A patologia da normalidade. PARA ALÉM DA NORMOSE
Pierre Weil
"As emoções destrutivas ligadas à cultura, matam em nós mesmos a harmonia e
a paz de nossa sabedoria primordial".
O poder castrador de nossa sociedade não é de ordem sexual, como afirmava
Freud, mas sim, espiritual e seu nome é: normose - a patologia da
normalidade.
Ela impõe a sociedade uma cultura do sucesso, sendo que o fracasso e o
ostracismo são uns dos maiores medos do normótico, que busca por segurança
em estados temporários e ilusórios, nos objetos exteriores, em conquistas e
sucessos efêmeros não sabendo que a verdadeira segurança é uma condição
subjetiva, resultado de uma experiência transpessoal, que se revelará de
forma espontânea e natural no momento do despertar da verdadeira
consciência.
O desastre é eminente para o normótico que faz depender a sua segurança das
parafernálias externas e não da paz da vida interna, a qual não depende das
circunstâncias da vida externa. O normótico vive fazendo investimentos e
seguros para sua vida, mas não investe na espiritualidade, sendo esperto por
alguns momentos, mas um tolo a longo prazo, pois leva muito tempo para ele
constatar que o acúmulo de riquezas, prestígio e poder é apenas uma troca, e
não o fim, da sua falta de segurança. O normótico sofisticado pode até fazer
um roteiro iludido de trabalhos espirituais, mas no fundo tais atividades
espirituais estão ao serviço da sua busca de segurança exterior e poder.
Em sua busca insana pela segurança financeira, status e reconhecimento
exterior, o normótico perde sua saúde para depois pagar de bom gosto tudo o
que conquistou para ter novamente sua saúde física, mental e emocional.
Na tentativa de conquistar a "pseudo-seguranç a" para a sua vida, o normótico
esquece de vivê-la e como resultado vive num desespero silencioso,
precisando às vezes chegar ao topo da escada do sucesso, para amargamente
descobrir que a mesma estava encostada na parede errada. É justamente neste
desespero silencioso que uma fração de sanidade pode romper as paredes da
normose e levá-lo ao questionamento do tipo: Espelho, espelho meu, será que
algum dia eu já vivi?
O normótico, ou se preferir, o entediado anônimo - é vítima de um estado de
conflito interior prolongado. Na tentativa de anestesiar a dor resultante
desse conflito interior, das esperanças frustradas e dos sonhos abortados,
injeta "*novocaína*" - o anestésico do novo - em muitos aspectos da sua
personalidade. Ele não sente nada de maneira vívida: nem alegria, nem
tristeza, nem esperança, nem desespero. As coisas acontecem, mas ele não as
registra pois é preciso muita coragem para se permitir sentir.
É alguém que vive num eterno confinamento solitário causado por suas crenças
disfuncionais; alguém que se trancou numa rotina solitária e engoliu a
chave. Alguém que vive uma vida unilateral e morre em estado imperfeito.
Não possui a consciência de que a Grande Vida lhe deu uma alma, uma mente e
um corpo, os quais deve procurar desenvolver de forma harmônica. Vive
dominado pelas influências do sistema de crenças do modismo social
permitindo que a sociedade continue lhe impondo suas ilusões por meio de um
fortíssimo esquema de marketing que o bombardeia de forma brutal durante as
24 horas do seu dia a dia.
Não possuí a coragem de virar a mesa contra o clichê social e assumir a
responsabilidade pela sua maneira de pensar e pelo controle de sua vida. Não
fica difícil constatar os resultados desse caótico modo de viver: medos,
preocupações, paranóias, estresse, insatisfação, descontentamento e toda
espécie de somatização oriunda de uma pseudofelicidade.
Não consegue perceber que sem satisfação interior, nenhum acúmulo de sucesso
exterior consegue trazer felicidade e segurança duradoura. Como Adão e Eva,
vive exilado do jardim das delícias da unidade consciente com Deus, pela
ação da serpente do conformismo, tornando-se com isso, um ser limitado
devido ao crédito dado ao sistema de crenças do clã a que pertence.
O normótico opta por uma forma de pensar pelo simples fato de muitas pessoas
optarem por ela ou por constar de algum livro que a sociedade considera como
sagrado; não consegue avaliar por si mesmo sobre a questão e ajuizar se ela
é razoável ou não. Para ele, se prender as velhas rotinas consagradas pela
sociedade, é muito mais seguro do que se aventurar ao Aberto. É aquele cujo
desejo mais profundo ainda dorme, mas que teme a ação perigosa de acordar.
É como um cavaleiro que perdeu o domínio da carruagem e é arrastado pelos
cavalos dos instintos degenerados. Vive atrelado à matéria, com o Ser ainda
fechado para o que é eterno, caminhando sobre uma corda bamba, em chamas,
pronta para arrebentar. Não possuí a consciência de que não é um ser
material com necessidades espirituais ocasionais; mas sim, um ser espiritual
com necessidades materiais ocasionais.
Prefere a pseuda-paz do conformismo social do que a angústia da busca pelo
seu vir-a-ser. Passa a maior parte de sua vida com um sentimento de vazio e
falta de propósito tão grande, que é como se faltasse uma parte de si mesmo.
Sem que se perceba, muito do que faz o leva cada vez mais para a sensação de
vazio interior. Procura preenchê-lo com acúmulo de dinheiro e matéria, com
prestígio e reconhecimento profissional, chegando muitas vezes a extremos
como o excesso de comida, bebida, sexo ou até mesmo às drogas.
Quanto maior é o seu desespero em ocupar esse vazio interior, mais vazio se
sente.
Em nenhum momento, lhe ocorrer que essa sensação de ausência possa ser de
natureza espiritual, muito embora, esse conhecimento lhe chega de varias
maneiras. Somente quando a dor chega ao seu extremo intolerável é que ele
começa a olhar para dentro de si e a buscar por algumas práticas
espirituais, através das quais, recebe vislumbres do caminho do belo. Mas
que na inércia da mormose pode ficar como experiência de mundo paralelo, e
logo depois que o mormótico volta a sua rotina, e o automatismo novamente o
come e o subjuga.
