sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Uma moeda não hegemônica - Rose Marie Muraro

Uma moeda não hegemônica

Rose Muraro

Quem leu a obra de Adam Smith, o maior teórico do sistema capitalista,
principalmente “A riqueza das nações”, pode perceber que o pressuposto básico do seu
pensamento que influenciou a atividade produtiva mundial definitivamente até hoje, é que o
grande pilar desse sistema é o egoísmo, ou o interesse próprio acima do interesse comum. É
a busca da maior vantagem pessoal possível que faz a trama do sistema econômico andar.

Durante dois séculos esta foi considerada a principal lei econômica. Só hoje, depois
de passar por inúmeras guerras, crises, principalmente a atual que parece ser a “mãe de
todas as crises”, e a iminente possibilidade de destruição da natureza, é que se pode
perceber o quanto ele é imoral e ineficiente.

O maior exemplo deste desequilíbrio é a existência de uma moeda hegemônica para
trocas mundiais pertencente a uma única nação. Alfred Lietaer, um dos principais arquitetos
do Euro, e provavelmente o maior especialista vivo em teoria da moeda, mostra como todos
estamos reféns da maior potencia hegemônica. Muitas vezes quem determina os caminhos
da economia mundial são as decisões de uma única pessoa. Em seu livro The fuyture of
Money, ele propõe que esse sistema seja substituído por uma moeda de referência mundial
que seja administrada pelas principais economias do mundo (industrializadas e
emergentes), melhor fora se fosse administrado por todos os países. A essa moeda deu o
nome de Terra e cada unidade desta seria lastreada pelo preço das principais commodities
de acordo com os maiores mercados mundiais.

A vantagem dessa moeda é que ela não seria nem inflacionária nem deflacionaria,
porque variaria de acordo com a variação do preço das commodities, e todas as moedas
nacionais poderiam ser trocadas entre si através da Terra sem a interferência de outra
moeda de uma única nação. Por isso ela é anticíclica e anticrise por definição, porque as
moedas nacionais permaneceriam nacionais, e se houvesse crise em um país ela não se
estenderia pelo mundo todo.

Agora que o neoliberalismo das ultimas décadas foi definitivamente derrotado pela
realidade e que se tornou fundamental a intervenção severa dos Estados nos mercados, fica
mais claro para as pessoas que ainda acreditam na competição como fundamento da
economia, que uma moeda cooperativa como é a Terra, traria mais riqueza e mais vantagem


ao mundo, além de regular o consumo desenfreado de uns em detrimento da não satisfação
das necessidades básicas de outros. Essa moeda seria cooperativa porque exigiria para sua
administração o consenso da maioria dos pobres da maioria dos povos, o que a impediria de
ser objeto de manipulação dos mais fortes em detrimento dos mais fracos.

Vemos por exemplo, o caso do Euro que já é administrado apenas por dezesseis
países, mas que já está se mostrando mais sólido que o Dólar. Agora, com o advento de
uma nova era política possível, por um negro ter assumido a condução da maior potencia
econômica e ter sido marcada para meados de abril uma conferencia do G-20 para discutir
em conjunto os destinos econômicos e políticos do mundo, cremos que o presidente frances
Nicolas Sarkozy que deseja uma refundação do capitalismo, não a torne um retrocesso a
barbárie primitiva do século XVIII e XIX, mas uma reinvenção do capital/dinheiro no
sentido de ampliar a sua ação para todos os povos e todas as classes sociais.

Há povos que tem excessiva abundancia da moeda de referencia e outros que não
tem quase nenhum acesso a ela, o que faz com que a relação dominante/dominado seja
estruturalmente reforçada, ao invés de a riqueza poder circular de maneira mais equilibrada
e, portanto mais vantajosa para todos. Assim a humana ganância, mãe de todos os ciclos
econômicos, poderia dar lugar à humana cooperação, a única que pode destruir esses ciclos
e dar uma sobrevida um pouco maior à humanidade.

Em recente entrevista à imprensa internacional, Lester Brown, considerado o maior
ecólogo do mundo e diretor do State of the World, a bíblia ecológica da ONU, mostra que
se a China alcançar os EUA em poder aquisitivo em dólar seriam necessários 2,5 planetas
Terra para sustentar esse consumo, o que deve acontecer lá pelo ano de 2031, e isto é
rigorosamente incompatível com a atual realidade. Portanto, por que não pensar em uma
mudança radical como o esquema Terra?

Só a brutalidade da realidade crua é que pode fazer essa humanidade louca parar
para pensar.


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