segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Prout - Teoria da Ultilização Progressiva

Os textos abaixo foram extraídos do Guia de estudos
de Prout, públicado na web page: www.prout.org/port



--PREFÁCIO
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A Teoria da Utilização Progressiva, que também é conhecida por PROUT (sigla de “Progressive Utilization Theory” pronunciada ‘práut’), é um modelo socioeconômico proposto, em 1959, por Prabhat Rainjan Sarkar (1921-1990).



Frei Leonardo Boff, um dos fundadores da Teologia da Libertação, disse: “PROUT é muito importante para todos aqueles que almejam uma libertação que comece pelo econômico e se abra para a totalidade da existência humana... Serve de alternativa para uma economia verdadeiramente humana, cujo funcionamento produz vida e felicidade para os povos.”



O valor de PROUT está na autenticidade e na amplitude de suas propostas. Seu criador foi um filósofo social e mestre espiritual. Nasceu na Índia e trabalhou na Rede Ferroviária, tendo utilizado seu tempo disponível para difundir os ensinamentos de yoga e PROUT.



Após criar PROUT, Sarkar foi perseguido por aqueles que se sentiram ameaçados pelo movimento proutista. Por isso, foi preso injustamente, por motivos políticos, no período de 1971 a 1978.



Dr. Johan Galtung, ganhador do Prêmio Nobel Alternativo e fundador do Instituto Internacional para Pesquisa da Paz, disse: “P. R. Sarkar é provavelmente uma das maiores personalidades deste século, por sua visão profunda e criativa.” Segundo Carlos Minc, ecologista e deputado estadual-RJ: “Na obra de Sarkar, identifiquei nossas lutas mais difíceis (...) e os caminhos possíveis para um Brasil sem injustiça, desperdício e desigualdade.”



PROUT encanta, pois apresenta um enorme equilíbrio de idéias. Defende a democracia política aliada à democracia econômica; defende a tecnologia aplicada à redução da jornada trabalhista e à preservação ambiental, e contra o desemprego, o achatamento salarial e a degradação ambiental. PROUT propõe uma Revolução Agrária em etapas, que incluem a implementação gradativa de um sistema cooperativo e a instalação de indústrias agrícolas no campo. Com isso, será possível elevar o padrão de vida dos camponeses e minimizar os problemas de superpopulação, poluição e criminalidade nas grandes cidades.



Sua abrangência é vasta, pois compreende várias áreas: sociologia, psicologia, economia, ciência política, história e espiritualidade. Um dos pontos mais significativos é a propagação da espiritualidade como forma de superação das tendências humanas negativas, como a ganância, o egoísmo e a exploração, e desenvolvimento dos aspectos positivos, como o altruísmo, o amor, a compaixão, a ética, o caráter, a disciplina e o espírito de coletividade.



PROUT une pontos positivos do capitalismo e do socialismo, apesar de ser diferente de ambos os sistemas em muitos aspectos (ver Apêndice B). O dinamismo, o estímulo à produção e a democracia política capitalista se unem à democracia econômica, à justiça social e à garantia das necessidade básicas socialistas. Ravi Batra, economista e autor de livros “best-sellers” nos Estados Unidos, disse: “PROUT merece um estudo sério, pois fornece resposta para os dilemas econômicos e sociais atuais.”



É possível que tenhamos cometido erros em alguns detalhes. Desculpamo-nos pelas faltas e pedimos aos leitores que nos enviem sugestões para enriquecer futuras edições. Nossos agradecimentos e homenagens são dirigidas a P. R. Sarkar, fundador de PROUT e fonte de nossa inspiração.



Leonardo de Amorim Thury,

Rio de Janeiro (RJ)







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INTRODUÇÃO
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Progresso, Utilização e Teoria



A Teoria da utilização progressiva, como o próprio nome já diz, é uma teoria inspirada na idéia da “utilização progressiva”. É necessária uma compreensão correta de PROUT para entendermos o sentido das palavras “utilização” e “progressiva” no presente contexto.