Normose: uma fabrica de clichês.
Magritte
Boa parte dos normóticos está limitada pela identificação corporal. Não
possuem a consciência de que é justamente esse tipo de limitação sem
fundamento que os mantém longe de qualquer possibilidade de estados
alterados de consciência.
O normótico, quando não há nada para fazer, pensa em todas as possibilidades
de atividades, menos, tentar se sentar e experiênciar o Ser; é alguém que
sofreu a ferroada do não ser, a dor de uma vida não vivida, das estradas não
exploradas, dos riscos não sofridos, das pessoas não amadas, dos pensamentos
não realizados e dos sentimentos não apreciados.
Sua normose é fruto do resultado do pecado da omissão. É alguém que passa
muito de seu tempo se iludindo, deliberadamente, criando álibis para
encobrir suas fraquezas e que não possui a consciência de que se utilizasse
seu tempo de maneira diferente, esse mesmo tempo seria suficiente para curar
seus defeitos de caráter e imperfeições, de modo que então não seriam
necessários os álibis.
“O normótico vive principalmente para si próprio e sua família”. O seu tempo
completo é devorado pelo seu trabalho, atividades sociais e família. O chato
é que nestas atividades ele também não mostra sua beleza, mas sua capacidade
de cumprir rotinas, regulamentos e formalidades. Ele está na família, mas
não está, é podado da possibilidade do relacionamento amoroso, porque ele
não tem corpo, não tem tempo, não sabe como se entregar e curtir o afeto
profundo e simples de viver em família. Em raríssimos casos existe qualquer
visão mais elevada do que essa. Poucos são capazes até mesmo de dar um olhar
em direção aos pedintes que vem em sua direção nas paradas do trânsito.
Quase toda sua experiência é a de viver formalmente para si mesmo e sua
família, com apenas um minúsculo fragmento deixado para os outros, sempre
normótico, igual, formal, repetitivo e sem tempo e disposição para
estabelecer contato de coração.
Quanto algo o toca, o rejeita por medo de ter que abandonar seu modo de vida
disfuncional com suas conseqüentes zonas de conforto. Devido a esse tipo de
medo, vive sob a custódia de uma elite dominante da mesma forma como o gado
está sob os cuidados dos boiadeiros. Ele é incapaz de ver o mestre no amado,
no filho, no amigo, ele tem mestres mortos, distantes, com os que se
relaciona através de formalidades. Não raro são às vezes em que se obriga a
fazer coisas das quais se envergonha, alegando quando descoberto, que está
cumprindo com o seu dever; é um ser que sofre devido à alienação e
desconexão com o Ser que o faz ser. Em nome da aceitação condicionada por
parte das pessoas significativas de sua vida, status e reconhecimento pelo
seu bom comportamento, negligencia a si mesmo, abandonando- se e fechando-se
para o caminho do coração, devido ao medo de ser exposto à vergonha tóxica e
a dor da solidão, tendo como resultado dessa atitude, o desenvolvimento da
incapacidade de amar de forma incondicional.
O normótico é aquele que se conforma em ouvir sobre Deus, rezar para Deus e
pela espera de um encontro com Deus no próximo mundo: alguém que* não
consegue sair da crença para ousar pela busca da experiência*. Não tem a
percepção espiritual, que torna Deus uma realidade demonstrável; está
convencido de que Deus é uma necessidade, mas ainda não está convencido de
Deus. Prefere se agarrar na concepção oriunda da experiência pessoal de Deus
vinda de terceiros. Cultua mestres, santos, deuses, orixás de forma
burocrática e automática. Ele cumpre as programações, reza e comunga, mas
sem entregar a alma. Ele agradece e pede a seus deuses e mestres, mas não
escuta a respostas deles. Tudo nele é superficial, aparente, mecânico.
Vive preso a um ciclo compulsivo de hábitos, comportamentos e
relacionamentos profissionais e/ou afetivos mesmo que seus prazos de
validade estejam vencidos e repetidamente se mostrando disfuncionais. Sua
falta de sinceridade para consigo mesmo é uma das maiores e mais potentes
barreiras do processo de vir-a-ser.
A insinceridade corrói a integridade de sua Alma e destrói o fortalecimento
da razão. Vive aprisionado a um modismo social que determina um
comportamento padronizado dentro de uma sociedade mecanicamente padronizada
e com isso, autoboicota todo seu potencial criativo. Se ao menos soubesse da
existência de um estilo de vida imensamente mais rico e profundo do que toda
essa existência apressada - dotada de serenidade, paz e poder, sem pressa -
se soubesse como a vida interior é realmente poderosa, não hesitaria nem um
instante em abandonar todas as coisas que barram seu caminho para ir em
direção a ela e assim constatar por si mesmo, que tudo aquilo que a normose
tem para lhe oferecer para beber é tão somente um copo d´água salgada, cujo
propósito é o de lhe deixar ainda mais sedento.
Normose: um substituto para o sofrimento genuíno.
"Os homens caçam pequenos sucessos e maestrias triviais dos quais se retiram
exaustos e enfraquecidos; enquanto isso, toda a infinita força de Deus no
universo espera em vão para colocar-se a seu dispor". Sri-Aurobindo
Há muitas pessoas que se tornam neuróticas porque são exclusivamente
normóticas, como há aqueles que são neuróticos porque não podem ser
normóticos. Já afirmava Jung, que todos nós nascemos originais e morremos
cópias.
O normótico vive infeliz, devido ao fato de pensar só em si mesmo, no que
deseja, no que gosta, em qual o respeito que os outros lhe devem dar. Com
essa maneira de ser, consegue estragar tudo o que toca; fazendo uma miséria
com tudo que Deus coloca em seu caminho. Não se faz necessário um grande
estudo para se constatar a veracidade dessa afirmação. Basta uma boa olhada
na incidência do alcoolismo, do consumo de drogas, do sexualismo compulsivo
e do suicídio em nossa sociedade contemporânea para ver a falência relativa
da normose. Como nos dizeres de Paramahansa Yogananda, Tarthang Tulku, Paul
Brunton e Krishnamurti:
"As pessoas tentam encontrar felicidade, bebida, sexo e dinheiro, mas as
páginas da história estão repletas de relatos de suas decepções. O tempo que
passei meditando tornou minha vida inconcebivelmente rica. Mil garrafas de
vinho não produziriam a alegria que a meditação me deu. Nessa alegria
encontra-se a orientação consciente da sabedoria de Deus" - Paramahansa
Yogananda.
