CULTURA DA PAZ E PEDAGOGIA DA SOBREVIVÊNCIA
Associação Palas Athena / UNESCO / UMAPAZ
Auditório do MASP · Museu de Arte de São Paulo
26 de abril de 2008
Ubiratan D’Ambrosio
“Perante nós se apresenta a possibilidade de um progresso contínuo em direção à felicidade, conhecimento e sabedoria, se assim escolhermos. Mas será que devemos escolher a morte, simplesmente porque somos incapazes de resolver nossos conflitos? Como seres humanos apelamos aos seres humanos: lembrem-se de sua humanidade e esqueçam o resto. Se vocês podem fazer isso, o caminho está aberto para um novo Paraíso; se não forem capazes, perante vocês se apresenta o risco da morte universal.”
s) Max Born. P.W. Bridgman, Albert Einstein, L. Infeld, J.F.Joliot-Curie, H.J. Muller, Linus Pauling, C.F. Powell, Joseph Rotblat, Bertrand Russell, Hideki Yukawa.
Manifesto Pugwash, 1955
O PARADOXO DA CIVILIZAÇÃO MODERNA.
A certeza das disciplinas da modernidade, a partir do século XVII, conduziu a humanidade a uma civilização paradoxal:
uma capacidade inimaginável de agir sobre o planeta e sobre a vida, interferindo e criando;
ao mesmo tempo, uma incapacidade total de manter os elementos básicos de sustentabilidade da vida em sociedade.
Em outros momentos da história, a situação mostrou-se grave.
A História nos remete à ameaça “recente” da peste, que eliminou mais da metade da população européia na transição da Idade Média para o Renascimento.
A peste e diversos outros fatores, particularmente a emergência de um capitalismo planetário, deram origem a um novo sistema de conhecimento que passou a ser conhecido como CIÊNCIA MODERNA
Mas a gravidade da situação jamais ameaçou a sobrevivência da humanidade, como ameaça agora.
Paradoxalmente, a ciência moderna e a tecnologia resultante, forneceram instrumentos intelectuais e materiais que ameaçam a sustentabilidade de vida no planeta.
MAS,essa mesma CIÊNCIA MODERNA e a TECNOLOGIA dela RESULTANTE,
podem nos dar, se providas de uma ÉTICA MAIOR,
de RESPEITO, de SOLIDARIEDADE e de COOPERAÇÃO,
os elementos necessários para evitar o extermínio da civilização no planeta.
A CULTURA DO EXTERMÍNIO
Vivemos uma cultura de extermínio do indivíduo, da natureza, de grupos de indivíduos organizados como famílias, comunidades, agremiações e de grupos sociais organizados como nações.
É uma cultura de aceitação de extermínio corporal e emocional de indivíduos, de conflitos grupais, de destruição devoradora da natureza e de guerras.
URGENTE
Passar da CULTURA DE EXTERMÍNIO a uma
CULTURA DE PAZ.
Uma CULTURA DE PAZ deve contemplar PAZ nas suas vária dimensões:
PAZ INDIVIDUAL,
PAZ SOCIAL,
PAZ AMBIENTAL ,
PAZ MILITAR.
Sem PAZ não haverá SOBREVIVÊNCIA.
EDUCAR para a PAZ é
EDUCAR para a SOBREVIVÊNCIA
O CONFLITO
CONFLITO é o estado provocado por reações distintas, pois os indivíduos são diferentes, e reagem diferentemente a estímulos da mesma realidade.
Há conflitos conceituais e de idéias, de interesses, de julgamento, de opiniões.
O CONFRONTO
CONFRONTO é choque, enfrentamento, guerra, com o objetivo de subordinar e mesmo eliminar uma das partes do conflito.
É URGENTE E PRIORITÁRIO EVITAR QUE
O CONFLITO GERE CONFRONTO.
Nossa responsabilidade é evitar que
o conflito gere confronto, mas
não a partir da
eliminação dos conflitos
e sim a partir do que chamamos a
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS.
Este é o caminho para a PAZ,
que pode evitar a recorrência do confronto.
Não se trata de acabar com o
conflito, pois isso pode representar
a homogenização da civilização.
Lois Lowry: O Doador,
Ediouro/Paradidático, 1996.
Trata-se de educar para a
a PAZ e a SOBREVIVÊNCIA,
baseadas na
CONVIVÊNCIA entre DIFERENTES.
Na Educação paraa Paz e para a Sobrevivência
é de fundamental importância o ENSINO DE HISTÓRIA.
A História nos mostra que muitas
vezes acordos e tratados de paz são
assinados, embora sem conseguir
RESOLVER OS CONFLITOS.
Ver Elizabeth A. Cole (Ed): Teaching theviolent past: history education and reconciliation, Lanham, MD, Rowman & Littlefield Pub., 1999.
Exemplifico com os confrontos armados:
O processo de reconciliação e os armistícios e tratados, após os quais as partes envolvidas tentam funcionar normalmente, muitas vezes não conduzem a uma paz duradoura.
O papel da EDUCAÇÃO é evitar a recorrência do confronto e da violência gerados, muitas vezes, por tensões, antagonismo, desconfiança e medo, resultado de memórias de sofrimento, de destruição e de morte.
São exemplos notáveis de armistícios nos quais logrou-se o cessar-fogo mas os conflitos latentes não foram resolvidos:
o chamado Tratado de Versalhes (1919) e os diversos acordos entre israelenses e palestinos, entre a ETA e o governo da Espanha, e entre as nacionalidades que compunham a antiga Iugoslávia.
O CONFRONTO não é somente
*entre nações / estados em guerra,
mas também
*entre classes sociais,
*entre os homens e a natureza,
e
*no próprio indivíduo, que não consegue resolver seus conflitos internos, psico-emocionais.
É necessária a PAZ em
suas quatro dimensôes:
PAZ MILITAR,
PAZ AMBIENTAL,
PAZ SOCIAL,
PAZ INDIVIDUAL.
VIOLÊNCIA
É INTRÍNSECA AO CONFRONTO.
“Violência vem de medo, medo vem de incompreensão, incompreensão vem de ignorância. … combatemos a ignorância com a educação”.
Leah Wells (uma jovem professora)
Washington DC, 2000
EDUCAR para a RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
(PEDAGOGIA DA SOBREVIVÊNCIA)
é
EDUCAR PARA A PAZ.
(CULTURA DA PAZ)
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