De acordo com a filosofia e a ciência, todo ser está em constante movimento, mas esse movimento apenas assume um significado quando ele tem uma direção ou uma meta. Caso contrário, ele perde o sentido de sua existência. Na filosofia de PROUT, a melhor definição de “progresso” está na palavra sânscrita “pragati”. Pragati quer dizer movimento na direção certa. Por conseguinte, “progresso” consiste no movimento em direção ao bem-estar de todos.



“Progressiva” é, portanto, o termo aplicado às coisas direcionadas ao progresso, conduzidas para o bem-estar. Isto é entendido mais como um estado mental predominante do que como uma condição física. Quando a mente está em estado de equilíbrio, pode-se experimentar a verdadeira paz interior. Os seres humanos estão sempre buscando esse estado mental. O estado de equilíbrio mental também é referido como bem-aventurança, felicidade. Esse é um estado de paz absoluta e consciência além do prazer e da dor. Pragati consiste neste progresso que beneficia a condição do ser e propicia o equilíbrio mental. O esforço para alcançar esse estado de bem-aventurança é a busca humana conhecida como espiritualidade. No contexto de PROUT, “progressivas” são todas as idéias que, em essência, conduzem ao progresso no campo da espiritualidade.



Em geral, a palavra progresso está associada à melhoria do conforto material, ou à modernização tecnológica. Viajar de avião, em vez de carruagem, pode significar progresso material, mas de acordo com a concepção de PROUT, isso só seria progresso verdadeiro se significasse um bem-estar mais profundo para a sociedade como um todo. E, numa análise mais profunda, vemos que qualquer avanço tecnológico — que gere conforto ou amenidades no mundo material— está sempre associado a algum efeito danoso à saúde ou alguma ameaça ao meio ambiente. Automóveis, materiais plásticos e tantos outros avanços tecnológicos proporcionaram incontestáveis benéficos, mas ao mesmo tempo causaram grandes danos à natureza.



Isso ocorre devido à característica fundamental do mundo material, que é a lei de causa e efeito. Mesmo o mais leve progresso tecnológico tem efeitos negativos. Contudo, não se quer dizer com isso que o progresso material deva ser desprezado. Simplesmente, é necessário reconhecer que o verdadeiro progresso não pode ser alcançado apenas na esfera física, já que qualquer avanço nessa área está condicionado a efeitos contrários. O progresso material só é plenamente benéfico quando ele propicia o bem-estar da sociedade e favorece o progresso mental e espiritual.



Quanto maior é a atividade mental e o conhecimento das pessoas, maior é sua complexidade mental, resultando sempre em debilidade psíquica. Podemos notar que entre os intelectuais das grandes cidades há o maior número de pessoas com problemas psíquicos. O desenvolvimento intelectual acarreta vários problemas, especialmente numa sociedade desequilibrada e materialista como a nossa. Dessa forma, é difícil crer que o verdadeiro progresso provenha apenas do desenvolvimento intelectual, pois todo ser humano tem um desejo inato por felicidade absoluta, ou estado de bem-aventurança permanente, que não pode ser atendido nessa esfera.



A busca espiritual diz respeito ao esforço individual para conectar o finito com o infinito, ou seja, alcançar a expansão infinita, o estado de equilíbrio perfeito. O progresso espiritual não tem efeito negativo ou perda. Ele se dá numa única direção, pois permite a expansão mental até o estado de equilíbrio perfeito. Quando uma pessoa alcança esse estado, ela experimenta a verdadeira paz interior.



Os seres humanos estão sempre em busca desse estado mental, que também é chamado de felicidade. Esse estado de felicidade está além das sensações de prazer e dor. O esforço para alcançar esse estado é chamado de espiritualidade. Em PROUT, todas as ações e idéias que conduzem a esse estado são consideradas progressistas.