"Quaisquer que sejam as nossas propensões ou crenças, não podemos escapar de
uma consciência cada vez mais aguda da nossa insatisfação. Quando olhamos em
volta, vemos poucos sinais de verdadeira felicidade. Mesmo os ricos
enfrentam problemas com o tédio, e são incapazes de encontrar satisfação
permanente em seus bens ou na busca da realização de seus desejos. Sucesso
social ou profissional não traz necessariamente contentamento; uma vida de
muita luta e competição geralmente produz problemas complexos e, por fim,
grande exaustão". Tarthang Tulku - Conhecimento da Liberdade - Ed. Dharma
"Pode chegar uma hora em que o homem se canse de todos os círculos sociais,
da incessante e indigna competição profissional e do mundo dos negócios, e
deseje afastar-se de tudo isso - uma hora em que ele comece a ver através
das futilidades, superficialidades e estupidez que lhe são próprias. Que
outro recurso podem tentar ter, depois de tentar os caminhos comuns -
bebida, sexo, drogas ou religião -, além da busca?" - Paul Brunton - A Busca
- Ed. Pensamento
"Nossas aquisições são um meio de encobrirmos o nosso próprio vazio; nossas
mentes são como tambores ressonantes, batidos pelas mãos de cada um que
passa e produzindo muito barulho. Esta é a nossa vida, o conflito gerado
pelas fugas que nunca satisfazem, e por nossas crescentes misérias".
Krishnamurti - O Verdadeiro Objetivo da Vida - Ed. Cultrix
Do mesmo modo que a moderna produção em massa requer a padronização das
mercadorias, a normose também requer a padronização do homem, e o
conformismo a essa espécie de padronização é chamada de "normalidade" . Na
verdade, por medo do abandono e da solidão, o normótico se conforma com essa
"normalidade" num grau muito mais alto do que seja forçado a se conformar.
Erick Fromm já alertava anteriormente para os motivos geradores desse
conformismo. Segundo ele:
"... a união com o grupo é a forma preponderante de superar o estado de
separação. É uma união em que o eu individual em larga medida desaparece e
em que o objetivo é pertencer ao rebanho. Se sou como todos os outros, se
não tenho sentimentos ou pensamentos que me tornam diferente, se me conformo
em matéria de usos, roupas e idéias, ao modelo do grupo, então estou salvo -
salvo da terrível experiência da solidão...Todo homem, por natureza, possui
no mais profundo de si mesmo, o conhecimento da verdade, mas que, no
decorrer de seu desenvolvimento pessoal, com relação ao ambiente e a
sociedade, é obrigado a "removê-lo", perdendo, desta maneira, sua
sensibilidade e sua capacidade de perceber a realidade profunda das
coisas".. Erick Fromm
A mediocridade da normose tecnológica e industrial
Salvador Dali
"*Não importa o quanto às pessoas estejam insatisfeitas com as suas vidas,
elas continuam a fazer exatamente o que eles sempre fizeram. Elas nunca
param para pensar como poderiam por um fim em seus problemas. Ao invés
disso, elas apenas reclamam, culpam seus maridos ou esposas, seus patrões, o
governo ou a atualidade.. ..A maioria das pessoas vive em sua personalidade
exterior comum e ignorante que não se abre facilmente ao Divino; mas há um
ser interior dentro delas, do qual elas não sabem, que pode se abrir
facilmente à Verdade e à Luz. No entanto há uma parede que as separa dele,
uma parede de obscuridade e não-consciência. Quando ela desmorona, então há
uma libertação.*" Sri Aurobindo - La Sintesi dello Yoga - Vol. II
"Hoje, mediocridade virou padrão. Se você for ver quem são as pessoas mais
ricas na MPB, todos são músicos medíocres, e por quê? As empresas, as
gravadoras que tornaram essas pessoas ricas também ficaram ricas. Então, uma
rádio, que não passa de uma rádio comercial, uma televisão comercial, uma
gravadora, que não passam de uma fábrica de goiabada ou de sabão em pó,
estão aí para faturar. Preservar valores culturais não tem o menor sentido
para esse pessoal. O negócio deles é o balancete no final do mês, quanto
saiu e quanto entrou. Se está no verde, tudo bem. Se entrou no vermelho,
tira todo o mundo e muda tudo. Vender, vender, vender. Eles vão atrás de
quem está comprando. Quem está comprando? É o jovem e o povão. Então, é para
esse público que eles estão direcionados. Aí eu repito: a maior parte dos
Estados do Brasil já se entregou à banalização, à superficializaçã o da
arte." - Ivan Lins - Jornal A NOTICIA
Existe no normótico uma resistência de ordem espiritual, que é uma recusa de
crescer, de frutificar, de se transformar, uma recusa constante de se
entregar a uma Vontade Superior, a qual faz com que se conforme com sua
condição humana e se recuse a experiênciar Deus em si mesmo.
Por não vivenciar essa experiência de unicidade interior, não consegue
superar a identificação ilusória de separatividade. Vê-se como um ser
separado de si mesmo, dos outros seres humanos e do próprio Universo. Esse
tipo de posicionamento normótico diante da sua própria existência leva-o a
mediocridade. ..
