[EcoDebate] Estamos, permanentemente, expostos a um ‘oceano’ de contaminantes químicos, sobre os quais pouco ou nada sabemos. Incontáveis produtos químicos estão presentes em tudo que usamos, das embalagens de alimentos aos produtos de limpeza. Sem falar dos conservantes presentes nos próprios alimentos.
E, exatamente porque os produtos químicos estão presentes em tudo que usamos, também acabam presentes na água e nos alimentos que consumimos. Contaminamos o planeta com incontáveis produtos químicos, o que, por sua vez, também nos contamina.
Nos últimos anos, diversas pesquisas apontam a toxidade de diversos destes produtos, como amplamente demonstrado nos ftalatos e no bisfenol-A (BPA) , contra os quais crescem as campanhas para sua total abolição.
Dois artigos, em particular, foram chocantes o suficiente para me conscientizar do problema e me engajar na socialização das informações cientificas relativas à contaminação cotidiana. Foram os artigos “The illness in Planet Earth” , de James Lovelock e “agrotóxicos: O holocausto está aqui, mas não o vêem”, de Graciela Cristina Gómez.
Por algum motivo, a contaminação química é um tema tabu no Brasil. É raramente discutido, analisado ou pesquisado, mesmo nas universidades públicas.
A grande mídia, em especial, guarda um silêncio obsequioso sobre o tema, mas a mídia especializada também se mantém à distância do assunto. Ocasionalmente o tema é tratado na mídia independente e em alguns blogs.
Não sou defensor de teorias conspiratórias, mas é bom lembrar que as indústrias químicas e farmacêuticas são grandes financiadoras dos centros de pesquisa e universidades. Além de serem grandes anunciantes da grande mídia. Daí ao silêncio é um passo…
O silêncio apenas aumenta a ameaça da contaminação química cotidiana porque, se nada sabemos, nada podemos fazer para nossa proteção, nem mesmo podemos pressionar para que a segurança química seja uma prioridade nas políticas públicas.
Vejamos o exemplo dos agrotóxicos organoclorados, décadas atrás anunciados como uma grande contribuição para a ‘revolução verde’. Depois de décadas e incontáveis estudos sobre sua grande toxidade, com graves danos à saúde, eles foram abolidos na maior parte do mundo.
Foram abolidos e tudo bem, não se falou mais no assunto. A indústria não se responsabilizou por qualquer dano que tenha causado ou por pelas vidas que foram perdidas.
Este é o procedimento padrão da indústria para todos os agrotóxicos que já foram retirados do mercado pelos seus danos à saúde.
Uma das maiores reservas em relação aos transgênicos está no fato de que são produzidos pela mesma indústria que produz os agrotóxicos. Por que ela se responsabilizaria pela segurança dos transgênicos se nunca se responsabilizou pelos agrotóxicos? É o que acontecerá e quem viver verá…
Voltando aos organoclorados, uma importante tese [Ocorrência de compostos organoclorados (pesticidas e PCBs) em mamíferos marinhos da costa de São Paulo (Brasil) e da Ilha Rei George (Antártica)] de Gilvan Takeshi Yogui, descreve claramente que “os compostos organoclorados causam grande impacto na natureza devido a três características básicas: persistência ambiental, bioacumulação e alta toxicidade. Os mamíferos marinhos estão entre os organismos mais vulneráveis à toxicidade crônica desses contaminantes porque, além de concentrá-los em grande quantidade, a fêmea transfere parte de sua carga ao filhote durante a gestação e a lactação”.
O mesmo, em outras pesquisas, foi identificado em todos os mamíferos, inclusive os humanos.
Mais recentemente, um novo estudo [Persistent Organic Pollutant Residues in Human Fetal Liver and Placenta from Greater Montreal, Quebec: A Longitudinal Study from 1998 through 2006], publicado na Environmental Health Perspectives, Volume 117, Number 4, April 2009, demonstra que os POPs (poluentes orgânicos persistentes) ainda são identificados em fetos e placenta, mesmo após 5 anos de seu total banimento na América do Norte.
O mesmo tipo de silêncio impera para todos os produtos químicos que estão presentes na nossa vida e, certamente, com influência em nossa saúde.
Uma boa e direta maneira de demonstrar isto é fazer um rápido apanhado do que já publicamos sobre o assunto. Relacionamos apenas 40% do conteúdo próprio publicado, o que já demonstra o volume de informações que não circularam na grande mídia.
Vejamos alguns casos.
Novas pesquisas dizem que o bisfenol-A (BPA) pode provocar danos permanentes no cérebro das crianças
Esta é uma pequena amostragem e, mesmo assim, uma amostragem assustadora.
Igualmente assustador é perceber que estas informações são diligentemente negadas à sociedade, tanto pelas autoridades, como pela indústria e a grande mídia.
A contaminação química é um problema de saúde pública e como tal deve ser tratada.
A sociedade deve cobrar, com firmeza, que as autoridades e a indústria sejam responsáveis, civil e criminalmente, pela segurança de todos os compostos químicos que estão presentes na nossa vida.
Se isto não for rigorosamente observado, estaremos condenados a ‘sobreviver’ em um planeta cada vez mais tóxico.
Henrique Cortez, ambientalista e coordenador do portal EcoDebate
henriquecortez{at}ecodebate.com.br
EcoDebate, 11/08/2010
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