Por essa análise, podemos concluir que o progresso humano, num sentido mais profundo, só é possível no campo da espiritualidade. Espiritualidade é algo que só conseguimos encontrar no fundo de nosso coração. Quer estejamos conscientes disso ou não, essa é a fonte de todas as nossas inspirações e aspirações.



Se afirmamos que o verdadeiro progresso só pode ser alcançado na esfera espiritual, então, poderíamos concluir que os seres humanos não devem se desenvolver nos mundos físico e psíquico? Deveríamos negar o mundo físico e ir para as montanhas ou talvez ficar isolados em monastérios? Isto seria uma expressão do escapismo, que não teria relação com o verdadeiro desenvolvimento espiritual. Como a existência humana se dá em três esferas — física, psíquica e espiritual—, isto requer um esforço sincero para desenvolvermos todas as três. Para nosso progresso espiritual, é necessário vivermos em ambiente apropriado. Assim, colocamos o progresso espiritual como meta principal e ajustamos as esferas física e psíquica ao movimento espiritual.



PROUT é uma teoria socioeconômica preocupada em ajustar a dinâmica e o progresso político, econômico e social com o desenvolvimento das potencialidades humanas, psíquicas e espirituais. Ainda que os fundamentos de PROUT estejam baseados na espiritualidade, cuja natureza é perene, as suas aplicações práticas e regras devem ser modificadas de acordo as mudanças de tempo, lugar e pessoa. As adaptações evitarão sua queda em armadilhas dogmáticas. A libertação de dogmas é um sinal de progresso. Afinal, eles impedem a expansão e o bom desempenho mental.



“Utilização” é outra palavra-chave que obviamente exerce um papel importante no sistema socioeconômico proutista. Utilização, no presente contexto, significa a capacidade que o mundo material tem de suprir as necessidades dos seres humanos e impulsionar seu desenvolvimento nas esferas física, mental e espiritual. Aqui, vemos uma diferença fundamental entre o sistema PROUT e o atual sistema capitalista; no sistema capitalista é sabido que as empresas visam ao lucro, para obter o maior retorno para seus investimentos. Sem esse objetivo, não haveria apoio de investidores, acionistas ou banqueiros. Em PROUT, a motivação para a atividade econômica é atender as necessidades humanas e acelerar o desenvolvimento dos seres humanos, com o intuito de utilizar progressivamente o potencial dos diferentes recursos, serviços e idéias, visando ao bem-estar coletivo.



Karl Marx foi o primeiro pesquisador a analisar o conforto e a demonstrar seu duplo valor. Ele fez profundas análises para descobrir a diferença entre o valor utilitário e o valor de troca. Concluiu, então, que o modelo capitalista de produção está baseado no cálculo do valor de troca, e que o valor utilitário permanece em segundo plano; o que conta é o valor de mercado e a margem de lucro. A economia proutista tem uma visão contrária, pois dá prioridade ao valor utilitário, já que a economia deve estar voltada para o atendimento das necessidades humanas.



Nessa análise de PROUT, devemos também considerar que existe uma grande variedade de teorias. Muitas propostas são meramente teóricas, tendo ou não valor prático. Algumas são verdadeiros frutos da extravagância intelectual, outras têm certo valor no que diz respeito à cultura; enquanto outras parecem estar bem fundamentadas, mas se tornam um fracasso total quando são aplicadas à dura realidade do mundo. (AQUI PODERIA SE COLOCAR EXEMPLOS DE PROPOSTAS APRESENTADAS POR ECONOMISTAS) No que concerne à parte teórica de PROUT, podemos dizer que ela não é uma proposta meramente intelectual. Seus princípios são perenes, pois estão baseados na profunda intuição espiritual, enquanto os desdobramentos práticos estão baseados nos problemas humanos, de acordo com o local e a época. O desenvolvimento de PROUT surge do esforço para estabelecer a racionalidade e a justiça social para todos e firmar a harmonia entre as atividades humanas e as aspirações espirituais mais profundas.



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