Rumo à racionalidade ambiental
Enrique Leff
Mais além da rejeição à mercantilização da natureza, é preciso desconstruir a economia realmente
existente e construir outra, baseada em uma racionalidade ambiental. O que significa isto? A frase
parte de uma constatação: a causa fundamental da crise ambiental, da degradação ecológica e do
aquecimento global, é o processo econômico que atua como motor gerador de entropia, que
acelera a morte do Planeta. Além disso, não é possível decrescer mantendo a mesma estrutura da
economia, que impulsiona esta a continuar crescendo, incrementando seu consumo entrópico da
natureza e destruindo as bases de sustentabilidade da própria economia e da própria vida. Se
estas afirmações são corretas, surge a pergunta sobre a possibilidade de recompor a economia,
agregando-lhe normas ecológicas, inovações tecnológicas e contrapesos distributivos. Em outras
palavras, é possível reequilibrar a economia dentro da própria racionalidade – teórica e
instrumental, econômica e jurídica – que a constituiu? Da contradição entre economia e
ecologia, desse impossível que seria o “desenvolvimento sustentável”, surge a
inquietação de saber se outra economia é possível, se é possível criar outra racionalidade
produtiva, baseada em outros princípios produtivos e em outros valores sociais. Há mais de três
décadas propomos uma reconstrução da economia baseada no principio de uma produtividade
ecotecnológica sustentável, em uma racionalidade produtiva assentada nos potenciais da ecologia,
da produtividade tecnológica e da criatividade cultural. Esta conjunção de processos suplantaria
uma economia baseada no capital, no trabalho e na tecnologia como fatores fundamentais da
produção, que desconheceram a trama ecológica que constitui as condições de sustentabilidade da
economia e que exteriorizaram e desvalorizam a natureza, para coisificá-la e convertê-la em
recursos naturais, em matéria-prima, em objetos de trabalho, em simples matéria e energia que
alimenta o processo produtivo. O conceito de entropia procede da termodinâmica: a quantidade de
energia livre que se pode transformar em trabalho mecânico diminui de forma irreversível com o
tempo. A transição para a sustentabilidade implica passar de uma economia entrópica para uma
neguentrópica, isto é, baseada no princípio da vida: na capacidade fotossintética do Planeta, na
organização ecológica de cada ecossistema e na organização cultural de cada território de vida.
Isso levaria a um balanço entre entropia e neguentropia nos processos produtivos.A racionalidade
ambiental orienta para a construção de uma economia baseada na fotossíntese, que transforma a
energia solar em biomassa. Mas não é simplesmente uma economia solar baseada em um uso
mais intensivo de tecnologias e coletores solares. Trata-se de aproveitar o princípio de
produtividade neguentrópica, para magnificá-la por meio da organização ecossistêmica do Planeta,
e de orientar as inovações para tecnologias adaptadas à conservação produtiva e à oferta
ecológica dos ecossistemas. Por outro lado, tampouco seria uma economia que teria passado da
eficiência tecnológica para a ecoeficiência. Não é uma economia regida por uma racionalidade
ecológica, mas por outros princípios e valores. Uma economia baseada na produtividade ecológica
é a do cuidado com a natureza, que enlaça a natureza, como fonte de vida e de produção, com
uma ética e uma estética da natureza. É o passo de uma mitificação e adoração do natural para
uma consciência de nossa natureza humana e uma ética da responsabilidade para a vida. A
reconstrução da economia é um processo de resignificação da vida e da existência humana. A
construção da sustentabilidade não é, portanto, uma simples gestão ecológica dos potenciais
produtivos naturais. Implica numa reapropriação da natureza, e não apenas uma reapropriação
produtiva. A criatividade cultural não é apenas a da eficácia produtiva, mas também é a do sentido,
dos valores dados à natureza como território de vida e espaço para a recriação da cultura. A
racionalidade ambiental vai além da ecologização do pensamento e de um conjunto de
instrumentos para uma eficaz administração do meio ambiente. Trata-se de uma teoria que orienta
uma práxis a partir da subversão dos princípios que ordenaram e legitimaram a racionalidade
teórica e instrumental da modernidade. É uma racionalidade que integra o pensamento e os
valores, a razão e o sentido; está aberta à diferença e à diversidade, busca desconstruir a lógica
unitária e hegemônica do mercado para construir uma economia global, integrada por economias
locais baseadas na especificidade da relação do material e do simbólico, da cultura e da natureza.
Concordo, mais sem propostas práticas o texto é conceitual demais.
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ResponderExcluirSe for depender desse samba do crioulo doido a ecologia já foi pro lixo! é uma mistura de socialismo com misticismo panteísta e planificação econômica, coisa de teoria sem empirismo.
marcilio leão
O discurso ecológico é válido e até possível mas, quanto tempo levará para alcançarmos essa mudança de atitude se nas bases educativas não são aplicados os conceitos de ecoeficiência corretos e reais?
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