunos por sua vez deverão comunicar ao professor que tipo de orientação gostariam de receber. Por último vale observar que a ordem de acontecimento dos dois momentos é flexível e determinada por alunos e professor em conjunto. A periodização de conteúdo é flexível e dinâmica e se adéqua aos interesses e necessidades dos/as alunos/as em suas turmas, que são o centro do processo educativo. As aulas são para quem já tem as habilidades iniciais e para quem não tem nenhuma habilidade especifica adquirida. As aulas são para quem já sabe, e para quem não sabe. As aulas são pra quem gosta e para quem não gosta e quer aprender a gostar.
A importância do momento autônomo/auto-regulador na aula se justifica na medida em que para Reich, os jovens que tem motilidade preservada não pensarão de forma rígida e não serão presas fáceis de uma educação alienadora (Sampaio, 2007, p.93). Explicando um pouco melhor: a motilidade é a dimensão energética corporal, é o terreno bioenergético do ser vivo em fluxo, em pulsação livre e desimpedida, um terreno adequado e preparado para o indivíduo sentir-pensar-agir de forma integrada e coerente. É o terreno corporal do ser vivo. Desta forma verificamos que a abordagem reichiana para a educação tem como tarefa central a reestruturação pulsional do ser humano, por meio de uma educação afirmativa das funções vitais (Sampaio, 2007). É só quando o terreno bioenergético está em fluxo e expansão que é possível realizar a socialização dos conteúdos e a efetivação da capacidade crítica. Isso porque a razão humana está enraizada no terreno bioenergético do ser humano. Ou seja, para Reich, a razão é função enraizada na natureza, desenvolvimento especializado da autopercepção. Assim, não se opõe aos processos naturais humanos, mas complementa-os como seu espelho (Sampaio, 2007).
Outra observação importante cabe aqui, para o trato de uma educação com base na auto-regulação: se essa função educativa natural não for preservada e mantida num bom nível, qualquer tentativa de trabalhar autonomamente poderá resultar em inércia, rebeldia, vandalismo, favorecendo a permanência da educação autoritária, que encontrará assim justificativa para seus argumentos de uma educação disciplinadora e exclusivamente heterônoma (Garcia, 2006). Por isso é que devemos perceber que a educação baseada na auto-regulação, idealmente falando, deve iniciar-se no começo da vida e quanto mais tardiamente ela se iniciar mais paciência teremos que ter com os alunos, num processo de resgate e reestruturação dessa capacidade natural.
Portanto, auto-regulação é uma condição biológica da espécie humana. É a capacidade que temos de autodeterminar nossa vida, direcionar nossa vida segundo padrões próprios, desejos e pulsões que sentimos e determinamos como sendo mais ou menos satisfatórios para nós. A auto-regulação é a expressão espontânea de um ser de couraça flexível que se expressa espontaneamente, sempre no sentido da busca do prazer (que é a pulsação do ser vivo, num movimento fluido de contração-expansão biológica), que é sentido organicamente. Educar pelo principio da auto-regulação é conduzir o modo de educar as crianças dando a elas a oportunidade de satisfazer seus impulsos primários segundo seus desejos, evitando que se transformem em impulsos secundários pervertidos. Impulsos primários na criança são a fome, o sono, as necessidades fisiológicas, o movimento, a curiosidade/conhecimento, a expressão livre e espontânea de emoções e sentimentos como tristeza, raiva, medo, alegria e amor, por exemplo. Quando os impulsos primários não podem ser satisfeitos pelo menos em parte, a criança busca outros caminhos e canais para satisfazer-se, mas é nesse percurso que surgem as defesas de caráter, as “indisciplinas”, os atos de violência, os sintomas, as biopatias e as psicopatologias, as fugas de si mesmo e da vida, como por exemplo, o refúgio na comida, na mentira, no roubo, as tensões corporais crônicas, os vários tipos de comportamento (violento, sádico, submisso, individualista, egocêntrico). Inicia-se então o processo de fixação/cristalização das couraças que determinarão cada tipo de caráter (esquizóide, oral, anal, psicopata, masoquista e rígido)(12).
