Núcleo de Estudos do Futuro
Autor(es): Carolina Borges
O filme Matrix escrito e dirigido pelos irmãos Andy e Larry Wachowsky deve e precisa ser analisado pelo ângulo do adestramento midiático que vivencia os habitantes de Gaia.
A história do filme propõe que o mundo em que vivemos e que chamamos de realidade é na verdade um sonho coletivo, um mundo ilusório criado e mantido por computadores.
A humanidade vive e compartilha um mundo ilusório, um pesadelo coletivo, um mundo das representações, das formas fixas, das marcas, das referências, da homogeneização; porém criado e mantido não por computadores, mas pela mídia de massa, pelas instituições detentoras do poder.
Na trilogia Matrix, tudo começou quando o homem desenvolveu a tecnologia da inteligência artificial, dotando as máquinas com a capacidade de criar outras máquinas e lutar pela sua própria sobrevivência. Essas máquinas formaram então um exército e dominaram a humanidade, transformando os homens em fontes vivas de energia para elas mesmas. Aqui a questão fica por conta da própria espécie humana que desde sempre utilizou o poder para manipulação e adestramento da massa popular, transformando-a em fontes vivas de energia para a manutenção e crescimento desse poder.
As máquinas e seus exércitos, sugeridas pelo filme, são analogias da máquinas institucionais dos poderes que através de seu glorioso exército: a mídia de massa elimina a capacidade de pensamento e sensibilidade da humanidade. As máquinas religiosas iludem e tiram o dinheiro dos fiéis, já as máquinas da comunicação, através da televisão, mídia impressa induzem e homogeneízam os comportamentos e hábitos, incentivando a reprodução moralista de valores mórbidos e sedentários. Infinitas e variadas são as máquinas e suas atuações para formarem o mundo da ilusão chamada Matrix.
No filme, os corpos dos humanos foram mantidos em uma espécie de coma, enquanto suas mentes viviam na Matrix, o mundo ilusório gerado por computadores no qual nós vivemos. O homem foi dominado pela sua própria criação.
Na verdade o homem foi dominado - desde sempre - pelo próprio homem, e a morbidez social e suas fábricas de seres utilitários para o sistema - a Matrix - reflete o coma que vive a humanidade.
É evidente a sobrevida instituída pelos hábitos das máquinas de poder que criaram a Matrix e suas ilusões de felicidade. A transformação do acaso em metas, da felicidade em produtos consumíveis, do hedonismo em mito progressista, do prazer em dor, da cooperação em competição, do coletivo tribal em excessivo de individualismo, nada mais são do que um grande coma social generalizado.
Uma pequena porcentagem da humanidade, no entanto, livrou-se de ter a mente aprisionada na Matrix e continua vivendo livremente em Zion. Essa cidade, que fica no centro da terra, representa o último foco de resistência humana contra as máquinas. Os homens despertos que vivem em Zion tem a capacidade de entrar na Matrix e despertar outras pessoas que estejam prontas. Para isso, eles oferecem ao candidato uma pílula vermelha que contém um código de programação que liberta a mente do indivíduo da Matrix.
Zion representando o subversivo, as margens, o nomadismo, o fluxo, o devir, o rizoma e a erva daninha crescendo entre as raízes sedentárias, as minorias, os vagabundos, os levantes, os festejos, os movimentos dos ravers, dos hakers, as expressões do ciberespaço, a pirataria, o paganismo e a invisibilidade. O foco está na Matrix, portanto a invisibilidade torna-se essencial na resistência contras as máquinas de poder.
A pílula vermelha esconde-se em cada ser racional de Gaia, sendo despertada em um eterno instante de liberdade profunda, na qual, a Matrix e seu sistema ilusório é desvendado e outras possibilidades de vida tornam-se possíveis. É o momento da criatividade despertando o coma alimentado por ilusões; a partir desse instante a intensidade e a criação tornam-se essenciais, libertando o "iniciado" da servidão utilitária para a manutenção da Matrix.
Vivemos o período da banalização de toda essa balela de domesticação institucional da massa popular da Matrix. Com o surgimento da internet e a efetuação do ciberespaço como superfície de afetos e sociabilidade, as instituições - econômicas, religiosas, políticas, culturais, que antes controlavam as informações perdem o seu trono. A rede mundial de informação impossibilita o controle fazendo emergir novas formas de comunicação e sociabilidade entre os habitantes de Gaia. O ciberespaço é Zion e sua efetuação são os modos de vida onde a criatividade é o meio das expressões. Em Zion tempo = arte e não mais = a dinheiro.
Carolina Borges, educadora multimídia, DJ, estudante da filosofia de Nietzsche e Deleuze com o Prof. Luiz Fuganti www.linhadefuga.com.br, pesquisa cultura digital junto com Ricardo Barreto http://www.file.org.br, colabora com o Projeto Metáfora. Escreve roteiros para documentários, performances e curtas metragens.
e-mail: carolinando@hotmail.com
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