domingo, 20 de setembro de 2009

Criatividade, para quê? Ubiratan D" Ambrósio

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Congresso Internacional de Criatividade

Criatividade, para quê? [1]



O tema é difícil. Durante três dias esse será o foco das nossas reflexões. Vou dar o pontapé inicial e fazer a bola rolar.

Ninguém começa um discurso acadêmico assim, embora esteja dizendo, metaforicamente, o que efetivamente vai acontecer. Estou chocando muitos. Transgrido, na forma, os padrões. Estou sendo criativo? O que é ser criativo? Qual o limite do que é aceito pelos padrões e o que é transgressão?

Quando sou convidado para abrir uma conferência sempre me vem à mente aquele momento de um jogo de futebol em que o juiz apita e o centroavante faz a bola rolar. Ou o momento em que, numa corrida de Fórmula 1 a luz verde acende e os pilotos aceleram. Ou a expectativa de músicos e platéia ao sinal do maestro para começar a peça.

No primeiro caso, sai para direita ou para a esquerda? E durante noventa minutos não sabe o passo de companheiros nem de adversários. Cada instante é um instante de exercício de criatividade. No segundo caso, é um indivíduo com domínio de uma máquina poderosa que deve estar permanentemente alerta para o desempenho da mesma e para a presença perigosa de outros. No acelerar e no desacelerar, no desviar e no ousar, sua criatividade se manifesta. E no terceiro caso, o músico é um indivíduo com o domínio de uma técnica de instrumento, absolutamente atento e obediente às instruções do maestro. Na sua refinada técnica e na sua disciplinada obediência a sua criatividade se manifesta.

O que é criatividade? Como se manifesta? Nosso respeitado Aurélio dá 17 acepções para criar e 7 para criador. Criativo e criatividade se referem à acepção 3. no que diz de criador: Inventivo, fecundo, criativo e de criar: Dar princípio a; produzir, inventar, imaginar, suscitar.

O conceito é curioso. Todo indivíduo é criativo. [2] Como e porque distinguir criatividade se ela é intrínsica ao ser humano? A razão é que, como o próprio indivíduo, a criatividade em si é inconclusa.


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Vida

Ao longo da sua história o homo sapiens sapiens tem acumulado meios de sobrevivência e de transcendência, que constituem o acervo de conhecimentos da humanidade. Esses se manifestam como modos de fazer e sistemas de explicações e que respondem a necessidades e indagações sobre os fatos básicos da realidade: o indivíduo, o "outro" (sociedade) e a natureza (imediata, planetária e cósmica). Meu ponto de partida é assumir a essencialidade mútua desses fatos. O fenômeno vida é resultado da sua integralidade representada no "triângulo da vida": indivíduo/natureza/sociedade.



indivíduo natureza



indivíduo outro/sociedade



outro/sociedade natureza



Vida é a realização desse ciclo. A existência de cada indivíduo, que se identifica com sua autonômia na busca de sobrevivência, é a ativação desse ciclo. A interrupção de qualquer dessas conexões interrompe a vida.

A essencialidade mútua se manifesta nas conexões, necessárias para o fenômeno vida:



indivíduo e natureza para sobrevivência do indivíduo

indivíduo e outro/sociedade para continuidade da espécie

sociedade e natureza para sobrevivência da espécie



Os mecanismos fisiológicos e ecológicos são a resposta das várias espécies à resolução das relações presentes no triângulo da vida. Como disse acima, a quebra de qualquer das conexões determina o fim da espécie. E nenhum dos três elementos existe sem os outros. Talvez a natureza possa continuar sem alguma espécie. Mas será a mesma? [3]

Com o aparecimento da espécie humana surgiram intermediações entre esses fatos:



indivíduo instrumentos/tecnologia natureza



indivíduo comunicações/emoções outro/sociedade



outro/sociedade produção/trabalho natureza




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Conhecimento

Falei acima das intermediações criadas pela espécie humana para relacionar indivíduo, sociedade e natureza:



instrumentos e tecnologia entre indivíduos e natureza

comunicações e emoções entre indivíduo e outro/sociedade

produção e divisão de trabalho entre sociedade e natureza



A realização dessas intermediações se dá pela comunicação e pelo conhecimento. O conhecimento, assim conceituado, tem várias dimensões: sensorial, intuitiva, emocional, mística, racional.

O conhecimento que se desenvolveu a partir das culturas mediterrâneas se caracteriza por ter aprofundado uma percepção do cosmos, do planeta e da natureza que vê os seres humanos como uma espécie privilegiada. Esse conhecimento acarreta um comportamento ditado por privilégios.

Ao longo da história, o conhecimento originado nas culturas mediterrâneas foi, gradativamente, eliminando as dimensões sensorial, intuitiva, emocional e mística. Impôs-se, como a característica por excelência do ser humano, a sua dimensão racional. O conhecimento com maior ênfase no intuitivo foi identificado com as artes, o místico e o emocional com as religiões e o sensorial com empirismo e suas conotações negativas. Os vários corpos de conhecimento, estruturados segundo a dimensão racional, passaram a ser denominados ciências, que acabou sendo identificada com conhecimento. As demais dimensões comparecem no que são chamadas as tradições.

O flanco vulnerável da racionalidade científica foi exposto de forma mais flagrante justamente pela ciência identificada como o padrão dessa racionalidade, que é a matemática. Na busca de se procurar fundamentar o conhecimento matemático e a sua geração, na transição do século XIX para o século XX, o intuicionismo de L. E. J. Brower, proposto em 1906, contrapõe-se ao logicismo de Bertrand Russell e ao formalismo de David Hilbert, rejeitando justamente o tertium non datur (lei do terceiro excluído), sobre o qual se funda grande parte do pensamento matemático. [4] Uma nova ciência da cognição começou então se delinear.

Igualmente atingida foi a visão de um universo newtoniano com o surgimento das mecânicas quântica e relativística, a partir de Max Planck e Albert Einstein e com as formulações de Niels Bohr e Werner Heisenberg. [5] Fundamentalmente atingida foi a percepção de uma realidade determinista e a linearidade nela implícita, obedecendo relações de causa-efeito. Abriu-se assim o caminho para as teorias geral dos sistemas e teorias do caos e da complexidade e para uma nova visão do universo.

Não menos atingida foi a visão de homem, com a percepção da essencialidade do outro no reconhecimento do seu próprio eu. Os trabalhos pioneiros de S. Freud sobre a histeria abriram o caminho para uma nova ciência da mente e do comportamento.

O homem começa a se reconhecer como uma entidade individual, social, planetária e cósmica a partir desses novas visões de cognição, da mente e do comportamento, e do cosmos.

A civilização ocidental tem privilegiado o existencial e o factível e construído sistemas de conhecimento visando sua sobrevivência. Criaram as intermediações que deram origem às ciências e a conseqüente tecnologia. Mas, paradoxalmente, a sobrevivência do indivíduo e da espécie, representada pelo triângulo da vida, se sente ameaçada justamente pelas intermediações criadas pela espécie.

As próprias ciências e a tecnologia, que hoje é chamada tecnociência, criaram os instrumentos que possibilitam antever o perigo de extinção da espécie. A alternativa de uma espécie modificada, que tem sido contemplada na ficção, é hoje uma possibilidade.

Pergunta-se porque esse roteiro na busca do conhecimento ocidental chegou a perspectivas tão assustadoras? Pura e simplesmente, porque o caminho da humanidade não tem tido sucesso? As próprias ciências reconhecem sua insuficiência para responder a essas questões básicas e para encontrar um novo caminho.