A auto-regulação baseia-se na idéia de funcionalidade dos fluxos naturais e no respeito aos ritmos orgânicos, de modo que cada indivíduo possa desenvolver-se naturalmente, isto é, seguir seu próprio movimento na relação com o meio. Diante disso fica claro que cabe à cultura criar todas as condições necessárias para esse diálogo entre o interno e o externo. E por isso Reich dizia e tinha consciência de que tudo depende da cultura. Chegou a afirmar que uma verdadeira cultura só surgiria quando se respeitasse a dimensão de animalidade do homem, o que por nós é traduzido por sua condição de natureza biológica pulsional auto-reguladora.
Para Reich a auto-regulação deve ser posta em prática desde o nascimento das crianças, de modo a permitir-lhes a expressão sincera de seus sentimentos. Trabalhar com o principio da auto-regulação é preservar a natureza e a essência da vida (pulsação energética biológica) e é o ponto de partida para a educação de crianças, abrindo campo para uma pedagogia que respeite as características do desenvolvimento de cada um.
A reflexão reichiana em torno do estudo da auto-regulação quer dizer que a essência humana é primariamente boa e amorosa, a qual se expressa através da generosidade e do amor natural do ser humano para com a vida. Nessa perspectiva as crianças são naturalmente sensatas, realistas, boas e criativas se não forem deformadas pela cultura e educação moralista e repressiva, conforme nos ensina a teoria da psicologia sócio-política de Wilhelm Reich.
Educar pela auto-regulação é saber que as pessoas são capazes de entrar em contato direto com seus sentimentos e expressá-los o mais livre e autenticamente possível. Assim, segundo André Barreto (2000) o cuidado com o universo do sentimento é fundamental para o desenvolvimento sadio de qualquer ser humano, motivo pelo qual a perspectiva de uma filosofia e pedagogia intelectuais é nociva. Deveriam elas sim favorecer o cultivo dos afetos, já que lidar com os próprios sentimentos é algo tão passível de aprendizado quanto o cálculo numérico ou a fisiologia do corpo humano.
E para lidar com os afetos é preciso aprender a lidar com frustração e satisfação pulsional. Segundo Paulo Albertini (1994), para Wilhelm Reich, em toda a educação da criança(13) existe uma relação entre frustração e satisfação pulsional. Para ele a mais adequada maneira de educar uma criança é aquela onde ocorrem frustração e satisfação pulsional parciais. O que a caracteriza é a presença da ação educacional frustrante sem uma conseqüente inibição pulsional completa. Um rápido exemplo: quando uma mãe ou pai não pode satisfazer um desejo da criança, diante da frustração deve ser permitido a ela chorar. Assim ela foi frustrada, mas pode expressar seu sentimento diante da frustração, o que lhe garante saúde energética e emocional.
Segundo Paulo Albertini (1994), para Wilhelm Reich, auto-regulação quer dizer que a vida orgânica do ser humano é sábia e sabe criar melhor do que ninguém as suas necessárias formas de existência e é o desconhecimento do ser humano a esse respeito que criam todas as dificuldades e encouraçamentos que indicam que o ser humano não aprendeu a ver o que está diante de seus próprios olhos: a sábia natureza da vida expressa no próprio corpo do ser humano, indicando-lhe como a vida funciona e como deveria ser conduzida pela cultura humana.