"A mediocridade processa idéias como um triturador, misturando tudo numa
massa uniforme, eliminando nuances, detalhes, sabores, cores, transformando
tudo numa coisa só, na maioria das vezes, cinza. E sempre com o respaldo de
um líder, de uma tese, de uma idéia". Luciano Pires - Brasileiros Pocotó
Essa mediocridade faz com que o normótico permita a existência de um sistema
tecnológico industrial imediatista e inconseqüente, isento de uma genuína
responsabilidade social. Podemos encontrar respaldo para esta afirmação
neste texto de Sogyal Rinpoche:
"A sociedade moderna é em larga escala um deserto espiritual em que a
maioria imagina que esta vida é tudo o que existe. Sem qualquer fé autêntica
numa vida futura, a maioria das pessoas vive toda a sua existência
destituída de um sentido supremo... crendo basicamente que esta vida é
única, as pessoas do mundo moderno não desenvolveram uma visão a longo
prazo. Assim, nada as refreia de saquear o planeta em que vivem para atingir
suas metas imediatas, e agem com um egoísmo que pode tornar-se fatal no
futuro". Sogyal Rinpoche - O livro Tibetano do Viver e do Morrer - Pág. 25
Ainda no mesmo livro, encontramos um texto de José Antonio Lutzenberger, que
demonstra que a total insensatez da normose industrial:
..."a sociedade industrial é uma religião fanática. Estamos derrubando,
envenenando e destruindo todos os sistemas vivos do planeta. Estamos
assumindo dívidas que nossos filhos não poderão pagar... Agimos como se
fôssemos a última geração do planeta. Sem uma mudança radical no coração, na
mente, na visão, a Terra se extinguirá como Vênus, calcinada e morta".
A nova tecnologia é uma espécie de arte circense de inventar necessidades
desnecessárias que se tornam absolutamente imprescindíveis e que leva o
normótico de forma inconsciente, a um modo de vida estressado, apressado,
rotineiro, excessivamente barulhento e repleto de "novidades". Mal possuí
tempo para respirar ou para aprender a usar o "novo" lançamento da
tecnologia. Quando ele esta quase se acostumando com seu uso, o mesmo já se
tornou obsoleto e "novamente" se permite ser bombardeado pela mídia da
"novocaína". Dentro desse ritmo frenético e consumista, não sobra muito
tempo para o questionamento da real necessidade dos mesmos. O resultado é
sempre igual: a mídia lhe impulsiona com as promessas de satisfação, fazendo
com que o normótico entre num processo compulsivo que só termina quando
consegue conquistar a sua "nova droga de escolha". Digo droga, pois este
modo consumista tem como função primordial lhe anestesiar temporariamente do
seu estado de monotonia e falta de sentido existencial. Preso a este ciclo
vicioso, o normótico corre o risco de nunca tomar a consciência de que
somente por meio de uma experiência transpessoal, que transpasse os seus
sentidos, poderá ter removida a grande monotonia que sente e quem sabe
assim, perceber a urgente necessidade de buscar por uma prática espiritual,
que preencha as verdadeiras necessidades de sua alma. Como nos dizeres de
Paul Brunton:
"Neste país, os homens estão mais ansiosos para melhorar suas fábricas do
que a si mesmos. Aceitam suas próprias imperfeições com complacência e
satisfação, mas as imperfeições de seus automóveis - nunca! Entretanto, qual
é a utilidade de correrem de um lugar a outro nesta terra se nem mesmo sabem
por que estão aqui... Usamos todos os momentos possíveis para cultivar os
campos incertos do comércio ou flores efêmeras do prazer, mas somos
incapazes de reservar um momento para cultivar os campos seguros do espírito
dentro de nós ou as artemísias duradouras da devoção divina". Do livro: A
BUSCA - Ed. Pensamento
Fica claro para mim, que enquanto o normótico se deixar arrastar pelos
apelos da mídia, da tecnologia e da moda e não optar por uma simplicidade
voluntária, (ver Simplicidade Voluntária - de Duane Elgin - Ed. Cultrix),
nunca saberá por experiência própria, o que vem a ser a verdadeira
realização pessoal e muito menos, tomar consciência da natureza e finalidade
de sua existência. Ele precisa tomar consciência que, na essência dos apelos
da tecnologia e da moda, sempre haverá um componente de incerteza e de
insegurança. Somente quando chega a um ponto de saturação em relação aos
ditames da sociedade, somente quando percebe que suas conquistas
tecnológicas, alegria e suas amizades são todas superficiais, pode estar
apto para iniciar seu processo de "desnormotizaçã o" através de um
aprendizado de uma nova maneira de viver. Encerro este tópico com um texto
de Tarthang Tulku:
"Em toda parte do mundo as pessoas passam a vida sonhando em desenvolver- se
espiritualmente, sem jamais fazer muita coisa nesse sentido. Neste país,
sobretudo, é preciso muita força de vontade para que alguém se desenvolva
interiormente. Somos apanhados na competição pelas vastas reservas não
exploradas de poder, que a tecnologia moderna colocou a nossa disposição.
Nós vivemos sob intensa pressão para nos conformarmos com as regras e as
restrições da nossa sociedade urbana "civilizada" . A estrutura está
enraizada de tal maneira que, se não nos conformarmos ser-nos-á difícil
sobreviver. Assim, muitos de nós nos sentimos constrangidos embora sejam
poucas as pessoas capazes de tomar a decisão de mudar suas vidas e menos
ainda os que têm o poder de fazê-lo."
A normose educacional
"A verdadeira educação é aquela que conduz à liberação". Shrii Shrii
Anandamurti
A normose é fruto de um sistema educacional que não ensina ao ser humano a
arte de viver, de amar incondicionalmente, a arte de meditar e muito menos a
arte de morrer. Nosso sistema de educação não é educacional, muito pelo
contrário, é um sistema fragmentário, reducionista e formador de uma normose
da especialização competitiva, onde os valores do ser são "normalmente"
substituídos pelos valores de códigos obsoletos do ter que tem a função de
tornar o ser humano uma outra pessoa, alguém que não pode ser. Para
elucidar, gosto de citar uma frase do Psicólogo, Antropólogo e Escritor,
Roberto Crema, seguida de outro pensamento de Tarthang Tulku:
"a especialização é um tipo de modelagem para a alienação e nós temos que
encarar os fatos. A definição que eu lapidei ao longo de muitos anos mais
própria do que seja um especialista: "É uma pessoa um pouco exótica, que
sabe quase tudo de quase nada, dotado de uma certa imbecilidade funcional,
que aprendeu a fazer um cacoete, que aprendeu a apertar um parafuso,que tem
uma viseira, que se orgulha da unilateralidade de visão e de ação e que
perdeu desgraçadamente a visão da inteireza".