Vamos encontrar, metaforicamente, essa conclusão num dos mais importantes resultados científicos desse século, mais uma vez justamente na ciência que, como dissemos acima, tem sido apontada como a representante por excelência do racionalismo ocidental, a matemática. Kurt Gödel mostrou em 1931 que é impossível provar a consistência de um sistema formal utilizando somente argumentos que podem ser formalizados no sistema. [6] É necessária a busca de outros caminhos. O que teria causado o desvio de uma promessa de grandes realizações para a ameaça de extinção?

A busca de sobrevivência, existente em todas as espécies vivas, com o homem se dá com intermediações, que conduzem naturalmente à busca de explicações que resultam das possibilidades dessas intermediações. Ir além do presente, do imediato, e buscar explicações e a superação do momento, da própria existência, é a transcendência, característica da espécie humana. Sobreviver se dá no presente, que é a interface de passado e futuro. Transcender é mergulhar no passado e incursionar no futuro. Daí se originam os sistemas de explicação -- história e as religiões -- e os sistemas de divinação e de predição –- os oráculos e as ciências. Tudo se integra nas religiões e nas ciências, que transcendem tempo, e nas comunicações e nas artes, que transcendem tempo e espaço. Obviamente, transcender tempo e espaço são complementares. Portanto, as comunicações, as religiões, as artes e as ciências, que representam estilos de conhecimento, andam juntas, não se separam. Basta um olhar para a evolução da humanidade para se convencer que esses estilos de conhecimento tem sempre se alimentado mutuamente. A filosofia moderna tentou situar essa totalidade em setores específicos do cérebro que cuidam do sensorial, do místico, do emocional, do intuitivo e do racional!

Para realizar as conexões com a natureza e com o outro o indivíduo gera conhecimento. O indivíduo e o outro são sempre diferentes, e portanto, a sociedade é constituída de indivíduos todos diferentes. A diferença resulta em contradições e conflitos. Contradições e conflitos são intrínsecos à existência. As emoções que daí resultam e as tentativas de eliminar ou mesmo resolver esses conflitos podem conduzir à arrogância, à inveja e à prepotência. Não se trata de acabar, mas sim equilibrar os conflitos e as contradições, respeitando as diferenças.

Em vista da essencialidade, o relacionamento do indivíduo com os fatos da natureza, vivos e não vivos, inclusive com o outro, significa a inconclusão de cada indivíduo.


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Criatividade

O ser/indivíduo humano é o único que tem consciência da sua inconclusão, que se manifesta na essencialidade do outro na sua busca de sobreviver e de transcender, e busca transcender sua inconclusão através da utilização de fatos (artefatos e mentefatos) e da criação de novos fatos (artefatos e mentefatos).

O indivíduo, como criador/autor, tem sua obra, que é o fato novo, realizado somente através do outro, agora como observador. A obra, isto é, o fato novo criado pelo indivíduo, é portanto inconclusa. Sua existência depende do criador e igualmente do observador, do outro, numa relação de essencialidade.

O outro (observador) não se resume apenas no próximo e no parecido. Inclui também o distante e o diferente. Os fatos criados são, assim, coletivizados e organizados como cultura.

Criatividade é a capacidade do ser humano de realizar essas conexões. O resultado da criatividade são novos fatos, a obra, que se incorporam à realidade, alguns acessíveis a outros pela comunicação (artefatos) e outros acessíveis somente quando reificados (mentefatos).

Recorremos a um recurso gráfico semelhante ao triângulo da vida, no qual as conexões são relações de essencialidade.



CRIADOR/AUTOR OUTRO/OBSERVADOR



CRIADOR/AUTOR FATO CRIADO/OBRA



FATO CRIADO/OBRA OUTRO/OBSERVADOR



Mais uma vez, a importância está nos três componentes e nas relações entre eles. A metáfora do triângulo é conveniente, pois como todos sabem, os seis elementos são essenciais na definição de um triângulo.

Por que realizar essas conexões? Simplesmente por ser humano. Não se poder ser humano sem ser criativo.

O busílis é como realizar essas conexões.

Embora seja verdade em todas as manifestações do conhecimento que a realização das conexões exige alguma disciplina comunicativa, isso é mais presente na música e na matemática.

A metodologia de pesquisa mais adotada tem sido os depoimentos de indivíduos. Por razões óbvias, tem sido dada maior atenção a individuais que mostram certo tipo de genialidade. Isto é, aqueles para os quais a conexão

FATO CRIADO/OBRA OUTRO/OBSERVADOR

se manifesta mais fortemente.



Um projeto, intitulado "How Mathematicians Work" [Como os matemáticos trabalham?] foi conduzido pelo IMA: Institute of Mathematics and its Applications, da Inglaterra. A pesquisa foi baseada em algumas questões que são, basicamente, as seguintes:

1. Somos capazes de medir criatividade matemática?

2. São os criativos matemáticos diferentes de outros criativos?

3. Que papéis tem verdade e erro nas práticas matemáticas?

4. A matemática é vista pelos que a praticam como uma técnica, uma arte, ou algo sui generis?

5. Podem aspectos cognitivos e afetivos da matemática serem ensinados ou são simplesmente aprendidos? E que são esses aspectos?

6. Que assistência pode-se esperar na criação, aprendizado e aplicações da matemática?

7. Por que alguém decide ser matemático?

8. A matemática é produzida individualmente ou socialmente?

9. As medidas dessa produção diferem de outras medidas de produção? Como?

10. É possível aquilatar a qualidade dessa produção? Como?

Essas dez perguntas constituem, em si, um importante projeto de pesquisa, que pode ser conduzido em diversos ambientes e tratando das disciplinas mais diversas.

Uma das melhores reflexões que conheço sobre o que é criatividade matemática está na entrevista que Ennio De Giorgi, um dos grandes matemáticos do século, concedeu a Michelle Emmer poucos meses antes de sua morte, em 1996. Nessa entrevista De Giorgi diz "Eu penso que a origem da criatividade em todos os campos é aquilo que eu chamo a capacidade ou disposição de sonhar: imaginar mundos diferentes, coisas diferentes, e procurar combina-los de várias maneiras. A essa habilidade -– muito semelhante em todas as disciplinas –- você deve acrescentar a habilidade de comunicar esses sonhos sem ambigüidade, o que requer conhecimento da linguagem e das regras internas a cada disciplina." [7]

Isso me traz à lembrança uma entrevista recente de Dorival Caymmi. Ao comentar sobre um convite que lhe foi feito para escrever um manual sobre a arte de compor, ele disse que sua resposta havia sido "Não sei música, não aprendi música e, terceiro, não me deixaram aprender música. E talvez um quarto. Fui proibido de aprender música. Aí achei graça e achei que estava certo. Fui proibido porque diziam ‘Se você aprender música perde esse espontâneo do que você cria’ ".


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NOTAS

[1] Conferência de abertura no Congresso Internacional de Criatividade, UNESP/UNIFESP/USP, 16 a 18 de novembro de 1998, São Paulo.

[2] Interessante, embora breve, a discussão em Steven Pinker: How the Mind Works, W.W. Norton & Company, New York, 1997.

[3] O gorila mestre Ismael tem, na parede do seu escritório, um quadro com a pergunta "Com o fim da humanidade haverá esperança para o gorila?" e no reverso a pergunta "Com o fim do gorila haverá esperança para a humanidade?". Veja a bela fábula de Daniel Quinn: Ismael. Um Romance sobre a Condição Humana, Editora Fundação Peirópolis, São Paulo, 1998.

