“O verdadeiro socorro a prestar aos miseráveis é a abolição da miséria”. Victor Hugo, romancista francês
[EcoDebate] O noticiário sobre desigualdades sócio-econômicas, em escala mundial, não deixa espaço para dúvida: o mundo está cada vez mais desigual e menos fraternal.
De fato, parece que o mundo está de cabeça para baixo – The world turned upside down, como diz a letra do Coldplay, e como também foi intitulado o último relatório sobre desigualdades publicado pela prestigiosa The Economist, em abril último. Os números que corroboram esse triste cenário merecem reflexão: um em cada dois seres humanos vive com menos de dois dólares diários; um em cada três não têm acesso à eletricidade; um em cada cinco não têm acesso à água potável; um em cada seis é analfabeto. Um adulto em cada sete e uma criança em cada três sofre de desnutrição. A cada cinco segundos uma criança morre de fome no mundo; embora haja terras férteis para o cultivo dos alimentos, pois, apenas como exemplo, o plantio destinado para produzir alimentos para o gado nos Estados Unidos é de 64% da quantidade de terras próprias, ao passo que a produção de frutas e alimentos ocupa apenas 2%. Na somatória, resulta que uma pessoa a cada sete padece de fome no mundo que reproduz esse paradigma norte-americano. Enquanto o consumo de alimentos cresce para uma parte da população mundial, outra parte se vê completamente alijada desse banquete: simplesmente 20% da população mundial – ou uma em cada cinco pessoas – está excluída do crescimento do consumo.
Isso afeta a continuidade da vida: nada mais do que 300 milhões de pessoas no mundo têm uma expectativa de vida inferior a 60 anos, em parte pela má alimentação e por conta de patologias decorrente dessa má alimentação. Trinta e cinco por cento da população mundial não têm energia e proteínas suficientes em sua dieta. No mundo há 2 bilhões de pessoas anêmicas, incluídos 5,5 milhões que habitam os países do capitalismo avançado.
No entanto, enquanto a fome e suas seqüelas vitimam considerável parte da população, do outro lado da história a opulência dá um colorido especial a alguns “privilegiados”. Note-se que apenas quatro cidadãos norte-americanos – Bill Gates, Paul Allen, Warren Buffet e Larry Ellyson – poucos anos atrás concentravam em suas mãos uma fortuna equivalente ao PIB das 42 nações mais pobres, que totalizam uma população de mais de 600 milhões de estômagos vazios e bocas esfaimadas.
A desigualdade mundial aponta que 80% da riqueza mundial está nas mãos de 15% de “privilegiados”. Disso decorre o consumo suntuoso, conspícuo no linguajar dos economistas. Exemplo? O consumo anual de cigarros, apenas na Europa, gira em torno de 50 bilhões de dólares. As diversas bebidas alcoólicas, também na Europa, atingem gastos de 105 bilhões de dólares ao ano. Somente nos EUA, o gasto anual em cosméticos atinge 8 bilhões de dólares. O consumo de drogas no mundo faz girar, em cálculos “otimistas”, a importância de 400 bilhões de dólares a cada ano.
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e acordo com o International Institute for Strategic Studies, o dinheiro que o mundo (em especial os países ricos, com destaque ao país administrado por Barack Obama) destina aos gastos militares durante onze dias daria para alimentar e curar todas as crianças famintas e enfermas do planeta. Onze dias apenas são suficientes para o mundo conhecer a face da fraternidade. Para os agressores, os que comandam esse processo de intensa desigualdade, sobram 354 dias para o “nobre” ofício de matar.
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e acordo com o International Institute for Strategic Studies, o dinheiro que o mundo (em especial os países ricos, com destaque ao país administrado por Barack Obama) destina aos gastos militares durante onze dias daria para alimentar e curar todas as crianças famintas e enfermas do planeta. Onze dias apenas são suficientes para o mundo conhecer a face da fraternidade. Para os agressores, os que comandam esse processo de intensa desigualdade, sobram 354 dias para o “nobre” ofício de matar.
Especialistas no assunto acreditam que 200 milhões de dólares (menos de vinte vezes o que se gasta com sorvetes ao ano apenas na Europa) ou o que as forças armadas gastam em apenas três horas de “bom trabalho” dizimando inocentes, poderiam exterminar (para usar um termo comum aos países bélicos) doenças como difteria, coqueluche, tétano, sarampo e poliomielite que, juntas, matam 4 milhões de crianças por ano.
É por essas e outras que o mundo está cada vez mais desigual, mais injusto e selvagem. Até quando resistiremos tamanha agressão contra o maior de todos os princípios: a vida?
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP). Colunista dos sites: “O Economista” e “Portal EcoDebate”. Contribui ainda com a Agência Zwela de Notícias (Angola) e com o Notícias Lusófonas (Portugal).
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EcoDebate, 04/08/2010
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