A educação baseada na auto-regulação nos faz refletir sobre a relação natureza e cultura em nosso contexto ocidental: há um tipo de pensamento em nosso meio intelectual que acredita que a cultura domina a natureza e que é superior à natureza. Uma intelectualidade que diz que a cultura pode tudo diante da natureza. Isso foi e continua a ser um dos maiores erros de nossa cultura humana. Na verdade, hoje, ainda mais do que ontem, os ecologistas estão nos mostrando que a natureza tem primazia sobre a cultura. A natureza é a base material para a existência da cultura, é o chão onde a cultura pode nascer, crescer e se desenvolver. A força da natureza é capaz de exigir que a cultura se repense, se transforme, mude sua perspectiva sob pena inclusive de não poder existir mais cultura. Chega um momento que o desrespeito da cultura pela natureza é tamanho que a natureza simplesmente responde de modo que nós podemos perceber que ela não está nem aí para a cultura humana, porque sua finalidade é manter a vida planetária e cósmica e se os humanos ameaçam a vida, podem ser dizimados, assim como já aconteceu historicamente com outras espécies sobre a face da Terra.
Por isso, auto-regulação é a função educativa natural, a lei natural fundamental para nossa existência, e a boa cultura é a que respeita e preserva essa lei.
Parte III – A EDUCAÇÃO DO FUTURO EMERGE DO PRESENTE
Reich preocupou-se com o futuro da humanidade. Desejou e lutou para que as crianças do futuro tivessem uma condição e uma nova realidade de vida. Sinto e vejo que todo esse movimento que acontece em torno da Educação Democrática e ao qual tenho a alegria de estar me integrando, estão contribuindo com a utopia reichiana assim como a utopia reichiana está na raiz dos movimentos libertários em educação. Há cada vez mais presente em nosso presente essa força viva por uma educação libertadora. Como diria Reich, a força da vida prevalecerá contra as forças que reprimem a vida, mesmo que isso seja um processo muitíssimo demorado, talvez de séculos. Portanto, precisamos de sabedoria e sensibilidade para essa missão. Precisamos flexibilizar nossas couraças, fruto de todas as formas de autoritarismo, fazendo prevalecer o amor, o trabalho e o conhecimento, que segundo Reich, são as fontes da vida, e que deveriam também governá-la. Que nossas ações sejam as pontes para que essas fontes nos governem nessa direção humanizadora da vida e das pessoas. Que nossas ações sejam sabedoria poética a exemplo da sensibilidade de Ademar Ferreira dos Santos (2000) que nos mostra os sentidos de uma educação auto-regulada.
“Não cobiço nem disputo os teus olhos
não estou sequer à espera que me deixes ver através dos teus olhos
nem sei tampouco se quero ver o que vêem e do modo como vêem os teus olhos
Nada do que possas ver me levará a ver e pensar contigo
se eu não for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo
Não me digas como se caminha e por onde é o caminho deixa-me simplesmente acompanhar-te quando eu quiser
Se o caminho dos teus passos estiver iluminado
pela mais cintilante das estrelas que espreitam as noites e os dias
mesmo que tu me percas e eu te perca
algures na caminhada certamente nos reencontraremos
Não me expliques como deverei ser
quando um dia as circunstâncias quiserem que eu me encontre
no espaço e no tempo de condições que tu entendes e dominas
Semeia-te como és e oferece-te simplesmente à colheita de todas as horas
Não me prendas as mãos
não faças delas instrumento dócil de inspirações que ainda não vivi
deixa-me arriscar o molde talvez incerto
deixa-me arriscar o barro talvez impróprio
na oficina onde ganham forma e paixão todos os sonhos que antecipam o futuro
E não me obrigues a ler os livros que eu ainda não adivinhei nem queiras que eu saiba o que ainda não sou capaz de interrogar
Protege-me das incursões obrigatórias que sufocam o prazer da descoberta
e com o silêncio (intimamente sábio) das tuas palavras e dos teus gestos
ajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha própria vida”
Bibliografia
ALBERTINI, Paulo. Reich: história das idéias e formulações para a educação. Editora Ágora, 1994.
ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Papirus, 2000.
ALVES, Rubem. Por uma educação romântica. Editora , 2002.
BARRETO, André. A revolução das paixões: a psicologia política de Wilhelm Reich. São Paulo: Annablume: FAPESP, 2000.
