domingo, 20 de setembro de 2009

Cultura da Paz e Pedagogia da Sobrevivência Ubiratan D"Ambrósio

CULTURA DA PAZ E PEDAGOGIA DA SOBREVIVÊNCIA
Associação Palas Athena / UNESCO / UMAPAZ
Auditório do MASP · Museu de Arte de São Paulo
26 de abril de 2008



Ubiratan D’Ambrosio





“Perante nós se apresenta a possibilidade de um progresso contínuo em direção à felicidade, conhecimento e sabedoria, se assim escolhermos. Mas será que devemos escolher a morte, simplesmente porque somos incapazes de resolver nossos conflitos? Como seres humanos apelamos aos seres humanos: lembrem-se de sua humanidade e esqueçam o resto. Se vocês podem fazer isso, o caminho está aberto para um novo Paraíso; se não forem capazes, perante vocês se apresenta o risco da morte universal.”

s) Max Born. P.W. Bridgman, Albert Einstein, L. Infeld, J.F.Joliot-Curie, H.J. Muller, Linus Pauling, C.F. Powell, Joseph Rotblat, Bertrand Russell, Hideki Yukawa.

Manifesto Pugwash, 1955


O PARADOXO DA CIVILIZAÇÃO MODERNA.


A certeza das disciplinas da modernidade, a partir do século XVII, conduziu a humanidade a uma civilização paradoxal:

uma capacidade inimaginável de agir sobre o planeta e sobre a vida, interferindo e criando;
ao mesmo tempo, uma incapacidade total de manter os elementos básicos de sustentabilidade da vida em sociedade.


Em outros momentos da história, a situação mostrou-se grave.

A História nos remete à ameaça “recente” da peste, que eliminou mais da metade da população européia na transição da Idade Média para o Renascimento.

A peste e diversos outros fatores, particularmente a emergência de um capitalismo planetário, deram origem a um novo sistema de conhecimento que passou a ser conhecido como CIÊNCIA MODERNA



Mas a gravidade da situação jamais ameaçou a sobrevivência da humanidade, como ameaça agora.

Paradoxalmente, a ciência moderna e a tecnologia resultante, forneceram instrumentos intelectuais e materiais que ameaçam a sustentabilidade de vida no planeta.



MAS,essa mesma CIÊNCIA MODERNA e a TECNOLOGIA dela RESULTANTE,
podem nos dar, se providas de uma ÉTICA MAIOR,
de RESPEITO, de SOLIDARIEDADE e de COOPERAÇÃO,

os elementos necessários para evitar o extermínio da civilização no planeta.


A CULTURA DO EXTERMÍNIO


Vivemos uma cultura de extermínio do indivíduo, da natureza, de grupos de indivíduos organizados como famílias, comunidades, agremiações e de grupos sociais organizados como nações.

É uma cultura de aceitação de extermínio corporal e emocional de indivíduos, de conflitos grupais, de destruição devoradora da natureza e de guerras.

URGENTE


Passar da CULTURA DE EXTERMÍNIO a uma

CULTURA DE PAZ.


Uma CULTURA DE PAZ deve contemplar PAZ nas suas vária dimensões:

PAZ INDIVIDUAL,

PAZ SOCIAL,

PAZ AMBIENTAL ,

PAZ MILITAR.


Sem PAZ não haverá SOBREVIVÊNCIA.

EDUCAR para a PAZ é

EDUCAR para a SOBREVIVÊNCIA


O CONFLITO


CONFLITO é o estado provocado por reações distintas, pois os indivíduos são diferentes, e reagem diferentemente a estímulos da mesma realidade.

Há conflitos conceituais e de idéias, de interesses, de julgamento, de opiniões.



O CONFRONTO


CONFRONTO é choque, enfrentamento, guerra, com o objetivo de subordinar e mesmo eliminar uma das partes do conflito.




É URGENTE E PRIORITÁRIO EVITAR QUE

O CONFLITO GERE CONFRONTO.



Nossa responsabilidade é evitar que

o conflito gere confronto, mas

não a partir da

eliminação dos conflitos

e sim a partir do que chamamos a

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS.

Este é o caminho para a PAZ,

que pode evitar a recorrência do confronto.


Não se trata de acabar com o

conflito, pois isso pode representar

a homogenização da civilização.

Lois Lowry: O Doador,

Ediouro/Paradidático, 1996.

Trata-se de educar para a

a PAZ e a SOBREVIVÊNCIA,

baseadas na

CONVIVÊNCIA entre DIFERENTES.


Na Educação paraa Paz e para a Sobrevivência

é de fundamental importância o ENSINO DE HISTÓRIA.

A História nos mostra que muitas

vezes acordos e tratados de paz são

assinados, embora sem conseguir

RESOLVER OS CONFLITOS.


Ver Elizabeth A. Cole (Ed): Teaching theviolent past: history education and reconciliation, Lanham, MD, Rowman & Littlefield Pub., 1999.



Exemplifico com os confrontos armados:

O processo de reconciliação e os armistícios e tratados, após os quais as partes envolvidas tentam funcionar normalmente, muitas vezes não conduzem a uma paz duradoura.


O papel da EDUCAÇÃO é evitar a recorrência do confronto e da violência gerados, muitas vezes, por tensões, antagonismo, desconfiança e medo, resultado de memórias de sofrimento, de destruição e de morte.


São exemplos notáveis de armistícios nos quais logrou-se o cessar-fogo mas os conflitos latentes não foram resolvidos:

o chamado Tratado de Versalhes (1919) e os diversos acordos entre israelenses e palestinos, entre a ETA e o governo da Espanha, e entre as nacionalidades que compunham a antiga Iugoslávia.



O CONFRONTO não é somente

*entre nações / estados em guerra,

mas também

*entre classes sociais,

*entre os homens e a natureza,

e

*no próprio indivíduo, que não consegue resolver seus conflitos internos, psico-emocionais.


É necessária a PAZ em

suas quatro dimensôes:

PAZ MILITAR,

PAZ AMBIENTAL,

PAZ SOCIAL,

PAZ INDIVIDUAL.


VIOLÊNCIA
É INTRÍNSECA AO CONFRONTO.


“Violência vem de medo, medo vem de incompreensão, incompreensão vem de ignorância. … combatemos a ignorância com a educação”.

Leah Wells (uma jovem professora)

Washington DC, 2000


EDUCAR para a RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

(PEDAGOGIA DA SOBREVIVÊNCIA)

é

EDUCAR PARA A PAZ.

(CULTURA DA PAZ)

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