"A educação formal nos ajuda a fazer melhores escolhas para nossa vida, mas
não oferece garantia alguma de que nossas escolhas não nos levarão ao
sofrimento. Depois de muitos anos de experiência, talvez consigamos
finalmente reconhecer onde se encontram as nossas maiores promessas de
satisfação. A vida é a nossa maior mestra, mas suas lições são geralmente
aprendidas tarde demais, e à custa de muito sofrimento". Tarthang Tulku -
Conhecimento e Liberdade - Ed. Dharma
Justamente pelo fato de aceitar esses códigos obsoletos é que muitos
normóticos acabam desenvolvendo a neurose. Desde o primeiro dia de vida, as
pessoas estão sendo treinadas para serem condicionadas ao sistema de crenças
em que nasceram. Isso é conveniente para a elite dominante. Esse
condicionamento normótico reduz o ser humano a um estado de fragmentação e
retardamento mental. Desde a mais tenra idade, o ser humano é educado para
viver num sistema que não lhe permite o questionamento, a dúvida, e um ser
humano que não é capaz de duvidar, de questionar, de dizer "não", de forma
alguma poderá ser capaz de potencializar os seus talentos e ser ele mesmo;
viverá de aparências e quem vive de aparências, só aparentemente vive. Por
não ousar sair da limitação imposta pelo sistema em que vive e se aventurar
no Aberto, no desconhecido, o normótico não consegue de forma alguma,
potencializar os seus talentos, sua criatividade, se fechando assim, para
toda possibilidade de expansão da própria alma. É natural que sua vida, com
o passar dos dias, entre numa dolorosa rotina e falta de sentido. Swami
Muktananda formulava de tal forma este ponto de vista:
"Durante muitos anos você esteve acumulando as impressões do mundo. Esteve
enchendo a sua mente e coração com a noção de que é pequeno, que é fraco,
que é pecador. Aprendeu estas coisas de seus professores, de sua sociedade e
de todos os livros sagrados de diferentes religiões e passou a acreditar
neles. Pensava a seu respeito como uma criatura limitada, aprendeu a ver
pecado no Ser puro. Como resultado, você vem nadando num oceano de
sentimentos limitados - desejos e anseios, apego e aversão, raiva e ciúme.
Agora a sua mente e coração tornaram-se tão nublados e embotados, que você
não pode ver a luz do Ser e, mesmo quando alguém lhe diz que você é o Ser,
você não consegue aceitar. Por isso você precisa fazer sadhana (prática
espiritual) Sadhana é o meio pelo qual você pode tornar seu coração puro e
forte o bastante para reter o conhecimento da verdade".
O que acontece é que o normótico não consegue ter a consciência que por
detrás dessa busca desenfreada por segurança e status, o que
inconscientemente procura é pelo preenchimento de sua sede de plenitude.
Esse tema já foi explorado de forma brilhante pela escritora Christina Grof,
em seu livro editado pela Editora Rocco, intitulado Sede de Plenitude -
Apego, Vício e o Caminho Espiritual. Podemos confirmar este ponto de vista,
nos pensamentos de um outro grande escritor e poeta da espiritualidade,
Paramahansa Yogananda:
"Em tudo que buscamos - dinheiro e prazeres sensórios - estamos, na verdade,
procurando Deus. Somos garimpeiros de diamantes que descobrem, em vez disso,
pedacinhos de vidro brilhando ao sol. Atraídos por esses vidrinhos e
momentaneamente ofuscados por eles, esquecemo-nos de continuar procurando os
diamantes autênticos, muito mais difíceis de achar... O homem é como um
fantoche. Os cordéis de seus hábitos, emoções, paixões e sentidos comandam a
dança. Amarram sua alma. Quem não quer ou não pode cortar os cordéis para
conhecer Deus, não O encontrará... Precisamos ser capazes de renunciar a
tudo para conhecê-Lo: "Buscai, primeiro, o reino de Deus, e todas essas
coisas vos serão acrescentadas. "...Você deve conceber Deus como a
necessidade prioritária de sua vida. Quebre as algemas da limitação, dos
hábitos obscuros e da rotina diária, mecânica... Queridos, já fui como
vocês, andei pela Terra procurando a verdade e a felicidade, mas tudo que
prometia alegria me deu sofrimento, e voltei-me então para Deus. Cada um
deve descobrir a própria divindade e conquistar para si próprio o reino de
Deus".
A normose exerce sobre a massa da sociedade uma espécie de hipnose refletida
na busca do status por meio de um materialismo grosseiro, apoderando-se de
sua energia vital como uma sanguessuga no corpo. Essa hipnose faz com que o
normótico não se dê conta da sabedoria contida nas sábias palavras de Jean
Jacques Rosseau: "Obtém-se tudo, tendo dinheiro, menos, bons costumes e bons
cidadãos".
Para o normótico a vida espiritual é uma espécie de mito ou um motivo de
chacotas; ele apresenta as mais absurdas espécies de desculpas para não
iniciar uma prática espiritual ou para não continuá-la se a iniciou,
achando-a enfadonha, vazia ou demasiada cansativa e não é raro, vê-lo fazer
comentários e piadinhas de mau gosto em relação àqueles que vivem uma busca
espiritual. Transcrevo abaixo, textos de alguns autores espiritualista que
elucidam bem a ação dessa forma de hipnose materialista:
"Aqueles que se encontram demasiado absorvidos pelos encantos de uma cobiça
excessiva, pelos tórridos vapores das paixões desordenadas ou pelo turbilhão
das atividades incessantes, talvez desdenhem dessa disciplina, tachando-a de
vaga e insípida. Paciência! Mas assim como a vida termina por triunfar
(embora secretamente) sobre a morte, assim também a vida espiritual com todo
o seu desenvolvimento e riqueza terminará por triunfar ostensivamente sobre
o materialismo sem alma dos nossos dias". Paul Brunton - A Busca do Eu
Superior - Ed. Pensamento
"Às vezes penso que a maior aquisição da cultura moderna é sua brilhante
promoção do samsara e suas estéreis distrações. A sociedade moderna me
parece uma celebração de todas as coisas que nos afastam da verdade, fazendo
difícil viver para ela e desencorajando as pessoas até mesmo de acreditar
que ela existe... Esse samsara moderno alimenta-se de ansiedade e depressão
que ele próprio fomenta, e para as quais nos treina e cuidadosamente nutre
com um mecanismo de consumo que precisa manter-nos ávidos para continuar
funcionando. O samsara é altamente organizado, versátil e sofisticado.
