O interesse do humanismo pela História não é novo. Mas a especial atenção que o novo humanismo, universalista, está emprestando hoje à história evolutiva universal (Mega-historia), parte de considerar a esta uma ciência útil para a tomada de consciência de três momentos muito significativos para o indivíduo e a sociedade atual:
1. A direção espiralada e crescente do desenvolvimento humano sobre a Terra.
Precisamente espiralada e crescente. Muitos são hoje os que pensam que a
humanidade esta em queda, escorregando para o abismo... Outros vem à história
como um círculo de repetições, do qual há milênios não se encontra a saída. Em nossa opinião, ambas visões não são mais que produto do temor.
A história nos amostra como, nos momentos de crises das civilizações,
prevalece na sociedade a visão catastrófica do futuro. Mas, a ciência e especialmente a história evolutiva universal, podem e devem mostrar à gente como, de todas
as crises vividas, mesmo das mais profundas, sempre o ser humano encontrou a
saída e continuou seu caminho ascendente. As investigações do Prof. A.
Nazaretyan respeito das crises civilizatórias universais têm neste sentido
um valor fundamental.
2. A necessidade de uma profunda revisão dos modos de relação do homem
com seus cohabitantes: animais, vegetais e minerais, do mundo terrestre.
Não só é necessário revisar a fundo o sistema de relações sociais, transformando
as atuais relações de domínio e competição em relações de colaboração e
complementação. Também é fundamental desenvolver uma verdadeira consciência
ecológica, em termos de uma ecologia social que compreenda ao ser humano em
inter-relação construtiva e co-evolutiva com os mundos animal, vegetal e mineral.
3. A possibilidade iminente de um verdadeiro salto evolutivo da espécie humana para um novo nível, de consciência e de organização social.
As investigações do Prof. A. Panov respeito do ponto de bifurcação ao que há
chegado a espécie humana na sua evolução, desde o surgimento mesmo da vida
sobre a Terra até hoje, e do humanismo como condição necessária para o
avanço para um novo estádio de complexidade da civilização, demonstram com
rigorosidade científica a iminência deste salto inédito para a história humana.
Em nossa opinião, a direção que tome o processo evolutivo a partir deste
ponto, depende como nunca antes da intencionalidade, da íntima eleição do
ser humano. Precisamente, o curso futuro da evolução humana depende de que os avanços científico-tecnológicos contemporâneos e sua extraordinária potencialidade sejam utilizados para a eliminação da dor e o sofrimento em todos os seres humanos, e não em função dos interesses egoístas de indivíduos e setores.
Os humanistas estamos convencidos que a humanidade se encontra no final de
um escuro período da história e começa a conformar-se, pela primeira vez, uma
nação humana universal.
Em nossa opinião, o salto qualitativo para um novo nível de desenvolvimento do ser
humano começa a desenhar-se hoje em diversas hipóteses:
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A. A indubitável aceleração do progresso científico-tecnológico, especialmente nos campos das tecnologias informacionais e a biotecnologia.
A modo de exemplo podemos citar:
Informática: a capacidade e velocidade de processamento da informação
possibilita hoje, tanto regular automaticamente o curso das naves espaciais que
atravessam o sistema solar, como moldar complexos processos naturais; por
exemplo, as funções do genoma humano. E a potência de processamento
informático continua a se duplicar bianualmente.
Internet: o desenvolvimento da rede ampliou enormemente as possibilidades de
comunicação do ser humano; criou as condições para o trabalho em equipe
em tempo real, sem importar a localização física das pessoas; possibilitou a
formação de comunidades virtuais nas mais diversas atividades, a criação
de um gigantesco banco de dados mundial sobre todos os campos da atividade
humana ao que qualquer cidadão tem acesso, a multiplicação de pontos de
vista sobre os eventos humanos graças ao acelerado desenvolvimento dos
meios alternativos de informação.
Fotografia e vídeo digital: se abriu, por uma parte, a possibilidade de modificar e
até criar imagens da "realidade" perceptual, inclusive em tempo real. Por outra parte, em combinação com Internet, é possível uma pessoa transmitir para outra o que está
vendo em qualquer ponto do planeta.
Nos exemplos mencionados pode advertir-se o surgimento da possibilidade tecnológica de ampliar, não só a memória social disponível e acessível para cada
indivíduo, mas também as capacidades perceptuais e de representação da
realidade, para qualquer pessoa, em qualquer lugar, em tempo real. Tudo isto
mostra uma clara tendência para a integração em um nível superior das capacidades psicológicas individuais - desde o "eu" para o "nós" – sem perder, e tem mais, aumentando a diversidade interna no novo nível.
Por outra parte, os surpreendentes avanços em biotecnologia. Para citar só um
exemplo: recentemente no Japão aconteceu a primeira experiência de
clonagem seriada de um touro reprodutor, conseguindo 350 mil exemplares do
mesmo. Assim como os avanços em agronomia e zootécnica multiplicam
logaritmicamente a capacidade de produção de alimentos, também a genética está
criando condições para um verdadeiro salto qualitativo no campo da saúde humana.