[4] Para uma síntese ver o verbete Foundations of Mathematics no excelente Encyclopedic Dictionary of Mathematics, by the Mathematical Society of Japan, edited by Shôkichi Iyanaga and Yukiyosi Kawada, translation reviewed by Kenneth. O. May, The MIT Press, Cambridge, 1980; p.549.

[5] Para uma síntese ver o verbete quantum no Dictionary of the History of Science ed. W. F. Bynum, E.J. Browne, Roy Porter, Princeton University Press, Princeton, 1984.

[6] op.cit. em Nota 2, p.550.

[7] Michele Emmer: Interview with Ennio De Giorgi, Notices of the AMS, vol. 44, n° 9, October 1997, pp. 1097-1101.


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Retorno para 9 Ubiratan D`Ambrosio


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Etnopedagogia

1 Concepção 7 Célestin Freinet
2 Pensamento 8 Paulo Freire
3 Estruturação 9 Ubiratan D`Ambrosio
4 Paradigmas 10 Edgar Morin
5 Vivências 11 Pessoas&Livros
6 Processo 12 E-pombo@Correio

Páginainicial


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Congresso Internacional de Naturologia Aplicada

A UNIVERSIDADE COMO AMBIENTE PRIVILEGIADO

PARA O ENCONTRO DAS CIÊNCIAS E DAS TRADIÇÕES [1]


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Em 1986 realizou-se em Veneza o Primeiro Fórum de Ciência e Cultura da UNESCO focalizando o encontro das ciências e das tradições. Pensadores de várias especialidades vindos de várias partes do mundo se reuniram para debater o estado do conhecimento face à efetiva globalização do planeta. Todos os povos pensados como a mesma espécie humana e todas as culturas pensadas como integrando uma civilização planetária exigem um novo pensar e um novo relacionamento de saberes e de fazeres que muitas vezes se manifestam diferentemente. Se na era colonial havia entre saberes e fazeres uma relação de prepotência e de marginalização e mesmo rejeição de formas de conhecimento próprias dos povos conquistados, as novas relações internacionais e intenção de recuperar a dignidade cultural de todos os povos, manifesta na Declaração dos Direitos do Homem, exige o diálogo intercultural e interdisciplinar como passos essenciais para a humanidade transcultural e o conhecimento transdisciplinar.

A transculturalidade e a transdisciplinaridade se mostram possibilidades de sobrevivência, com dignidade, da espécie ameaçada. Mas elas necessitam um ambiente para prosperarem. Que ambiente será esse?


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As lições da história

Desde os tempos pré-históricos tem-se notado que os homens buscam um espaço de intercâmbio de idéias e de difusão do conhecimento acumulado.

É curiosa a descrição que o arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio faz, no século I a.C., da origem da conversação: "Os homens de antigamente eram nascidos como bestas selvagens, nas florestas, cavernas, e grotas, e viviam selvagemente. Com o passar do tempo, as árvores densas em um certo lugar, arrancadas por tempestades e ventos, e esfregando seus galhos um contra o outro, pegaram fogo, e assim os habitantes do lugar fugiram, aterrorizados pelas chamas furiosas. Depois que ela se acalmou, eles se aproximaram, e observando que se sentiam muito confortáveis estando frente ao fogo, acrescentaram a ele galhos e, assim avivado, ele atraiu outras pessoas para seu redor, mostrando quanto conforto elas poderiam obter dele. Nesse encontro dos homens, num tempo em que os sons emitidos eram puramente individuais, dos hábitos diários eles se fixaram em palavras articuladas à medida que elas iam chegando; então, indicando por nome as coisas de uso comum, o resultado foi que deste modo puramente aleatório eles começaram a falar, e assim se originou a conversação de um com o outro. Portanto, foi a descoberta do fogo que originalmente deu origem ao encontro dos homens, às assembléias deliberativas, e ao relacionamento social." [2]

Ao ar livre ou nas cavernas, nas conversas ao pé do fogo, nas famílias e nas assembléias, nas academias e nas escolas, inicia-se a organização e a difusão de conhecimentos que foram gerados por cada indivíduo através do processamento de informações recebidas da realidade combinadas com informações prévias armazenadas na memória. Como se dá esse processamento? Ninguém sabe.

Essa é um das questões que vem sendo abordado com grande intensidade por pesquisadores de várias especialidades. Embora haja concordância que a linguagem teve um papel fundamental no desenvolvimento das capacidades cognitivas do homem, o silêncio tem se revelado uma importante estratégia na elaboração do conhecimento. Particularmente, o silêncio em companhia de outros. Não vou abordar esse aspecto da elaboração do conhecimento, mas falar dos ambientes reconhecidos como academias e variantes. A idéia vem do grego. Platão transmitia suas idéias num local onde teria sido sepultado o herói mitológico Academo. Etimologicamente, seu nome significa "o que age independentemente do povo". Hoje nos referimos genericamente a academias da Grécia Antiga como os locais em que filósofos transmitiam seus conhecimentos. É inegável o caráter elitistas das desses espaços.

Com a adoção do Cristianismo pelo Império Romano, no século IV, criou-se um espaço, igualmente elitista, para as reflexões filosóficas. Esses espaços eram chamados mosteiros, palavra derivada do grego cujo significado é viver só, isolado. O objetivo dos mosteiros era a construção da doutrina cristã e a sua fundamentação filosófica. O conhecimento era construído com essa finalidade.

O imaginário sobre o qual repousavam essas reflexões era extremamente rico. Esse espaço privilegiado era subordinado à Igreja. Obviamente, era necessário depurar as fontes sobre as quais estava sendo construído o conhecimento cristão. Nessa depuração excluiu-se todo o complexo filosófico grego. Os monges detinham esse conhecimento e sua difusão se fazia através de filtros convenientes à Igreja.

Sabe-se pouco do que se passava com a intelectualidade de outras civilizações, quais eram os ambientes privilegiados para essas reflexões e geração, organização e difusão do conhecimento. São interessantíssimas as argumentações na China. [3]

Com as cruzadas os monges tomam conhecimento de outros conhecimentos, essencialmente a filosofia grega traduzida, aprimorada e elaborada pela intelectualidade muçulmana. Era evidente a possibilidade de reconciliação da filosofia cristã com a filosofia grega. Tornava-se necessário o encontro "cauteloso" dos intelectuais cristãos, na sua quase totalidade monges, com intelectuais hereges. Criou-se assim um espaço no qual esses hereges podiam professar seu conhecimento para benefício dos monges, sem macular o ambiente sagrado e restrito dos mosteiros. Esse espaço eram as universidades, cuja palavra, agora latina, significa inteiro, todo. As primeiras universidades, Bologna e Paris, vão surgindo. E pouco depois a Igreja assume o controle desses espaços de reflexão sobre o todo. Outras universidades vão surgindo.

A universidade medieval concentra seus estudos na filosofia e nas explicações sobre fenômenos.

A figura maior de Thomas de Aquino (1225-1274) praticamente fecha um esforço de se construir uma teologia cristã.

A partir das reflexões de Aristóteles, reconduzido à academia graças a Avicena (980-1037), Averroes (1126-1198) e outros pensadores islâmicos, explicar o movimento torna-se o foco das universidades medievais. O próprio Thomas de Aquino dedicou-se a isso. Roger Bacon (ca 1219-1292} ao afirmar que "nada de muita importância pode ser conhecido das ciências sem matemática" abre as possibilidades para a fundamental contribuição dos monges cientistas.