Investe sobre nós de todos os lados com sua propaganda, criando à nossa
volta uma cultura de dependência quase inexpugnável. Quanto mais tentamos
escapar, mais nos sentimos enredar nas armadilhas que ele tão engenhosamente
nos prepara..." Sogyal Rinpoche - O livro Tibetano do Viver e do Morrer -
Pág. 41
"...Hoje, o homem tornou-se tão materialista que ele teme qualquer
experiência, exceto a dos sentidos. Ele acredita que somente aquilo que ele
pode experimentar por meio dos sentidos é uma experiência verdadeira, e que
aquilo que não é experimentado por meio dos sentidos é alguma coisa
desequilibrada, alguma coisa que deve ser temida; isso significa penetrar em
águas profundas, algo anormal, pelo menos um caminho inexplorado. Com muita
freqüência o homem teme cair num transe, ou ter um sentimento que é incomum,
e pensa que aqueles que vivenciaram tais coisas são fanáticos que perderam a
razão. Mas não é assim. O pensamento pertence à mente, o sentimento, ao
coração. Por que alguém deveria acreditar que o pensamento está certo e o
sentimento, errado?" Sufi Hasrat Inayat Khan - O Coração do Sufismo - Ed.
Cultrix
"Ao trabalhar com tantas pessoas diferentes ano após ano, ouvi jovens e
idosos expressarem os mesmos sentimentos. Muitos são aqueles que, apesar de
riqueza, educação e sucesso profissional, estão insatisfeitos com suas
vidas, e sentem uma profunda fome interior que não sabem como saciar...
Debaixo da superfície próspera das nossas vidas, ainda experimentamos
frustração e confusão, ansiedade e desespero. Dentro das nossas sociedades,
mesmo os mais afortunados têm pouca esperança de liberação completa da
frustração e insatisfação". Tarthang Tulku - Conhecimento da Liberdade - Ed.
Dharma
Fica portanto, claro para mim, que a normose, resultado de um viver
egocêntrico, é uma das maiores barreiras ao desenvolvimento espiritual, e
tem como função primordial, frustrar a abertura dos olhos de nossa alma e o
conhecimento de sua natureza imortal.
Normose tem cura para quem procura
Salvador Dali
"Ninguém precisa se envergonhar de estar mental e emocionalmente doente,
pois é a coisa que normalmente acontece com os que fazem parte da grande
massa, isto é 95% da população. E fazer parte dos 5% restantes pode até dar
uma sensação de isolamento". Livro Bronze da Irmandade de N/A - Neuróticos
Anônimos
Quando o normótico começa a tomar consciência da sua verdadeira natureza e
do significado da sua existência, observa-se uma aceleração do seu processo
evolutivo. E isso ocorre porque o mesmo começa a colaborar com o impulso
evolutivo e a se tornar consciente, sentindo cada vez mais forte e
irresistível a premência de reencontrar a realidade de si mesmo capaz de lhe
proporcionar a Unidade interna necessária para a conquista de um modo de
vida equilibrado, efetivo e feliz.
O processo de recuperação da normose, num primeiro momento, inclui um
minucioso e destemido questionamento quanto ao atual sistema de crenças, a
coragem de recusar a submissão às mesmas que se mostrarem disfuncionais e
obsoletas, o destemor dos resultados da opinião social a seu respeito e a
coragem suficiente para rejeitar as idéias religiosas bem como os costumes
de terceiros e um questionamento destemido e minucioso quanto aos padrões
que se encontram subjacentes às insatisfações pessoais, e descobrir o que
esta limitando a realização e o prazer de viver. Traz consigo a
responsabilidade de buscar por idéias avançadas capazes de suplantar sua
insanidade estagnante. Os que se interessam o suficiente para enfrentar este
processo indiferente ao desprezo social, assim como explorar o que está além
das idéias institucionalizadas , estão aptos para exercerem a divina missão
de não mais perpetuar essa condição em si mesmos e no mundo que os rodeia.
Para o exercício desta missão, se faz necessário a conscientizaçã o de que o
grosso da sociedade sofre de uma espécie de alergia diante de conversas que
levem ao questionamento quanto à normose e que apenas poucos são capazes de
ousar por uma independência e juízo individual. Precisa ter em mente que
muitos normóticos, (assim como ele mesmo no decorrer do exercício da própria
normose), por medo de perder a estabilidade financeira ou por medo do
abandono e da solidão se afastam de práticas e de pessoas que possam colocar
em xeque a sua atual maneira de viver, chegando muitas vezes, até mesmo a
hostilizá-las, pois sentem que as mesmas, colocam em perigo as coisas e os
relacionamentos dos quais dependem para ter segurança e uma boa imagem. Com
razão dizia Thomas Merton, em seu livro Na Liberdade da Solidão - Ed. Vozes:
"Não pode o homem dar o seu assentimento a uma mensagem espiritual enquanto
tem a mente e o coração escravizados pelo automatismo" .