BEAN, Orson. O milagre da Orgonoterapia. Artenova, 1973.
BELTRÃO, Ierecê Rego. Corpos dóceis, mentes vazias, corações frios. Didática: o discurso científico do disciplinamento. São Paulo: Editora Imaginário, 2000.
BUSETTI, Gemma Rocco et al. Saúde e qualidade de vida. Editora Peirópolis, 1998.
CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2002.
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(1)Uma primeira versão deste artigo, diferente no formato (sem organização por partes), no título (Educação pela autonomia através da auto-regulação: uma perspectiva reichiana), na introdução e na conclusão, foi publicada na Revista Escritos sobre Educação do Instituto Superior de Educação Anísio Teixeira/Fundação Helena Antipoff, no primeiro semestre de 2006.
(2)BEAN, Orson. O milagre da orgonoterapia. Editora Artenova, 1973.
(3)A respeito da dimensão terapêutica na educação sugiro a leitura de: GUERREIRO, Laureano. A educação e o sagrado: a ação terapêutica do educador. Editora Lucerna, 2003.
(4)Este autor fez o prefácio do livro de ALVES, Rubem. A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Papirus, 2001. Ver bibliografia.
(5)Grifo meu para destacar a idéia de auto-regulação.
(6)Para Reich, repressão sexual não se refere só à repressão do sexo ou do ato sexual, mas se refere à repressão da potência de vida, nossa potência de extrair da vida a plena satisfação, isso porque a energia sexual é a mesma energia de vida.
(7)Esta síntese foi produzida muito particularmente a partir da leitura de ALBERTINI, Paulo. Reich, história das idéias e formulações para a educação. Ágora, 1994.
(8)Reflexo do orgasmo é a fase da relação sexual em ocorre o pico de excitação quando os movimentos corporais durante o ato sexual deixam de ser voluntários e passam a ser involuntários, proporcionando a descarga amorosa-sexual completa.
(9)Ver sobre auto-regulação em crianças no livro: REICH, Eva. Energia vital pela bioenergética suave. Summus, 1998.
(10)Explicito que o Centro Pedagógico não é uma “Escola Democrática” aos moldes do que se denomina “Educação Democrática” que se baseia na não obrigação às aulas e nas assembléias regulares e permanentes entre educandos e educadores sem hierarquia. Mas apesar disso há abertura para que meu trabalho com a Educação Física inspire-se na Pedagogia Libertária, na Escola Democrática, nas Teorias Bioenergéticas de Wilhelm Reich e Alexander Lowen.
(11)Par funcional é um conceito da teoria reichiana. A pulsação biológica é expressa num movimento de contração e expansão; o coração funciona em sístole e diástole, o organismo humano funciona com base na auto-regulação em interação com a heteroregulação, que é a ação do agente cultural externo de cuidar e zelar pela vida. A auto-regulação é nata ao organismo, enquanto a heteroregulação é aprendida no seio da cultura humana. Por isso a ação heteroreguladora tanto pode preservar a capacidade de auto-regulação e se harmonizar com ela quanto pode deformar essa capacidade e produzir tensões no organismo, produzindo conseqüências negativas no funcionamento da vida.
(12)Terminologia usada por Alexander Lowen criador da abordagem psicoterapêutica denominada Análise Bioenergética.
(13)Sugiro também, REICH, Wilhelm. Crianças do futuro. Material mimeografado, de posse do autor deste texto.
Leonardo José Jeber é professor de Educação Física da Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG-Centro Pedagógico; Mestre em Educação/UFMG; Membro do NEPPCOM – Núcleo de Estudos e Pesquisa do Pensamento Complexo (FaE-UFMG); Terapeuta em Análise Bioenergética, pela Associação Brasileira de Análise Bioenergética de Belo Horizonte; Assessor pedagógico do Colégio Neusa Rocha/Instituto Educacional Rouxinol.
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