A afirmação de Aristóteles que quando mais pesado o corpo, maior sua velocidade de queda passou por contestações. São importantíssimos os estudos de Thomas Bradwardine (ca 1290-26/08/1349) e de seus colegas no Merton College (William Heytesbury, Richard Swineshead, John Dumbleton et al).

A Lei de Bradwardine nos fala da relação entre força e resistência à velocidade na produção do movimento: F2/R2=(F1/R1)V2/V1

Segundo Anneliese Maier, "Bradwardine queria ter escrito um Philosophia naturalis principia mathematica do seu século".

Da Escola de Merton saem alguns conceitos fundamentais:

movimento uniforme: quando o corpo percorre distâncias iguais em intervalos de tempo iguais;

aceleração uniforme: quando um corpo adquire iguais aumentos de velocidade em intervalos de tempo iguais, grandes ou pequenos;

Teorema da velocidade média, a mais importante contribuição medieval para a história da física (Edward Grant: Physical Science in the Middle Ages, John Wiley & Sons, Inc., New York, 1971): Seja S espaço percorrido Vf velocidade final, t tempo de aceleração. Então

S = ½ Vf .t . Como a velocidade é uniformente acelerada, Vf = a.t, portanto S = ½ a.t2 .

Isso preparou as importantes observações do português Alvaro Thomas (1509) na Universidade de Coimbra, que seriam retomadas por Galileo Galilei no Discurso sobre Duas Novas Ciências (1638): todos os corpos de qualquer dimensão e composição material caem com igual velocidade no vácuo.

Segundo o medievalista E. Grant, a grande importância de Galileo foi reunir todos os conceitos, definições, teoremas e corolários e organizá-los num todo lógico e ordenado que aplicou ao movimento de corpos.

Estava preparado o terreno para a busca de explicações para o mais fundamental dos fenômenos, o movimento. Incluídos nessas reflexões estavam as noções de espaço e tempo.

Cabe a Isaac NEWTON (1642-1726) sintetizar essas idéias e escrever, enquanto na Universidade de Cambridge, a obra que marca o início da ciência moderna, Philosophia naturalis principia mathematica (1687).

Surge assim aquilo que passou a ser reconhecido como o paradigma científico, baseado no princípio de causa e efeito regulados por leis universais.

Com os tempos modernos, caracterizados pela adoção do paradigma científico em todas as áreas do saber e do fazer, e procedeu-se a identificação do ser humano com o ser racional e do ser racional com o ser científico.

As dimensões mística, sensorial, intuitiva e emocional foram subordinadas a dimensão racional. O comportamento individual e social foi subordinado ao paradigma que proclamou-se ser a essência do ser humano.

A transmissão e difusão desse pensar caracterizou a evolução da universidade a partir de então.

O mundo é muito maior que a Europa e seus prolongamentos em outras terras. O que se passava no pensar de outras civilizações? Como se desenvolveram os ambientes de reflexão e desenvolvimento de técnicas e artes de explicar, de conhecer e de fazer em diferentes ambientes culturais? [4]

Sabemos muito pouco sobre o que seriam os equivalentes a universidades em outras culturas civilizações.

A história das universidades européias na "Idade da Razão" [5] é conhecida. A criação das Grandes Écoles na França Napoleônica, dos Land Grant Colleges nos Estados Unidos e a reestruturação da Universidade de Berlim vieram dar os modelos que se associaram para formar a universidade de hoje, praticamente a mesma em todo o mundo. Fundamentalmente organizada a partir das disciplinas, praticando uma multidisciplinaridade e com grande dificuldade se aventurando na interdisciplinaridade.

Esse modelo está se esgotando. Há uma busca intensa de universidades alternativas. [6]

Mas a própria universidade convencional busca novos caminhos. [7]

Não tenho dúvidas que o repensar a universidade convencional que começa a ganhar intensidade, abraçará o pensar transdisciplinar. Como foi em outros tempos, a universidade é o espaço privilegiado para esse novo pensar.

Ao mesmo tempo, paradoxalmente e como foi em outros tempos, a universidade tem sido o baluarte de resistência ao novo pensar. Possivelmente, sem encontrar essa resistência, o novo pensar seria não mais que uma ilusão de ser novo.


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NOTAS

[1] Conferência de Abertura do Primeiro Congresso Internacional de Naturologia Aplicada, Florianópolis, 24 a 27 de novembro de 1998.

[2] Vitruvius. The Ten Books on Architecture, transl. Morris Hicky Morgan (1914), Dover Publications Inc., New York, 1960; p. 38.

[3] Ver A.C. Graham: Disputers of the Tao. Philosophical Argument in Ancient China, Open Court, La Salle, 1989.

[4] O estudo das artes e técnicas (ticas) de explicar, de conhecer e de fazer (matema) em diferentes ambientes naturais e culturais (etnos) constitui a meta do programa etno-matema-tica. Ver Ubiratan D’Ambrosio: Etnomatemática, Editora Ática, São Paulo, 1990.

[5] Talvez nada mais revelador da arrogância do pensamento atual é chamar os últimos 300 anos de Era da Razão!

[6] É de grande importância no Brasil a Universidade Holística Internacional, iniciada em Brasília em 1987 e com campi por inúmeras regiões do país. Destaca-se também a Universidade da Paz, na Costa Rica, e a Universidade das Nações Unidas, com sede em Tokyo. Deve-se mencionar as universidades virtuais. Destaco a UVLA: Universidade Virtual Latino-americana, operada a partir de Lund, na Suécia [ http://www.ldc.lu.se/latinam/uvla/uvla1.htm ].

[7] Ver o interessantíssimo editorial de Michael S. Gazzaniga: How to Change the University, Science, vol.282, 9 October 1998, p. 237.


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Retorno para 9 Ubiratan D`Ambrosio


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Etnopedagogia

1 Concepção 7 Célestin Freinet
2 Pensamento 8 Paulo Freire
3 Estruturação 9 Ubiratan D`Ambrosio
4 Paradigmas 10 Edgar Morin
5 Vivências 11 Pessoas&Livros
6 Processo 12 E-pombo@Correio

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Congresso Internacional sobre Superdotação

Diferentes Formas de Saber

e a Transdisciplinaridade [1]

O princípio essencial é restabelecer a integridade do homem e do conhecimento, integrando sensorial + místico + emocional + intuitivo + racional na totalidade mente + corpo + cosmos.

A essência da proposta transdisciplinar parte de um reconhecimento que a atual proliferação das disciplinas e especialidades acadêmicas e não-acadêmicas conduz a um crescimento incontestável do poder associado aos detentores desses conhecimentos fragmentados, podendo assim agravar a crescente iniquidade entre indivíduos, comunidades, nações e países. Além disso, o conhecimento fragmentado dificilmente poderá dar a seus detentores a capacidade de reconhecer e enfrentar os problemas e situações novas que emergem de um mundo a cuja complexidade natural acrescenta-se a complexidade resultante da transformação desse conhecimento em ação que, sobretudo através da tecnologia, incorpora fatos novos à realidade.

A transdisciplinaridade não constitui uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma ciência das ciências e muito menos uma nova postura religiosa. Nem é, como muitos insistem em mostrá-la, um modismo. A transdisciplinaridade reside numa postura de reconhecimento que não há espaço e tempo culturais privilegiados que permitam julgar e hierarquizar como mais correto, ou mais certo ou mais verdadeiro, os complexos de explicação e de convivência com a realidade que nos cerca. A transdisciplinaridade repousa sobre uma atitude aberta, de respeito mútuo e mesmo humildade, com relação a mitos, religiões e sistemas de explicações e conhecimentos, rejeitando qualquer tipo de arrogância e prepotência. A transdisciplinaridade é, na sua essência, transcultural. Exige a participação de todos, vindo de todas as regiões do planeta, das mais diversas tradições culturais e de distintas formações e experiências profissionais.