É preciso ter em mente de que o normótico só irá procurar por ajuda para a
limitação imposta por sua disfuncional maneira de viver, quando não tiver
mais com o que anestesiar a dor do tédio, a insatisfação e a falta de
sentido existencial. Transcrevo abaixo, pensamentos de alguns escritores que
elucidam bem este ponto de vista. São eles:
"...via de regra só o fazem sob o impacto de uma grande dor, crise emocional
ou outra perturbação que temporariamente os faça voltarem-se para dentro de
si mesmos e torne toda a atividade centralizada no eu fútil e sem sentido. É
estranho que ao atingir aquele ponto em que a vida não parece mais valer a
pena ser vivida é que as pessoas começam a interessar-se deveras pelo
aspecto espiritual da existência, quando anteriormente só ligavam para o seu
lado material. É nesse ponto que recorrem à religião em busca de lenitivo, à
filosofia em busca de compreensão, e, quando ambas as coisas não parecem
suficientes, a cultos estranhos e heterodoxos em busca de uma luz qualquer.
Contudo, qualquer que seja a fonte a que recorrerem a fim de obter
orientação interior e esclarecimento, ver-se-ão sempre em última instância
face a face com o mistério do eu, o qual exigirá sempre, conquanto de forma
silenciosa, investigações mais profundas. Torna-se portanto obrigatório que
o homem entenda tal coisa e faça da auto-compreensã o uma das razões
primordiais da sua vida. Até que assim faça, religião, filosofia, psicologia
superior, em suma, todas as trilhas do conhecimento não-sensorial
continuarão a confundi-lo e intrigá-lo". Paul Brunton - A Busca do Eu
Superior - Ed. Pensamento
"*Como é triste que a maioria de nós apenas comece a apreciar a vida quando
estamos a ponto de morrer!*... Não há comentário mais desalentador sobre o
mundo moderno do que esse: a maioria das pessoas morre despreparada para
morrer, como viveu despreparada para viver". Sogyal Rinpoche - O livro
Tibetano do Viver e do Morrer - Pág. 28
"Há um lugar no ser interior onde sempre se pode permanecer calmo e de lá
olhar com equilíbrio e discernimento as perturbações da consciência de
superfície e agir sobre ela para mudá-la. Se você puder aprender a viver
nesta calma do ser interior, você terá encontrado sua base estável". -
Sri-Aurobindo
"Ao enxergar sob uma luz bem mais abrangente os padrões que condicionam a
vida, é possível que não ficássemos tão dispostos a participar de ações que
sempre resultaram em sofrimento.. . Com um entendimento assim, não haveria
limites para a nossa visão do ser humano, nem limites para a liberdade
humana". Tarthang Tulku - Conhecimento da Liberdade - Ed. Dharma
"...Quem tiver a coragem e a paciência para permitir que sua mente raciocine
por essa forma, livre da ideologia convencional, será em última instância
gratificado com a descoberta da verdade eterna a cerca do homem. Dar-se por
satisfeito com as teorias científicas e filosóficas correntes, que podem e
devem ser completamente modificadas nas próximas décadas ou então ser
taxadas de errôneas e incompletas pela geração seguinte, é demonstrar
inércia e covardia mental. A verdade não é para os preguiçosos ou tímidos".
Paul Brunton - A Busca do Eu Superior - Ed. Pensamento
O normótico que quer se recuperar precisa buscar por momentos de solidão
onde possa praticar uma qualidade de escuta interior pela qual se possa
manifestar a Presença do que está presente, no mais profundo de sua
essência, abrindo-se cada vez mais "àquele que É". Ele precisa superar o
estado de identificação corporal para uma maior identificação com o
transpessoal. Precisa entrar num estado de apatia, ou seja, um estado onde
não mais se deixa enganar pelas promessas de satisfação vindas do externo, o
qual faz com que o normótico saia da sua horizontalidade em busca do
Essencial, acima de todas as coisas - a busca da ação da verticalidade do
Ser.
O normótico não consegue perceber a realidade da prisão em que vive, do
mesmo modo que o peixe não se percebe prisioneiro num aquário. Por essa
razão, o normótico submete sua liberdade à autoridade grupal em detrimento
de sua autonomia. Não consegue perceber que são nas escolhas individuais, na
mais ampla liberdade do homem que se encontra o potencial de saúde.
"Esta normalidade é uma mediocridade que não admite ou até mesmo condena
tudo o que se encontra fora de suas normas e o considera como anormal sem
levar em conta que muitos comportamentos ditos como anormais são em
realidade começos ou tentativas para ultrapassar a mediocridade" - Roberto
Assagioli
Tags: cura, normalidade, normose, patologia
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Macacos Conscientes do Ponto Azul e Emanações da Coisa 9 respostas
. Caros Assistir o vídeo "O Pálido Ponto Azul" e em seguida o "Dancem Macacos, Dancem" é uma experiência. Dá uma sensação de um certo descolamento do mundo cotidiano, e talvez um princípio de visl...
Iniciado por Acauã Rodrigues em Não-categorizado. Última resposta de Laerte Willmann 12. Maio, 2008.
Iniciado por Eduardo Sejanes Cezimbra em Não-categorizado. Última resposta de João Beauclair 31 Maio.
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A vida secreta dos ingredientes - Pegue uma embalagem de biscoito em sua cozinha e dê uma lida no rótulo. Você conhece a origem e a função de todos os ingredientes? O jornalista americano Steve Ettlinger também não sabia, mas viajou o mundo para descobrir e relatou tudo no livro Twinkie, Deconstructed (Twinkie, Desconstruído, sem edição brasileira). A ideia surgiu durante um piquenique com a família. Seu filho perguntou o que é o polissorbato 60: “Dá em árvores?” Ettlinger não soube o que responder e decidiu descobrir e compartilhar esse conhecimento com outros consumidores. Foi pesquisar a origem de todos os ingredientes do famoso bolinho recheado Twinkie, vendido há mais de 70 anos nos Estados Unidos. Em alguns casos, a origem está em refinarias de química cuja localização é protegida por leis antiterrorismo. Noutros, nas fazendas de milho e soja do Meio Oeste americano. (Ah, sim: o polissorbato 60 de certa forma dá em árvores. Trata-se de um polímero derivado de milho e óleo vegetal. É um emulsificante: faz com que a água e a gordura se combinem. No caso do Twinkie, sua função é substituir a capacidade estabilizante dos ovos e do leite, que ajudam no crescimento das massas.)
Entrevista com o AUTOR
Apocalipse Motorizado
Ned Ludd (org.)
