O circulo vicioso do sistema bancário
Atualmente, uma vez mais os contribuintes dos Estados Unidos, da Europa e Ásia estão sendo forçados a recapitalizar os bancos. Agora vem à luz que a realidade financeira é o contrário do que os economistas nos quiseram fazer crer: vemos que os bancos sempre receberam dinheiro dos contribuintes através dos bancos centrais para emprestá-lo, a juros, aos próprios contribuintes.
Hazel Henderson - IPS
St. Augustine, Florida, outubro/2008 – As últimas ações empreendidas pelos governos e bancos centrais para injetar maciçamente dinheiro novo em seus bancos deixa os cidadãos médios ultrajados e desconcertados. Não eram os bancos os lugares que guardavam nossos depósitos e depois nos emprestavam para construirmos nossas comunidades e fazer crescer nossos negócios? Disseram-nos que tínhamos de confiar nos bancos. Agora descobrimos que os bancos não confiam entre si.
Não é de estranhar que as chocantes revelações sobre os erros de Wall Street, estimulados pela falta de regulamentação e supervisão, tenham levado a uma falta de confiança nos bancos. Suas temerárias especulações financeiras estão levando ao questionamento da maneira fundamental com que foram estruturados os sistemas bancário e monetário. Os pânicos bancários foram recorrentes no século passado e sempre foram os contribuintes, através de seus governos, que salvaram os banqueiros de seus erros.
Atualmente, uma vez mais os contribuintes dos Estados Unidos, da Europa e Ásia estão sendo forçados a recapitalizar os bancos. Agora vem à luz que a realidade financeira é o contrário do que os economistas nos quiseram fazer crer: vemos que os bancos sempre receberam dinheiro dos contribuintes através dos bancos centrais para emprestá-lo, a juros, aos próprios contribuintes. Como permitimos que tal fraude continuasse por tanto tempo?
O Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) é uma corporação privada dirigida por 12 bancos regionais com apenas os membros da direção e da presidência designados pelo governo. O Fed empresta nosso dinheiro, criado pelo Tesouro, aos bancos, que são autorizados a emprestá-lo em quantidade 10 vezes superior às suas reservas monetárias, o chamado encaixe bancário. Aos bancos pede-se que mantenham 8% de seus ativos em reserva, mas exercem incessante pressão para reduzir esse “colchão” amortizador de perdas.
Desde que o Fed foi criado em 1913, o Congresso cedeu seu poder constitucional de criar as existências em dólares ao sistema bancário. Agora, vemos a um simples olhar como isto funciona. Quando os bancos estão com problemas, correm riscos estúpidos, etc, o Fed simplesmente imprime mais dinheiro e o dá aos bancos. E se isto não é suficiente, o Fed acrescenta novas reduções de taxas de juros, empréstimos especiais e resgates bancários, como o plano do Secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, de US$ 700 bilhões.
Paulson pretendia que os contribuintes cedessem os US$ 700 bilhões aos seus ex-colegas da Goldman Sachs, Morgan Stanley e outras instituições financeiras de Wall Street em troca dos “tóxicos” empréstimos hipotecários destinados a credores insolventes criados por essas mesmas instituições. Felizmente, o Congresso criou algumas salvaguardas e US$ 250 bilhões agora irão diretamente para a compra de ações dos bancos em risco, bem como incorporando muitos planos alternativos.
Como muitos altos funcionários, incluindo Paulson, são ex-executivos da Goldman Sachs, os contribuintes deveriam insistir para que Goldman Sachs e Morgan Stanley, cujas equipes aconselharam o Tesouro no salvamento, e outras firmas envolvidas sejam excluídas de todo manejo desses US$ 700 bilhões. Entretanto, Paulson anunciou que um ex-empregado da Goldman Sachs, Neel Kashkari, estará encarregado da administração dos US$ 700 bilhões dos contribuintes norte-americanos.
Para a longamente atrasada reforma dos sistemas monetários, há propostas bem pensadas: nos Estados Unidos pelo American Monetary Institute, na Grã-Bretanha pelo reconhecido especialista bancário James Robertson e no Canadá por Comer.org. Chegou a hora de regulamentar Wall Street e o cassino global, bem como de fazer com que o sistema financeiro volte ao limitado papel de servir às necessidades das economias reais e produtivas. Com estas e outras reformas se poderá conseguir que os bancos cumpram seus propósitos originais.
Eles podem financiar a manutenção das esquecidas infra-estruturas públicas e complementar os investimentos privados que agora estão entrando em torrente na crescente economia verde, na medida em que muitos países estão tentando sair da anterior Era Industrial baseada nos combustíveis de origem fóssil e entrar na sustentável Era Solar. (IPS/Envolverde)
* A economista Hazel Henderson (http://www.ethicalmarkets.com) é autora de Ethical Markets: Growing the green economy (2007) e co-autora do índice sobre qualidade da vida Calvert-Henderson (http://www.calvert-henderson.com).
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COMENTÁRIOS (5 Comentários)
Opinião Comentário Autor Data
Esta é ainda melhor do que ... Euclides Oliveira 30/10/2008
Nenhuma novidade. Mesmo com... Jorge Nogueira Reb... 30/10/2008
Penso na mesma linha do Gon... antonio de padua s... 30/10/2008
Sra. HAZEL HENDERSON dizer ... Fernando Gonzales 30/10/2008
Sinceramente, a única soluç... Daniel Campos 30/10/2008
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• - Se Leonard Bernstein e seus amigos encarnaram o radical chique naqueles tempos de Vietnã e Panteras Negras, Tom Wolfe (apontado como o criador do Novo Jornalismo) e seus exegetas inventaram outra categoria, bastante desagradável e suspeitosamente idônea para os tempos de Reagan e de Bush: o "cínico chique"[/i]. Como dizia outro Leonard, igualmente judeu e radical chique, de nacionalidade canadense e sobrenome Cohen: “Às vezes se escolhe de que lado se está simplesmente vendo quem está do outro lado”. O artigo é de Juan Forn, do Página 12.
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