Essas idéias surgiram como resultado da esperança que poder, prepotência, ganância, inveja, avareza, arrogância, violência, indiferença e outras tantas mazelas deixem de ser na humanidade do futuro.


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Vida

Ao longo da sua história o homo sapiens sapiens tem acumulado meios de sobrevivência e de transcendência, que constituem o acervo de conhecimentos da humanidade. Esses se manifestam como modos de fazer e sistemas de explicações e que respondem a necessidades e indagações sobre os fatos básicos da realidade: o indivíduo, o "outro"/sociedade e a natureza (imediata, planetária e cósmica). Meu ponto de partida é assumir a essencialidade mútua desses fatos. O fenômeno vida é resultado da sua integralidade representada no "triângulo da vida": indivíduo/natureza/sociedade.



indivíduo natureza



indivíduo outro/sociedade



outro/sociedade natureza

A interrupção de qualquer dessas conexões interrompe a vida.

A essencialidade se manifesta nessas conexões necessárias para o fenômeno vida:



indivíduo e realidade para sobrevivência do indivíduo

indivíduo e outro/sociedade para continuidade da espécie

sociedade e natureza para sobrevivência da espécie



Os mecanismos fisiológicos e ecológicos são a resposta das várias espécies à resolução dessas relações presentes no triângulo da vida. Como já disse, a quebra de qualquer dessas relações interrompe a vida. E nenhum existe sem os outros. Talvez a natureza possa continuar sem a nossa espécie. Mas será a mesma? [2]

Com o aparecimento da espécie humana surgiram intermediações entre esses fatos:



instrumentos e tecnologia entre indivíduos e natureza

emoções e cultura entre indivíduo e outro/sociedade

produção e divisão de trabalho entre sociedade e natureza



Um postulado preliminar:

o indivíduo e o outro são sempre diferentes e, portanto, a sociedade é constituída de indivíduos todos diferentes, e as emoções resultam dessas diferenças.


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Conhecimento

A resolução das intermediações se dá pela comunicação e pelo conhecimento. O conhecimento, assim conceituado, tem várias dimensões: sensorial, intuitiva, emocional, mística, racional.

O conhecimento que se desenvolveu a partir das culturas mediterrâneas se caracteriza por ter aprofundado uma percepção do cosmos, do planeta e da natureza que vê os seres humanos como uma espécie privilegiada. Esse conhecimento acarreta um comportamento ditado por privilégios.

Ao longo da história, o conhecimento originado nas culturas mediterrâneas foi, gradativamente, eliminando as dimensões sensorial, intuitiva, emocional e mística. Impôs-se, como a característica por excelência do ser humano, a sua dimensão racional. O conhecimento com maior ênfase no intuitivo foi identificado com as artes, o místico e o emocional com as religiões e o sensorial com empirismo e suas conotações negativas. Os vários corpus de conhecimento, estruturados segundo a dimensão racional, passaram a ser denominados ciência, que acabou sendo identificada com conhecimento. As demais dimensões comparecem no que são chamadas as tradições.

O flanco vulnerável da racionalidade científica foi exposto de forma mais flagrante justamente pela ciência identificada como o padrão dessa racionalidade, que é a matemática. Na busca de se procurar fundamentar o conhecimento matemático e a sua geração, na transição do século XIX para o século XX, o intuicionismo de L. E. J. Brower, proposto em 1906, contrapõe-se ao logicismo de Bertrand Russell e ao formalismo de David Hilbert, rejeitando justamente o tertium non datur (lei do terceiro excluído), sobre o qual se funda grande parte do pensamento matemático.[3] Uma nova ciência da cognição começou então se delinear.

Igualmente atingida foi a visão de um universo newtoniano com o surgimento das mecânicas quântica e relativística, a partir de Max Planck e Albert Einstein e com as formulações de Niels Bohr e Werner Heisenberg.[4] Fundamentalmente atingido foi a percepção de uma realidade determinista e a linearidade nela implícita, obedecendo relações de causa-efeito. Abriu-se assim o caminho para as teorias geral dos sistemas e teorias do caos e da complexidade e para uma nova visão do universo.

Não menos atingida foi a visão de homem, com a percepção da essencialidade do outro no reconhecimento do seu próprio eu. Os trabalhos pioneiros de S. Freud sobre a histeria abriram o caminho para uma nova ciência da mente e do comportamento.

A partir desses novas visões de cognição, da mente e do comportamento, e do cosmos o homem começa a se reconhecer como uma entidade individual, social, planetária e cósmica.

A civilização ocidental tem privilegiado o existencial e o factível e construído sistemas de conhecimento visando sua sobrevivência. São as ciências e a conseqüente tecnologia. Mas, paradoxalmente, a sobrevivência do indivíduo e da espécie, representada pelo triângulo da vida, se sente ameaçada justamente pelas intermediações criadas pela espécie.

O desenvolvimento das ciências e da tecnologia, dando origem ao que hoje se chama tecnociência, levam à percepção de uma possibilidade de extinção da espécie. A alternativa de uma espécie modificada, que tem sido contemplada na ficção, é hoje realizável.

Pergunta-se porque esse roteiro na busca do conhecimento ocidental chegou a perspectivas tão assustadoras? Pura e simplesmente, porque o caminho da humanidade não tem tido sucesso? As próprias ciências reconhecem sua insuficiência para responder a essas questões básicas e para encontrar um novo caminho.

Vamos encontrar, metaforicamente, essa conclusão num dos mais importantes resultados científicos desse século, mais uma vez justamente na ciência que, como dissemos acima, tem sido apontada como a representante por excelência do racionalismo ocidental, a matemática. Kurt Gödel mostrou em 1931 que é impossível provar a consistência de um sistema formal utilizando somente argumentos que podem ser formalizados no sistema.[5] É necessária a busca de outros caminhos. O que teria causado o desvio de uma promessa de grandes realizações para a ameaça de extinção?


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Das disciplinas à transdisciplinaridade

É na história do conhecimento que vamos identificar as distorções e os novos caminhos possíveis. Obviamente, essa história não pode se restringir a uma visão parcial, epistemologicamente comprometida. Torna-se assim necessário o diálogo que começa a se abre entre as ciências e as tradições.

A primeira lição que aprendemos da história é que a busca de sobreviver se complementa com a busca de transcender o existencial (passado e futuro) e o factível (explicável e inexplicável). A busca de compreensão do mundo na sua integralidade exige que as dimensões de sobrevivência e de transcendência se complementem.

A organização atual dos diversos corpus de conhecimento repousa nas disciplinas, caracterizadas pelo desenvolvimento de métodos específicos para conhecer objetos de estudo bem definidos.

Rapidamente o conhecimento disciplinar mostrou-se insuficiente para lidar com os complexos fenômenos da realidade e pratica-se um modelo multidisciplinar, no qual se procura reunir resultado obtidos mediante o enfoque disciplinar para lidar com situações mais complexas. Igualmente, o enfoque multidisciplinar foi incapaz de explicar e de lidar com o crescente reconhecimento da complexidade dos fenômenos naturais e sociais.

É curioso notar que a partir de uma visão global dos fenômenos foi proposta a organização disciplinar dos conhecimentos e imediatamente a multidisciplinar. Esse próprio enfoque criou a possibilidade de se reconhecer a complexidade dos fenômenos, que resistiam aos métodos das várias disciplinas isoladamente.