A cada três minutos acontece um acidente envolvendo carros na cidade de São Paulo.
Vinte mil pessoas são mortas, por ano, vítimas de acidentes de trânsito no Brasil, mas números não oficiais apontam quase o dobro. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mais de um milhão de pessoas estão envolvidas direta ou indiretamente nestes acidentes!
As ruas, avenidas e viadutos avançam devastando bairros e expropriando o espaço público da comunidade pelo espaço privado do automóvel.
O petróleo polui e altera as condições climáticas das cidades cada vez mais congestionadas...Guerras são declaradas e milhões são massacrados pelo controle das fontes de combustíveis como podemos ver claramente hoje no Iraque.
Contudo, até então nenhuma reflexão contundente sobre o papel desumano dos automóveis havia obtido seu devido espaço no Brasil, nenhuma crítica radical contra essas máquinas moedoras de carne humana.
Por isso, o livro Apocalipse Motorizado - A Tirania do Automóvel em um Planeta Poluído apresenta uma coletânea inédita de textos sobre a questão do automóvel como uma imposição social, discutindo seus ´efeitos colaterais´ nefastos como poluição, dependência do petróleo, expropriação do espaço público comum e a exclusão social. Mais que uma abordagem teórica, o livro propõe ações práticas e soluções à libertação da humanidade dessa tirania.
A coletânea é ilustrada pelo cartunista americano Andy Singer, cujo livro CARtoons tornou-se referência nos movimentos anticapitalistas ao redor do mundo.
Apocalipse Motorizado não representa apenas uma análise da insustentável organização de nosso atual sistema de transportes, mas também insere sugestões de como, de maneira inteligente e criativa, se opôr à ditadura do automóvel e suas consequências desumanas.
O pensamento ecológico radical de Ivan Illich e André Gorz, o papel do carro em nossa sociedade, a história do movimento anticarro, seu objetivo, como organizar uma ´Massa Crítica´ em sua cidade, sugestões de manifestações bem-humoradas: tudo condensado neste livro bombástico, um guia para quem não aceita ficar parado, vendo o tráfego atropelar suas vítimas.
Mais um acidente de trânsito acabou de acontecer em São Paulo.
OS AUTORES
Ivan Illich (1926-2000) foi um dos pensadores mais surpreendentes dos anos 70 e 80. Com precisão e força atacou cada um dos falsos consensos da sociedade ocidental. O texto de Illich neste livro teve imenso impacto no pensamento libertário de hoje.
André Gorz nasceu em Viena, em 1924, é autor de ´Crítica da Divisão de Trabalho´ (Martins Fontes, 1989)
Aufheben é o nome de um grupo autonomista marxista da Inglaterra surgido nos anos 90.
Car Buster é a principal organização ativista internacional do movimento anticarro.
Reclaim The Streets é um dos principais movimentos ativistas de Londres que surgiu em 1991 com o intuito de tornar as ruas um local de convívio entre pessoas e não somente um espaço de passagem.
Ned Ludd é organizador do livro Urgência nas Ruas Coleção Baderna - Conrad, 2002
Ciência precisa de metáforas melhores, diz pesquisador
Livro critica estágio atual da biologia e sugere caminhos para o futuro dessa disciplina
Se a poesia emprega metáforas para despertar o encanto, também a ciência usa esse recurso, para uma melhor compreensão de conceitos abstratos ou complexos. Por isso os cientistas falam, por exemplo, da movimentação do som por meio de "ondas". Porém, se na poesia o mau uso de metáforas resulta apenas em uma obra duvidosa, na ciência a compreensão literal das metáforas leva a perigosos mal-entendidos.
Esse é o eixo central das idéias discutidas por Richard Lewontin, pesquisador da Universidade de Harvard (EUA), em conferências realizadas em Milão que, com o acréscimo de mais um capítulo, tornaram-se o livro A tripla hélice. Lewontin debate a idéia de que somos pré-determinados pelos genes, aponta incorreções na teoria da evolução de Darwin, discute a visão cartesiana de que o corpo é uma máquina e sugere caminhos para o estudo da biologia.
O autor critica o uso do termo desenvolvimento para sintetizar as alterações por que passamos do nascimento à morte. Lewontin afirma que o "termo traz a idéia de algo que se desenrola a partir de algo já presente". Segundo esse conceito, as características dos seres vivos seriam a mera expressão do seu material genético e nunca dependeriam da influência do ambiente (como se verifica, nos humanos, no caso da língua que cada indivíduo fala).
Lewontin também discute a atualidade da teoria da evolução. O termo criticado dessa vez é a adaptação -- "o processo pelo qual um objeto se torna apto a satisfazer uma existência preexistente". Segundo esse conceito, a diversidade das espécies resultaria da existência de "diferentes tipos de ambientes aos quais os seres vivos se compatibilizaram mediante a seleção natural". O autor condena a separação entre ambiente e organismo. As formigas, por exemplo, fazem ninhos, as plantas consomem gás carbônico do ambiente e produzem o oxigênio a ser usado pelos animais. Organismos e ambiente agem um sobre o outro em um processo constante de transformação.
Mais uma metáfora combatida é a comparação de seres vivos a máquinas. Para estudar um organismo, a biologia divide-o em partes, como se fosse possível separá-lo em funções e em seguida "determinar um todo claro e de anatomia óbvia". É impossível estudar como alguém segura um objeto analisando apenas os movimentos da mão. Ele precisa dos olhos para ver, os músculos se contraem a partir do encurtamento das fibras musculares, que por sua vez depende da química das proteínas actisina e miosina.
Embora admita que as técnicas de que a ciência dispõe já bastam para que avanços sejam feitos, Lewontin esclarece que as respostas que a biologia elabora dependem das perguntas que faz. Se o estudo dos seres vivos está permeado de noções equivocadas, as perguntas serão mal-formuladas e as respostas não esclarecerão o que realmente interessa.
A tripla hélice é um livro atual e envolvente. Em uma linguagem simples, porém de raciocínios complexos, permite uma leitura surpreendente a quem quer que tenha domínio razoável de biologia e genética.
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