B. A progressiva conscientização da extrema necessidade de formas novas, qualitativa e eticamente superiores, de construção sócio-política e econômica, em diversos círculos sociais e cientistas, tanto nos países em vias de desenvolvimento como nos assim chamados "desenvolvidos". Formas tais que possibilitem, não só a sobrevivência, mas a elevação geral do nível de vida da humanidade e a eliminação dos problemas de guerras, fome, miséria e morte precoce em todo o planeta, para o qual já há condições tecnológicas suficientes. De acordo a diversos análises de modelação matemática, o nível científico-tecnológico atual da humanidade é suficiente para garantir um adequado nível de vida a mais de 15.000 milhões de habitantes.
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C. A fratura morfológica sofrida no sistema valorativo que orientou até hoje a conduta humana e sua substituição por um novo sistema. A não-coincidência entre a representação interna do "alto" como um espaço onde atuam seres dotados de sabedoria, força e bondade, e a realidade social percebida, na qual cresce dia a dia a desconfiança na capacidade e intenção dos "poderosos" de resolver os problemas que sofrem as maiorias, criou um grande vazio e desorientação em conjuntos e indivíduos. Vazio que começa a ser preenchido por um novo sistema de referência que destaca o significado do "profundo". O "profundo" nos refere ao sentido, o reflexivo, o comprometido, o humanizante, ao sagrado no mais amplo sentido da palavra. Esta nova morfologia
valorativa ressoa plenamente com a de conceitos tais como redes, interatividade, comunidade, auto-regulação, auto-organização, que estão começando a transformar o horizonte social.
D. Os signos do surgimento de uma nova espiritualidade -que não só se opõe à guerra e à violência física em geral, mas também à violência religiosa, racial, econômica, sexual, psicológica e moral, consagrando ao ser humano e seu futuro como valor máximo- começam a advertir-se em grupos sociais das mais diversas latitudes, culturas e crenças. Nunca antes na história se produziram tantas e tão numerosas manifestações contra da violência, sendo em muitos casos simultâneas, em grande quantidade de países e culturas, como o foi contra a invasão do Iraque.
Também podem observar-se os indicadores de um novo estado de consciência
em eventos sociais tão diversos como: a "revolução de veludo" de Praga em 1989, as greves gerais da França em 1995, a rebelião popular de Argentina em finais de 2001 ou o blecaute geral em Nova York em agosto 2003. Comparando os relatos de quem participaram deles, além da atitude geral de não-violência, encontramos chamativas coincidências nas descrições psicológicas do experimentado: "foi como se o tempo se houvesse detido", "a inexplicável alegria de estarmos juntos", "senti como se todas as barreiras que me separavam dos demais se houvessem dissolvido ", "uma comovente e
desinteressada solidariedade corria entre todos"... Estes indicadores de estados de
consciência não habituais, que tradicionalmente estiveram vinculados à
experiência pessoal de místicos, crentes ou pessoas em situações extremas
(por exemplo, cosmonautas em condições de ingravidade), começam a
manifestar-se na consciência coletiva, em determinadas condições.
Por outra parte, os humanistas consideramos que não falta muito para que se produzam descobrimentos que mostrem a existência de vida em outros planetas de nossa Galáxia. O número de estrelas com sistemas planetários descobertas nos últimos 10 anos já supera as 100; em uma delas, a Cancri-55 da constelação de Câncer, astrônomos americanos acabam de descobrir um quarto planeta com condições similares às terrestres.
Estamos convencidos também das grandes mudanças que estes descobrimentos
produzirão na cosmovisão e no comportamento social de nossa espécie; como
sucedeu já na história, cada vez que nos aventuramos ao desconhecido
para descobrir novos mundos.
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As primeiras sacudidas se produziram já a finais da década do 60, no século
passado. Primeiro, quando os astronautas da nave espacial Apolo-8 transmitiram para a Terra a primeira imagem da Terra vista desde fora, flutuando no
cosmos com milhões de estrelas ao fundo (dezembro 1968); a segunda, quando
todo o planeta assistiu pela televisão à primeira pisada de um ser humano
sobre a superfície lunar (julho 1969). Não é difícil imaginar a repercussão que
terão os primeiros sinais certos de vida fora da Terra.
Por tudo o anterior e para finalizar, nos parece que o estudo da história
evolutiva universal nas universidades e escolas, da Rússia e tomara de todo o
planeta, é uma iniciativa útil e oportuna. E dizemos estudo e não ensino. Por
quanto ficaram completamente desatualizados as propostas de "como deve
ser" uma pessoa, "que deve saber" e "como deve comportar-se" um menino, um jovem,
um profissional, um adulto em geral; colocações que ainda caracterizam os
sistemas educativos em vigência. Hoje é evidente que as novas gerações ensinam a seus pais a utilizar as novas tecnologias. Em breve eles, crianças e jovens, começarão também a ensinar aos adultos um novo afeto e uma nova compreensão .
Por isto, mais adequado parece hoje perguntar-se: como pode cada ser humano
aprender a desenvolver coerentemente, sua enorme paleta de qualidades
intelectuais, emocionais, físicas e espirituais; adquirir uma visão processual da
vida; tomar plena consciência do lugar que ocupa no curso evolutivo de sua
espécie; aprender a moldar o futuro.
Para sermos capazes de enfrentar as exigências, as visíveis e as imprevisíveis, dos
novos tempos. Para sermos capazes de "encontrar o Sentido, tantas vezes perdido
e tantas vezes reencontrado nos recantos da História" .
Os humanistas estamos trabalhando para fazer nosso aporte nessa direção.
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