Surge então a interdisciplinaridade, na qual não apenas se transferem e se combinam resultados de algumas disciplinas, mas também se combinam métodos de várias disciplinas e, conseqüentemente, se identificam novos objetos de estudo.

Chega-se assim a possibilidades de explicações de inúmeros fenômenos e de realizações notáveis. Os espantosos avanços das ciências e da tecnologia, produto da interdisciplinaridade, dão ao homem a ilusão de omnipotência e de omnisciência.

Há limites para o conhecimento? Haverá a possibilidade de um sistema total de conhecimento ou, como costumam dizer os físicos, de uma teoria de tudo?

Mas mesmo na prática interdisciplinar, que hoje, com raras exceções, está presente na pesquisa científica, e que procura explicações finais, não se supera a angústia da ameaça de extinção que pesa sobre a humanidade.

Haverá a possibilidade de outras opções além da interdisciplinaridade. Não se pode excluir a possibilidade de outros sistemas de conhecimento, nos quais não tenha se dado uma fragmentação do saber tão rígida quanto como no sistema de conhecimento ocidental, poderem contribuir para a superação desse impasse existencial. Esses sistemas de conhecimento, supérstites em algumas sociedades, muitos desfigurados, outros aprimorados pela exposição com a civilização ocidental, encontram-se nas tradições.

Do encontro das ciências e das tradições resultam transformações profundas dos sistemas de explicações. Essas transformações tem sido notadas no desenvolvimento científico e tecnológico, nos sistemas de comunicação e de transporte, nos meios de produção e no próprio conceito de propriedade. Um questionamento freqüente se refere à universalidade dessas transformações. Há indicadores que esse encontro é efetivamente um movimento planetário, prenúncio de uma civilização planetária.

O conhecimento é então encarado como modos, estilos, técnicas de explicar, de conhecer, de lidar com a realidade como ela se manifesta em distintos ambientes naturais e culturais. Obviamente, esses modos, estilos e técnicas não se realizam no modelo disciplinar, nem mesmo nos seus variantes da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade. Exigem uma visão transdisciplinar do conhecimento.[6]

A transdisciplinaridade leva o indivíduo a tomar consciência da essencialidade do outro e da sua inserção na realidade social, natural e planetária, e cósmica. Uma conseqüência imediata da essencialidade é que a inserção só pode se dar através de um relacionamento de respeito, solidariedade e cooperação com o outro, consequentemente com a sociedade, com a natureza e com o planeta, todos e tudo integrados na realidade cósmica. Esse é o despertar da consciência na aquisição do conhecimento. A grande transformação pela qual passa a humanidade é o encontro do conhecimento e da consciência.


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A angústia existencial e a ética no mundo moderno

Modismos sempre refletem a busca de alternativas sociais para corrigir os desvarios da sociedade. Na sociedade atual esses desvarios refletem o acúmulo de algumas importantes eras da história mais recente: o colonialismo (degradação do homem), o imperialismo (subordinação de culturas) e o capitalismo (uso abusivo e destrutivo de recursos humanos e naturais). Os modismos se baseiam nos sistemas de explicações parciais e dominantes no momento, e são, portanto, sistemas que resultam de um modelo cultural e científico, na verdade de um modelo de conhecimento, que se construiu justamente para justificar os desmandos das eras colonialista, imperialista e capitalista.

Deve-se notar que a globalização do planeta se inicia com as grandes navegações. Não é de se estranhar que esse momento é, na verdade, o início do que se convencionou chamar "o mundo moderno": ciência moderna (Descartes e Newton), comportamento moderno (Descartes e Spinoza), monetarismo e mercado modernos (Copérnico) e colonialismo moderno. Essas mesmas manifestações do moderno criaram setores de conhecimento cujo objetivo é justificar as ações. Surgiram epistemologias convenientes para justificar as ciências, sistemas filosóficos para justificar o comportamento, economia para justificar as operações associadas à produção e ao mercado, e história para justificar o colonialismo.

Ao longo da sua história, o homem tem procurado explicações sobre quem é -- e tem se acreditado o favorito de algum deus – sobre o que é -- e tem se acreditado um sistema complexo de músculos, ossos, nervos e humores –- sobre como é -- e tem se acreditado uma anatomia com vontade -- e sobretudo quanto pode -- tem se acreditado sem limitações à sua vontade e ambição. Na procura de entender quem é, o que é, como é, o homem construi história, religião, ciência, arte. E na explicação do quanto pode, concebe o poder. Essas explicações determinam a construção de modos de comportamento e de modos de conhecimento.

A grande angústia existencial do ser humano pode ser sintetizada no reconhecimento de sua impossibilidade de saber quem é, o que é, como é, e quanto pode.

As violações da dignidade humana, que chegam até a eliminação de indivíduos, mostram o risco de inviabilidade de uma sociedade eqüitativa e possibilitam uma agressividade desmesurada contra a natureza. Distorções na maneira como o homem tem se acreditado tem induzido a poder, prepotência, ganância, inveja, avareza, arrogância, indiferença. Mas jamais se tentou encarar o busílis da questão: a própria questão do conhecimento, convenientemente fragmentado em disciplinas para justificar -- desencorajando crítica -- nossas ações em cada setor e procurar revestir aquilo no naquilo que se acredita, do caráter de verdade absoluta.

Acho que quem melhor descreveu as causas dessa situação foi Sri Aurobindo, quando disse:


"Para a filosofia ocidental uma crença intelectual fixa é a parte mais importante de um culto, é a essência de seu significado e o que o distingue dos outros. Assim são que as crenças formuladas fazem verdadeira ou falsa uma religião [uma teoria, uma filosofia, uma ciência], de acordo com sua concordância ou não com o credo de seus críticos." (Sri Aurobindo, 1872-1950).

Se atentarmos para o conhecimento associado a esse comportamento, notamos a inexistência de uma ética maior. O conhecimento progride sem uma ética maior, que deveria reconhecer o valor intrínsico do indivíduo -- vale simplesmente porque é, não pelo como é -- da necessidade absoluta do outro -- sem quem se decreta a extinção da espécie -- e da sua integração no cosmos -- como parte essencial de um todo.

Restabelecer essa ética me parece prioritário e é isso o que eu proponho na



ÉTICA DA DIVERSIDADE:

1. RESPEITO PELO OUTRO COM TODAS AS SUAS DIFERENÇAS;

2. SOLIDARIEDADE COM O OUTRO NA SATISFAÇÃO DE NECESSIDADES DE SOBREVIVÊNCIA E DE TRANSCENDÊNCIA;

3. COOPERAÇÃO COM O OUTRO NA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL COMUM.



Justificam-se alguns comentários. O respeito que proponho não é por ter "modelado" o outro ao que me agrada, não é porque ele me espelha, não é porque eu o converti. Tudo o que mais tem nos chocado no comportamento do indivíduo e da sociedade é uma violação de 1. Desde a educação castradora, magnificamente dramatizada por Anthony Burgess/Stanley Kulbrick no Laranja Mecânica (1971), até a desejada e procurada manipulação genética de seres humanos, já realizada com espécies muito próximas a nossa e mostrada tão bem por Ridley Scott no Caçador de Andróides (1982), se busca o respeito transformação do outro, pela produção de um outro. Aceita-se o outro desde que tenha se convertido -- e daí a origem das grandes violências de natureza religiosa e gremial.

A solidariedade com o outro não se manifesta apenas na satisfação de necessidades materiais. Não basta dar o pão, é necessário também dar o ombro para o outro chorar, ou dançar e cantar nas necessidades emocionais. Comer, mas comer junto, comungar. Daí todo o sentido da eucaristia e de outras formas de agradecimento/sacrifício, como a comida de santo depois do culto do candomblé. Não é para saciar a fome.

