sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Aceleração Histórica - Rose Marie Muraro

Aceleração Histórica
Rose Marie Muraro
Quando se fazem previsões para o futuro, sempre se afirma “a continuarem as
mesmas tendências”. Mas isso é rigorosamente falso. Não se pode projetar para o futuro de
maneira mecanicista aquilo que estamos vivendo no presente. Mesmo que não saibamos
por que, sentimos hoje que o tempo voa, que estamos caminhando de maneira muito
acelerada. Isto é visível a olho nu para qualquer pessoa. Todo mundo tem a impressão de
que o dia não tem o mesmo numero de horas do que antes. Mas não é verdade. O que
estamos vivendo é um grande processo de aceleração histórica que vem repetindo a grande
tendência da: a tendência exponencial.
A exponencial é uma curva matemática que equivale a uma progressão geométrica.
Ela não é a curva de uma soma, mas a multiplicação cada vez maior. Ela vem primeiro em
lentíssimas velocidades que depois vão se acelerando cada vez mais até, nas ultimas fases
serem invivíveis. Por exemplo, se tomarmos a história da Terra que tem 4,2 bilhões de anos
de existência, veremos que até a metade desse tempo, praticamente, não existia vida. As
primeiras enzimas aparecem há 1,6 bilhão de anos. Depois vêm as proteínas com 1 bilhão
de anos, as bactérias com 800 milhões. Com 600 milhões de anos os primeiros unicelulares
(a explosão do cambriano), dos quais descendemos nós (os cordados). Mais tarde foram
vindo formas mais sofisticadas de vida, tudo isto contado em milhões de anos.
Os dinossauros que são os maiores animais da nossa evolução têm “apenas” 65
milhões de anos. Depois vieram os grandes mamíferos, as aves. Os primatas têm só 10
milhões de anos, e o gênero homo somente 2 milhões. Já estamos vendo como as coisas
estão se acelerando cada vez mais rapidamente, e isso aparece mais quando saímos dos
hominídeos e entramos na espécie humana propriamente dita, cujos primeiros espécimes
têm apenas 60 mil anos.
A agricultura em que esses homens nômades se sedentarizam começou 10 mil anos
atrás; o período histórico moderno não tem mais do que 5 mil anos, quando começam os
primeiros Impérios (Ititas, Sumérios, etc.). Os Gregos tiveram seu apogeu há 2.500 anos. O
Cristianismo começa há 2 mil anos. Agora as coisas começam a contar-se por centenas de
anos. A Idade Média não tem mais do que 600 anos, a Primeira Revolução Industrial 250
anos. A Revolução dos Computadores não tem mais do que 60 anos, e foi a que acelerou a
história de maneira que o cérebro humano já não acompanha mais.
A consciência da destruição da espécie por nós mesmos e nossa tecnologia nos veio
no terceiro quarto do século XX. No século XXI mais da metade de todos os grandes
gênios da humanidade ainda estão vivos. Quando conheci Fritjof Capra no início dos anos
90, ele assegurava que o “ponto de não retorno” da destruição da espécie chegaria lá pelo
ano de 2050, mas devido a essa aceleração galopante, ele confidenciou a amigos que esse
ponto já havia passado.
É por isso que não podemos fazer previsões baseados no que estamos vivendo
agora. Tudo aquilo que for previsto para o ano de 2100, você pode acreditar que chegará
muito antes, e o que for previsto para meados do século – pode acreditar – virá por volta de
2020. Agora sim, se continuarmos a “ter preguiça” de lidar com a exponencial e não
tomarmos medidas para mudar nosso sistema econômico que é incompatível com a nossa
sobrevivência por ser baseada no consumo que também é exponencial, nossa destruição
estará cada vez mais próxima. Esta proximidade confundiria até o próprio Nostradamus!
Essas mudanças virão quer queiramos quer não. Se quisermos sobreviver temos que
substituir o sistema econômico predatório e violento por outro solidário e cooperativo,
inclusive mudando os centros de poder mundial, a natureza do dinheiro e dos mercados, e
principalmente o nosso próprio inconsciente ainda antigo como a pré-história para que
nossa espécie possa auto regular-se para sobreviver. Temos todos os meios para fazê-lo e se
não o fizermos a culpa do que vier a acontecer será exclusivamente nossa.
Como o dinheiro a natureza também não admite desaforos!

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