A cooperação no sentido amplo é que deu origem ao homo faber: uma pedra lascada ou uma alavanca são modelos de cooperação homem-natureza. Com o alimentar-se se dá o mesmo. Uma vida -- planta ou animal -- se extingue para que a outra continue. A própria vida é intrinsicamente cooperativa: uma célula é destruída para a sobrevivência da outra. Vida só é possível porque há cooperação no sentido mais amplo. Claro, isso tem profunda influência nos nossos modelos de comportamento.

A Ética da Diversidade é o que considero uma ética maior. Vão perguntar: mas e os credos, onde está Deus, Cristo, Maomé, Buda, e tantos outros. Sem dúvida, na história da humanidade a religião tem sido, juntamente com a arte, um dos caminhos favoritos para a transcendência. Mas algo mais move o homem na busca de sobrevivência e de transcendência, que são a essência da sua existência e de seu comportamento. Aquilo que, ainda com pouca precisão, começa a se chamar consciência.[7]

Alguns chama a teoria da consciência ou ciência da mente "a última fronteira do conhecimento". De fato, o que é pensar, o que é agir com o que popularmente se chama consciência, onde se situam os valores? A abordagem científica a essas questões é, em si, uma justificativa da proposta da transdisciplinaridade.[8]

A crítica ampla deve necessariamente ser holística. Porém a culminância do moderno acabou sendo uma fragmentação do homem em "componentes": racional, social, econômico. Parafraseando Allain Bloom poderíamos dizer que o que caracteriza o homem moderno é sua crença de ser o trabalho necessário para produzir bem estar; é seguir suas inclinações com moderação, não porque seja moderado mas porque suas paixões são balanceadas e ele reconhece a racionalidade desse equilíbrio; é respeitar o direito dos outros para assim ter respeitados os seus; é obedecer a lei que ele próprio fez em seu próprio interesse. Na verdade aí se reconhece a essência do apelo a trabalho e cidadania, tão comum nos dias de hoje, e que constitui a moral do comportamento que se procura inculcar nas crianças. Como diz Bloom, "Do ponto de vista de Deus ou dos heróis, nada disso é muito inspirador. Mas para os pobres, os fracos, os oprimidos -- a maioria esmagadora da humanidade -- é a promessa de salvação" [9].

Fala-se muito em energia. Vejo energia como a essência dessa busca incessante e integrada de sobrevivência e de transcendência. Sobreviver se dá no presente, que é a interface de passado e futuro. Transcender é mergulhar no passado e incursionar no futuro. Daí saem os sistemas de explicação -- história e as religiões -- e os sistemas de divinação e de predição –- os oráculos e as ciências. Tudo se integra nas religiões e nas ciências, que transcendem tempo, e nas comunicações e nas artes, que transcendem espaço. E obviamente, transcender tempo e espaço não são dicotômicos. Portanto, as comunicações, as religiões, as artes e as ciências andam juntas. Não se separam. Basta um olhar para a evolução da humanidade para se convencer que esses quatro estilos de comportamento andam juntos. A filosofia moderna tentou situar essa totalidade em setores do cérebro que cuidam do sensorial, do místico, do emocional, do intuitivo e do racional!


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A proposta da transdisciplinaridade

Qual a oportunidade que a academia tem tido de refletir sobre essas questões? É possível que o "Fórum de Ciências e Cultura da UNESCO", que se reuniu em Veneza em 1986, tenha sido a primeira grande oportunidade de se propor uma visão transdisciplinar. O tema do fórum, "Encontro das Ciências e das Tradições", e a composição de sua participação foram, inegavelmente, fatores essenciais para uma nova postura com relação ao conhecimento. A Declaração de Veneza, que foi um resultado do Forum, abriu as possibilidades de reflexões transdisciplinares.[10]

Claro que a transdisciplinaridade não constitui uma nova filosofia, nem uma nova metafísica, nem uma ciência das ciências e muito menos uma nova postura religiosa. Nem é, como muitos insistem em mostrá-la, um modismo. O essencial na transdisciplinaridade reside numa postura de reconhecimento que não há espaço e tempo culturais privilegiados que permitam julgar e hierarquizar, como mais correto ou mais certo ou mais verdadeiro, complexos de explicação e convivência com a realidade que nos cerca. A transdisciplinaridade repousa sobre uma atitude aberta, de respeito mútuo e mesmo humildade, com relação a mitos, religiões e sistemas de explicações e conhecimentos, rejeitando qualquer tipo de arrogância e prepotência. A transdisciplinaridade é, na sua essência, transcultural. Exige a participação de todos, vindo de todas as regiões do planeta, de tradições culturais e formação e experiência profissional as mais diversas

A essência da proposta transdisciplinar parte de um reconhecimento que a atual proliferação das disciplinas e especialidades acadêmicas e não-acadêmicas conduz a um crescimento incontestável do poder associado a detentores desses conhecimentos fragmentados, podendo assim agravar a crescente iniquidade entre indivíduos, comunidades, nações e países. Além disso, o conhecimento fragmentado dificilmente poderá dar a seus detentores a capacidade de reconhecer e enfrentar os problemas e situações novas que emergem de um mundo a cuja complexidade natural acrescenta-se a complexidade resultante desse próprio conhecimento transformado em ação que incorpora novos fatos à realidade, através da tecnologia.

A espécie homo sapiens sapiens, identificada no planeta há cerca de 100.000 anos é extremamente jovem quando comparada com hominídeos, que deixaram sua marca desde 4.500.000 anos atrás. Mesmo esses hominídeos tiveram uma existência limitada quando comparados com espécies como os dinosauros que habitaram o planeta por cerca de 100 milhões de anos. Quando refletimos cosmicamente, é perturbador notar que nossa espécie, inteligente e capaz de comunicar-se em todo e mesmo fora do planeta, tem apenas 100.000 anos de experiências acumuladas num planeta cuja existência é traçada a 4 e meio bilhões de anos. Somos uma dentre milhões de espécies vivas que vem surgindo e se extinguindo na Terra há muito tempo. Estima-se que a vida teve inicio há cerca de 3 e meio bilhões de anos e desde então sabe-se de uma verdadeira ciranda de espécies aparecendo e se extinguindo. E quando nos situamos no cosmos, agora acessível por meio de modernas sondas espaciais, a brevidade da existência de nossa espécie é alarmante quando comparada com a estimativa de 15 bilhões de anos desde a criação cósmica – big-bang ou equivalentes. [11]

Nesse curtíssimo espaço de tempo a espécie acumulou conhecimentos e capacidade de ação cada vez mais aprofundados sobre os fatos da realidade. E no quase instante de nossa existência podemos dominar esses conhecimentos e capacidades. Tanto poder concentrado em cada um de nós pode definir um paraíso ou um inferno para nossa efêmera existência. E vê-se que com a força de toda uma geração, o ritmo de crescimento dessas capacidades se acelera ... com o risco igualmente acelerado de perdermos a visão do todo à medida que nos aprofundamos cada vez mais nas minúcias e detalhes associados a disciplinas, subdisciplinas e especialidades.

A ameaça associada a uma aparente irreversibilidade do processo é compensada por uma tomada de consciência da fragilidade desse estilo de aquisição de conhecimentos e capacidades. A própria evolução do modelo ameaçador nos revela as suas inadequações, as suas distorções e a sua impossibilidade de uma visão, global e holística, do homem como um integrante, embora diferenciado, da totalidade cósmica. A única alternativa que resta é a de nos integrarmos nessa totalidade cósmica a partir da integração em várias etapas, a começar pela nossa integração pessoal, como indivíduos. Mente e corpo, consciente e inconsciente, o material e o espiritual, nosso saber e fazer, enfim todas essas e outras dicotomias com as quais nos habituamos a nos ver na nossa mais profunda intimidade deverão ser superadas. Temos que vencer a dominância do ser (substantivo) sobre o ser (verbo). Ao superar essa redefinição do eu estaremos em condição de redefinir nossas relações com o outro. A partir de então estarão abertas as portas de um novo relacionamento com diferentes, com a natureza como um todo e com o cosmos na sua totalidade.

A busca de uma sociedade integrada no entôrno familiar -- isto é, o outro mais próximo -- no entôrno comunitário -- isto é, a nossa tribu -- no entôrno nacional -- isto é, o nosso país -- são etapas necessárias para se chegar à integração da humanidade como um todo -- isto é, o nosso planeta. Poderemos então nos situar num contexto muito mais amplo, transcender nossa existência tão efêmera, e avaliar nossa dimensão como indivíduos na realidade cósmica. Então espera-se que arrogância, inveja, prepotência cedam lugar a respeito pelo diferente, à solidariedade com o outro, à cooperação na preservação do patrimônio comum.

Eliminar arrogância, inveja, prepotência e adotar respeito, solidariedade, cooperação é a idéia de base na busca de uma nova espiritualidade, ancorada num sistema de conhecimento transdisciplinar. Busca-se um pacto moral entre todos os homens definitivamente interessados numa nova perspectiva de futuro para a humanidade, através de uma ética total.


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Conclusão

Essas idéias surgiram como resultado de esperança que poder, prepotência, ganância, inveja, avareza, arrogância, violência, indiferença e outras tantas mazelas deixem de ser na humanidade do futuro.

Por que essa preocupação com a humanidade do futuro? Porque me sinto continuado no futuro. Ao comemorar o nascimento de filhos e netos, o que é um ato de amor, e ao esperar que eles tenham filhos e netos, e que esses também tenham filhos e netos e assim continuando a espécie, está implícita a esperança que eles serão felizes.[12] De outra maneira, essas comemorações seriam um ato de falsidade e desamor.[13]

Se eu comemoro o futuro é porque acredito que há possibilidades. Ao ver um caminho para essas possibilidades, é autêntico que eu veja vantagens em percorrer esse caminho.

Se meu amor vai além dos "meus", da minha tribo, da minha comunidade e atinge a humanidade como um todo, é coerente falar desse caminho. De outro modo, minha autenticidade e minha coerência desmoronariam. O risco do sonho é coerência e se justifica. A ação guiada pelo sonho é o caminho.

Chegaremos lá? A resposta está no futuro. Mas só poderemos falar em futuro se entrarmos no futuro hoje. A idéia de futuro se esvazia quando se espera o futuro para só então entrar no futuro. Desse modo estaríamos sempre vivendo no ontem. E o caminho de ontem, que produziu as mazelas destacadas no início, não é o caminho que vai conduzir à sua eliminação.

Como percorrê-lo?

"Caminante no hay camino, se lo hace al andar." (Antonio Machado)


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Sugestões de leitura

As obras relacionadas a seguir, algumas já citadas no texto, têm muita relação com a temática deste trabalho.



David Adams (editor): The Seville Statement on Violence. Preparing the Ground for the Construction of Peace . UNESCO, Paris, 1991.

Ubiratan D'Ambrosio: Etnomatemática. Arte e técnica de conhecer e explicar. Editora Ática, São Paulo, 1990.

Ubiratan D'Ambrosio: Globalização e Multiculturalismo, Coleção Fio do Mestrado n° 11. Editora da FURB, Blumenau, 1996.

Ubiratan D’Ambrosio: A Era da Consciência. Editora Fundação Peirópolis, São Paulo, 1997.

Ubiratan D’Ambrosio: Transdisciplinaridade. Editora Palas Athena, São Paulo, 1997.

Marcelo Gleiser: A Dança do Universo. Dos Mitos de Criação ao Big-Bang. Companhia das Letras, São Paulo, 1997.

Al Gore: Terra em Balanço. Editora Augustus, São Paulo, 1994.

George G. Simpson: A Descronização de Sam Magruder. Editora Fundação Peirópolis, São Paulo, 1997.

Pierre Weil, Ubiratan D'Ambrosio e Roberto Crema: Rumo a uma Nova Transdisciplinaridade. Sistemas Abertos de Conhecimento. Summus Editorial, São Paulo, 1993.

Revista THOT. Publicação Transdisciplinar da Associação Palas Athena, São Paulo.


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NOTAS

[1] Conferência de abertura no Congresso Internacional sobre Superdotação, MEC, Brasília, 26-28/08/98.

[2] O gorila mestre Ismael tem, na parede do seu escritório, um quadro com a pergunta "Com o fim da humanidade haverá esperança para o gorila?" e no reverso a pergunta "Com o fim do gorila haverá esperança para a humanidade?". Veja a bela fábula de Daniel Quinn: Ismael. Um Romance sobre a Condição Humana. Editora Fundação Peirópolis, São Paulo, 1998.

[3] Para uma síntese ver o verbete Foundations of Mathematics no excelente Encyclopedic Dictionary of Mathematics, by the Mathematical Society of Japan, edited by Shôkichi Iyanaga and Yukiyosi Kawada, translation reviewed by Kenneth. O. May, The MIT Press, Cambridge, 1980; p.549.

[4] Para uma síntese ver o verbete quantum no Dictionary of the History of Science ed. W.F. Bynum, E. J. Browne, Roy Porter. Princeton University Press, Princeton, 1984.

[5] op.cit. em Nota 2, p. 550.

[6] Ubiratan D’Ambrosio; Transdisciplinaridade. Editora Palas Athena, São Paulo, 1997.

[7] Ver Ubiratan D’Ambrosio: A Era da Consciência. Editora Fundação Peirópolis, São Paulo, 1997.

[8] Ver os livros recentes de Roger Penrose: Shadows of the Mind: A Search for the Missing Science of Consciousness, Oxford University Press, Oxford, 1996; e Roger Penrose (editor): The Large, the Small and the Human Mind. Cambridge University Press, Cambridge, 1997.

[9] Allain Bloom: The Closing of the American Mind. Simon and Schuster, New York, 1987; p.167.

[10] Ubiratan D'Ambrosio (organizador): Declarações dos Foruns de Ciência e Cultura da UNESCO (Veneza, Vancouver e Belém e a Carta da Transdisciplinaridade) , Textos Universitários. Editora da Universidade de Brasília, 1994.

[11] Uma boa apresentação da história da espécie foi dada por Colin Tudge: The Time Before History. 5 Million Years of Human Impact. Simon & Schuster, New York, 1996.

[12] Muitos dizem que a humanidade feliz, sem as mazelas apontadas, é utopia, Não acredito. Mas que seja utopia. É possível ser humano sem utopias?

[13] Isso é bem ilustrado pela decisão de algumas tribos indígenas de não mais procriar, de praticar uma forma de suicídio da tribo. Esse é um ato de amor. Como foi ato de amor o evento de Masada, na Judéia, no século I.


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1 Concepção 7 Célestin Freinet
2 Pensamento 8 Paulo Freire
3 Estruturação 9 Ubiratan D`Ambrosio
4 Paradigmas 10 Edgar Morin
5 Vivências 11 Pessoas&Livros
6 Processo 12 E-pombo@Correio

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